quinta-feira, 2 de novembro de 2023

E VAMOS DE BIENAL

 


Pulando dois anos, devido a horrenda pandemia, que evidenciou despreparo total da humanidade se acaso se defrontar com uma muito maior e descontrolável, cá estamos nós de volta à estrada com uma festa, intrinsecamente cultural magnânima que é a Bienal do Livro.

Serão três dias, 15, 16 e 17 de dezembro, da 6ª bBienal; e que, façamos votos que nessa nova fase, depois do pioneirismo heroico que conduziu as cinco edições anteriores, agora se estabeleça um calendário fixo para a cada dois anos.

De uma coisa, tenhamos certeza: ficou grudada na cultura popular e é indispensável, não somente para Itabaiana, mas como para todo o Sergipe e até além.

A demora deste ano deve-se a dois fatores, especialmente: a desarrumação gerada pela pandemia da covid, e a demora, mais que compreensível dos gigantes que a tocaram, repito, heroicamente, em se decidirem em não mais poder fazê-lo.

Mas, tem coisas quem se nem entende por que, porém parecem ser providenciais. Como estar à frente da Academia Itabaianense de Letras, a atual presidenta, Josevanda Mendonça Franco. Intrépida, centrada, dinâmica e decisiva, com uma invejável bagagem de mais de três décadas na administração pública, sempre voltada para a Educação e Cultura, desde uma simples assessoria parlamentar à responsabilidades, como hora ocorre, à frente da Secretaria Municipal de Educação de Nossa Senhora do Socorro, de onde já pilota duas entidades em nível federal, pertinentes à área.

Exatamente quando tudo se desenha para dar certo.

Não haveria outro caminho, que não a migração da administrsação da Bienal para uma entidade da Educação e/ou Cultura, depois do esplêndido lançamento das cinco edições anteriores.

Reconheça-se, o heroísmo apresentado pelo designer, empresário gráfico e entusiasta cultural, Honorino Jr; com as honoráveis companhias dos empresários da comunicação, Carlos Eloy e Jamisson Machado, e com nossos D. Quixote e seu Sancho Pança da atual explosão literária sergipana, Domingos Pascoal e Antônio Saracura... não teria como continuar. Haveria que mudar; e somente uma instituição - uma organização não governamental - para fazê-lo.

E eis que sucede a feliz conjuntura da Academia Itabaianense de Letras assumir a árdua tarefa, num momento crucial, com uma diretoria operosa, dentro da qual Antônio Saracura; com uma presidente com todas as ferramentas de uma grande administração; com o entusiasmo eternamente jovem de professores, alunos, autores, colaboradores, sem esquecer os colaboradores especiais, porque passantes do bastão; mas não abandonando a corrida.

Desenha-se a permanência do aspecto sempre crescente do evento, desde 2011.

Vamos trabalhar!

Receber Sergipe e além, de cancelas, porteiras, colchetes, passadiços, portas, portões, janelas e... braços e corações abertos.


Bem-vinda 6ª Bienal do Livro, 15, 16 e 17 de dezembro de 2023!

Bem vindo Sergipe!


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

CAVALGADA ADIANTADA?

Domingo, 29, ontem, havia certa agitação no ar pela manhã, quando saí da cidade em direção ao aeroporto, de Aracaju, obviamente. Na onda dos cavalgadores do asfalto, encontrei várias parelhas, algumas com montadoras, trilhando a Avenida Manoel Francisco Teles e algumas artérias adjacentes, ao menos ate onde a vista alcançou, rapidamente, já que eu volante.

É comum essas manifestações na cidade, mas as de ontem confesso me acendeu o desejo de ver algo mais massivo, organizado, um ritual. Não de exibicionismo apenas dentro da cidade; mas de algo muito mais sério, porque uma celebração da memória, a nossa memória vaqueira, perdida nos escaninhos do tempo.

No próximo domingo será emblematicamente 5 de novembro. E 5 de novembro é a real data de nascimento da sergipanidade. Quando a massa de vaqueiros, quase todos de Itabaiana, então Distrito do município de São Cristóvão, que também era a capital, invadiu aquela cidade, protestando contra o Padre Sebastião Pedroso de Góis – que acabou preso; e soltaram alguns presos, que o foram justo por não aceitar pagar os impostos extorsivos que Salvador vinha aqui cobrar. Impostos mais que injustos. A primeira Derrama foi aqui, e sobre o gado; e não em Minas Gerais, cem anos depois, sobre ouro.

Os resultados foram terríveis. Parece até que os curraleiros e a massa de vaqueiros queriam chamar a atenção das autoridades em Lisboa, já que era o quinto ano de enrolações, com promessa de reconstruir São Cristóvão e outras mais. Não deu. Lisboa era muito longe. Quando a rainha-regente veio saber, já o foi por terceiros interessados em esconder os terríveis excessos. 

Acabou com a nascente economia e sociedade sergipana. Uma economia, até ali quase sem escravidão. E deixou um trauma, que mesmo não sabido pela maioria, ele está entranhado na alma sergipana; dada ao estoicismo relativo; ao mergulho visceral em querelas domésticas, paroquiais, e um quase desistir de ser grande. Ao mesmo tempo solidificou uma identidade sergipana, que tem resistido a todas as tentativas de submeter o pequeno território.

Pode ser que a movimentação de ontem seja a preparação para o próximo dia 5. Não se perde nada em sonhar. O amanhã pode ser distante; mas é sempre tentador devanear.


quarta-feira, 27 de setembro de 2023

ENGARRAFAMENTOS

 

O Decreto-Lei 311, de 2 de novembro de 1938 acabou com uma situação esdrúxula: a de sedes municipais poderem ser vilas ou cidades. A partir dali as mal vistas, “atrasadas”, de segunda, vilas deixaram de existir e tudo passou a ser cidade. Hoje, como há muito tempo, vila passou a ser sinônimo de viela, paupérrima, desorganizada, enfim. Já cidade é outra coisa.
Mas certos costumes ou vícios de vila ainda hoje predominam em Itabaiana.
Exemplo, a de a gente passar o vexame de ter de explicar a um visitante de fora – mas jamais convencer – que um cara com uma mão cheia de bilhetes de lotaria para vender, e na outra uma frágil corda a conduzir um touro de trinta arrobas, em plena feira pela meio do povo... é cultura. Quando sucessivas leis municipais desde 1916 já proíbe até cavalgar no Centro da cidade.
Uns dias atrás a SMTT tomou uma medida que, inexoravelmente vai ser rotina daqui pra frente: reduzir o trânsito em duas importantíssimas ruas a sentido único. Teve que deixar uma delas em stand by, pela agitação causada em alguns apressados em só ver dificuldades. Perdas de hábito.
Itabaiana tinha 3.549 veículos motorizados (destes, 1.262 automóveis e 774 caminhões e carretas) em 2001. Mas em 2022 esses números fecharam em 65.160 unidades, sendo 16.713 automóveis; 3.680 caminhonetes, 3.566 caminhões e mais de quarenta mil motos, motonetas e ciclomotores.
E ainda tem mais: a rede de serviços que trazem milhares de pessoas para o comércio de Itabaiana, de segunda à sexta, praticamente dobra o número de veículos de dois ou mais eixos no Centro, e até em algumas vias de alguns bairros.


Tem que racionalizar. Limitar onde for possível; fazer fluir, sempre necessário. Desobstruir.
Hoje, em torno do meio dia, uma situação recorrente: um caminhão-baú entravado na esquina da estreita Rua Sete de Setembro, ao fazer conversão para estreitíssima Rua São Paulo. Mas isso também já presenciei em várias outras esquinas, até mesmo na larga Rua Campo do Brito, em variados momentos e anos.
Essas ruas foram projetadas numa época em que os caminhões eram do tamanho das atuais caminhonetes, e toda engenharia possível é necessária para destravar; fazer fluir.
Poder continuar passando na rua São Paulo? Pode. Já que não há alternativa; mas sempre em linha reta, especialmente veículos maiores. Na Rua Sete de Setembro? Pode. Até mesmo porque é necessário abastecer as lojas; porém, quartas e sábados, quando a Feira tranca desde a esquina da Rua São Paulo até praticamente a Antônio Dultra, há que se usar o bom senso e proibir o trânsito de veículos acima de cinco metros de comprimento. Senão entala.
E aí saem todos perdendo: comércio, transeuntes... a cidade inteira.



segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ENCONTRO COM LENDAS: UM BOM, OUTRO MAU.

