sexta-feira, 17 de março de 2017

ARACAJU, CAPITAL: 162 anos

Não há registros sobre o momento e o objeto em si, mas a mudança da capital, de São Cristóvão para Aracaju, havida como a 17 de março de 1855, hoje, a 162 anos, portanto,  deve ter sido uma enorme pancada na economia itabaianense de meados do século XIX. Já integralizando capital mediante o pequeno comércio feirante nas ainda poucas feiras livres do estado, então província, comercializar os poucos excedentes locais era o único meio de sobreviver em nossas terras áridas, quase sempre de solos ácidos e ou salinos. O fechamento daquele mercado com a transposição de mais de noventa por cento do funcionalismo público para a nova capital deve ter causado um impacto negativo monumental a Itabaiana;
A feira de São Cristóvão foi construída por vontade política do então presidente da Província de Sergipe, Manoel Ribeiro da Silva Lisboa, acossado por problemas administrativos referentes à carestia de víveres, produtos essenciais à vida da capital, e pelos itabaianenses que então já dominavam o comércio feirante de Laranjeiras e da nascente Maruim. Sua instalação a 5 de julho de 1855 criou uma segunda opção rentosa para os feirantes itabaianenses, já que lá vivia a pequena, mas marcante classe média assalariada do estado, então província. A briga entre coronéis do sul e do norte de Sergipe, todavia, fez sobrar para quem nada tinha a ver com essas querelas, desde a morte de Leite Sampaio, em janeiro de 1829. A mudança de paradigma foi tão forte que a estrada real de São Cristóvão logo se transformaria em estrada de Itaporanga, face à alternativa encontrada por alguns para continuar a comercializar próximo à barra do Vaza-Barris. Ainda hoje, a Rua Itaporanga, aqui em Itabaiana, que oficialmente, no quadro legal do município é uma travessa, mas na prática é uma avenida, preserva esse nome por ter sido ele o que ficou fixado na mente da então pequenina sociedade urbana itabaianense em relação a uma das suas principais saídas.
Por décadas ficou proibido ao itabaianense, na prática, o comercializar na nova capital. De lugar interiorano e sem rios perenes, muito menos navegáveis, o comerciante itabaianense carecia de estradas para chegar à capital. Que já eram sofríveis nos tempos da mesma em São Cristóvão, e passou a ser inexistente quando a capital foi mudada para Aracaju. Até a construção da BR-235, a única alternativa viável para se chegar à capital era via Laranjeiras, no mínimo Riachuelo, no seu primeiro porto fluvial no rio Sergipe, possível durante a maré alta. Foi, portanto, um século de isolamento da capital: 1855-1954.
O ano de 1954 e a chegada da BR-235 marcam uma virada histórica em Itabaiana, e em sua relação com a capital. E o retorno à capital como também capital dos itabaianenses como o foi São Cristóvão desde o seu estabelecimento onde é hoje, quando até governadores da capitania, seus capitães-mores, a exemplo de Manuel Pestana de Brito, por aqui residiram. Figuras marcantes no desenvolvimento de Aracaju como os da família Teixeira, Albino Silva, os Paes Andrade, entre tantos outros foram determinantes para que a capital sergipana migrasse da eterna feição de cidadezinha de interior para a moderníssima cidade que hoje é. Arriscaria que metade dos itabaianenses atuais de classe média reside na capital. É um contingente formidável a contribuir pelo engrandecimento da nossa Aracaju.
Parabéns, Aracaju! Ou seria... Parãcaju? Não importa: o charme é o mesmo.