sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Reprise da história

Publicado no extinto Portal Itabaiana (portalitabaiana.com.br) em 08 de agosto de 2003.


(continuação)
O entra e sai na Prefeitura, como também na casa dos Deputados, estrategicamente situada num canto da Praça Fausto Cardoso - a Praça da Matriz, onde todos as famílias de bem e de bens devem residir - faz o contraponto com as arrumações no Ginásio Estadual Murilo Braga para aquela que será a passeata da desgraça.
Sem o saber, dezenas de alunos, professores e dirigentes participarão da farsa cujos resultados parecem premeditados pelo que ocorrerá nas próximas horas, uma passeata, cuja será "garantida" pela Polícia Militar do Estado de Sergipe. Na noite anterior, reuniões de organização do ato foram realizadas e a mesma, na sua aparência é um inocente e democrático ato de protesto contra possíveis resistências do Chefe Político de então a respeito da chegada do sistema de água encanada, que irá retirar Itabaiana da era primitiva.
A passeata toma o rumo da praça central da cidade sob os gritos de "queremos água", uma forma de obrigar o "Chefão" a dobrar-se diante das evidentes opiniões modernizantes. Provocante como todos os atos do gênero, ela está prevista para passar na frente da casa do mesmo. A polícia segue lhe dando "garantias".

A Prefeitura está lotada de gente, inclusive de reputação pouco aconselhável; é assim que funciona o coronelismo. De todas as partes envolvidas. Metido lá dentro, o jovem deputado Antonio de Oliveira Mendonça, que como seu pai, não atendeu aos apelos de amigos cismados com o clima instalado na cidade para que se ausentassem enquanto ocorresse a manifestação.
A passeata avança. Ao dobrar a esquina da Rua 13 de Maio com a Travessa Manoel Leite Sampaio, oitão da Prefeitura, o deputado Antonio de Oliveira Mendonça percebe a confirmação da armação política: o jipe que transporta o sistema de auto falante, condutor da passeata é mesmo de um desafeto dissimulado seu e de seu pai e então toma o caminho da porta.

Não há santos nessa parada, salvo os alunos e mestres do Murilo que apenas participam de uma passeata cidadã. Diz-se ou suspeita-se, lá dentro da Prefeitura, homens armados até os dentes espreitam para dissipar a garotada ao som de balas. Da calçada de sua própria casa, a observar, Euclides espera a passagem. Antonio sai de dentro do prédio da Prefeitura. Toma uma câmera fotográfica com que irá tirar a prova de que estão sendo traídos pelo colega de partido e... De repente um zumbido. Alguém atirou num policial. A garotada bate em debandada tendo gente que irá se esconder até debaixo de camas estranhas. A resposta brutal é uma... duas... três rajadas de metralhadoras no jovem deputado que tomba ao chão sem o maxilar inferior, comida por uma das rajadas. Em desespero, camisa aberta, seu pai que a cinqüenta metros presenciou a cena corre ao seu encontro e recebe uma quota de balas, tão forte e letal quanto a que fez tombar seu filho. Encerra-se aqui um capítulo da história de Itabaiana, cujo terá desdobramentos posteriores e ainda hoje, quarenta anos depois, é uma chaga crônica nesta própria história.
Quem é Euclides?
Euclides Paes Mendonça é um dos três filhos de uma modesta família de agricultores da Serra do Machado, ex-Município de Itabaiana, que conseguiram brilhar na vida social, econômica e política do Estado de Sergipe. No caso dos outros dois, Mamede Paes Mendonça e Pedro Paes Mendonça, em não tendo recebido a desgraça que acolheu Euclides se tornaram estrelas no comércio nacional com a fundação de duas grandes redes de supermercados - o Bom Preço e o Paes Mendonça - este último tendo seu nome extinto pelos novos donos assim que trocou de mãos.
Os três começaram no ramo comercial estabelecido, quando da instalação de uma padaria no Saco do Ribeiro, nome depois trocado para Ribeirópolis. Dissensões e malogros no empreendimento - dois bicudos não se beijam, muito menos três - desfez a sociedade vindo Euclides para Itabaiana por cuja cidade parece que tinha fixação; uma verdadeira adoração. Mamede foi aventurar-se em Salvador, Capital do Estado da Bahia e Pedro retornou à Serra do Machado ali estabelecendo um pequeno comércio. Este depois se mudaria para Aracaju, lá se estabelecendo e entrando na política o que o levaria a se distanciar do irmão Euclides, já que a área de base política disputada pelos dois passou a se confundir. Euclides resolveu refundar Itabaiana.

