domingo, 24 de novembro de 2019

PEGADAS DO PASSADO.

Um povo de sina de estradeiro e boiadeiro.

Pelo caminho por baixo desse pórtico muita carne passou nos séculos XVII e XVIII rumo a Salvador e Recôncavo em geral. Simbolicamente, a fazenda que hoje está no local, cria gado e ostenta a figura da "rês", o bem  representado pelo boi.

Agora, ao meio dia, devorando o meu quinhão de suculenta carne do azarado boi que ‘deu’ a vida pela comemoração do cinquentenário do Rotary Club de Itabaiana;  observando que ao redor, apenas dois dos fundadores presentes: Francisco Tavares da Costa, o Fefi, e Mozart Fonseca Oliveira se fizeram presentes (dos oito, dentre os trinta iniciais, que ainda restam vivos), e alguns velhos visitantes como o companheiro de rádio, Carlos Magalhães.
Aí, a mente resolveu retornar mais no túnel do tempo e lembrar que o espaço da festa, um colossal galpão preparado a caráter para esse tipo de evento na Fazenda Brinco de Ouro, hoje já no subúrbio oeste da cidade, e em cujo pórtico está majestosa e simbolicamente colocada a estátua de um touro está simplesmente à margem direita da multissecular “Estrada das Boiadas para a cidade da Bahia”, também chamada de Caminho do Sertão do Meio, e que, ao menos por um século, ao nascer de Sergipe foi o caminho natural para então capital do Brasil colônia.

Apenas traços, só observáveis a partir do alto (linha tenuemente avermelhada) atestam que foi por aqui o primeiro corredor de exportação de Itabaiana.


A estrada começou a desaparecer ainda no século XVIII, com a queda de importância do gado de Itabaiana para o abastecimento de Salvador. O trecho em questão, sofreu forte abalo quando foi instalada a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Hora em uma nova povoação, ficando a antiga com o nome de Brito Velho; mas a pá de cal mesmo veio noventa anos depois, com a construção, em 1936, da primeira estrada de rodagem para a agora cidade de Campo do Brito. A partir daí o velho caminho das boiadas entrou desuso, levando os proprietários das terras adjacentes a fechá-las para uso particular, como já o notava em 1817, José Teixeira da Matta Barcellar em breve história sobre Sergipe, e referente ao trecho marginal ao Rio Vaza-Barris, hoje municípios de São Domingos e Lagarto:

“As estradas que por esta Commarca passaõ de Pernambuco pª  a Bahia he hua que passa pelo termo da Villa do Lagarto, e outra já pouco cultivada, que passa na Villa de Itabaianna, ambas distantes d’esta Cidade doze legoas; a pezar de q. alguns viajantes se dirigem á esta Cidade por estradas particulares, e seguem o seu Caminho pela Costa do mar.
(...)
No termo desta Villa [Itabaiana] não há povoação alguma; nem estrada que se possa chamar principal, pois huã que havia chamada Real, e q.~ descia do Norte pª o Sul, hoje está quaze sem uso, e os seus moradores caminhando p.r estradas particulares se vão incorporar a estrada Real que se dirige da Bahia á Pernambuco no sítio dos Campos, termo da Villa do Lagarto, distante doze legoas d’esta Villa da qual á rumo do Sudueste (...)”


BARCELLAR, Jose Teixeira da Matta in Relação abreviada da Cidade de Sergipe D’El Rey, povoaçõens, Villas, Freguezias e suas denominaçoens pertencentes á mesma Cidade, e sua Com.ca. Sergipe, 08 de maio de 1817.