segunda-feira, 13 de maio de 2013

Democracia ditatorial.

No Brasil, padecemos de males de origem que parecem não ter fim. Um deles, talvez o pior de todos é a falta de participação popular; o que atinge em cheio a democracia, logo o debate e o consenso consciente e consequente aceite racional de decisões tomadas. Ao contrário, assentimos a tudo, mas não nos identificamos com nada, e, claro, não nos sentimos compromissados com nada. Logo, mantemo-nos como nos primeiros tempos se mantiveram imigrantes judeus, ciganos e pretos escravizados, ou os indígenas, autóctones: à margem. Meros espectadores e ou aproveitadores, quando a situação assim nos permite. Como por exemplo: trocar o voto por qualquer coisa menor como se fôssemos afogados em plena agonia, matando até o nosso salvador. E resistimos a qualquer situação que demande discussão, dissenso, logo debate para em seguida vir a força do convencimento por vontade da maioria. Indiferença é o lema.
Hoje, 13 de maio, pela manhã me chamou a atenção um carro de som com uma propaganda da Prefeitura Municipal de Itabaiana que por mim passou, já próximo ao meio-dia. A emissão era de um convite da Municipalidade para que os cidadãos de Itabaiana compareçam neste dia 14 ao auditório da UFS, campus de Itabaiana, para a 5ª Conferência Municipal da Cidade. Ora, pra mim seria um espanto, porque nunca ouvi falar em nenhuma outra. Seria. Mas conheço minha cidade que é modelo das cidades típicas do Brasil velho. Aquele formado lá nos séculos XVII e XVIII e que ainda se mantém com um pé na Idade Média, em que pese usar o Facebook, Orkut, e muito bem operar os moderníssimos telefones celulares. Voltando à dita Conferência, não se trata de um assuntinho qualquer. Pressupostamente ali se determinará o que se quer fazer com a cidade e o município nos próximos anos. Logo, não é coisa pra se discutir em duas ou três horas de loas vazias, pró-forma, meramente pra preencher os requisitos do Ministério das Cidades e com isso capacitar-se a receber verbas. Itabaiana tem um monte de instituições civis, sejam as de classe, sejam as religiosas, sejam as mais generalizadas, como as associações de moradores. O correto seria determinar um ciclo de pelo menos três semanas para que essas entidades, inclusive com direito a assessoria do Poder Público, incluindo aí o Ministério Público discutissem seus problemas e com isso fizessem uma Paula de reivindicações e sugestões para, aí, sim serem discutidas em dois ou três dias por delegados escolhidos das mesmas, junto às autoridades. No mínimo isso gera consciência de cidadania; de dever para com a cidade, com suas instituições, com seu futuro. Não! Pra meramente fazer uma meia-sola, cria-se um falso fórum onde só comparecerão um ou dois cri-cris, algumas dezenas de puxa sacos, se muito, uma dezena dos velhos esperançosos de sempre; e de concreto? Uma ata pra enviar pro Ministério das Cidades, ou a lá quem for mostrando que tá tudo ok; já podem mandar o dinheiro.
Esses modelos impostos de cima pra baixo desde o Governo Itamar Franco, mantido por FHC, por Lula e agora pela atual Presidência, sinceramente, é uma escola de cinismo que não tem tamanho; por mais recheados de boas intenções que sejam. Parece aquela cantilena de parte substancial da classe média americana que de fato acredita que seus “marines” que estão matando gente no Oriente Médio não é por conta do petróleo; e sim de implantar a democracia para “aqueles pobres coitados”. Iniciou-se com a história dos conselhos e as municipalizações. De fato vem junto com o advento das Agências reguladoras que não regulam absolutamente nada, já que as galinhas são entregues às raposas. Tem tanto do conselho que não há conselheiros suficientes: Saúde, Educação, Ação Social e mais outros que agora me fogem à memória. Em cidades muito pequenas não há gente disponível e disposta para materializar um conselho; imagina cinco ou dez. Então, parte-se para as aparências. A velha hipocrisia do dia a dia brasileiro, e que tantos prejuízos tem causado a este país. A democracia imposta. Todos fazem de conta que. Até explodir a próxima crise institucional.
Ainda sobre a nossa Conferência Municipal, fosse o governo municipal realmente democrático teria convocado uma série de reuniões locais para preparar à grande conferência; e os partidos que lhe fazem oposição, se fossem democráticos e compromissados com o povo e seu futuro, estariam entrando de imediato na Justiça com um pedido de suspensão do evento para reconsideração e óbvio enquadramento no que requer evento de tal natureza. Mas, como por aqui todos calam diante dos erros dos outros para assegurar impunidade aos seus próprios, e ao mesmo tempo faturar em cima deles, os erros alheios, vamos continuar como dantes no quartel de Abrantes.