A Vila do fim de mundo.
O pequeno distrito, com uma praça deserta e mais duas ruas cheias de casas de taipa, porém rebocadas era de uma pobreza enorme.
Sua elevação à condição de Vila trinta anos depois nada lhe muda desde que a povoação começou a se formar em trono da nova Igreja de Santo e Almas de Itabaiana Grande, no início do século XVII. Assim permanecerá até a década de 30 do século próximo passado - o século XX.
Os ricaços da cidade possuíam um sobrado construído em paredes de taipa, com piso superior em madeira, sacadas da mesma forma, às vezes constituindo abuso pelo avançar sobre a via pública. As paredes destes sobrados costumavam ser rebocadas e pintadas com toá, um pigmento natural e freqüente na região, depois com o aparecimento da cal, esta substituiu a pintura.
Item vital era cisterna construída para guardar água das chuvas, mas que pela falta de um material como o cimento portland, cuja invenção demoraria chegar por aqui, somente na década de trinta em diante é que começam a serem construídas com freqüência e consistência. Era mais vantagem morar na zona rural, especialmente na parte do Município menos atingida pelas secas do que na vila. Aliás, segundo Vladimir Souza Carvalho, in A República Velha em Itabaiana, ed. Fundação Oviedo Teixeira - 2000, a elevação à condição de cidade de Itabaiana em 28 de agosto de 1888 se deveu mais aos interesses do Deputado Guilhermino Bezerra em promover o salário de dois irmãos professores do que à necessidade ou reclamos de seus poucos habitantes. Foi fugindo desta condição miserável que muitas famílias daqui migraram, dentre elas a da historiadora Maria Thétis Nunes em 1933.

Uma jornada de glória e tragédia.
Entre o Estado Novo, 1937, e a Constituinte de 1946, a política local viveu uma balbúrdia com troca de prefeitos biônicos o tempo inteiro, deles tendo permanecido no cargo por menos de seis meses. O progresso, contudo, patinava. Nesta época Euclides já se encontrava em Itabaiana com um pequeno armazém e depois uma padaria na esquina da Rua Marechal Deodoro com Rua Coronel Sebrão (Beco Novo). Deste empreendimento se desfaria depois repassando-o a um fiel escudeiro desde os tempos de Ribeirópolis, o então futuro Vereador Manoel Clemente da Rocha - Manezinho Quelemente.
Diz-se - não temos a comprovação - teria concorrido às eleições de 1947 contra Jazon Correia. Em 1950, entretanto, contra a máquina do Estado, nas mãos dos adversários e completamente viciada se elege Prefeito pela UDN - o moderno partido de direita com cujo se afina. A UDN - União Democrática Nacional - em geral é um partido progressista, ao invés do PSD, todo recheado de coronéis decadentes, política e economicamente, donos da máquina administrativa do Estado, mas sem o dinheiro necessário para manter-se de pé por muito tempo. Em Sergipe a UDN não chega a ser esses primores de modernidade, haja vista o tipo de homens que a compõem, mas tem uma visão, oportunista ou não, modernizante.
Depois da Constituinte de 1946, segundo várias opiniões de peso, a melhor do país até os dias atuais, a modernização toma curso e os resultados dos investimentos em infraestrutura se tornam cada vez mais visível. CHESF - energia; DNOCS, água e combate às secas; e a industrialização que toma impulso para tentar reparar os danos produzidos pela política da escravidão e do café com leite dos primeiros trinta anos de República. Euclides embarca nessa. Vê aí, pela análise da história, que é hora de ganhar dinheiro e fazer crescer a cidade pra ganhar mais dinheiro ainda, num efeito retroalimentador.
De seus primeiros anos à frente da Prefeitura fica o aperfeiçoamento dos instrumentos legais do Município, tais como códigos de conduta, de cobrança de tributos, de saúde e saneamento e até de ecologia como seja a proteção de nascentes e leitos de rios.
E ele manda cobrar os impostos. Uma saraivada de impostos e taxas municipais, uns já existentes e outros licenciados pela Constituição de 1946, faz com que o Município comece a ter dinheiro para executar obras. Afeito ao efeito político, Euclides passa a abrir alinhamentos para futuras ruas, muitos deles que somente se confirmariam na década de 70, quase dez anos depois de sua morte.
Sua busca por novidades e modernização fez surgir na cidade, maliciosamente plantadas pela oposição, as supostas patadas do "tabaréu" como assim a ele se referiram durante anos. Nesta onda de populismo, Euclides não chegou a instalar uma emissora de rádio, mas percebeu a importância da palavra amplificada e ao vivo dos serviços de auto falantes e estes se tornariam então corriqueiros na propaganda quer de cunho institucional, quer meramente político, na maioria das vezes. Ficou lendária sua luta para a construção de um campo de pouso, pomposamente anunciado como aeroporto, em cuja história se inspira o jornalista Sebastião Nery(*) para exemplificar um pouco do jogo de interesses no poder. Enquanto isso, anedotas não faltam.
Tendo a Vila de Itabaiana ao ser emancipada 1888 pouco mais de 2.500 almas, em 1950, seis décadas depois, quando Euclides Paes Mendonça assumiu a Prefeitura contava a urbe com menos de seis mil habitantes (5.746). Em 1960, entretanto, mesmo sem a presença de água encanada a cidade já tinha pulado pra 11.050 habitantes - quase o dobro. Contribuiu para isso a entrada em operação de alguns serviços como a melhoria das estradas e dos transportes, além de um uma mini infra-estrutura em saúde que começava a ser montada. A esse fluxo de crescimento decenal de 92% se contraporia o do da década seguinte - 1960 a 1970 - cujo ficou na marca de 48%, apesar do amplo movimento de êxodo rural verificado a partir daí em todo o Brasil.

