sábado, 26 de março de 2022

TEIMOSIA ETERNA

 

Cobrem tudo de concreto, de asfalto? Não tem problema: a velha criatividade de fazer traves para o gol com alpercatas (e tamancos, quando existiram) permanece. (área mais clara e destaque ampliado)

Estavam em repouso, não deu pra saber se pré-jogo ou intervalo; a bola em repouso na calçada, mas as traves estavam devidamente assinaladas, demarcadas para no momento certo, do vacilo de um lado ou de outro a bola por ali passar para júbilo de quem chutou e do seu próprio time. No asfalto. Duro e ainda pouco quente do sol vespertino a cair rumo ao horizonte para fechar mais um ciclo diário.
A geração dos seus pais, certamente usou o campinho formado por uma franja de solo, parte coberta de grama, parte na areia. Porém eles tiveram a sorte atropelada pelo progresso, da religião, inclusive, que usando o espaço que sempre lhe pertenceu, doado por D. Caçula Teixeira, em 1999 inviabilizou completamente o futebol infantil com a grande ampliação da capela. E o encanto ficou prejudicado.
Porém hoje, os filhos daquela geração, garotos entre oito e doze anos no máximo, mesmo preocupado com o trânsito, teimaram em sonhar com as grandes jogadas. No asfalto. Além da perda do terreno adjacente à capela de São Luiz, fora da rua, portanto. Itabaiana em 1999 tinha pouco mais de sete mil veículos motorizados; hoje são sessenta e três mil. Sem sossego, pois, nas partidas de rua.

 
 
Rumino meus parcos pensamentos e continuo descendo a rua, fazendo o pequeno trecho que há séculos atrás viajores faziam as longas jornadas para Salvador ou “cidade de Bahia” - como assim se referiam os antigos - desembocando no estacionamento do Estádio Etelvino Mendonça.
O Estádio está em uso: tem partida de futebol profissional.
Desligado do futebol desde que os eventos de entretenimento se tornaram... “profissionais” demais, com algumas exceções, mas vejo que no estacionamento de pouquíssimos veículos há um ônibus que mais se parece de uma banda dessas popularescas que pululam por aí, que enverga a grife FALCON (Não é Falcão; português). Uma rápida consulta na internet vi que está sediado na Barra dos Coqueiros. Time forte: aplicou uma goleada de seis no oponente Freipaulistano. O futebol, adotado pelo povo se transformou numa máquina de fazer dinheiro, inclusive de modos suspeitos. De repente nomes consagrados, times do futebol nacional estão virando empresas privadas de novos-ricos, sabe-se lá de onde ganhou tanto dinheiro.
Mas a gurizada das ruas São Luiz da vida vai continuar a teimar em fazer traves de “japonesa” e bater aquele bolão. Mesmo que cubram tudo de concreto.


PACIS ARA III

 

Lugares que me transmitem paz.

(Para que serve casa de avós, né? Kkkkkkkkkkk)

Arrumação de minha Elisa (netinha de 2 anos). E, os gatos sempre presentes.

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terça-feira, 22 de março de 2022

E SE...

 

Rua periférica no início da descida da ladeira de 60 metros, com colinas Morro do Urubu/Colina do Santo Antônio. Cidade de Santo Amaro e alguma medidas.

E se Cristóvão de Barros tivesse preferido a colina em que está assentada a cidade de Santo Amaro das Brotas?