 

 

Sábado, à noite, fui obrigado a dormir um pouco mais tarde que habitualmente. É que ao ligar a TV, dei com Serginho Groisman fazendo um especial em seu programa, com ninguém menos que a turma dos Titãs, uma das melhores bandas de rock nacional de todos os tempos "de todas as semanas" dos últimos 40 anos(*).
Mas... além dos eternos adolescentes rebeldes hiperqualificados, com eles, outra lenda. A lenda Liminha. Por trás de ao menos cinco entre dez bandas e cantores solos da explosão do rock nacional, da década de 1980; porém não somente de rock; mas de um monte de outros artistas, de ritmos variados, da MPB. Nada escapou ao seu cuidado de produtor, nos legando um plantel de canções que ainda hoje maravilha a quem não apenas entope ouvido com qualquer baboseira autointitulada música.
A coisa de qualidade é assim: dá trabalho fazer; porém, depois de feita vira obra de arte.
Mas à música popular não basta bem produzir; é preciso divulgar. E comercializar com justiça, trazendo lucro ao artista cabeça, e depois dele a todos os envolvidos. Nessa cadeia de produção é imprescindível o empresário. Tanto o particular, que trabalha pra um artista ou grupo, e até vários; aos "show business man", aquele que leva o produto final ao grande público.
Hoje uma notícia triste: morreu uma lenda da MPB. Não era compositor, nem cantor; contudo teve um portfólio de fazer inveja a muitas empresas americanas do setor. Foi um dos maiores - senão o maior - empresário de shows do Brasil, especialmente das efervescentes décadas de 70 e 80.
Depois de décadas como elo vital na ligação direta, no palco, do cantor com seu público, faleceu hoje no Recife, o propriaense, obviamente sergipano, José Carlos Mendonça, o lendário PINGA.
De Waldik Soriano ao rei Roberto Carlos, passando pela deusa do Santo Amaro, Maria Bethânia... Pinga construiu para si uma carreira de sucesso empresarial, e de divulgação e promoção de uma legião de artistas, que, com certeza não teriam nos premiados com suas canções, não fosse ele.
Que São Pedro agora aproveite bem; já que nós aproveitamos muito bem até pelo menos a década de 1990.
Palmas!


(*) Inspirado numa música da banda, chamada “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”.

sábado, 9 de setembro de 2023

TEMPOS DE EVOLUÇÃO.

 

Hoje pela manhã, numa rápida passagem pela Praça Fausto Cardoso dei de cara com uma cena inusitada, até agora, mas que se deve tornar fixa, perene, doravante: aparentemente, a municipalidade decidiu levar dois banheiros químicos para a mesma.
Registre-se que não é tipo de solução definitiva e adequada: o banheiro, em verdade o sanitário químico é apropriado para eventos; de no máximo um dia. Depois disso forçosamente necessitará de destinação correta do material nele depositado e higienização completa. Como exemplo, além do visual, o que me chamou a atenção ao deles me aproximar, junto ao septuagenário coreto, foi o mau cheiro que já estava a exalar por volta das dez e meia. Não é, pois, um cartão postal.
Por outro lado, as necessidades constantes de sociabilidade; a presença dos “genários” cada vez maior na praça; e suas características de bexigas frouxas, típicas dos dessa faixa etária (sexagenários, septuagenários, octogenários e nonagenários), boa parte com sequelas de AVCs - como eu, aos 60 e poucos – faz premente a necessidade desse tipo de serviço pra turma do jato fácil. Muito bem acertada a atitude da administração; só reforçando que deve ser solução passageira. Substituída por estrutura fixa, devidamente bem feita e conservada, discreta – não pode ser mais visível que as estruturas que lá já estão; muito menos ofuscar a praça – enfim, adequada àquela que, sem bairrismos, considero a mais linda praça de Sergipe... até onde conheço outras noutras cidades.
Afinal, a Praça central é a Praça central! Por mais que surjam bairros chiques; serviços sejam mudados para ambientes de melhor mobilidade motorizada... mas a Praça central continuará sendo o Centro do Centro, simbolizado por seu símbolo “nave kriptoniana do Superman”, que simboliza o centro do estado de Sergipe (*).

A nova realidade etária

Por outro lado, é preciso adaptá-la aos novos tempos de população envelhecida cada vez maior.
Os tempos das matronas altamente reprodutivas, turbinadas pela carne carneiro, registradas por D. Marcos Antônio de Souza, em seu Memórias da Capitania de Sergipe, de 1808, foram-se. Atualmente a mulher itabaianense tem no máximo dois filhos em sua vida reprodutiva. Dez por cento dos tempos de D. Marcos.
E Itabaiana cada vez mais entra numa realidade de aumento proporcional da velhice.

 
Ainda não foram liberados os números detalhados do Censo 2022 pelo IBGE, porém cruzando os números de nascimentos e de mortos, disponíveis de 2010 até 2021 dá para estimar com pouca margem de erro que dobramos proporcionalmente o número de velhos nos últimos 40 anos. É muita gente de cabelo grisalho a branco necessitando ao menos de um mictório por perto.
E essa massa tem ordens médicas para caminhar e se divertir; socializar-se ao máximo.
Nenhum lugar melhor do que o meio do velho Sítio de Ayres da Rocha Peixoto. Com apoio logístico, logicamente.
Afinal, Roma foi Roma também porque tinha banheiros públicos espalhados pela cidade, em pleno período de Augusto, 27 anos de Cristo a 14 depois de Cristo nascer.
O sanitário público do edifício Serra do Machado foi o primeiro, a serviço dos feirantes. Agora são novos tempos. Cabe-os nas praças, ao menos na principal.



sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A GRAVIANA

 

O viajante, extenuado chegou ao chalé, semicercado de telheiros, como em todas as vivendas menos modestas rurais, no cimo da baixa colina, algumas dezenas de metros da estrada cavalar, já por volta da hora do Ângelus e pediu rancho.
Na correria para ajeitar os animais para a noite, a dona de casa indicou-o ao marido, na lide com suas vacas e bezerros, parte para protege-los de alguma intempérie noturna; parte para garantir que a bezerrada não mamasse antes da hora de tirar a cota da família, antes de liberar os animais para serem animais.
O viajante aproximou-se do dono da casa e perguntou-lhe se podia pernoitar embaixo do seu telheiro vasto, e nele armar a sua rede.
Depois de algumas apresentações e credenciais o dono da casa aquiesceu e o conduziu para a parte do telheiro onde ficaria menos exposto ao frio da noite, porque do lado do sol vespertino, que ainda estava cálido devido ao recente pôr-do-sol.
O viajante lá armou sua rede e se acomodou esperando uma noite de sono tranquila, em segurança, se sentindo acolhido.
Como em época de inverno, em cima um alto e descampado, sem vegetação alta por perto, o dono da casa avisou para tomar cuidado com a graviana que sempre chegava, especialmente por volta da madrugada. Ao notar certa confusão no hóspede, riu, e amenizou, dizendo que há duas ou três semanas que ela não ocorria.
E foram se deitar, já que noite “sem lua”, e, naturalmente sem a modernidade da iluminação elétrica.
Ocorre que o casal hospedeiro também possuía uma bestinha para o serviço doméstico. E, por volta da meia noite o viajante acorda atordoado com um relincho bem próximo a sua cabeça e não pestanejou: deu de garra de espingarda, da qual não se apartava quando em a viagem por aqueles sertões e disparou sobre aquela coisa turva perto de si.
Ao clarear viu o tamanho da besteira, induzida pelo medo e a ignorância que tinha feito: a pobre bestinha jazia sem vida a poucos metros.
Sem conhecer o termo, graviana – vento frio - e nem ter explicação prévia, achou que estaria diante de um animal carnívoro e feroz e atirou.
Como negociou a reparação do prejuízo, isso nunca me foi dito. Mas ficou a lição: não produza dúvidas, desnecessariamente: pode o resultado ser muito danoso.
Essa história de fundo moral me foi contada quando criança; e lembrei dela ao sentir que o frio voltou; especialmente agora pela tarde, e possivelmente para se despedir. Estamos a quinze dias de o sol, nossa estrela vital, retornar para o Sul, onde deve nos trazer muito mais calor pelos próximos sete meses – até abril – quando, em seu ciclo eterno terá retornado para o norte. Der fato, o sol não vira; quem muda de posição é a nossa belíssima bola azul – a Terra – solta no espaço, a girar a 1.630 quilômetros por hora, e a se deslocar a 100 mil por hora no espaço cósmico. Ao redor do Sol. E a gente só sentindo a brisa, quando passa.


quinta-feira, 7 de setembro de 2023

MOMENTO ESPECIAL PARA ITABAIANA.