Trauma Geral
Salvo os adversários mais rigorosos, suspeitos até de conspirarem pelos acontecimentos de 08 de agosto, a cidade ficou pasma depois daquele dia. Em geral, os oposicionistas queriam Euclides fora da Prefeitura e do poder, de preferência humilhado pelas urnas; nunca morto e servindo de assombração a pelos menos duas gerações futuras. Seu nome foi manchetes em jornais de todo o país dado a sua condição de Deputado Federal, assim como o fato mais trágico ainda de o macabro evento também ter ceifado a vida de seu filho e também deputado. Foi também o fato de ser Deputado Federal que fez vir a Sergipe membros de uma CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito, da Câmara dos Deputados para investigar o ocorrido. Ninguém disse nada; pareceu que o assassinato duplo tivera sido coisa da imaginação.E os Deputados investigadores da CPI voltaram para Brasília de mãos vazias. E a cidade acordou para um pesadelo.
No partido dos Caras Pretas, como era então denominado jocosamente pela oposição, ninguém à altura pra substituir-lhe: Euclides era simplesmente insubstituível. Pelo lado dos Rabos Brancos, também jocoso nome com que devolviam os udenistas aos seus adversários, o maior nome era do ex-Deputado Manoel Francisco Teles, cuja força viera apenas das maquinações partidárias do Estado, mas que por si só nunca a tivera tanta. E estava em franca decadência ficando na quinta suplência na eleição à Assembléia Legislativa em 1966 com 1.783 votos. Na mesma eleição, a nova força que despontaria a partir daí, a de Francisco Teles de Mendonça - Chico de Miguel - conseguiria 3.202 votos, sendo o sétimo colocado entre os 32 deputados eleitos.
O Município entrou em polvorosa com a falta de um líder de peso e ao fato traumático de 08 de agosto de 63 veio se juntar as dificuldades a partir de 31 de março de 1964 com o golpe de Estado dado pelas elites econômicas do país e pelos militares.
Somente a partir de 1966 Francisco Teles de Mendonça começaria sua caminhada cujo ápice se deu aos poucos e em duas etapas: a do controle total da Prefeitura a partir de 1977 até 1988; e a conquista de uma cadeira estadual e uma federal em 1990.
A década de 60 foi quase toda perdida para Itabaiana.Tudo que foi feito no período veio por efeito retardado do que Euclides havia plantado anteriormente. Inclusive o título de Cidade Modelo, uma espécie de ouro de tolo que em nada ajudou o Município.
Os investimentos em infraestrutura somente voltariam a acontecer depois de 1975 e no período, apenas o asfaltamento da BR-235, obra federal e sem nenhuma influência do Município em 1972, aconteceu. Concorreram para esta queda, como já dito, as políticas centralizadoras do movimento de 64, inclusive em suas grandes crises financeiras de 1964 e 1967.
A novidade administrativa que seria o período de Filadelfo Araújo foi procrastinada pelo golpe branco do Governo Médici que abreviou seu mandato para apenas dois anos. Esta, tendo sido a administração em que mais se arrecadou em Itabaiana na história dos tributos municipais, caso tivesse as contrapartidas e as condições de planejamento para o quatriênio como inicialmente apontadas teria aí sido o retorno ao progresso verificado na era euclidiana.
A sensação de orfandade reinou por mais de dez anos.

