sexta-feira, 25 de abril de 2014

Pequena lauda sobre Sebrão Sobrinho

A solenidade de recepção ao acadêmico Vladimir Souza Carvalho, em sessão solene da Academia Itabaianense de Letras, ocorrida no plenário da Câmara Municipal de Itabaiana, hoje à noite foi, pra muito não me alongar, excelente. O saudou o acadêmico Luiz Carlos Andrade, um contador de causos e criador ímpar de armações, tão bom quanto o exercitar de seu ofício de grande médico que é. Pelo próprio Luiz Carlos Andrade fiquei sabendo que um furdunço que percorreu a vida intelectual e informativa de Sergipe há duas semanas passadas, sobre ter o saudoso José Wilker residido em Itabaiana, foi armação de Luiz Carlos. Brincalhão por natureza, num determinado ponto da capital o Luiz resolveu, junto com o próprio Vladimir, fingirem-se de extremamente enlutados pela morte daquele que dia teria trabalhado no serviço de alto-falante de Zeca Mesquita, no início dos anos 60; estudado na famosa escola particular de Maria de Branquinha (que de fato só recebia crianças), e, claro, teriam ajudado o ilustre morador a carregar o caminhão de mudanças, quando este partiu de Itabaiana para a glória nos teatros e telões do país, e para a Rede Globo de Televisão. Tudo invenção; que alguém jogou para um jornalista da capital, que, sem conferir, criou a maior polêmica. É Luiz Carlos, o cara que resolveu desmoralizar a burocracia pesada e burra do INSS (então INPS) com um tal de laudo à perícia do instituto, que falava até numa tal de “caixa da parafuseta”. Foi a maior galhofa no estado, na época. Mais ou menos na linha da história do Julinho da Adelaide do também presepeiro Chico Buarque de Holanda. 
Bem, mas, voltando à sessão solene desta noite, me deliciei ouvindo Vladimir descrever-me ao falar sobre si próprio e sua busca frenética em cada frase ou texto de cada livro; mais ainda quando seu bairrismo transpareceu ao narrar a descoberta de um livro sobre Itabaiana, e escrito por um itabaianense, que em seguida acabou descobrindo que era seu tio, conhecido apenas pela alcunha de família. À medida que discorreu sobre a personalidade de José Sebrão de Carvalho, o Sebrão Sobrinho, aí, eu próprio fiz uma viagem interior sobre o passado recente. Fui acondicionado a ver em Sebrão um personagem folclórico, senão exagerado, e até supostamente fantasioso. Ocorre que na intensa e extensa pesquisa que fiz, de cujo produto já saíram quatro vídeos e estou em véspera do quinto e último da série, e o meu livro recentemente publicado, é impressionante o tirocínio do velho brigão; fantástica a coleção de dados históricos por ele elencada. Sebrão viveu longe e até em conflito permanente com a cátedra; mas seu trabalho de esgaravatador em tudo quanto foi bibocas em busca de papeis velhos lhe deu uma visão sobre a historiografia sergipana que ninguém teve até hoje. Comportamento que foi o estopim para a brigalhada que sustentou por décadas com os catedráticos, já que, além de dispor de material pra ligar todos os pontos, o encrenqueiro itabaianense, quase ranzinza, não media as palavras quando era pra defender seu ponto de vista. O mesmo deslumbre que Vladimir teve ao conhecer de perto a Sebrão Sobrinho, tive eu de confirmar ponto por ponto suas afirmativas, muitas delas até hoje tidas como estapafúrdias, pela intelectualidade sergipana. 
Eu gosto de quem faz. E Sebrão, fez. E fez bem feito. Só isso já o coloca no meu panteão particular de heróis locais.