quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

TENACIDADE E RESULTADOS

 

 


Os números ainda estão por serem fechados; mas o IBGE já projeta dois fatos interessantes, relativos ao crescimento populacional de dois dos mais importantes centros políticos e econômicos do estado de Sergipe: sua capital, Aracaju e Itabaiana.
Desde o recenseamento de 1940. Há 80 anos, portanto, que a capital sergipana se descolou das demais cidades sergipanas, agigantando-se e deixando as demais comendo poeira. Concorreu para isso a insistência da elite política sergipana em concentrar na capital os parcos recursos públicos em serviços, tais como hospitais, colégios etc., afora a natural concentração da administração do Estado e o grosso da máquina pública.
Ficou famosa a frase, de despeito de Euclides Paes Mendonça, que dizia que Aracaju só tinha mais que Itabaiana, água salgada e soldado de polícia. Uma resumida exagerada: na época dos seus 13 anos de liderança – 1950-1963 – Aracaju já concentrava muito mais.
A população de Aracaju cresceu exponencialmente desde 1940. Naquele ano foi de 59.031 habitantes. Porém, Itabaiana, ainda com o que veio a ser Moita Bonita cravou 30.176, ou seja mais da metade da capital; e em Lagarto, gêmea de Itabaiana desde o estabelecimento dos respectivos distritos e seu primeiro capitão de infantaria da ordenança, José Leitão de Barros, em 1654, foram apurados 34.204 habitantes.


Na série histórica dos recenseamentos, pelo IBGE, desde 1940 o município de Lagarto, de área três vezes maior que o de Itabaiana, sempre esteve à frente. Exceto agora. Já Aracaju, como bem observado por Sebrão, o sobrinho, fagocitou todo o estado, especialmente as cidades mais próximas, chegando a representar em 2010 seis e meia Itabaiana, e também Lagarto; e sugando todo o crescimento vegetativo das urbes em derredor, outrora centros garbosos da antiga sociedade açucareira, como Laranjeiras, Riachuelo, Maruim, São Cristóvão (ex-capital), Itaporanga d’Ajuda e Nossa Senhora do Socorro.
Como num ato de vingança, São Cristóvão, e especialmente Nossa Senhora do Socorro, não somente passaram a se agigantar com o excedente aracajuano  – sedes empresariais e população das classes C, D e E – como em 2022 tiveram crescimento positivo, além do estimado, qual faltou uma Estância inteira à capital. Todavia, da grande Aracaju o salto ficou por conta da velha missão dos Coqueiros: a Barra dos Coqueiros mais que confirmou a tendência de crescimento rápido, já verificada em Nossa Senhora do Socorro na década de 1980, quando então saltou de onze mil para mais de 67 mil habitantes. Barra dos Coqueiros, considerados todos os fatores de crescimento teria 32 mil habitantes nas projeções do IBGE. E surpreendeu com 41.644.


O Ciclo Virtuoso Serrano

Em 1950, dois fatores foram reunidos em Itabaiana, a chegada definitiva do Nacional-Desenvolvimentismo e a presença de uma liderança política forte, rompendo com vícios de discriminação da extensa maioria rural da população; se alinhando com as tendências nacionais de desenvolvimento, facultando esse localmente, como o início da agricultura irrigada através da Açude da Macela(*)
O Colégio Estadual Murilo Braga foi inaugurado em 29 do novembro anterior, 1949, e entrou em operação em 1950: finalmente as pessoas teriam mais um motivo, além da matriz e da feira, para morar na cidade; a BR-235 chegaria em 1953 e a energia de Paulo Afonso em 1955.
A água encanada, secularmente desejada só chegaria em 1964.
O assassinato de Euclides Paes Mendonça e de seu filho ameaçou seriamente a retomada de Itabaiana como coliderança estadual. Somente a partir do fim da década de 60 o município voltou a respirar amor próprio. Dessa vez não foi a política o principal fator a galvanizar o espírito serrano; e sim um inédito título de campeão estadual de futebol.
Porém, o município continuou sem reter sequer os nascidos na década e o crescimento continuou lento.
Em 1973 chegou o asfalto. Esse, porém, como observou a comissão do Ministério dos Transportes, em reunião do Rotary Club de 1972 veio como uma faca de dois cumes: poderia trazer mais rápido o desenvolvimento, contudo, corria o risco quase certo de fuga da população, agora facilitada, para a capital. O que certa forma ocorreu.
Em 1978 foi inaugurada a Rádio Princesa da Serra. Durante a sua primeira década, a emissora serviu de amálgama à sociedade, como um todo; e à sua economia em particular. Também é nesse período que ocorreu a implantação pelo Governo do Estado, em convênio com o Federal, dos projetos de irrigação, Ribeira e Jacaracica(**), com eletrificação e melhoria geral da estrutura rural; e, em 1988, veio a grande novidade: Constituição Federativa de 1988.
A Constituição de 1946 havia criado uma liberdade aos municípios brasileiros jamais vista. Isso provocou excessos levando a tragédias, como a que ocorreu em Itabaiana; mas a Constituição de 1988, que enterrou a totalitária de 1967 e seus nefastos atos discricionários, trouxe a redistribuição aos municípios, sem descuidar da fiscalização para inibir excessos. Além de projetos até então inexistentes ou mofando nas gavetas por mais de século.
No censo de 1991, Itabaiana teve adicionado quase um terço a mais da sua população de 1980: de 44 para 64 mil habitantes.
Em 1994 veio o Plano Real. Com a estabilização da moeda, o planejamento, área vital da governabilidade começou a produzir seus efeitos.
A queima do patrimônio do Estado, em 1998, com as vendas da Telergipe e Energipe, proporcionalmente, em quase nada beneficiou Itabaiana que, contabilmente teve arrecadação quase dobrada – 9 milhões previstos para 17 executados. Porém a sanha desenvolvimentista já havia sido despertada.
Em 2003, a mudança de visual da área comercial do Centro e adjacências, com asfaltamento e adequação do passeio público deu uma guinada nos egos serranos; em 2007, a ampliação do asfaltamento deixou todo o Centro com visual de mais limpo.
Em 2002, o surgimento de um campus universitário privado – a UNIT - movimentou a cidade; mas foi com a chegada, em 2006, do segundo campus, público, da Universidade Federal de Sergipe que o impacto educacional, teve efeito análogo à chegada do Colégio Estadual Murilo Braga, em 1949.
Enquanto isso, retomando o seu lugar de cidade-mãe do Agreste e região da margem esquerda do vale do Cotinguiba, Itabaiana continuou aumentando seu papel de apoio logístico às demais cidades dela derivadas, onde somente Riachuelo permanece completamente desligada.
Em 2009 começou o último de todos os fatores responsáveis pelo crescimento positivo, ora verificado: a nova fase de expansão urbana. Em dez anos a cidade cresceu um terço da área pré-existente. E aqui merece uma observação: um crescimento padrão classes C e B. Isso retoma o padrão clássico serrano de até a década de 70; sem muitos desníveis.
Uma vez encontrado o caminho, a responsabilidade mais pesa para o poder público no sentido de manter a máquina funcionando e servindo de guia a esse Sergipe, eternamente exportador de talentos.
E, como lembrava meu saudoso pai, “quem doa tudo o que tem a pedir vem”.
Todo lugar que perde população empobrece; e o que ganha cresce.
Esperemos a próxima década para ver se nossos dirigentes finalmente acharam o caminho. Se Itabaiana alcançará nos próximos vinte anos o status de metade da capital, como em 1940.
Tenacidade para tal, o cidadão comum já provou ter.