Quem matou Euclides?
Euclides Paes Mendonça, pelo que ainda se ouve na cidade foi um homem intrépido, voluntarioso e que fez muitos lacaios e poucos amigos entre as gentes importantes, do Município e do Estado.
Hábil negociador e negociante, inaugurou a política da corrupção eleitoral à base do dinheiro, a franciscana (pejorativamente falando) do "é dando que se recebe".Não que a corrupção não existisse já que desde o advento da República que em Itabaiana ia bem politicamente quem tinha os cargos do Estado na mão. Da Intendência, depois Prefeitura não contava de tão exíguos em importância e em remuneração. Euclides, a princípio não contava com Cartórios, Promotoria ou Juizado: comprou a todos. Está viva a lembrança de quando chegava nas pequenas mercearias ou bodegas da cidade e da zona rural e sendo dono de potente armazém, mandava turbinar os estoques de gente que não era lá tão fiel a ele. Com isso segurava o eleitor dissipador de opinião. Invariavelmente dava certo.De vez em quando alguém se insurgia e acabava dançando frente a concorrentes mais fortes, turbinados pelo chefe político.
Foi o primeiro político itabaianense a usar as benesses das viagens aéreas e com isso tentar arrancar recursos federais pra Itabaiana, por cujos, acusava a oposição, cobrava um cachê para si próprio. Sua intrepidez não se amainava frente à escrivaninha do Governador de plantão, mesmo que esse lhe fosse devedor pelo esforço que fazia para o eleger, depois vindo negar-lhe os pedidos. Ainda corre na cidade que um dos responsáveis pela trama que o matou teria sido o próprio Leandro Maciel, ex-Governador (1958-1962) e em tese amigo de Euclides.
De tantas histórias que o faz viver plenamente no imaginário itabaianense, mesmo depois de 40 anos fica, pois, a suspeita de que foi o seu modo de ação, ameaçador aos poderes centrais das oligarquias tradicionais do Estado que levaria os membros destas oligarquias a terem decidido pelo seu fim. Teria sido demais a um "Doutor" das famílias tradicionais ter que fazer reverência a um"tabaréu" analfabeto da Serra do Machado, de Itabaiana. Pouco importava a sua inteligência. Tivesse Mamede despontado com seu pegue-pague em Salvador mais cedo e Euclides talvez tivesse sido defenestrado mais cedo ainda da vida política de Sergipe.
Ao fim das contas, todos os que mais acidamente lhe fizeram oposição foram caindo um a um. Seixas Dórea, antigo companheiro que se passou para a vantagem do lado contrário deu demais com a língua nos dentes e foi preso pelos militares. Leandro Maciel, para contra-gosto dos militares se elegeu em 1966 ao Senado e perdeu fragorosamente em 1972 para um desconhecido de nome Dr. Gilvan Rocha. E com Manoel Teles, a desgraça se repetiria quatro anos e vinte e um dias depois daquele fatídico 08 de agosto.

