quarta-feira, 17 de julho de 2013

Simplicidade dos pequenos gestos.

Chego na lanchonete para pedir o cafezinho. Antes mesmo que faça o pedido, o garçon, um garotão de menos de dezoito me traz a mercadoria. O estabelecimento é tocado pelo seu cunhado, que nele emprega pelo menos uns cinco da família. O atendimento é muito bom, por sinal, todos atenciosos. Mas o que me chamou a atenção segunda-feira última, 15, foi a recepção pelo próprio dono. Ele sempre me recebeu bem, mas segunda-feira foi especial. Havia um brilho diferente em seus olhos. Que logo descobri o porquê. Ao me aproximar do balcão de atendimento, enquanto o rapaz me servia o cafezinho ele, o dono, primeiro acenou, em seguida se aproximou e emendou:
- Oh, pensei que tivesse ficado de mal da casa!
Aí me caiu a ficha: há quase dois anos que aboli o cafezinho por conta de certa elevação na taxa de glicose sanguínea que, claro, ele não ficou sabendo. Ao me sentir afastar de seu estabelecimento onde era habitual, apesar de sempre me ver passando, logo começou a matutar que eu tivesse tido algum tipo de contrariedade. Que nunca teve oportunidade de me perguntar, nem eu, obviamente de explicar. Desfeito os seus temores com a minha explicação, ele abriu um sorrisão e lá se foi cuidar de seus afazeres, enquanto eu, me sentindo feliz pela segurança que tais atitudes de acolhimento nos produzem, tomei meu caminho e fui embora de goela e estômago reconfortados pelo saboroso cafezinho.
Coisas tão simples e que tanto valem.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Hoje: 394 anos da lenda da prata de Itabaiana.

Em 16 de julho de 1619, finalmente a comitiva do Governo-Geral, com seu mais novo comandante, o governador-geral D. Luiz de Sousa chegou numa colina qualquer do lugar conhecido desde remotas eras, pelos indígenas, seus habitantes, por Gandu, caa andu em tupi, ou, mata rala, no hoje município de Itabaiana, estado de Sergipe. Por quase três décadas, Melchior Dias Moreia, neto materno de Diogo Álvares Correia, o Caramuru; e paterno de Garcia Dias d’Ávila, o lendário primeiro latifundiário brasileiro havia se esmerado em cartas e mais cartas e até em viagens a Lisboa e até Madri, em busca de licenças pra explorar uma mina de prata. Ninguém o tinha ouvido. Coube a D. Luiz a esperteza de buscar ver se conseguia algum fruto pessoal pelo feito. Mas era fruto estritamente pessoal; e Melchior não estava a fim de “entregar o ouro”; fazer a glória de ninguém e ficar a chupar dedo. Trouxe o Governador à dita colina e nesta se travou um duelo de palavras entre a autoridade máxima do país e um subalterno, mesmo que da linhagem mais nobre que então havia no país.
Melchior pediu pelas mercês a que vinha pedindo desde a primeira carta para entregar a dita mina de prata. O Governador vinha em nome próprio, apenas pensando em si próprio, e nada tinha pra Melchior. Ao contrário, uma das mercês reclamada por Melchior, a de Marquês das Minas, a Espanha que então dominava o império português havia dado a um tio de D. Luiz, D. Francisco de Souza, Governador do Sul, no São Sebastião do Rio de Janeiro, quase vinte anos antes, onde conseguiu de seus moradores o jocoso título de “Marquês das Manhas”. O Governador nada tinha pra dar a Melchior; exceto punição pela ousadia em peitar a autoridade máxima da colônia. Melchior, então, não revelou a tal mina e por isso ficou preso em Salvador por três anos, além de sua família ter despendido de pesadíssima soma, segundo o governador-geral D. Luiz de Sousa, a título de indenização por prejuízos causado à Coroa espanhola.
D. Luiz de Souza esteve no Governo-Geral até 1622 quando retornou a Portugal e veio a ser tempos depois o Conde do Prado. Melchior faleceu em sua fazenda no hoje povoado do Jabiberi, atual município de Tobias Barreto, no mesmo 1622. Logo ao sair da prisão. E sua mina de prata virou uma lenda, com localização dentro da Itabaiana, ou seja, o círculo de serras da qual faz parte a maior, a hoje Serra de Itabaiana.

