terça-feira, 28 de maio de 2013

Dois anos de uma revolução ainda não percebida.

Jerusalém foi refundada como capital do povo hebreu há cerca de três mil anos atrás. Desde então, nunca deixou de ser a referência deste povo, do qual, em boa parte, nós brasileiros descendemos, e especialmente nós itabaianenses. Mas os hebreus nunca pararam quietos num só lugar. Em linhas gerais, exceto com os atrozes assírios, espanhóis de Izabel e Fernando e nazistas de Hitler, sempre se deram bem com todos os impérios. E por um motivo simples: hebreus, depois judeus, sempre foram comerciantes e prestadores de serviços. E, neste caso, quanto maior a área em que se pode atuar e quanto maior a estabilidade política nela, melhor. Eis porque há judeus pretos, louros, morenos, mongólicos e brancos, naturalmente, espalhados por quatro dos cinco continentes. Todos eles, porém, preservaram sua identidade racial graças a dois símbolos poderosíssimos: a Torá, ou o dito Velho Testamento cristão; e a mítica cidade de Jerusalém.
Jerusalém é uma cidade hipoteticamente fadada ao insucesso. Não está às margens de um grande rio, muito menos à beira mar. Encravada numa região agreste, tem pouquíssima água e, quando foi fundada e até os anos de Salomão era um centro exponencial devido ao pequeno tamanho e à natureza da economia da época onde todo mundo que circulava entre os ricos Egito e Mesopotâmia, por ela tinha de passar. Mas com o passar dos anos, já no reinado de Salomão que os judeus começaram uma grande diáspora pelo mundo, então influenciado pelos fenícios, desde a Ásia Menor (atual Turquia) até a Espanha. O Mediterrâneo foi primeiro um “Mare nostrum” dos fenícios e judeus que dos romanos. Quando Saulo, auto nominado de Paulo de Tarso escreve às sete Igrejas da Ásia, está justamente se dirigindo aos judeus ali fixados desde os tempos salomônicos; mas, nessa mesma época, os judeus já eram grandes comerciantes em ligação com a poderosíssima Roma, desde as cidades da Índia. Logo, já se estendiam da Índia à Sefarad, hoje Espanha.
Longe, muito longe; a quilômetros-luz da situação de Jerusalém, Itabaiana tem sido para os itabaianenses o que Jerusalém tem sido ao longo de três séculos para judeus de todo o mundo. Uma referência. Um lugar onde sequer é visitado pelos “estrangeiros”, mas que volta e meia é lembrado pelas gerações que se sucedem, às vezes até a quarta ou quinta, dos dela emigrados. Não há dados em que confiantemente se possa basear, mas é possível que a população nascida em Itabaiana e sua descendência até segundo grau, espalhada pelo país, seja maior na atualidade do que a residente no município. Metade desse contingente vivendo na capital do estado de Sergipe, Aracaju. A curta experiência de polo agregador, de atração da migração, experimentado entre as décadas de 50 e 70, desapareceu desde a década de 80 do século próximo passado; e na década de 90 houve forte queda nas expectativas de crescimento que se mantiveram com suave melhoria na primeira década deste século. O motivo é simples: a economia. Como os nossos ancestrais judaicos que até nós chegaram como cristãos-novos, somos comerciantes e prestadores de serviços. Foi justamente durante o período de crescimento da produção agrícola, verificado entre as décadas de 50 e 70 que o município realmente experimentou crescimento. A saída contínua em busca de mercado de trabalho, contudo, tem feito sofrível o crescimento populacional atual do município como um todo, mesmo que a cidade continue a se expandir.
Há tempos que se tenta alguma forma de congregar os milhares de itabaianenses: os que se vão e os que ficam. Todavia, a ausência de um impresso perene, seja jornal ou revista nunca facilitou essa tarefa. Ao contrário, sua ausência mais ajudou a dissipar, à medida que as gerações se sucedem e mais se distanciam consanguineamente.  Um fato novo, porém, veio dar um alento na tentativa de reatar laços rompidos pela necessidade de sobrevivência e progresso pessoal de cada itabaianense, especialmente dos que partiram em relação aos que ficaram: a internet. Ainda hoje vibro de alegria com os primeiros e-mails recebidos de itabaianenses residindo nos quatro cantos do mundo, bem como de pessoas que conosco conviveram por algum tempo e depois retornaram aos seus lugares de origem. Isso ocorreu quando pus o primeiro portal de internet de Itabaiana no ar em 2001. Foram vários pedidos pra localizar parentes e amigos, muitos até que já não viviam ou haviam se mudado para outras localidades. Um festival de informações solicitadas de gente com saudade do torrão onde nasceu e se criou. Mesmo meu portal tendo tido vida efêmera, ao sair do ar ele já deixou como filhos os portais da Câmara Municipal e da CDL e como espelho o Itnet que ainda hoje aí está, e que continuou a receber o mesmo tipo de solicitação. Mas de dois anos pra cá a coisa ficou mais dinâmica. Não se trata mais daquele e-mail que depende da disponibilidade e vontade de quem manda e da vontade de responder ou ajudar de quem receber; agora a coisa é quente, ao vivo, direto, agora é o fenômeno Rede Social; essa magnífica ferramenta da internet que não para de inovar.