O azar na cronologia da história.
Quando Euclides Paes Mendonça foi assassinado o país vivia sob tensão constante.
O Presidente da República eleito com a ajuda de Euclides, Jânio Quadros, renunciara seis meses depois de assumir. João Goulart, constitucionalmente o Vice-Presidente eleito - na época o Vice eleito era o mais votado de qualquer partido - e que era contestado veementemente, e principalmente pela UDN de Euclides, contestação assumida pela maior estrela nacional do partido, Carlos Lacerda.
O presidencialismo, depois da curta experiência do parlamentarismo tinha voltado, mas a oposição liderada pela alta cúpula da UDN preparava o golpe de março. O famoso comício da Central do qual Seixas Dórea participaria ali selaria a sua sorte. Tivessem os algozes de Euclides e Antonio se demorado mais oito meses e provavelmente Euclides estivesse completando os seus 87 anos no próximo 03 de novembro. Talvez até tivesse seu mandato cassado numa manobra partida daqui do Estado, porém, o fato é que os articuladores de sua morte não teriam tido a ousadia que tiveram. Como a ação corresponde a reação, é tido como fato de que a morte de Manoel Teles decorreu de vingança, logo, este mais velho talvez já tivesse morrido de morte natural, ambos sem nos deixarem essa triste lembrança histórica, e provavelmente Itabaiana bem mais importante do que é.
Quarenta anos depois, apesar de apenas 13 de poder, Euclides Paes Mendonça continua vivo. Mesmo que seu mausoléu no Cemitério de Santo Antonio e Almas de Itabaiana não seja visitado como costuma ser o dos heróis ou vilões da história, seu nome sempre ecoa nas esquinas e nas reuniões onde o assunto política de hoje e de ontem se confundem.
(*) Link quebrado. Foi desativado pela Tribuna de Imprensa.

Em perfeito juízo.

A desistência de Anderson Menezes em concorrer à sua quarta reeleição à Câmara de Vereadores, é mais que louvável. Produto da vontade de seu pai, José Menezes Corcínio, o Zé das Canas, o jovem Anderson entrou nessa corrida maluca, novinho “cheirando a leite”, como se diz no popular para descobrir que a vida pública, da forma como é vivida por aqui é uma tremenda quimera. Em todos os sentidos. Para os que a julga um poço de ouro; e para os que a julga a escada perfeita para a realização de sonhos coletivistas - os mais nobres. É coisa de louco. Se os mal intencionados tivesse um pouquinho de juízo na cabeça, no mínimo pensariam duas vezes antes de achar que levarão vantagem.
Exceto para altos golpes, quase sempre sob preço absurdo, no mais, achar que é vantajoso entrar na política brasileira, especialmente no cargo de vereador, e ainda por cima gastando rios de dinheiro é pra ser mandado direto ao hospício mais próximo. Anderson – e seu pai – agüentaram muito.
A corrida eleitoral não é propriamente para ser exercitada por ricos, enquanto apenas ricos. É de um desperdício de tempo e dinheiro que não tem comparação. Quanto mais rico mais explorado pelo eleitorado malandro; e portanto, mais propenso a roubar, caso ganhe. Fica uma dança de rato correndo atrás do rabo. Zé insistiu junto ao filho para alçá-lo à condição de líder, todavia, mesmo exercendo alguma liderança, o que deu as quatro legislaturas de Anderson foi mesmo seu bolso, e o tamanho da assistência gerada pelo poder dele. Desde as distribuições de "bacalhau da Semana Santa" que seu pai promoveu a partir de meados dos anos 70, quando o próprio Anderson ainda era um garotinho.
Se quiser fazer serviço, de graça e investindo pesado ainda pode voltar. Sem máquina de governo, entretanto, ou participação intestinal e subserviente em algum esquema, será sempre assim. Anderson não é “do meio” e, pior, é “muito perigoso” se receber corda (no bom sentido). Pode depois ninguém segurar. E, de administração os políticos grandes de Itabaiana pode até não entender. Mas de manter o poder, nem toda a família Médici ganharia deles.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Saudades do Menestrel.

