sábado, 21 de junho de 2014

O espírito do caudilho.

Tá faltando grama, neste jardim;
Tá faltando árvore, nessa cidade;
Tá faltando oxigênio, nessa atmosfera;
O que será, o que será, o que será, 
o que será da biosfera?
(BENJOR, Jorge. Salve o verde)
O estado de São Paulo entregue, à talvez maior adinamia administrativa de sua história, com sérios riscos até de não ter água pra tomar banho na região metropolitana da capital. Mas, segundo pesquisas de opinião, o candidato disparado pra ganhar as eleições pro Governo daquele estado é justo o que está no cargo, e que nele, via seus partidários, tem estado nos últimos vinte anos. Por outro lado, o país quase chega ao nível do chamado "Primeiro Mundo", com economia sólida, conseguindo se segurar diante de todas as campanhas especulativas dos abutres mundiais, nesta crise mundial interminável, além de enfrentar a politicagem local, e, a candidata à reeleição e atual dirigente máxima está na frente; mas não com a folga que teoricamente deveria estar.
Faz justo um ano que a mídia turbinou uma manifestação amorfa, sem pé nem cabeça, nem mesmo sob a coordenação do Instituto Millenium – versão atual do golpista IPES de 1964 – a coisa fechou num rumo coerente. Mas houve! E não adiante tentar minimizá-la. Foi um quinto do que faz supor a mídia, toda ela politicamente contra o Governo Federal; mas houve, e não foi pequena.
Leio hoje, especial intitulado “Des anos sem o caudilho”, no Notícias Terra, que, óbvio, fazem justos dez anos que Leonel de Moura Brizola nos surpreendeu, negativamente, ao nos deixar de uma hora pra outra, sem sequer um anúncio prévio. Voluntarioso, dono de si, surpreendente, como sempre, até ao morrer. Um típico produto dos pampas gaúchos e seus campos intermináveis, com seu absoluto instigar à liberdade plena. Foi-se ali, a última grande referência da paixão como forma de exercício político. O fogo! O arder! A palavra dita com maestria, arte, e tal vitalidade, que incendiava corações. O linguarudo. O político em essência. Aquele que não levava desaforos pra casa. Que nem estava aí de peitar o sistema; pouco importando, nem mesmo se o dito sistema era o de dominação americana, calcada num império de comunicações muito bem plantado no país, tal qual a denominação hispânica dos primeiros séculos de Brasil, calcada no trabalho de suas ordens religiosas, todas católicas, obviamente.
Em 1980 o país acordou para uma nova realidade: o primeiro partido realmente operário do país, formado a partir de um símbolo, seu operário-mor, que conseguiu chegar à Presidência da República e viabilizar este mesmo partido como o partido modernamente mais bem organizado e poderoso do país. Tudo isso teve custas. E seu operário-mor, que sempre disse o mesmo que diz hoje, teve que vestir o figurino do rude torneiro mecânico de sua origem, na sua origem; mas volver-se para uma versão amena que o tornou o maior líder atual do país, um dos maiores de sua História, e referência na própria História mundial, da atualidade. Sua figura, transformada no grande estadista que se revelou, contudo, tem um preço, preocupante: no seu próprio partido, todos passaram a serem "Lulas paz e amor"; bombeiros de incêndios inexistentes, enquanto sem preparo algum pra dominar o fogo, pra que este arda, e somente onde deve arder. 
Estamos ficando fartos de politiquinhos bonzinhos, educadinhos, refinadinhos, mansinhos e de falas mansinhas. Na minha modesta opinião, parte do que se viu há um ano, foi este grito por socorro. 
Tá tudo enlatado, certinho, previsível demais. Em São Paulo, entre o extranumerário do Opus Dei, Geraldo Alckmin e sua mansidão, e o manso Padilha... ora, porque mudar, se são a mesma coisa? E porque mudar da gerentona Dilma Roussef, pro candidato do Choque de Gestão, Aécio Neves, se, além de seu tal Choque não ter transformado Minas Gerais numa vitrine, vem acompanhado dos mesmos bonzinhos, educadinhos, refinadinhos e mansinhos de falas mansinhas, que foram tirados do poder em 2002?
Sergipe... meu Sergipe! Aqui a coisa é um pouquinho pior. Pra variar, a última grande novidade na política sergipana, Marcelo Deda Chagas, é falecido. A segunda mais nova, João Alves Filho, hoje prefeito de Aracaju, tem 40 anos de ingresso nela. Quatro a menos que o atual governador, Jackson Barreto de Lima. Como viabilidade ainda temos Antônio Carlos Valadares, com 48, Albano do Prado Pimentel Franco, idem. E aí vem a novidade: Eduardo Amorim. Bonzinho, educadinho, mansinho, de fala mansinha... e pior: sem comando político, porque o comando político é do seu irmão, Edvan Amorim. Será a eleição “compre um, e leve dois”. Particularmente, acho pouco provável o atual governador, Jackson Barreto de Lima, se reeleger; mas quem será o governador, não será Eduardo, todos sabem; será Edvan, que de fato, já tem o real controle, o comando, de muita coisa dentro da máquina do Estado. Uma máquina formidável de comando e estratégia tal, que começo a vê-lo semelhante a José Matheus da Graça Leite Sampaio, o construtor – esquecido – da Independência de Sergipe; do Barão de Maruim, o agiota que consolidou a mesma Independência (além de mudar a capital para Aracaju); ou o grande coroné sergipano da República Velha por estas plagas, Manuel Presciliano de Oliveira Valadão. De fato, até o momento, mais está a parecer com este: o domínio da política como fator de sucesso meramente pessoal. E porque acho que Jackson Barreto não ganha? Ora, bonzinho, educadinho, mansinho, de fala mansinha... um pelo outro, é muito mais provável o Eduardo Amorim, porque, além de ter apenas 12 anos na política, há a vantagem, sobredita do “compre um, leve dois”. A mídia sergipana, praticamente toda ela, está cercada com os tentáculos de Edvan; há indícios de sua influência direta em pelo menos metade dos 75 municípios de Sergipe, através de suas prefeituras. O Governo de Sergipe se encontra numa situação análoga à do Governo Federal: tem a caneta, mas depende de acordos. Acordos com os comandados de Edvan. Tem o poder, mas não parece exercê-lo com presteza, nem mesmo nos atos administrativos simples; já que todas as secretarias estão contaminadas com agentes de Edvan. No Judiciário, é um Deus nos acuda. Bonzinho, educadinho, mansinho, de fala mansinha... isso não era Jackson Barreto a peitar a família Franco da década de 70, o que o tornou grande liderança e grande aliado de João Alves Filho, este já sob o mesmo fogo “amigo”, assim que cravou 79 por cento dos votos pra governador do Estado na primeira eleição direta do fim da Ditadura, em Sergipe. Aquele Jackson Barreto, hoje, além de ser governador, o que exige outra postura, praticamente acabou em 1998. Sergipe perdeu ali seu último caudilho, ganhando em contrapartida um político “técnico”. E, técnico por técnico, a estratégia de Edvan Amorim para assumir de fato o comando do Estado e do estado, está me parecendo infalível.
Até que o espírito do incendiário, passional, torrencial, Leonel de Moura Brizola, baixe em alguém, que dê uma firme sacudidela em “tudo isso que está aí”, vamos continuar no campeonato entre os bonzinhos, educadinhos, mansinhos e de fala mansa.
Ah se pelo menos os cinemas ainda existissem, e José Queiroz da Costa fosse vinte anos mais moço... 
Tá faltando oxigênio nessa atmosfera!