Sergipe foi conquistado por uma força mista – 1.200 índios, 200 mamelucos – sob o comando de alguns brancos, atendendo certamente a ordens espanholas, em 31 de dezembro de 1589, após a última batalha  nos contrafortes da serra do Pico, hoje limite dos municípios de Macambira, Frei  Paulo e Itabaiana, terminada por volta da meia noite do citado dia, pronto para o nascimento do primeiro dia do ano de 1590.
A força, que penetrou na margem esquerda do Real em 23 de dezembro veio à desforra da surra levada 15 anos antes, na tentativa de missão pelos jesuítas de João Salônio e Gaspar Lourenço na confluência dos rios Piauí e Jacaré, ou seja, no hoje povoado Campo do Crioulo, do Município de Lagarto. Os índios de Mbaepeba – o Porquinho, conforme Frei Vicente do Salvador – enganaram os soldados mandados pelo governador-geral, Luiz de Brito, matando alguns e desarmando todos, e recolhidas as armas, talvez pensando em dominar a tecnologia, guardando-as na aldeia matapoan (cf. sugere o padre Francisco da Silva Lobo e o Mapa de Barlaeus).
Terminada a batalha e amanhecido o dia, Cristóvão de Barros pôs-se em direitura ao litoral a procura de um local para instalar a cidade, como exigido por Madrid. Certamente ao chegar ao Morro do Urubu deve ter visto outras opções de colinas próximas com rios navegáveis para ali fundar o forte, ponto de partida para cidade. Por que escolheu Aracaju e não Santo Amaro?
A velha e pequena Santo Amaro está assentada numa colina, em torno de 60 metros de altitude, com forte ladeira para o rio Sergipe, e do qual dista 1000 metros em linha reta do rio. Uma altitude similar à do Morro do Urubu, ou outros locais ideais para aí se fundar uma cidadela com o ponto de superioridade estratégico para Santo Amaro pois originalmente este veria o mar, como originalmente Aracaju e São Cristóvão mas jamais seria avistado dele normalmente: está a 12 quilômetros de distância em linha reta para o mar. Não chega a ser os 18 quilômetros de Roma antiga em relação ao Mar Mediterrâneo; mas duas léguas grandes; e, para ser atingido por alguma força invasora, são 18 desde a barra da Atalaia Nova, subindo o rio Sergipe.
Portanto, em matéria de segurança estratégica teria sido o local ideal para assentar o nascimento da capital da nova capitania.
Mas o “Forte Velho” foi pro Morro do Urubu, perambulou por mais uma tentativa de fixação, e 15 anos depois, finalmente parou em São Cristóvão numa aparente situação similar com Salvador. Sem uma baía para chamar de sua, obviamente. E voltou no dia 17 de março de 1855, não para o Morro do Urubu – os tempos e as estratégias de defesa agora eram bem mais complicados – mas para o pântano adjacente das olarias. E é hoje, depois de milhões ou bilhões de investimentos a bela Aracaju.
Há 167 anos.

PACIS ARA II

 

Lugares que me transmitem paz. Sempre que posso vou até lá.

Ruínas da igreja de Santo Antônio (c. 1620), povoado Igreja Velha, Itabaiana, Sergipe.

segunda-feira, 21 de março de 2022

HOJE, INÍCIO DO OUTONO

 

 

Em tempos de humildade, hoje seria dia de festa: início do outono no hemisfério sul, e da primavera no hemisfério norte.
Lá, a volta do sol total, com a explosão de vida em flores e insetos, e atrás deles outros animais a aproveitar o verdejar de campinas e florestas. Cá, ao contrário, a preparação para o inverno, mais frio que no norte, porém territorialmente muitas vezes de menor abrangência, uma vez que apenas um terço das terras emersas se encontra no hemisfério: quase toda a América do Sul, um terço da África, todas a Oceania e a Antártida, que é a maior parte e inabitada. Além do mais, as divisões clássicas das estações, que não alcançam a zona tropical do planeta se restringem ao sul da América do Sul e algumas ilhas, como a Nova Zelândia.
Antigamente, seria dia de festa: o equinócio. O único momento quando o sol, diretamente sobre a linha do Equador determina um dia e noite igual para todo o planeta, fato que só ocorre duas vezes por ano: 20 ou 21 de março, e 22 ou 23 de setembro.
Era dia de festa por conta dos ciclos de produção de alimento: nas zonas frias do Norte, tempos de semeaduras, para depois vir a maturação e colheita; no Sul, a colheita seguindo do descanso da terra conforme vai esfriando.
Monumentos e mais monumentos foram construídos na antiguidade com a finalidade de calendário, objetivando o preparo da terra à produção de alimentos e até para prever o tempo e suas nuances, como cheias dos rios, como o Nilo dos faraós.
Hoje, a tecnologia é tão vasta que arrogantemente até esquecemos do bem maior, a Terra e suas leis inflexíveis de manutenção da vida. E das suas celebrações.