Quando no início dos anos 80 a classe média de direita associada à parte perseguida da classe média de esquerda conseguiu finalmente por os militares, ainda no governo, de joelhos, tudo parecia dar errado no país. O movimento com uma pitada de estímulo vindo das escolas americanas de onde proveio meio mundo de técnicos e até intelectuais brasileiros que ainda hoje estão na ativa foi fulminante para detonar de vez com a auto-imagem do país. Ainda hoje sofremos desse complexo de vira-lata, levado ao extremo naqueles tempos em que planos econômicos eram esmagados em questão de dias; crimes de Estado - por conta dos mercenários contratados para debelar os rebelados de esquerda - eram uma comum como o assassinato da secretária da OAB no Rio de Janeiro por uma bomba, além do Rio-Centro, etc. E aqui entravam as “reservas morais” da nação. Tancredo de Almeida Neves, Lins e Silva, o grande Raymundo Faoro, Barbosa Lima Sobrinho e tantos outros, inclusive um coroné do açúcar alagoano que, paradoxalmente foi transformado em símbolo de liberdade. Seu nome: Teotônio Vilela. Virou poema musicado por Milton Nascimento e também cantado e decantado na memorável campanha das Diretas-Já pela paraense Fafá de Belém. Se fosse hoje, com a internet, descontrolada e radicalmente democrática, a infernizar a vida dos heróis de plástico e aquela imagem teria sido desfeita rapidamente. Mas, o Doutor Vilela tinha seus atributos e sua imagem ficou cristalizada – até que dure – como o Sr democracia. Mesmo falsos, nossos heróis pós-64 se tornavam verdadeiros porque com alguma qualidade.
Há uma reação do pessoal ligado à prefeita por conta da polêmica levantada pelo deputado estadual Augusto Bezerra. O deputado não pára de querer aparecer em Itabaiana, de onde vem parte de sua fortuna já que seu curso pré-vestibular, o Visão da década de 80, se nutriu em muito de nossos proto-universitários. Não dá pra saber se quer ajudar seu atual aliado no município, o ex-prefeito Luciano Bispo, ou atrapalhar. Chego a imaginar que ao vociferar com tanta veemência contra as obras no centro da cidade de Itabaiana – uma também perfeita obra de engenharia de burla à Lei Eleitoral – (mais aqui, aqui, aqui, e também aqui) ele está a serviço da prefeita que assim está conseguindo a publicidade que até o momento se restringia à emissora de seu irmão e a boca-a-boca “dos mesmos”: aqueles para quem qualquer coisa que Maria fizer ou deixar de fazer, nenhuma diferença fará; ela “continuará santa”. Aliás, é lastimável você ligar a TV Senado pra ouvir Mão Santa, Demóstenes Torres e outros ora escalados pela velha UDN paulista maquiada de PSDB falar besteira o tempo inteiro. Que empobrecimento. Com um tipo de oposição daquela, o “companheiro” presidente pode preparar terno pra mais duas. No Estado, a situação de penúria é redundantemente falando, de fazer dó. Ouvir Cleonâncio Fonseca e principalmente Augusto Bezerra, a defender bandeiras nas quais nunca acreditaram, nem jamais acreditarão... Je-sus! Com uma oposição medíocre dessa o Estado vai continuar na rabeira ou mesmo fora do surto do crescimento nordestino do qual Sergipe, ao menos em relação à geração de empregos, já está bem atrás.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Há 20 anos.

Em 1989, primeiro ano pós-64 do qual conseguimos documentação afim, o Município – através da Prefeitura, obviamente – executou um Orçamento anual de R$ 7.851.273,18. Em relação ao ano anterior, de 1988, portanto, não dispomos de dados. Por isso usamos aqui 89, como comparação.
Naquele ano, o de 1988, observa-se certa correria para agradar o funcionalismo que, além de ganhar pouco, ainda tinha seus salários corroídos por uma inflação que ali começou em janeiro com 403,72 por cento ao ano e chegou em 31 de dezembro em 993,28. O Município deu quatro aumentos salariais: em 04/01/88, pela Lei Municipal nº 592; em 23/05/88 pela Lei Municipal nº 598; em 23/09/88 pela Lei Municipal nº 605; e em 09/11/88, a seis dias das eleições (que era em 15 de novembro), pela Lei Municipal nº 610. Este último de cem por cento(*). Como comparativo, o Orçamento Geral do Município para 1989, aprovado em 21 de outubro de 88 foi de R$ 26.726.667,50 (nominalmente 1.300.000,00 de cruzados novos), uma ficção; enquanto que a execução, como já visto ficou em R$ 7.851.273,18. O Orçamento de 88, do qual não temos maiores referenciais, mas, possivelmente também uma ficção, havia sido aprovado em 10 de novembro de 1987 com valor de R$ 16.217.180,10 (Cz$ 110.000,000,00, nominalmente). Pelos valores executados em 1989, pode-se perceber que sequer chegou à metade do previsto.
Em 30/03/88, na ante-sala da campanha eleitoral, a Câmara aprovou um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal de 2.906.425,63, pela Lei nº 594, e outro de igual valor e na mesma data junto ao BNB, pela Lei 594. Não temos notícia da sua efetivação e, ou execução e da forma em que teria se dado. Naqueles tempos e até a LRF só sabia da movimentação financeira da maioria dos municípios o gerente do Banco, o próprio administrador, o tesoureiro e mais alguns poucos (o único prefeito na história de Itabaiana – até hoje - a publicar um balancete mensal como manda a Lei foi Filadelfo Araújo de abril/1971 a fev/1973). Depois da LRF, os recursos provenientes da União, mesmo que venham a ser malversados (não necessariamente roubados; são coisas diferentes), logo, logo os mais curiosos descobrem pela internet.