 

Hoje, Sete de Setembro, data máxima nacional, um momento muito especial para sempre ficou eternizado pela lente de João Teixeira Lobo, o seu Joãozinho retratista, descendente de um colateral do grande benfeitor de Itabaiana, Padre Francisco da Silva Lobo.
Ao disparar o obturador de sua máquina fotográfica de cima do coreto da Praça Fausto Cardoso, por volta das dez horas de Sete de Setembro de 1938, Joãozinho Retratista não apenas fez o ato de tirar uma foto, como observa Robério Santos, na apresentação do seu livro, Joãozinho Retratista, o mestre da fotografia (grifo meu):

“Uma foto é apenas o congelamento de um fato, como uma pedra inútil que cabe a nós, POETAS DA LUZ, captar esse momento ímpar e torcer para que nunca se repita e você tenho consigo um momento só seu que deve dividir com o mundo.”

Eternizou um momento de virada na sociedade itabaianense, qual seja, o nascimento das festividades cívicas, nunca antes realizadas.
Cinquenta anos depois, mesmo tendo confundido uma data menor como de aniversário da cidade, dez dias antes do Sete de Setembro, outra gigantesca festa gigantesca marcaria o imaginário popular e entraria na devoção leiga dos itabaianenses. E tudo começou ali, em 7 de setembro de 1938.

 

A impossibilidade antes de 1938.

Não foi hábito no Brasil o Desfile ou qualquer comemoração à data da Independência, em geral. Alguns desfiles militares, onde existiam quartéis e nada mais.
E, antes de 1937, nem uma escola de fato, existiu em Itabaiana; no máximo algumas salas de aula em casa particulares, a maioria, descontinuadas. Também, aquela que era para ser em 30 de outubro de 1675, a cidade da prata (a Potosí do império português) não se confirmou, ficando apenas a paróquia de Santo Antônio e Almas, e uma povoação que quase nada cresceu em 275 anos. Se inicialmente como cidade, além de imediatamente emancipada, teria paróquia, câmara, cartórios, ouvidores, e, para guardar a prata teria forte esquema militar e seria murada, teria fossos, com torres, guarnecida por canhões e pontes elevadiças. Até 1937, mesmo que quisesse, Itabaiana não teria como organizar um Desfile Cívico. Os esporádicos que houve foi da Guarda Nacional, que acabou em 1920.

 

Mas em 1937 os ventos estavam mudando.
A inauguração do Grupo Escolar Estadual Guilhermino Bezerra, em 4 de abril de 1937, pôs fim a um vexame secular de ser uma cidade analfabeta, apesar de uma gente lutadora e tão progressista.  
Em 1937 o desfile não se realizou; apesar de já ter as primeiras turmas, de uma das quais participou D. Ieda Tavares Silveira, ocupante da Cadeira 26, patrono, seu próprio falecido esposo. D. Ieda, depois se formaria no magistério e retornaria ao Guilhermino Bezerra, agora como mestra.

Em 10 de novembro de 1937 houve o golpe do Estado Novo e o governo federal, agora centralizando todas as decisões procurou organizar o país, rompendo com vários vícios e costumes, modernizando muitos aspectos administrativos, como por exemplo, acabou com a dicotomia de vila e cidade para a sedes municipais, deixando só a cidade; obrigou a todos os municípios constituírem mapa, da cidade e de todo o município; criou a Rádio Nacional, transformando-a em tribuna da cultura brasileira; e o Sete de Setembro universalizado, para todo o país. Lógico: onde houvesse condições mínimas de realização.
Por isso que essa foto é o primeiro registro que simboliza, não só novos tempos para Itabaiana, como para todo o Brasil.
Viva o Sete de Setembro!
Viva o Brasil!
Viva Itabaiana!



(Corrigido o nome da acadêmica Ieda Tavares Silveira, impropriamente antes grafada Tavares Mesquita. Nossas desculpas.)

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

ECOS DA INFÂNCIA

 

Essa foi, com pequena mudança, a minha primeira visão da cidade de Itabaiana, aos três anos de idade; e a minha mais antiga lembrança em tudo. (Foto de 1944).
Eu vim com meu pai e minha mãe, acho que resolver algum problema de cartório. E, como não tivesse mais como voltar, por falta de transporte, para a Mangabeira, onde nasci e residia, já que anoitecendo, pernoitamos na casa de D. Izídia - a sem platibanda, entre a casa clara de esquina, hoje Barbosa Man, e a de Zezé de Benvenuto, a seguir. A então casa de D. Izídia era onde hoje é a casa de D. Deja.
Aí, eu escapuli pela porta da frente e a minha mãe só conseguiu me pegar no hoje oitão da Barbosa Man, junto a um monte de lenha.
Curioso é que por muitos anos fiquei confuso porque eu lembrava deste monte de lenha e não achava explicação para tal. Até descobri que a casa clara de esquina, ou seja a Barbosa Man, foi padaria. Com forno a lenha, claro.
Em 1963, a panificação tinha estado sob a direção de João Batista da Costa, o ex-vereador Joãozinho Veneno, e estava pra fechar as portas, e ser transformada na Movelaria São Paulo.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

E ASSIM NASCEU A MICARANA

 

 

Neste fim de semana o Município de Itabaiana promove mais uma Micarana. Micareme ou carnaval fora de época, a Micarana, festa criada em 1949, mas com essa marca, somente a partir de 1994. 

 

Perda de brilho

Há 14 anos que o festival popular entrou em modo vaga-lume, ou não foi realizado. Por um motivo óbvio: tornou-se uma festa esplendorosa, porém muito cara ao Município; mesmo com a tímida participação da iniciativa privada. Agora a atual administração a está trazendo de volta. Também o foi pela queda vertiginosa da onda da chamada “música baiana”. O festival enfrentou sérias contenções a partir de 2010 até ser completamente abandonado em 2014.


A civilidade de retorno.

