quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Santa Cruz: das discórdias à paz

 

Povoado Cruz das Graças: motivos de dissenso com Frei Paulo
Não recordo-me do mês, mas lembro que já foi no segundo semestre de 1975, que havia um clima de guerra no ar: a sede do município de Cruz das Graças estava de mudança para o já bicentenário povoado de Maniçoba, rota natural de Itabaiana pros confins do Xingó e da Cachoeira de Paulo Afonso, desde as entradas de fins do século XVI, assim que veio a conquista de Sergipe.
Falava-se na república de estudantes em que eu ficava na cidade de Itabaiana, de boatos de cruzgracenses invadindo Maniçoba e vice-versa; de destacamentos de polícia super armados para acalmar os ânimos; de supostas mortes já ocorridas em função da mudança.
O imaginário popular se atiçou. Talvez numa espécie de memória genética, de quando o presidente da Província, Manoel Ribeiro Lisboa tentou, em 1835 mudar a sede de Santo Amaro das Brotas para a progressista Maruim, necessitando da Guarda Nacional, regimento de Itabaiana para acalmar os ânimos; porém mesmo assim tendo que fazer a boa política de deixar Santo Amaro como cabeça municipal, apesar de lhe retalhando o território com a criação dos dois novos municípios de Maruim e Capela.
Pois bem. Esses fatos históricos me vieram à mente ao repassar cópias de Atos do Conselho Consultivo, uma espécie de “vereador biônico”, criado pela Revolução de 1930, e que funcionou aqui em Itabaiana até a posse em 15 de dezembro de 1935, do prefeito Silvio Teixeira e dos vereadores com ele eleitos.
No dia 13 de dezembro de 1932, uma reunião foi convocada às pressas pelo intendente Paulino Aristides de Oliveira com o Conselho Consultivo, então ocupado pelo presidente Edson Leal Menezes, pelo secretário Jason Fonseca de Souza, e o membro ordinário, João dos Santos Siqueira. O motivo? O Município de São Paulo, atual Frei Paulo, estava pleiteando junto ao interventor federal no Estado de Sergipe a incorporação do povoado Santa Cruz a aquele município. Santa Cruz, depois conhecida como Cruz do Cavalcante e finalmente Cruz das Graças continuou a pertencer a Itabaiana, na fronteira com o então ainda cinquentão município de Frei Paulo.
De pouco adiantaram as preocupações itabaianenses. O povoado Saco do Ribeiro, Distrito de Itabaiana pela Lei estadual nº 997, de 29.10.1927, foi emancipado pelo Decreto-Lei estadual nº 188, de 18.12.1933, um ano e cinco dias depois, e levou o povoado Santa Cruz consigo. Que em 1963 também virou sede municipal pela Lei Estadual no 1.233 de 26.11.1963.
Mas o povoado não evoluiu; e viu a velha Maniçoba, agora passagem revitalizada entre Itabaiana e a progressista Nossa Senhora da Glória retomar-lhe o protagonismo.
No tecido político foi de essencial importância o pároco de Ribeirópolis, que também o foi de Itabaiana por duas vezes, Manoel Araújo. O padre Araújo pensou em tudo para apaziguar as coisas: até o nome da nova sede, que passou a se chamar Nossa Senhora Aparecida; e a instituição de uma romaria, seguramente a maior do estado, na atualidade, que tem lugar no feriado nacional consagrado à padroeira do Brasil.
E a Cruz manteve-se, pacata, ordeira e saboreando sua história desde os tempos das roças de algodão. Há pouco ganhou acesso asfaltado à SE-175 ou “Rota do Sertão”.