(*) Fico a dever os valores e respectivas tabelas. Nem mesmo o zelo das funcionárias da Câmara Municipal em 2001/2002 foi suficiente para desencavar uma montanha de anexos de leis ali aprovadas anteriormente.

No estrito cumprimento da Lei.


Cruzamento das ruas São Paulo com Sete de Setembro, o mais movimentado do centro da cidade, quarta-feira, seis de setembro de 2008. Depois de permanecer por cima da faixa de pedestres (que ora desapareceu fisicamente) por todo o tempo em que o sinal ficou fechado, a viatura da Lei avança um pouco e, enquanto aguarda o sinal abrir para os quem vem (todos parados respeitosamente) no sentido Largo Jose do Prado Franco para a Praça João Pessoa, a dita viatura estaciona bloqueando o outro sentido permitido, para “um papinho” rápido.
Cidade de Itabaiana, nalgum lugar dela, domingo, 03 de agosto de 2008, um radialista conhecido e até temido, com trânsito livre nas mais altas esferas do poder no Estado toma o celular e contata o comandante da Polícia Militar responsável pelo Terceiro Batalhão de Polícia estacionado no mesmo local que sediou o segundo distrito policial da história de Sergipe em 1665. O motivo é o flagrante descumprimento da Lei por parte de motoqueiros e donos de sons gigantescos posicionados nas malas dos carros, que andam a fazer intenso barulho com seus artefatos. O comandante agradece o alerta, promete providencias e o radialista ainda hoje espera. Liga o mesmo radialista para o responsável pelo Ministério Público que também promete providências, e nada acontece. Por fim, depois a Justiça estacionada na Comarca - que já nasceu com seu primeiro titular descumprindo o seu dever de nela estacionar - aciona os chefes de partidos para que contenham seus partidários "afobadinhos". E fica a pergunta: quem manda é a Lei, devidamente executada por seus profissionais pagos pelo dinheiro do povo; ou os chefes de partidos? Ou as torcidas... ou as gangues? Se fosse a primeira, sequer baderneiro na rua existiria, muito menos a necessidade de intervenções de algum importante.
E sem a devida resposta positiva.
E ainda acusam meu lugar de ser violento... Sem Lei, quer o quê?

Em tempo:
Não fazem mais de seis semanas dois “donos do mundo” resolveram abrir os porta-malas e exibirem seus dotes de macheza através dos tweeters, woofers e etc., vizinho a mim. Um telefone e apenas três minutos se passaram para que essa mesma PM chegasse e pusesse ordem. O que está acontecendo de três semanas pra cá?

Memória:
(...)
Huma occurencia desagradável se deu ultimamente. Os soldados Jose Francisco dos Santos e Pedro d'Alcantara Eleutério, praças do destacamento da Villa de Itabaiana, escoltando d'ali para a Cidade de São Cristóvão a um criminoso como me foi comunicado pelo commandante do respectivo destacamento em officio de 25 do corrente, não sei porque fatalidade deixarão evadir-se aquelle criminoso, pelo que forão presos a disposição de V. Exª, que ordenou(...)

Quartel do Commando Geral do Corpo de Polícia no Aracaju 30 de janeiro de 1864. - Illm. e Exm. Sr. Doutor Alexandre Rodrigues da Silva Chaves Presidente da Província.
(oficio por) Gonçalo Paes d'Azevedo e Almeida. Major Commandante.
In:
Relatório com que no dia 24 de Fevereiro de 1864 o Ex-Presidente desta Província Doutor Alexandre Rodrigues da Silva Chaves entregou a administração da mesma Província ao 2º Vice-Presidente Commendador Antonio Dias Coelho e Mello. Sergipe. Typ. Provinccial. 1864. Anexo: Relatório do major Commandante do Corpo de Polícia. Pg 04.
http://www.crl.edu/ (Brazilian Provincial Reports).