A pá de cal, sofrida em 2014, além da descaracterização na tradição abrilina, trocada por agosto (sempre aconteceu no pós-Páscoa, desde 1949), foi finalmente a intervenção da Justiça que proibiu terminantemente sua realização na ainda hoje mais importante avenida da cidade: a Dr. Luiz Magalhães.
Desde seu reinício, em 1994, o festival teve como palco a principal avenida de Itabaiana.
Desde 1978, quando foi efetivamente aberta como a principal entrada da cidade (ainda acabava no Conjunto João Pereira) que a avenida passou a ser a vitrine principal para tudo. Maternidade (construída antes da avenida), Aruanda Club (extinto), Atlética, INSS, Correios, AABB, Terminal Rodoviário (inativo), Ministério Público (estadual e federal), Fórum estadual, Hospital, CDL e até a tricentária Câmara Municipal de Itabaiana mudou para lá.
Ocorre que em 1959, como já dito, quando era apenas um projeto foi construída em seus limites a Maternidade São José, que veio a ser recentemente o local de registro do primeiro milagre que iniciou o processo de canonização de Santa Dulce. E, em 1980, houve a transferência do Hospital REGIONAL (não somente de Itabaiana), hoje Dr. Pedro Garcia Moreno Filho. As duas principais casas de saúde de 16 municípios que, além do próprio de Itabaiana, todos dele derivados. E ainda dois ou três nos limites da Bahia com Sergipe.
E à medida que os anos se iam sucedendo, os decibéis iam se tornando insuportáveis. Não há registros de nenhuma gravidade decorrente, ocorrida nas duas casas de saúde; porém não faltaram reclamações e manifestações de horror diante daquela loucura.
Em 2014, finalmente, a justiça acordou e proibiu tais manifestações na Avenida Dr. Luiz Magalhães.
Este ano, depois de nove anos de proibição na Avenida, resfriados pela pandemia da Covid, a festa volta a ocorrer, porém em outro local, na Avenida Manoel Cosme dos Santos/José Aélio de Oliveira(Foca de Anizio), no Bairro Marianga.(*)
Na programação, vários medalhões das super micaranas, dos anos 90 à primeira década do século, três deles do comecinho, da década de 90: os antológicos Bel Marques (ex-Chiclete); Durval Lélis (Asa de Águia), e a diva Márcia Freire. Entre eles, também Juninho Porradão, Xandy e ceboleira adotiva, Cláudia Leite. Plantel muito bom, com canja para outros gostos como Alma Gêmea e Tarcísio do Acordeon, Swing do Jordan e Banda Pagodand. O pessoal de animadíssimo Grupo Alerta (católico) vai estar presente com João Victor.
Que seja uma bela festa!


O começo de tudo.

Diretoria fundadora da Atlética: Dr. Gileno Almeida Costa (foto maior); Wilson Noronha (filho do Deputado Esperidião Noronha, sombreado, lado); Tenysson Oliveira. No Conselho Fiscal só pesos pesados: Juiz de Direito, Dr. Luiz Magalhães; deputados Sílvio Teixeira e Manoel Francisco Teles;Prefeito José Jason Correia; Edson Leal Menezes; e Euclides Paes Mendonça.

Em 1945 a cidade de Itabaiana era um lugar triste.
Exceto a Festa do Mastro só tem registro das inúmeras celebrações religiosas católicas. Festas afro, como em todo o Brasil, quando acaso havia, eram tratadas a chicote e cadeia. Qualquer batucada, “samba”, origem popular era, quando não tolhida, vigiada. Sem meias palavras, rotulada e havida coisa de marginal. Fazia-se vistas grossas, quando parte das campanhas políticas, mormente na zona rural.
Mas em 1948 tomou posse o primeiro prefeito eleito depois da Ditadura do Estado Novo.
E, aproveitando o clima, o grande empreendedor da época, Dr. Gileno Almeida Costa, reuniu parte da pequena nata da sociedade itabaianense e fundou, na Rua 13 de Maio (antigo Beco do Cisco), em salão alugado a Associação Atlética de Itabaiana.
Fundador do Hospital Regional Dr. Rodrigues Dória, no subúrbio da cidade, hoje garagem da Associação dos Universitários, cujo se transferiu em 1980 como citado acima, e mudou de nome, Dr. Gileno Costa aqui chegou jovem, por volta de 1933, e juntou gente suficiente para pleitear recursos e construir o Hospital em 1936, que, no entanto começou a funcionar dez anos depois. Assim mesmo se mantendo no estilo vaga-lume até o Governo Marcelo Deda, a partir de 2007.
Em 1948, Dr. Gileno Costa liderou mais um empreendimento: a Associação Atlética de Itabaiana que congregou a nata social da cidade até início dos anos 80, quando, com fim das sociedades fechadas se popularizou.

A Micareme
Acima, Bloco Lobos do Mar, trazendo na primeira fila, em frente, na ponta esquerda da D. Marlene Costa (in memoriam), e na ponta direita, seu futuro esposo, Francisco Tavares da Costa, FEFI, em 1961. E embaixo o Bloco Margem da Serra, segundo informações, de 1959. Dos demais não temos nenhum fotograma.


Em 17 de abril 1949, conforme testemunho de Hênio Araújo (in memoriam) se comemorou o primeiro ano de fundação da Associação Atlética de Itabaiana com uma singela micareme. Estava dado aí o pontapé para a enorme festa, que chegou a desbancar, já em 1997, o público da até então maior concentração popular de Itabaiana, ou seja, a Procissão de Santo Antônio.
A Micareme foi realizada regularmente todos os anos, de 1949 e 1963. Neste ano, com o assassinato duplo de Euclides Paes Mendonça e seu filho, Antônio de Oliveira Mendonça em 8 de agosto, a cidade toda ficou em torpor, acabando com muito coisa, a Micareme, inclusive.

Um papo informal entre o então secretário da pasta da municipal do Lazer, Paulo de Mendonça e o ex-secretário de Municipal de Governo, José Elson da Silva Melo (in memoriam), cuja infância foi contemporânea às Micaremes, e naturalmente saudoso dela, levou a ideia da retomada à estão administração João Alves dos Santos (João de Zé de Dona), que a ressuscitou em 1994. Timidamente. Em 1997, segunda administração Luciano Bispo, veio a grande catarse da festa que, de um lado mostrou o vigor serrano; por outro lhe esvaziou os cofres, e nunca conseguiu ser transferida para a iniciativa privada. Ou seja, dar efetivamente lucro.

Acima, os ex-secretários municipais Paulo de Mendonça e José Elson da Silva Melo (in memoriam), responsáveis pelo renascimento da micareta.
 

Um papo informal entre o então secretário da pasta da municipal do Lazer, Paulo de Mendonça e o ex-secretário de Municipal de Governo, José Elson da Silva Melo (in memoriam), cuja infância foi contemporânea às Micaremes, e naturalmente saudoso dela, levou a ideia da retomada à estão administração João Alves dos Santos (João de Zé de Dona), que a ressuscitou em 1994. Timidamente. Em 1997, segunda administração Luciano Bispo, veio a grande catarse da festa que, de um lado mostrou o vigor serrano; por outro lhe esvaziou os cofres, e nunca conseguiu ser transferida para a iniciativa privada. Ou seja, dar efetivamente lucro.

 

(*) Correção no texto, originalmente: "na Avenida João Pereira de Andrade, que percorre os dois bairros, Anízio Amâncio de Oliveira e Marianga."


domingo, 20 de agosto de 2023

A FORÇA DAS PALAVRAS MÁGICAS.

 

Na última sexta-feira, 18, houve o lançamento oficial da Lei Paulo Gustavo pelo Município de Itabaiana, replicando o previsto em âmbito nacional e estadual.
A Lei destina recursos federais aos entes culturais de todo o país, pesando mais a mão no quesito audiovisual, com cerca de um terço dos recursos para todo o mais.
Convenhamos: mesmo para quem faz cultura em modo completamente amador, por diversão, a priori é uma ninharia; especialmente no caso do destinado ao município (área), através do Município de Itabaiana, ou seja, seu Poder Executivo, via Secretaria Municipal de Cultura. Contudo, vem de graça; é ajuda (e não contrato salarial) e é indispensável. E inédito. Essas coisas, quando ocorreram, em geral ficaram restritas à capital.
Vai começar para valer, com o Município já de olho em outra – a Aldir Blanc – centrada no universo musical, já na biqueira para acontecer.
Porém duas palavras mágicas – ao menos aos ouvidos mais refinados – foram ditas durante o evento. Trata-se do Teatro Municipal, de projeto já rascunhado e assumido pela Administração Ailton Souza e seu grupo político; e uma Oficina de Arte.