No dia 28 de maio de 2011 eu fique chateado: uma reunião com pesos pesados da cultura sergipana como o presidente da SEGRASE, Jorge Carvalho e do grande e saudoso Luiz Antônio Barreto e pesos pesados da cultura itabaianense, para a qual fui convidado de próximo, à ela não pude comparecer. É que eu estava com viagem marcada, inclusive dependendo de terceiros para um roteiro que incluía entre outras localidades, a cidade de Itapicuru. A velha vila do Itapicuru onde foi traçado parte do destino da Independência de Sergipe que teve Itabaiana como pivô. Não fui à reunião. Dela, porém restou uma ideia; um grupo de itabaianenses a por em marcha a cultura local de forma organizada, vivaz, não sujeita, pois, aos tantos trancos que tal essência social tem quando numa terra aonde tanta gente sempre vai embora. Inicialmente a ideia era apenas um grupo como grupo qualquer. O que no meu íntimo logo temi pela sua continuidade. Mas era impossível não se contaminar com a fibra de guerreiro cultural de Luiz Antonio, bem como a disposição dos que então o acompanhavam. Mas a certeza de que isso renderia; de que o Itabaiana Grande não seria mais um daqueles grupos que no passado tanto se criou para logo fenecer, foi quando na segunda reunião Robério Santos anunciou a criação do grupo no Facebook, bem como se delineou ali suas diretrizes: agregar itabaianenses em qualquer lugar do mundo pelas suas memórias. Vida! Cultura viva. Gente trocando experiências vividas; reforçando a história oral, dando testemunho de pedaços na história escrita, contando sua própria história; enfim, reunindo na internet uma Itabaiana, não mais e apenas física, geográfica e entre suas serras; mas em todo o mundo onde se encontre alguém que aqui nasceu ou que nasceu de alguém que aqui nasceu. Desde então milhares de fotografias, pessoais, familiares, de grupos outros, paisagens antigas... fantástico! Já em seguida aquele esplêndido 28 de maio de 2011 surgiu em outubro seguinte a Bienal 2011, a primeira feira de cultura erudita num lugar que teve seu primeiro prédio escolar construído apenas em 1936, 260 anos depois de fundado, e melhor, vários autores da terra expondo seus trabalhos. Para coroar o momento, instalamos mais um grupo de cultura erudita, a Academia Itabaianense de Letras que neste próximo dia 31 terá sua primeira sessão de posse solene de membro, no caso do médico e escritor Antônio Samarone Santana, principal estimulador e um dos fundadores do grupo-pai, o Itabaiana Grande.
Só temos a comemorar. Meus parabéns ao Antônio Samarone por ter sido o pivô dessa ideia tão bem sucedida; e ao Robério Santos por ter tido a visão da grandeza do que se poderia ter nessa missão ao incluir o povo mediante o grupo na rede social via Facebook; e pela dedicação e intenso trabalho neste que é um trabalho estritamente voluntário, pouco importando o lucro maior obtido, que é a satisfação do servir. Parabéns, Itabaiana Grande, pelos seus dois anos neste dia 28 de maio de 2013. Não somos a Jerusalém com seu Muro e suas relíquias, também há quatro séculos que nossos ancestrais cristãos-novos não suportarando a tirania da Inquisição deitaram fora suas raízes pela sobrevivência; mas temos a Serra, Santo Antônio, a Associação Olímpica de Itabaiana e nossa história que cada vez mais se recupera. Não temos uma religião que nos una em todo o mundo através de seu livro sagrado, mas agora, modestamente temos as redes sociais, e, para nelas começar, o grupo Itabaiana Grande.