sábado, 19 de julho de 2008

E o cabaré voltou...

Não o Tonho Cabaré, o morto e assassinado, porque já esquecido (que voltou); mas a falta de autoridade e o devido cumprimento das leis. Parece ter havido uma “flexibilização” da ordem sobre a altura dos sons ambulantes, talvez em nome da “livre expressão” da augusta democracia com devida liberdade “ad infinitum” dos donos do pedaço. E com isso, os mega-sons dos bregueiros endinheirados já voltam a importunar, pegando carona nos apaixonado$ da política que com suas megas manias de aparecer a qualquer custo em desrespeito a qualquer norma de convivência civilizada, não param de aumentar o volume.
Até algumas motos “desmioladas” já apareceram e outras, certamente estão a caminho.
É! Não se transforma bicho em gente de uma hora pra outra. A cultura de gueto bronsoniano(*) continua.

(*) O ator americano Charles Bronson (1921-2003), notabilizou-se por estrelar uma série de filmes policialescos barra pesada, de onde mostrava a decadência da periferia de grandes cidades americanas. Onde, dentre as formas de exibição de músculos e outras grosseiras o tempo inteiro estavam os mega-sons, e carros envenenados além de justiceiros e muitos tiros. O mais simbólico dele foi a série "Desejo de Matar".

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Péssimas memórias

“...e me parti no dia 15 de julho com grande invernada e infinitas descomodidades, e me vendo no Rio Real com Belchior Dias passei dali a Sergipe, dando com seu aviso na conformidade de que tratáramos, fui à serra de Itabaiana, dez léguas aos sertões da cidade, chegamos ali levou o dia seguinte a meia ladeira de um oiteiro...”

Carta de D. Luiz de Souza a S. M. D. Felipe III, em 15 de setembro de 1619.

Arquivo Histórico Ultramarino - Conselho Ultramarino - Brasil-Sergipe, Cx.001, Inv, oo1 - BNL.



O exame da primeira intervenção de governo na Itabaiana é desanimador. Desde ali aprendemos a conviver com a mentira, ora como forma de se auto-proteger, ora como forma de amealhar alguma vantagem. Hoje, 16 de julho fazem exatamente trezentos e oitenta e nove anos do primeiro desastre do poder público entre nós. Inicialmente a única vítima foi o neto de Caramuru, Melchior Dias Moréia. A maldição não ficou só nele. Infelizmente. Melchior foi torturado até quase morrer; passou mais três anos numa masmorra de Salvador; a prata nunca ninguém a achou; e nasceu a lenda da Itabaiana.(*)
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Nota. Ao tempo da criação de Sergipe (1590) o império português pertencia à Espanha bem como em 1619 quando ali reinava Felipe III.
A cidade aqui referida era a tosca fortificação de Sergipe d'El-Rey, no exato lugar onde se encontra a São Cristóvão atual, e que anos depois herdou essa denominação da missão de jesuítas que antes houvera na Barra dos Coqueiros. Em 1637 constava de apenas cem casas de taipa além da torre de madeira que a sinalizava; e a cerca de pau-a-pique que a rodeava.
A Serra de Itabaiana era todas do conjunto de serras ao entorno e não apenas a maior delas, cuja atualmente é a única com essa denominação.
O local do desengano da prata é o atual povoado de Serra das Minas, atual município do Campo do Brito.
(*) Trecho refeito por estar inicialmente confuso. Desculpas a quem já o leu antes.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A massa.

Moinho de homens que nem girimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais.
Amassando a massa a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais.
Raimundo Sodré/Chico Evangelista in A Massa