Referências:
  • ABREU, João Capistrano de. Capítulos de História Colonial.
  • Carta de S. A. sobre D. Rodrigo ir ao entabolamento das minas de prata da Itabaiana. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, volume 04, p. 424.
  • Sobre o engenheiro do Estado vir para esta praça. de 2 de janeiro de 1674. Com.= Com a aviriguação das amostras (de prata) que leuarão a S. A. das minas da Itabayana, se seruio mandar em hum dos nauios q' agora chegaram de Lisboa por administrador dellas hum D. Rodrigo de Castello Branco, pessoa inteligente naquela profição; =. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, volume 05, p.121
  • Regimento que trouxe Dom Rodrigo de Castelbranco a que Sua alteza envia p'a administrador e Provedor geral das Minas de Prata da Itabaiana neste Estado do Brazil. Lisboa 4 de setembro de 1673. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, volume 09, p.513.
  • 1603 - Agosto, 15-Valhadolid. Regimento de El-Rei D. Filipe II sobre a descoberta das minas de ouro e prata no Brasil, resolvendo que os descobridores as explorem livremente, (...). Original. A fl. 1 a 13. (F.G. 6.908). Inventario dos documentos relativos ao Brasil, existentes na Biblioteca Nacional de Lisboa - IV Grupo (1534/1805*). Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume 97, p.09. Rio de Janeiro, 1977.
  • SETÚBAL, Paulo. O Romance da Prata. Saraiva livreiros. São Paulo. 1956.
  • De las minas de plataesnotorio que há algunos anos, que vinounhombre a Hespañaoffrecerse a descubrirenla parte que cayeenelgoviemo de lacíudaddel Salvador minas de muchaplata(...). Advertência que de necessidad (...) y desinfestacion de nuestros mares Hechas por Luys Álvares Barriga CavalleroPortoguez. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume 69, p.238. Rio de Janeiro, 1977.
  • 1618 - Agosto, 8 - Lisboa. Registro do regimento que S. M. D. Filipe II mandou passar sobre as minas do Brasil. Original. A fI. 15 a 18 v. (F. G. 6.908). Inventario dos documentos relativos ao Brasil, existentes na Biblioteca Nacional de Lisboa - IV Grupo (1534/1805*). Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume 97, p.09. Rio de Janeiro, 1977.
  • 5764. - Decreto del Duque de Lermaembiado al Cons° de Portugal en 23 de Deziembre de 1606 sobre las minas del Brasil q' se entregaron a D. Fran.co de Sosa, e outros papeis relativos ao mesmo objecto. 1606-1630. (B. N.) Cópia. contemporânea. In-fol. 12 ff. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume 9, T-I, p.490. Rio de Janeiro, 1881-1882.
  • CAPÍTULO de carta de Sua Majestade sobre as minas de ouro do Brasil e as que Belchior Dias Moréa pretende descobrir. (28 de fevereiro de 1618). Indice de documentos relativos ao Brasil pertencentes ao Arquivo Histórico Colonial de Lisboa. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Volume 61, p.198. Rio de Janeiro, 1939.
  • Carta do Governador do Brasil D. Luiz de Souza, ao Rei relatando a viagem que fez juntamente com Melchior Dias Moréia à Serra de Itabaiana, para comprovar a existência de minas de prata que o referido afirmava ter descoberto. Data 15 de setembro de 1619. Arquivo do Conselho Ultramarino. Inventário CTAN: Cx 01; Doc. 01.