sábado, 3 de maio de 2008

Inquietante.

Hoje, sábado, 03 de maio, pela manhã, acordei às seis ao som de um telefonema. Era um garoto amigo dos meus garotos, aflito, em busca de doadores de sangue, cuja doação fora solicitada por uma médica que está cuidado de um seu parente. O parente em questão é um outro garotão que ainda na terça-feira, 29 de abril, saltitava alegremente dentro da casa de shows Espaço Emes, em Aracaju, no momento em que recebiam a titulação de bacharéis vários colegas seus, inclusive um dos meus garotos. Óbvio, o garotão estava contente como todos os de sua faixa de idade pelo momento que também sonha passar brevemente.
Tá difícil!
De repente descobrimos que “apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos; ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”(*). Arriscaria tetravós. Ainda morremos de dengue. Mas o pior é descobrir que morremos de incompetência, de inépcia, de descaso, de desgoverno, de abandono de um Estado que somente serve para arrumar a vida de alguns mediante empregos e outros contratos. De vez em quando também coisa cabeluda.
Em recente entrevista ao jornal Folha de São Paulo (07/04/2008, clique aqui se assinante do jornal ou do UOL), o médico Antônio Sérgio Almeida Fonseca, que em 1986 examinou em Nova Iguaçu, no Estado do Rio de Janeiro o primeiro caso de dengue após décadas sem registros, foi categórico: vamos para uma epidemia do tipo 4. Das brabas. Mas o que achei mais interessante foi o dito médico por o dedo na ferida: O governo – União, Estados e Municípios – ao insistir de fato apenas em propaganda vem buscando culpar a população pela epidemia e esquecendo de fazer a sua parte que é a vigilância epidemiológica como devido, com extenso controle, apoio e treinamento.
Do lado da política, prato cheio. A oposição a cada prefeito - principalmente - tá com a faca e o queijo para 05 de outubro. Vai pegar o momento melhor para detonar com os candidatos situacionistas, seja em reeleição ou em apoio a outro. Assim que passar o frio de agosto, a primavera chegará em primeiro para o mosquito.
A incapacidade gerencial é tanta que sequer informações concisas, além da gritaria comum não existem. Em geral, governo de Estado e prefeituras detonam horrores de dinheiro pagando a radialistas, jornalistas e donos de rádios, jornais e revistas para sair bem na foto. Sobre a epidemia o que se vê é um bate cabeça sem fim de pessoas sem a menor formação em saúde pública dando declarações em tons de aconselhamento e a turma dos governos – estadual e municipal, principalmente – dá entrevistas. Tão vazias e auto-promocionais quanto as matérias feitas pelas redações ou comentários de comunicadores.
Sequer há uma estatística confiável já que evocando a responsabilidade pela não criação de pânico e a irresponsabilidade pela falta de dados estatísticos, uma ferramenta vital na administração pública, suprime-se as informações sobre o estado real da epidemia dando lugar a mais alarmismo por parte da turma do quanto pior, melhor.
Ah, sim. O rapaz a quem me reporto está com dengue hemorrágica. Por isso a preocupação do outro e de sua médica em arranjar doadores de sangue.
A quem interessar possa: em outubro, o estrago da dengue vai ser bem pior.
(*)Como nossos pais. Belchior (com o mesmo ou Elis Regina).
O signatário é laboratorista do Ministério da Saúde, desde 1982, com atuação em imuno-hematologia e parasitologia entre outros.

domingo, 27 de abril de 2008

Fim da quarentena

Como havia previsto aqui, acabou a quarentena a que o MP itabaianense colocou os fiéis do costume dos marginais americanos(*). O de surdar os transeuntes com seu barulho, naturalmente ensurdecedor. E a Micarana é a "grande culpada". Em nome da "alegria", as bombas sonoras em fundos de carros particulares voltaram a circular com toda a força. Neste domingo tá um inferno. Certamente algum chefe de bando deu o comando: faça qu'eu garanto. Esse é o modus operandi de tudo o que ocorre de ilegal, de marginal. Alguém com poder, real ou suposto, tem que dar o comando. Exceto algum aloprado mais vigoroso; ou criminoso poderoso, todo transgressor é covarde. Só age sob proteção. Neste caso, resta saber de quem.
(*)Os filmes barra pesada com Charles Bronson muito bem ilustram isso.