Os livros de Tombo da Câmara Municipal de Itabaiana, na Lei Orçamentária Municipal de 1906 – há 117 anos – aponta que na administração de João Rodrigues Pereira, turbinada pelas rendas da nova Feira Livre do Mercado dos Cabaús, no hoje Largo Santo Antônio também lançava a previsão de taxas a serem cobradas no uso do Teatro Municipal, que ficava localizado onde depois foi a residência do líder político, Francisco Teles de Mendonça – Chico de Miguel – na esquina das ruas, do Futuro (Rua Tobias Barreto) com a Vitória (General Siqueira). O teatro já é relatado em 1902, por Laudelino Freire, em sua Chorographia de Sergipe, relativo à cidade de Itabaiana.
A casa de espetáculos - o teatro - parece ter morrido com as confusões partidárias entre cabaús e pebas (partidos, liberal e conservador), entre 1910 e 1920. Porém, há indícios de ter sido a primeira sala de cinema, motivo do jovem impetuoso e adventista (nada a ver com religião), visionário mesmo, José Mesquita da Silveira, ter convencido seu tio Manoel Vieira a converter a velha máquina a vapor de descaroçar algodão em usina elétrica em 1919.
A “lanterna mágica” – projetor – só funcionava a energia elétrica.


A firme promessa da Administração Municipal de Adailton Rezende de Souza, reforçada por seus apoios, no estado e no plano federal, através dos deputados Marcos Oliveira e o jovem Ícaro de Valmir, amalgamado pela liderança maior de Valmir dos Santos Costa e dos trabalhos técnicos do seu secretário de Cultura, Antônio Samarone acende a fé que vamos voltar a ter teatro, cem anos depois dele ter desaparecido entre nós.
Já a Oficina de Arte é urgentemente necessária, não somente como unidade produtora compartilhada, mas como referência na comercialização ou pelo menos exposição permanente de cada artista. Nessa destinação pensei na destinação pensei o velho "Vapor de Joãozinho Tavares" - último símbolo da fantástica era do algodão e da criação da nossa feira livre - antes que fosse reduzido em meia hora a escombros... com a ajuda de gente menos improvável.
A saraivada que brotou nestas últimas três décadas de desenhistas, pintores, escultores, em fim de artesãos em geral não é coisa que se dê ao luxo de jogar fora.
A Oficina será uma marcante forma de profissionalizar o artista.
Referências são indispensáveis ao desenvolvimento humano. Ao gerar um norte para as mentes criativas serranas, cria-se expectativas positivas; esperanças; arrojo que vão desaguar em criatividade e sucesso mais à frente.
Que venha a velha, porém sempre renovada, magia da Cultura.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

VOU VOLTAR À CADERNETA. VAMOS?

 

Eu ainda compro a dinheiro e na caderneta. Há 36 anos que compro medicamentos, com raras exceções na mesma farmácia. Na "caderneta", ou seja, na ficha; de vez em quando, no dinheiro vivo.
Há 42, também compro confecções e outros acessórios, invariavelmente na mesma empresa, especialmente na sua loja de acessórios masculinos. No carnê. E raramente a dinheiro.
Até 20 anos, a estas, somavam-se mais cinco ou seis, que foram sendo substituídas pelo cartão de crédito, à medida que mudaram o estilo de cobrança; ou que achei por bem simplificar e passei a usar pra valer o cartão de crédito, quando não o pagamento imediato a dinheiro.


A ilusão do dinheiro de plástico e a CDL-Itabaiana.

Os anos 80 foram de uma exuberância só.
Vídeo cassete; câmeras VHS, telefone sem fio, aparelhos de som 3em1, nunca se produziu tantas e tão excelentes músicas pop... pra encurtar: computador pessoal e popularização entre nós do cartão de crédito.
Em 1987, Aracaju despontou com mais uma novidade: o Shopping Rio Mar.
Itabaiana, maior centro comercial do interior do Estado já tinha ficado muito pra trás em matéria de desenvolvimento e população, agora começou a preocupação com o descolamento de vez da nova realidade.
Mas a resistência permanecia, agora sob forma aspersores a distribuir água dos projetos de irrigação e centenas de poços artesianos.
O que fazer para reagir e não acabar como Laranjeiras, completamente sugada pela capital?
E, nas tardes mordorrentas de início do nosso verão tropical (que começa umas três semanas antes da primavera do Hemisfério Sul), eis que debatíamos, um grupo de amigos, dos quais eu modestamente participei, mas também o ex-Secretário Municipal, Moacir Santana e o saudoso amigo, o lojista Josenildo Pereira de Souza.
A idéia era inicialmente criar uma associação local, que criasse e administrasse um cartão de crédito local, ou pelo menos que subscrevesse a vinda de já consagrado nacionalmente.
No foco, um atrativo melhor ao turista (ainda estávamos sob as imagens das caravanas do ouro), além de conferir modernidade às transações.
Não houve associação local; e sim, a fundação da CDL-Itabaiana em 7 de outubro de 1989.
E o cartão de crédito, só três ou quatro anos depois do Plano Real (jul/1994) é que assumiu a rotina no comércio Itabaianense.
Pois é o cartão de crédito que, sob a incessante usura do mercado financeiro está se condenando ao fim.
Em matéria do noticiário econômico de ontem, uma contenda, envolvendo Banco Central, Ministério da Fazenda, e, claro, os sempre ávidos bancos e administradoras, pelo fim do parcelamento sem juros.
Se acabar sua serventia para as compras parceladas, só se terá um caminho: voltar à caderneta ou ficha da loja ou pagamento à vista... via Pix. Sem mais intermediação.
Será o fim do dinheiro de plástico.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

O ANIVERSÁRIO DE UM (QUASE) SANTO ITABAIANENSE

 

E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo” (Mq 5,1; e Mt 2,5).

Nem sempre o mais vistoso lugar produz as maiores cabeças.
Terça feira próxima, 15 de agosto, faz 116 anos que, numa casinha do Beco da Pedreira nasceu José Gumercindo dos Santos.
O Beco do Pedreira, também breve morada de Antônio Conselheiro em sua passagem por Itabaiana, em 1874, tem hoje o nome de Rua Marechal Deodoro; e sempre foi uma via das mais humildes desde a pequena cidade.
Seu leito é dos mais antigos, pois é parte do trajeto da grande Estrada Real Salvador-Olinda, ou das Boiadas, ou ainda Caminho do Sertão do Meio, na linguagem dos jesuítas do século XVII.
A estrada foi resumida para apenas uma estrada local, por volta de 1750; e, quando o futuro Padre, ali nasceu, em 1907, já era, há mais de um século, tão somente uma estrada para o então bicentenário Tanque da Pedreira, desaparecido na década de 1960, nas imediações da Praça João Pereira, e fazia parte do Canto Escuro.
A Rua do Canto Escuro, ganhou esse apelido quando o mesmo Padre Gumercindo tinha por volta de dois anos de idade, e o foi pelo motivo do Intendente (prefeito) João Rodrigues ter dotado a frente da Matriz, na atual Praça Fausto Cardoso, a Rua do Sol e a Rua das Flores. de lampiões que eram acesos ao anoitecer. Iluminação pública, como se fazia em todo o mundo até a advento da eletricidade. De fato, a Rua das Flores se dividia em duas: a dos ricos, que foi iluminada; e a dos pobres – a parte hoje entre a General Valadão e o CTP, fazendo esquina com o Beco da Pedreira – que, no escuro, ganhou o apelido de Rua do Canto Escuro.
São José Gumercindo (a Deus querer) foi, a exemplo da historiadora Maria Thétis Nunes, um órfão da borracha. Seu pai, José Januário dos Santos, na velha carência de oportunidades da Itabaiana de até pouco tempo atrás, foi mais um que embarcou no vapor de Hermelindo Contreiras, itabaianense lendário das selvas amazônicas e seus caudalosos rios, e desapareceu, nunca mais retornando às serras. O menino Gumercindo foi criado só com a mãe, D. Maria Rita de Jesus. Único sobrevivente dos três filhos, o garoto José estudou e se formou e firmou no sacerdócio; e tantas fez que seu maravilhoso trabalho vem sendo apontado por aqueles que o bem conheceram um verdadeiro santo. Está na antessala para receber oficialmente de Roma o reconhecimento por sua vida santa.
Será o primeiro santo sergipano e itabaianense.
Confesso a minha ignorância: até a formatação final do patronato da Academia Itabaianense de Letras eu lhe desconhecia completamente; mesmo já tanto tendo avançado no conhecimento da História itabaianense. Foi, portanto, uma grande e prazerosa surpresa, a sua nomeação como patrono da Cadeira 22, da referida Academia. Cadeira que ora, infelizmente se encontra vazia, já que seu ocupante, o saudoso Luiz Eduardo Magalhães, partiu para a eternidade em 10 de outubro de 2021. Porém, mais ainda fiquei surpreso quando alguém da Paróquia de Nossa Senhora das Graças (Bairro Mamede Paes Mendonça) me falou do adiantado processo de beatificação dele e o que lastreia tal decisão, logo depois a mim confirmada pelo pároco, Padre Hélio Oliveira Alves.
O Padre Hélio é filiado à Ordem dos Joseleitos, fundada pelo Padre José Gumercindo, quando ainda pároco de Boquim.
Pois é, dia 15 de agosto é aniversário do Padre José Gumercindo dos Santos; porém, quem um mês depois receberá o presente serei eu: fui convidado para dizer algumas palavras sobre a História de Itabaiana, naturalmente num contexto da sua existência – o meio e a formação religiosa serrana – exatamente no dia 15, só que setembro; um mês depois de amanhã do seu aniversário de 116 anos.
Agradecimentos aos paroquianos de Nossa Senhora das Graças, da Congregação dos Joseleitos, que realizará sua Assembleia Anual no CTP, bem juntinho onde nasceu o nosso Santo, nos dias 15, 16 e 17 de setembro. Também agradecimentos ao amigo e confrade Manoel Messias Peixoto, que de fato foi quem me indicou ao grupo.
E, dia 15 de setembro eu estarei lá, prontamente às 19h30min.

