quarta-feira, 17 de junho de 2015

O encolhimento das Almas da Itabaiana

Nesta semana, numa curta discussão de grupo de amigos no Facebook, um deles questionou-me se já não seria hora da Irmandade das Almas abrir mão do laudêmio a que tem direito por ser a proprietária de todos os terrenos correspondentes ao Centro da cidade de Itabaiana. Examinando a situação, além de tradicionalmente se não abrir mão de receita, só em caso extremo, a Paróquia de Santo Antônio e Almas da Itabaiana, com a criação das demais paróquias ficou numa pobreza só. E, como a Irmandade foi um ardil criado pelas autoridades da época para que a civilização por aqui prosperasse e não sofresse solução de continuidade, neste momento, a necessidade de dinheiro para manter esse patrimônio continua forte. Mais uma vez, sua presença como instituição proprietária do prédio da Matriz, do Cemitério de Santo Antônio e Almas, das casas que albergam os religiosos, e não tenho certeza, mas acho que também do CTP, é determinante. A Paróquia murchou; e, como murchou, por si só ficou mais pobre; mais complicado de se manter. Logo, é imperativo que a Irmandade continue sendo a provedora da mesma como tem sido nestes 340 anos. Só uma forma: arrecadar!

A fantástica redução

(*)

A Paróquia de Santo Antônio e Almas se já delimitou com São João de Jeremoabo, hoje Bahia, acima de Carira; com o rio Cotinguiba (do Cafuz), que a dividia das paróquias de Nossa Senhora da Vitória, de São Cristóvão, e Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba, hoje também nome da cidade; com Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, com a de Santo Antônio do Urubu do Sertão de Baixo da Barra do Propriá, e com a de Jesus, Maria José e São Gonçalo do Pé do Banco, ou, Siriri.
A primeira divisão da Paróquia de Santo Antônio e Almas da Itabaiana ocorreu em 1845, com a criação da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Hora, no povoado de Campo do Brito; a segunda, com a criação da Paróquia de São Paulo, origem da cidade de Frei Paulo. E não parou por aí: com a criação do município de Riachuelo, a circunscrição eclesiástica do lugar que pertencera à Nossa Senhora do Socorro e depois à paróquia do Sagrado Coração de Jesus das Laranjeiras ganhou vida própria, levando também o Malhador e, salvo engano, Santa Rosa de Lima. Por fim, Moita Bonita, em se tratando de divisões que também redundaram em separações municipais. De 1990 pra cá, o divisionismo continuou, só que agora dentro da própria cidade de Itabaiana com alcance na sua zona rural.

As paróquias do município de Itabaiana

Pelos números do Censo IBGE-2010, a Paróquia de Santo Antônio e Almas, que determinou a circunscrição municipal, ou seja, toda a sua área, desde que o município nasceu em 1697 é hoje a menos populosa do atual município. De acordo com o sobredito Censo, a área de Santo Antônio e Almas, que está restrita ao Centro da cidade, teve ali 9.088 habitantes, apenas 10,4% dos 86.967 habitantes de então em todo o município, enquanto as outras paróquias dentro do município encontrar-se-iam na seguinte situação: Bom Parto (Bairros: Rotary Club, Serrano, Riacho Doce, José Milton Machado e Queimadas) – 21.761 habitantes; Nossa Senhora das Graças (Sítio Porto, Mamede Paes Mendonça, Macela e Bananeira) – 16.438 habitantes; Nossa Senhora do Carmo (São Cristóvão e Anizio Amâncio de Oliveira) – 13.274 habitantes; e São Lucas (Miguel Teles, Marianga e Oviedo Teixeira), 7.148 habitantes. Isso na população na cidade. À primeira vista, a paróquia de São Lucas seria a menos populosa; porém, esta paróquia conta com o maior número de habitantes na zona rural dentre todas. Um só povoado, o Rio das Pedras (ou Mundés, na denominação antiga) já tinha em 2010 mais de 2.000 habitantes o que, junto com os 7.148 residentes na cidade já era maior do que os 9.088 da paróquia de Santo Antônio e Almas da Itabaiana; e não parou de crescer. Por nos escapar com razoável precisão, as populações em cada povoado, não vamos agregá-la às paróquias com paroquianos fora da cidade; o objetivo aqui é só mostrar que a segunda paróquia a ser criada em Sergipe, murchou. Outro detalhe: existem zonas de forte expansão na cidade; mas todas elas estão nas áreas correspondentes às outras quatro paróquias; não relativo à de Santo Antônio e Almas, resumida apenas ao Centro da cidade de Itabaiana, sem área de expansão, pois. 

