sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CAFÉ COM O BATMAN.


Ele está presente no dia a dia intelectual, real ou pretenso há mais de dois séculos.
Via papos regados a cafezinho, Paris, contudo também Viena discutiram filosofia e política a perder de vista. Desde as novidades da arte ao nascedouro de ideia radicais como o marxismo e o liberalismo extremado. Nos cafés de Viena se cruzaram dois desses líderes extremados, muito antes de os serem: o estudante e poeta georgiano Iossif Vissariónovitch Djugashvili - Stalin; e o austríaco, artista plástico, Adolf Hitler.
Enfim, os cafezinhos europeus foram chamados, de meados do século XIX até pouco depois da Primeira Guerra Mundial, “a universidade dos centavos”. Espaço democrático; onde gente de pouca cultura e ainda menos dinheiro poderia se defrontar com um Sigmund Freud ou com um Franz Kafka e com eles até debater amenidades; o que significava lucro total para os aprendizes.
Hoje, fora de moda, ao menos por aqui ainda resiste um cafezinho: o da Sorveteria Kiola. Onde nesses tempos de carnaval, além de cafezinho e até papos mais sérios, ainda podemos desfrutar da presença do Batman.

Em tempo: Para quem não reconheceu o Batman, trata-se do Marcos Gentil de Campos, instrutor de academia.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

MAS... REPÓRTER SOFRE, VIU?


 Há pouco, vendo de relance uma reportagem na TV Sergipe, e, mais uma saia justa. A repórter, com uma pauta pro-carnaval pergunta, ritualmente – induzindo toda a emoção a que tem direito - à suposta pré-foliã, acerca da festa momesca desse próximo fim de semana. Cândida, tranquila e suavemente a senhora responde que não gosta de carnaval. Claro, experiente, a profissional faz a clássica cara de paisagem que essas situações exigem, desconversa... e vida que segue.
Lembrou-me o folião Zeca Araújo.
Para quem não conhece os meandros da comunicação social pode achar que falar no rádio ou TV é moleza. Nisso a atualíssima rede social difere muito. O youtuber, o influenciador não tem a mesma sensação de abrangência, consequentemente da pressão das exigências que um repórter sofre. Especialmente o de preencher vazios; tirar assuntos interessantes onde, naturalmente não são. A mágica de bem comunicar para as massas; um misto de educação social, diversão e transmissão de conhecimentos, que na maioria das vezes beira a fofoca.
Carnaval de 1980; Rádio Princesa da Serra – a única da cidade, uma das duas do interior (a outra, a Esperança de Estância) e uma das sete em todo o estado – azeitada, com seu quadro profissional inexperiente, porém super agitado; querendo mostrar serviço. Afinal, o IBOPE acusou em 1981 no item “outras” a emissora mais ouvida... na capital; no interior? Não tinha para ninguém. A pesquisa foi para o mercado radiofônico aracajuano, com cinco emissoras, todas AM: Atalaia, Cultura, Difusora (hoje Aperipê), Jornal e Liberdade.
Em 1980 o IBGE apurou 26.284 habitantes na cidade e 26.317 na zona rural, 52.601 ao todo. A cidade era um quinto do tamanho de hoje. Calmíssima. Salvo quando alguma arruaça de “bebum” chamava a atenção.
Do ponto de vista de festas sociais, ainda se vivia o clima dos grandes bailes, com no máximo 120 pessoas, a nata da sociedade, raros shows no Cine Santo Antônio e então o sacro e suas procissões. E nada de carnaval - especialmente naquele ano - micaretas, megashows...
É nesse universo de tranquilidade que o sempre agitado e agitador radialista, meu saudoso amigo e colega Daniel Barros, primeiro patrocinador do futebol de salão por aqui resolveu fazer a cobertura do Carnaval 80 em Itabaiana, pela Rádio Princesa da Serra.
Na segunda-feira irrompe na loja O Crediário, de José Araújo Tavares; saúda o dono da loja, também sócio proprietário da emissora, e funcionários, encaminha-se ao telefone fixo para dar “um flash” externo. No estúdio, onde hoje é o Nunes Peixoto, o operador de áudio põe a vinheta de carnaval previamente preparada, e quando acaba de tocar, entra Daniel, “ao vivo de qualquer ponto da cidade” a narrar o clima de carnaval em Itabaiana:
“Estamos aqui, mais uma vez com você ouvinte, na cobertura dessa fantástica festa de carnaval, já pelo terceiro dia... pegando fogo! Vamos falar com o folião Zeca Araújo... Zeca, quem está achando do Carnaval?”
José Araújo Tavares, legítimo pregador de peças e de poucas palavras, pega o fone, distancia do ouvido e boca, faz um sinal de negação lentíssimo de cabeça para os presentes; e depois de infinitos 30 segundos leva o fone à posição de fala e discursa longamente: “Bom”! E entrega de volta a Daniel.
Indispensável dizer que Daniel tirou de letra a saia justa. E que também todos caíram na mais ruidosa gargalhada.