sábado, 12 de agosto de 2023

DAS 240 AÇÕES DO PAC, 7 SÃO PARA ITABAIANA.

 Duplicação da BR ainda é um projeto.


 O programa de investimentos públicos lançado na última quinta-feira, pela Governo Federal promete ser generoso com Sergipe, alocando-lhe o maior valor por estado. São 240 ações, cinco ou seis que, se executadas, e aproveitadas pelo Governo do Estado pode finalmente tirar o estado da estagnação por quem vem passando há quase uma década.
Por outro lado, a miuçalha de pequenas obras, se executadas certamente turbinará a economia no varejo, com benefícios diretos à maioria dos municípios afetados positivamente.
Das 240 ações previstas para o estado de Sergipe, 6 delas são direta e unicamente em benefício do município de Itabaiana.
A sétima, mais visível e desejada – a duplicação da BR-235 – o Programa só contempla o projeto; porém não ainda as demais etapas do processo. E afeta também as populações do Agreste e alhures, ao longo da estrada. Ficando a ação carente de outros projetos.
Como lembrete, o asfaltamento do mesmo trajeto, finalizado em 1974, teve seus estudos realizados entre 1968 e 1971 – todo dia passavam medindo a estrada. Finalmente, a minha professora primeira teve que mudar sua escola e residência ao fim de 1971, porque naquele ano foram iniciadas “as obras d’artes”, pontes e ponteões, a partir do início na BR-101, onde hoje fica o trevo para Itabaiana. A minha escola funcionava à beira da estrada de rodagem, uns cinquenta metros subindo a ladeira, a partir de pardal, lado da serra.
Logo, não será novidade se demorar mais do que os legítimos anseios serranos querem.

Pobre cultura

Chama a atenção que o Programa somente aloca recursos para a área cultural para oito projetos, no estado; sendo um na capital, e os outros sete para São Cristóvão. Presume-se que houve cochilo no Governo do Estado em alargar mais este setor, visto que São Cristóvão tem uma inquestionável importância no estado, mas a ele é indispensável agregar outros destinos turísticos, mediante sua cultura.
Turista algum virá a Sergipe ver o que pode ver em qualquer lugar do mundo; mas aquilo que só nós temos. Contudo, claro, que não lhe falte a estrutura.
E Cultura sem os rendimentos do Turismo é auto louvação idiota. Tem que mostrar e se auto financiar com isso.
Ao menos no Novo PAC, a Cultura, um setor que precisa urgentemente acordar para bem administrar os recursos que tem, e os outros que podem dele advirem ficou pela metade.

 

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

RESQUÍCIOS COLLORIDOS.

 

“E não adianta nem me dedetizar (...)
porque ‘cê mata uma e vem outra em meu lugar”
(Seixas e Coelho – Mosca na Sopa)

 

O Governo Sarney foi aquele vexame. Dívidas acumuladas dos governos burocráticos militares explodiram na democracia da Abertura, a partir de 1978, saindo completamente de controle depois do Plano Cruzado, em 1986, este feito para eleger o esquemão do Governo. Em março de 1990, até o dia 15, a inflação no mês projetou estratosféricos 93%; não confirmada porque Fernando Collor assumiu no sobredito dia 15 de março, e decretou o Plano Collor, com confisco da Poupança etc., e etc..
Até o início de 1989, a máquina pública federal de controle de endemias e doenças transmissíveis em geral se manteve dentro do satisfatório, máxime executada pela SUCAM em praticamente todo um território nacional, de transporte quase todo integrado, logo circulação de pessoas e outros vetores de doenças.
Em fins de 1989, pós-Constituição; ano de substituição no comando máximo do país, incertezas quanto ao futuro da administração da Saúde, a coisa foi afrouxada.
Em 1990, no Governo Collor, dois fatores de alta periculosidade entraram em campo, relativamente à vigilância epidemiológica: a desconstrução - sempre rápida, como toda demolição - da tecnologia de bloqueio, a duras penas desenvolvida e mantida; e a avalanche ideológica da discurseira neo-liberal, em substituição atabalhoada, descoordenada e miseravelmente instrumentada – com falta geral de insumos, inclusive humanos – sem nenhum critério, exceto o de repartição do bolo das verbas e do tempo de mídia pela politicagem... liquidou a fatura.
Foi um desastre.
Começou com uma campanha de marketing, dos agentes políticos, querendo faturar em cima de uma suposta epidemia de cólera, que, mesmo pessoas da saúde não entenderam o porquê daquela histeria.
Alguém deve ter recobrado a memória dos reais e terríveis surtos de cólera, do início da segunda metade do século XIX. Então, duas epidemias de cólera – 1855 e 1863 - devastaram, especialmente o Norte e Nordeste; em alguns estados reduzindo sua população livre e escrava em mais de 40%, mudando definitivamente o eixo econômico do país para o sul.
Bem, mas em 1990, a cólera só serviu para gerar dúvidas sobre honestidade do Governo central.
Mas a Dengue voltou para sempre. E mortalmente de verdade.
Mosquito não respeita fronteiras humanas, e, como é combatido – ou não – em cada município, nunca mais nesses mais de 20 anos ficamos sem a presença do Aedes egyptii e suas perninhas botafoguenses, de listrinhas preto e branco a nos rondar.
Mata o mosquito em Itabaiana? O transporte dinâmico cuida de transportar mais; repor os mosquitos defuntos. E assim é em todo o Brasil.
Detalhe: o Aedes egyptii, transmissor da dengue havia desaparecido do Brasil desde a década de 60, pelo intenso, constante e coordenado trabalho do antigo DNERu, depois rebatizado de SUCAM.
Hoje pela manhã acordei com as equipes da Secretaria Municipal de Saúde de Itabaiana aplicando inseticida com seu carro-fumacê no entorno de onde moro. Um inglório trabalho de tentar manter a cidade sadia, mesmo sob alta toxidade. Inglório porque os milhares de cargas, veículos e objetos em geral que chegam ao município trazem milhões de ovinhos microscópicos, boa parte deles já com os vírus, que eclodirão e recomeçarão de novo, e de novo, e de novo.
E assim caminha a humanidade.

sábado, 5 de agosto de 2023

E FINALMENTE COMEÇA O DESMONTE FINAL DA ALFABETIZAÇÃO.