Em um bem colocado comentário ontem, 15, por volta das oito e meia da manhã em seu programa de rádio “Na boca do povo”, o radialista Edivanildo Santana chamou a atenção para um “ruído de fundo”, como se costuma falar em linguagem de eletrônica e eletromagnética ou até em física espacial. Trata-se do nervosismo que se percebe nitidamente de partes a partes nesta campanha que tomara não venha a ser uma reedição das loucuras dos anos 50. Há muito nervoso no ar. E isso se deve à aparente indecisão e ao medo que ela está provocando. Fruto da mediocridade que foi a política de oposição feita a Maria por parte de Luciano; ao mesmo tempo da camisa de força em que Maria se meteu deixando seu governo engessado para bem aquém daquilo que se esperava, ocorresse. Em linhas gerais, Luciano ficou a torcer para Maria se auto-enforcar enquanto que esta converteu seu governo apenas na ampliação da imensa rede de política de favoritismos herdada dos tempos de Euclides; e que tão bem alimento-a enquanto esteve na oposição. Algumas obras de relativa importância, todavia, no plano geral, a desejar. Sem querer ser exigente, mas poderia ter sido muito mais. Quanto ao nervosismo observado, este advém das incertezas geradas exatamente pela frieza de parte considerável da população que não vê motivo para empolgação com os dois candidatos que ora se apresentam. O que quer voltar e a que quer continuar. Há uma massa considerável quieta. Da mesma forma de 2000 e principalmente de 2004. O bloco de Luciano está na rua. Empolgante ao extremo como sempre, porém, desconfio, limitado. Acho até que Maria tenha alguma pesquisa que lhe seja desfavorável em mãos já que não tem reagido no sentido de tirar essa dúvida a limpo. Estaria, portanto, esperando as nuvens duvidosas dissiparem-se. Palpite, e só. Bem, quanto a Luciano, este refundou definitivamente o PSD estilo Manoel Teles/Jason Correia: “só os amigos”. Do lado de Maria, primeiro precisa saber se a campanha é para reelegê-la ou para impedir que Luciano se eleja. Até aqui, a propaganda ideológica do grupo aparenta o segundo caso. Tudo isso tem gerado muito estresse antecipado a uma campanha que, em geral já é por natureza muito quente.
A insistência com que se sugere, até mesmo no rádio, sobre a suposta desonestidade de Luciano é coisa pra gentinha. Ao povo é facultado tal comportamento; aos agentes sociais como o são todos os que fazem comunicação, ou que estão à frente do processo político, não. Isso não leva a nada e até hoje ninguém deixou de votar em candidato que tem fama de ladrão. Ou de assassino. Salvo se incompetente. Rouba, mas faz; foi o lema que subliminarmente usou o ademarismo em São Paulo, a já maior cidade e Estado mais rico do país. O uso de tais assertivas são meras provocações acintosas e que invariavelmente sempre produz "merda". A quem interessar possa. Misturar ódios pessoais com política é lastimável.
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Luciano e o fator Donas.

Não acredito em grande densidade eleitoral dos Donas, leia-se ex-deputado Zé Milton e a vereadora Edilene, e demais aliados; todavia, votos não se rejeita. Há quem despreze esse fator na composição de Maria Mendonça, eu, porém, que de nada entendo, não consigo entender como um mais um é igual a três quartos como pensa a elite partidária de Luciano. Começaram por um erro gravíssimo: botar em terceiros, no caso, a culpa pela derrota de Carlinhos, na “traição” dos Donas, em 2004. Por falar em traição, êta palavrinha tão evocada! Ora, no meu modesto entendimento, não foi Carlinhos quem perdeu assim como não foi a “traição” de Alcides ou de qualquer um dos Donas quem apeou o grupo lucianista da Prefeitura; e sim, uma sucessão de erros dentre os quais a suprema arrogância pessedista que, volta e meia retorna com toda a força. O Luciano de 1988 começou a morrer na noite de apuração do segundo turno das eleições de 1994. Começaram a matar-lhe no TRE naquela fatídica noite. Aquele Luciano de antes, parecia um garotão “engolidor de cordas” de tão aberto que era. A apenas um ano das eleições históricas de 1988 tinha dentre as pessoas de maior comunicação com ele nada menos que o também garotão José Francisco de Mendonça, o saudoso Chiquinho, de Chico de Miguel, de quem distanciou-se, naturalmente, quando o arre-arre das eleições chegou. Ainda lembro-me das irritações de Chiquinho pelo fato do então presidente da Atlética o estar enrolando com uma história de um título de sócio da dita Atlética que nunca saía. Era o Luciano, o filho de Zezé, cujo - também já no reino da saudade - ficou lado a lado com o prefeito que saía, João Germano da Trindade, seu opositor, na cerimônia religiosa da Matriz de Santo Antonio como dois velhos amigos que sempre foram. Eis o nível da mudança que ocorreu em 1988. Civilizada. Quase proposta. Onde os caídos foram respeitados pelos vencedores. Supostamente a mudança de idéias; e não de pessoas ranzinzas, prontas para comerem umas às outras na base do “quem está comendo” e do “quem quer comer”. E o que vemos agora? Do lado de Luciano acabou a liderança e surgiu o coroné. O que não suporta “gente complicada”. Gente que quer dar opinião. Gente que discute. Gente que negocia e força negociação - fato natural na política - como os Donas, Queiroz etc., etc. Já do lado de Maria, é preciso que muita gente que lhe acompanha decida: se trabalha pra ganhar uma eleição ou para atrapalhar Luciano, para que não ganhe.
Num clima desse, “na usura”, como se diz no jargão das cafúas prevalecerá a insanidade e que Deus nos proteja.

domingo, 13 de julho de 2008

Meta-linguagem II

“Aí de repente a gente enlouqueceu; aí eu dizia que era ela; ela dizia que era eu.”
Você não soube me amar. De Mesquita, Guto, Barreto e Mendigo. Grav. Blitz


Já que estão tornando a “Ciganinha” universal vale perguntar: afinal, a campanha de Maria... é de Maria ou de Luciano?