(*) Macela, nome de planta; e não Marcela, nome feminino.

(**) Jacaracica, de jaguar, onça em tupi.

domingo, 1 de janeiro de 2023

PEDRAS DE SAL QUE PROMETEM.

 

O grande Patativa do Assaré escreveu e Gonzagão eternizou na poesia A Triste Partida que o dia da “experiência” era o dia 13 de dezembro; mas, meu saudoso pai a usava na noite de 31 de dezembro: a “experiência das pedras de sal”.
Ainda botei reparo: os meses em que mais as pedrinhas derretiam ao sereno eram os meses em que mais viria a chover no ano. Uma pedrinha para cada mês; um a um, devidamente grafados em lousa de tábua rústica e exposto ao sereno noturno desde por volta das dez da noite do referido dia 31.
Ontem, se feita, a experiência teria sido baldada: caiu um fantástico toró – ao menos aqui em Itabaiana – desde a última meia hora do ano e se prolongando até ao menos os primeiros vinte minutos deste novíssimo e recém inaugurado 2023, que teria diluído todos as pedras, arruinando o resultado.


Verão excelente para os padrões do Agreste de Sergipe.

A primeira semana de dezembro começou com um invernico, iniciado ainda no último dia de novembro, e que se estendeu por quase dez dias, deixando as represas e demais reservatórios cheios, além da vegetação verdinha. Mas não parou por aí: o último refresco do ano veio justamente na hora da virada.

Na sexta-feira, 30, pela manhã, num prazeroso retorno ao Parque do Falcões, a mata foi um luxo só. Enquanto saboreávamos a excelente mistura de apresentação com aula muito bem humorada sobre biologia das aves e noções ecológicos pelo treinador e coadministrador Alexandre Correia – só faltou a demonstração da maestria de Percílio interagindo com as aves... ele não estava presente - uma passadinha da vista ao redor deu pra experimentar um clima de inverno com a mata e a relva verdinha. No local, nessa época do ano está tudo pelado, exceto as pequenas e retorcidas árvores, típicas da Caa-ndu – mata rala ou pouca - indígena de priscas eras: o Gandu.

O instrutor Alexandre Correia, ministrando conhecimentos sobre a biologia das aves. Em destaque o "Arabó", ave nobre, altaneira, ecológica, com a qual era denominado Sergipe pelos indígenas dessa parte do Brasil: "Sertões do Arabó". Até 31 de dezembro de 1589. 

Graças às últimas chuvas está tudo verdinho.

O pé de serra, verdinho, em derredor da Serra. Vegetação rala (daí a denominação Caa-ndu, Gandu, mata rala).
Local foi teatro de importante acontecimento na História do Brasil: a vinda do Governador-Geral, D. Luiz de Souza, em 16 de julho de 1619, em companhia de Melchior Dias Moreia (neto de Caramuru) para supostamente tomar posse das minas de prata que este achou. As mesmas foram apontadas para essas colinas.