 

Tudo o que quis se fez; e o que se não fez, foi porque se nunca quis. Na saga humana essa tem sido uma realidade insofismável.
O primeiro motor a vapor que se tem notícia foi criação de Hero de Alexandria, que o inventou nessa cidade grega do Egito, provavelmente quando Cristo estava de colina em colina ditando o Evangelho. Mas o Império Romano, que a tudo dominava não achou uso para ele; que só precariamente veio ter utilidade por Thomas Newcomen, na Inglaterra de 1712.
Duzentos e cinquenta anos antes de Hero, na mesma Alexandria, Arquimedes inventou o parafuso, princípio por trás de toda hélice – do ventilador, ao navio, ao avião a jato – além, é claro da enormidade de utilidades como a bomba de água, então por ele demonstrada. Mas só de três séculos para cá é que realmente efetivamos e disseminamos o seu uso.
Assim ocorre com tudo que façamos: só a necessidade nos força a usar.
A escrita surgiu quando na primeira negociação, alguém buscou uma forma de grafar o acertado para que não houvesse dúvida na hora do pagamento. Assim, egípcios, na sua exuberância abençoada pelas enchentes e vazantes do rio Nilo grafaram a primeira cabeça de boi, pra significar um aluphs, ou boi, a receber ou pagar; e da mesma forma um sumério, no que é hoje o Iraque, grafou uma espiga de she, ou cevada. Já um chinês grafaria um peixe na água, para lembrar que o grande rio Yangtzé inundou.
Toda a escrita, portanto, nasceu por pura necessidade do dia a dia. E assim continuou: sempre a serviço do dia a dia, ficando complexa à medida que também complexa ia ficando a vida, com sua montanha de interações humanas; seu monte de deuses e sacerdotes intermediários.
E a humanidade descobriu que a escrita era boa. Não somente para os negócios; mas especialmente para exercitar o poder. E os deuses, criaturas mágicas, senhores dos subconscientes humanos, seus medos, esperanças e demais sentimentos passaram a reger a humanidade. Usando a escrita, devidamente apropriada por espertalhões que, feitos sacerdotes se constituíram, desde cedo, numa classe privilegiada. Às vezes, também justos e indispensáveis.
Templos egípcios
Os templos no Egito eram levados muito a sério. Era de fato o local do divino. Desde o oráculo, para respostas espirituais, aos assuntos em situação intermediária, com a Sala do Saber, a biblioteca; onde milhares de papiros, lidos pelos sacerdotes diriam aos escolhidos sobre matérias do conhecimento acumulado.
A exuberância romana do início da Era Cristã, contudo, levou a sociedade europeia, dentro do Império, a desleixar-se e até cansar daquele que, mesmo estando longe dos padrões atuais, mais ainda estava dos anteriores. E o correio desapareceu; desapareceram também a escrita, que retornou à castas mais endinheirada, nem sempre douta; e minúscula... e o Ocidente mergulhou na Era Medieval.
A história repetida.
Com a conquista da tecnologia da informática, era questão de tempo para se produzir uma exuberância que deixaria qualquer intelectual grego do Império Romano, contemporâneo de Cristo se sentindo um primitivo.
Há mais de século e meio que aprendemos a telecomunicarmos pelo telégrafo; usando a escrita impressa, nas duas pontas do processo. Mas a seguir veio o telefone fixo; o cinema; o rádio; a televisão; e, a Segunda Grande Mundial nos deixou a novidade que, afinal, juntou tudo num pacote só, inicialmente fixo – o computador pessoal - e finalmente o celular. Toda a comunicação humana; tudo que se desenvolveu até hoje, dentro de um aparelho que é parte de um corpo planetário, que não conhece fronteiras, sejam geográficas ou políticas.
O celular é tudo. Existem mais celulares no mundo que gente. E por isso corremos o risco de reduzir a inteligência por simples falta de uso. E todos os mecanismos ao longo de centenas de milhares de anos que nos trouxe... à sua conquista. Especialmente, a escrita.
Não mais é necessário escrever, cursivamente, de próprio punho. E agora, nem mais digitar.
A Finlândia deu o pontapé inicial no sepultamento da escrita, ao abolir, em 2014, nas escolas do país, a verdadeira escrita – a cursiva – e adotar unicamente a digitação.
O Governo do Estado de São Paulo - não vamos discutir aqui os motivos políticos - mas na semana passada já afirmou que não mais usará o livro impresso em suas unidades de ensino.
E esse é um caminho sem volta. Ao menos pelos próximos 50 anos.
Em duas décadas a sociedade humana estará irreconhecível.
A matéria-tópico presente (o padrão doravante, nestes tempos de pressa, e superfluidade cada vez maior), no linque anexo, soa como um canto fúnebre a beleza e magia de grafar, eternizar o nosso pensamento, numa tecnologia que, se não tem papel, vai na pedra; ou até mesmo na areia da praia de Iperoig, como fez Anchieta, quando preso pelos tamoios, na segunda metade do século XVI, no litoral paulista, hoje Ubatuba.

Linque aqui.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

GRATIDÃO SERRANA.

 

Domingo, 6 deste agosto, Itabaiana se mobilizará para agradecer a Santa Dulce.
A escolha dela por nossas serras, onde intercedeu pela graça do Altíssimo, aqui realizando o primeiro milagre não há nada que se compare. Milagre aquele, que levou a Santa Sé a iniciar seu reconhecimento, muito além do grande milagre que foi sua vida profícua entre nós, em geral, no socorro aos mais necessitados.
Temos mais é que agradecer; e a caminhada até a sua Ermida nos contrafortes da serra de Itabaiana, povoado Gandu II, vizinho ao Parque dos Falcões será mais um gesto singelo em prol desse sentimento de gratidão, o mais alto sentimento de um ser humano; porque expressão completa de completo amor.
A princípio pareceu que a cidade não iria reagir. Talvez ainda estupefata pelo ocorrido numa tensa e angustiante madrugada, pode-se afirmar, desesperada; ao menos em relação à vida então em jogo, depois de baldados todos os recursos médicos e volumosa habilidade e experiência do zeloso técnico, e de repente... orações foram ouvidas.
Ainda soa estranho; fantástico. Um sonho.
Mas em 2019, tão logo confirmou-se a canonização, propiciada pela confirmação, e desta feita por um segundo milagre ocorrido na Bahia, a Associação de Peregrinos de Sergipe planejou mais um caminho de peregrinação no Brasil: o Caminho de Santa Dulce. De Itabaiana, terra do primeiro milagre até o Santuário soteropolitano de Santa Dulce.
Infelizmente, em março de 2020, veio a pandemia, travando tudo. Porém, enquanto isso, agentes locais maturavam a ideia e arregaçavam as mangas, construindo estátuas, como a monumental na Casa Santa Dulce, no Bairro São Cristóvão, instalada ali no dia 7 de outubro do mesmo 2020, em plena pandemia.
Do lado da Associação Sergipana de Peregrinos, seu presidente, Anselmo Rocha, não descansou na pandemia; estruturando o Caminho idealizado, que trouxe, no último mês de junho, a primeira turma de peregrinos, numa viagem maravilhosa, à beira-mar, e visitando todos os pontos referenciais da Santa, em Sergipe e na Bahia.
Essa caminhada de domingo, pois, coroa de sucesso todo um trabalho conjunto, que vem sendo realizado desde fins 13 de outubro de 2019, quando a Santa Sé reconheceu oficialmente Santa Dulce dos Pobres. E, como dito, é um singelo agradecimento pela graça alcançada pela miraculada Cláudia; na Maternidade São José; aquela que também foi um ponto de viragem desde 1960, de uma cidade em que, até então o que não faltava era filho órfão de mãe; morta em algum parto complicado - coisa quase impossível de ocorrer em nossos dias.
O cortejo sairá da Maternidade São José, às cinco da manhã, devendo chegar à singela capela de Santa Terezinha, no povoado Serra, por volta das seis e mais; e daí tirar os restantes cinco quilômetros até as sete a sete e trinta, então chegando à Ermida, que fica próxima ao portão do Parque dos Falcões.
O retorno, para a maioria, deve ser pelos 2,5 quilômetros da estrada de acesso ao Parque, a partir da BR-235, no início do povoado Gandu II, junto à capela de São Francisco, com vista para o Rio das Pedras II (o dos quebra molas e pardal).