Hora da catação

Atenção, senhores políticos! É chegada a hora da prestação de contas. E que contas.
Um aspecto trivial, senão singelo, me chamou a atenção para esse costume de há muito arraigado. Soube que a Associação dos Estudantes Universitários está com sérias dificuldades em arrecadar as contribuições de boa parte da má parte de seus associados. Lembrete aos navegantes: isso pode fazer parte daquela mesma tendência de se atrasar contas de água e luz, principalmente, tão verificadas sempre que se aproxima uma nova eleição. Esse fenômeno atinge gente de praticamente todas as classes. Os mais pobres guardam seus pagamentos de água e luz pra debitar na conta do político que ousar lhe pedir o voto. A classe média (ricos por aqui não os há), se pequeno empresário e com impostos atrasados trata de limpá-los – no mínimo negociá-los; se assalariada vai à busca de outros tipos de compensação e é aqui que pode estar entrando esse caso de alta inadimplência que ora estaria sendo registrada, porém, nunca observada, na dita Associação por parte polpuda de seus associados. Logo aparecerá a pergunta: “Como é, Maria (ou Luciano), vai pagar ou vai deixar quebrar? E os pobrezinhos dos estudantes como é que ficam?”É! Essa intimidação já foi usada várias vezes. E é comum durante a organização de nossa mais volumosa festa, a Micarana. Durante a festa é um nervosismo... é um duvidar se banda “A” ou “B” sobe ou não no Trio... Terminada a festa, é um trocar de carro, adquirir outros novos bens e principalmente passar o resto do ano inteiro de bar em bar a comemorar o bom negócio.

Marli “doida”

Ano de 1987, no pós cruzado novo (o primeiro já havia ficado velho com apenas um ano de idade), eis que estou numa tardinha na lanchonete Center Lanches, "point" que à época reunia quase cem por cento dos radialistas, os raros jornalistas, políticos, fofoqueiros, enfim, gente ativa na vida política itabaianense. E lá vem Marli “doida” como ainda hoje é conhecida.
Marli, na época tinha o mau hábito de, além de se vestir mal, andar com os cabelos desgrenhados e não tomava banho o que a deixava com um cheiro nada suportável. E isso, já o fazia, como forma de intimidação. Pra se não ver constrangido com o cheiro de Marli, tinha gente que lhe passava dinheiro pra evitar a qualquer custo o contato demorado com a mesma.
Bem, mas naquela tarde Marli chegou como de costume, sem banho e com um vestido pra lá de surrado e cuja parte inferior, a saia, batia-lhe nos mondongos. Abordou-me pedindo dinheiro pra ajudar a pagar um bolo de contas de água e luz, presumidamente de uns dez talões. Naqueles tempos, o governo era mais lento em cobrar os atrasados dos consumidores de produtos das companhias estatais e a empresa de eletricidade ainda não havia sido doada à iniciativa privada. Eu, sequer conferi se as contas eram mesmo da Marli (havia gente que se aproveitava dela pra tirar também uma casquinha). Quebrado, com sessenta cruzados novos no bolso fiquei um pouco envergonhado de contribuir com apenas dez. O valor no total dava somente pra comprar uma carteira de cigarros e pagar o cafezinho que havia acabado de tomar, além de também comprar uma caixa de fósforos. Como já dito, fiquei envergonhado de somente contribuir para tão grã e nobre causa com uma caixa de fósforos, então decidi dar-lhe meus "cinqüentinha". A Marli pôs a mão num “bolsinho” que tinha na parte inferior do vestido; desceu a mão; e desceu; e desceu até chegar à altura do mondongo. De lá veio arrastando um pacote de pelo menos umas cem “cinqüentinhas” que me fez ver quem realmente tinha dinheiro. Meio admirado, meio traído exclamei: “Oh, Marli, e é assim, é? Você com mais dinheiro e eu é que tenho que contribuir?” De pronto, Marli deu-me a lição: “Otário é pr’isso mesmo!” Caí na gargalhada. O que mais poderia fazer?
Moral da história: Não acredite em doidos. Nem mesmo em coitados. Apenas ajude se achar que merece e você o pode. Especialmente, se político, tenha cuidado com prestações atrasadas em período eleitoral.