(*)Os dados para confecção do mapa da área original da Paróquia foram colhidos nos seguintes documentos, todos da coleção Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, volume 31, pp. 221 a 233:

«LISTA das informações e discripções das diversas freguezias do Arcebispado da Bahia, enviadas pela Frota de 1757, em cumprimento das Ordens régias expedidas pela Secretaria. d'Estado do Ultramar - no anno de 1755.» 
- NOTÍCIA sobre a Freguezia de Santo Antônio e Almas da Villa da Itabayana pelo Vigário Francisco da Silva Lobo;
- NOTICIA sobre a Freguezia de Nossa Senhora do Soccorro da Cotinguiba, no Arcebispado da Bahia, pelo Vigário José de Souza. 1757. (Annexa ao n. 2666.).
- RELAÇÃO dos logares, povoações e rio da Freguezia de Jesus Maria José e S. Gonçalo do Pé do Banco, no Arcebispado da Bahia, pelo Vigário João Cardoso de Souza. S.d (Annexa ao n. 2.666);
- PLANTA da Freguezia de Santo Antonio do Orubu de Baixo do Rio de S. Francisco, no Arcebipado da Bahia. 1757 (coleção especial de mapas sob n´. 220);
- NOTÍCIA sobre a Freguezia de Nossa Senhora da Piedade da Villa do Lagarto, no Arcebispado da Bahia, pelo Vigário João da Cruz Canhedo. 1757. (Annexa ao n. 2.666)
- RELAÇÃO da Freguezia de Nossa Senhora da victoria da cidade de S. Christovão de Sergipe d'Elrei, pelo Vigário Manoel Coelho de Carvalho. S. d. (Annexa ao n. 2.666).
- RELAÇÃO da Freguezia de S. João Baptista do Jerimuabo do Certão de Cima, do Arcebispado di Bahia, pelo Padre Januario José de Sousa Pereira, Parocho encommendado da mesma freguezia. S. João do Jerimuabo, 29 de dezembro de 1757. (Annexa ao n. 2666).



terça-feira, 16 de junho de 2015

Marco desmarcado

Começaram as obras de um símbolo mais que polêmico da cidade de Itabaiana conforme culturalmente inculcado na sociedade: o pretenso marco do Ponto Geodésico do estado de Sergipe. Dizem que motivo de emenda parlamentar ao Orçamento Geral da União por parte do senador Eduardo Amorim, o que, ao examinarmos com exação os três últimos orçamentos federais, concluímos que não: é recurso federal, sim; mas não de emendas.
A priori, o centro geodésico do estado de Sergipe está bem distante do município de Itabaiana (vide reprodução abaixo do Centro Geodésico e do Centro Geográfico absoluto do estado), que se localiza na região do povoado Várzea do Exu, município de São Miguel do Aleixo; todavia, as gerações de intelectuais itabaianenses a partir do último quartel do século XX criaram essa cultura, que ora se materializa imperfeitamente na construção do dito marco.

E qual o significado daquele marco ali plantado desde fins dos anos 40? Pessoalmente, não sei. Posso sugerir que se trate de um marco da Irmandade das Almas, proprietária da cidade e sob quem, não fosse sua existência não haveria cidade alguma. Seria o ponto mais plausível, já que próximo à Matriz de Santo Antônio, de onde tudo partiu a partir de 1675. Sem documentos ou sequer sem uma testemunha ocular de algum fato que lembre a sua imposição ali naquele local, seria de grande irresponsabilidade da minha parte dizer isso ou aquilo, todavia, a certeza de que não é o Centro Geodésico, isso eu a tenho. Não vou aqui declinar sobre a caracterização de marco porque aqui não cabe e há inúmeras referências confiáveis na internet para que o quiser fazer.

De quando é?

Fotografia da Praça em reforma, na administração do prefeito Silvio Teixeira, do 7 de setembro de 1940, mostra um coreto novinho, na sua administração construído; além de mais adiante no horizonte já aparecer a torre e telhado da “igreja dos crentes”, a Igreja Presbiteriana, da Rua Sete de Setembro, inaugurada em dezembro de 1939. Nem sinal do tal marco. Em fotografia de João Teixeira Lobo, de 1949, porém, na administração de Jose Jason Correia já é possível vê-lo com aspecto de recém-implantado. Na reforma feita por Euclides Paes Mendonça em sua primeira administração, 1951-1954, parece ter sido realocado alguns metros mais a norte, como forma de adaptar-se ao redesenho da Praça. Dali não mais saiu.

Na primeira foto, de fins dos anos 20, no local onde foi fincado o marco nada existe.
Na segunda foto, com o início da urbanização da Praça iniciada pelo prefeito Silvio Teixeira, e continuada por Manoel Francisco Teles, cerca de 1941, já existe o coreto, por sobre ele vê-se a torre da "igreja dos crentes", ou, de Eulina Nunes, da Rua Sete de Setembro (Igreja Presbiteriana), e nada do marco.
Na terceira foto, na administração de Jason Correia, já é possível ver o tal marco por entre as árvores.
Na quarta foto, de 1954, vê-se o dito marco, e também percebe-se que andou alguns metros do local original, mas para próximo do passeio público, onde até hoje se encontra.
Nesta imagem, capturada do filme promocional do Governo Luiz Garcia, feito pela Atalaia Produções, em 1961, também percebe-se o corpo de concreto, como se um elemento estranho, a fazer parte da paisagem.