Uma boa peregrinação a todos.

 




quinta-feira, 27 de julho de 2023

QUEM MANDA SOU EU.

 

“porque, enquanto for eu quem ganhe, quem manda é eu.”

Em 1986, campanha renhida no estado – e em Itabaiana - o candidato a deputado e chefe político, líder político inconteste na microrregião com 16 municípios estava com sérios problemas locais, com o avanço da oposição que, montada no prestígio da então única emissora de rádio da cidade – a Princesa da Serra - e com o apoio maciço da máquina do Estado, avançava a olhos vistos sobre seu rebanho, penetrando perigosamente cada vez mais, o que acabaria por tomar-lhe o poder, dois anos depois.
A Rádio Princesa da Serra, foi uma ideia prima de Juarez Ferreira de Gois; que atiçou o espírito aventureiro, transformista e progressista de Francisco Tavares da Costa que a levou a outro mais bem postado economicamente, tão desenvolvimentista quanto, que estava no auge do prestígio com os sucessivos sucessos da Associação Olímpica de Itabaiana, materializando-a, com apoio explícito do tetraneto de José Mateus da Graça Leite Sampaio, Governador do Estado, José Rollemberg Leite, em 13 de junho de 1978.
A Rádio foi minha escola de rádio e de todo mundo que nela estreou e nela trabalhou durante os dois primeiros anos, exceto o saudoso João Batista Santana. E foi o palanque-mor onde o recém falecido Djalma Teixeira Lobo militou, e por ele se elegeu duas vezes deputado estadual.

O quarteto, Djalma Lobo, José Queiroz, José Carlos Machado e Luciano Bispo (em baixo), em 1986 estava minando o poderio de Francisco Teles de Mendonça, o Chico de Miguel, atacando a administração do seu afilhado, literal e politicamente João Germano da Trindade (acima), inclusive com ingerências provocativas, como a citada.

O forte apoio da máquina do Estado, com que contava a oposição, incluía a recém-criada Cohidro (irrigação) - que num estado nordestino tem um poder fantástico - e o DER, geralmente àquela consorciado, desde as experiências federais, forçadas pelo tenentismo da década de 1920, com o embrião do que viria a ser o DNOCS.
O jovem ex-candidato a prefeito em 1982 (e que ganharia, em 1988), Luciano Bispo de Lima, era parte do quarteto que dirigiu o fim do apogeu de Francisco Teles de Mendonça entre 1976 e 1988. Como comandante local, então dividia o comando local com o citado Djalma Lobo. Pilotando as obras, da máquina do Estado resolveu meter o bico em área da Administração Municipal, e consertar as estradas vicinais. O chefe político, Chico de Miguel padrinho do prefeito soube e foi-lhe ao encontro.
Ao chegar, avistou a máquina patrol em operação na estrada; e o carro do oponente estacionado, à margem. Aproximou-se do mesmo, e notou Luciano Bispo dentro, no banco do passageiro, logo à frente. Apoiou o bração esquerdo sobre a capota do carro, que sentiu o peso, baixando, generosamente, uns cinco centímetros.
O motorista, saudoso Benjamin José de Oliveira, popular Beijo de Bibi, também pré-candidato a vereador (não eleito em 1988) – que me contou o acontecido – ficou temeroso enquanto o velho e temido chefe político ditava suas ordens para Luciano:
“Se quiser mandar no ‘meu’ município se candidate e ganhe as eleições, moço. Porque, enquanto for eu que ganhe, quem manda é eu. Pode retirar sua máquina daqui.”
Situação vexatória maior foi do carona, o professor Antônio Lima, conhecido por Tuíca, sentado no banco de trás, e confundido por Chico como se um pistoleiro:
“E você, seu pistoleirinho, eu arranco esse seu bigode de faca, certo”.
O pobre professor secundarista, que sempre usou vasto bigode, só não se mijou porque foi travado pelo excesso de medo.
Após a saída do chefe político, o Luciano Bispo deu partida no carro; ordenou ao maquinista que recolhesse a patrol ao pátio de máquinas do DER-SE, e, a seguir, caiu fora.
Essa história me veio à lembrança ao ver essa campanha de parte da mídia, sobre a nomeação para a presidência do IBGE; mais uma vez querendo pautar o Governo Federal, ora ocupado, mais uma vez, pelo Presidente Lula.

terça-feira, 25 de julho de 2023

DIA DO ESCRITOR

 

O ser humano que aprendeu a eternizar e a difundir pensamentos, por imprimi-los numa superfície de barro ou pedra, tem hoje uma representação muito difusa de escritor.
Mas o que é um escritor?
A cultura geral força sua colocação como um artista, além da arte de escrever, que, em si só já é algo divino, também imprime fantasias.
Romper as barreiras do tempo e espaço para fazer chegar pensamentos em vários locais e, não fica só nisso, porque só assim hoje lemos o que pensaram pessoas comuns, como D. Lamassi, a justamente revoltada esposa com seu folgado marido, Pushu-ken, na cidade de Kanesh, hoje inexistente e na atual Turquia, há quase dois mil quilômetros de casa, na Assíria.
Em carta de quatro mil anos atrás ela, em resposta à outra, reclama do marido que a acusa extravagância, de gastar muito; ao que D. Lamassi, provavelmente colérica, o põe no seu devido lugar; e ainda lhe atira nas fuças: “Cadê o dinheiro dos meus tecidos que teci e você não me mandou?”
Como as matronas itabaianenses de 1800, 3800 anos antes D. Lamassi também fazia tecidos que seu marido ia vender no grande mercado de Kanesh.
D. Lamassi – e seu enrolado marido, Pushu-ken – jazem pela eternidade numa tabuleta de barro, que, queimado, virou pedra.

Numa tabueta de barro semelhante a essa, os dramas comuns, na vida do casal Lamassi e Pushu-ken eternizados pela arte de um escriba. Um escritor. Há 4 mil anos.

























A escrita começou pela contabilidade. Para anotar quantos bois se vendia ou comprava no Egito se grafou o primeiro Aluf, ou boi, em egípcio antigo. Hoje, depois de muita história, a nossa letra A. Do mesmo modo, na terra de D. Lamassi, para se gravar uma medida de cevada, usou-se o desenho de uma espiga de cevada. Daí para frente nunca mais parou.
Logo, escritor e contador, a princípio foram a mesma coisa.
Hoje, contudo, o escritor é identificado mais com um romancista; aquele que, além de escrever, o que escreve é produto das histórias que a sua mente inventa; em geral, lastreado no dia a dia da própria cultura.
Eu já fui escritor de cartas; um pouco diferente do personagem da Fernanda Montenegro, no filme Central do Brasil; mas, entre os 11 e 14 anos já passei até uma tarde inteira grafando missivas para parentes e amigos analfabetos enviarem seus pensamentos pelos Correios a amigos e parentes, geralmente em São Paulo. Através de uma carta.
Logo, me sinto honrado pelo dia de hoje.
Parabéns para todos os escritores. Inclusive os de cartas, como eu fui.
 
     

quinta-feira, 20 de julho de 2023

HOMICÍDIOS: ITABAIANA AINDA MUITO MAL NA FITA.

 

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2022 - que se refere ao apurado no ano 2021 - Itabaiana foi o mais violento do estado de Sergipe no mesmo 2021, e na triste classificação de 28º entre os mais de 5.500 do Brasil. Apesar de em queda, há 5 anos. Bem longe dos números civilizados de até 1990. Quando Itabaiana só tinha fama; não violência de fato.