quarta-feira, 31 de julho de 2013

A luta entre o velho e novo.

Como dizem os mais velhos, pus a mão na boca quando um amigo em comum me veio dizer que a prefeita Maria Vieira Mendonça só saia da Prefeitura por volta das nove da noite e depois de examinar pessoalmente, tin-tin por tin-tin, em toda a administração, diariamente. “Vai dar tudo errado”, pensei. Era o terceiro ou quarto mês de sua administração, em 2005. Não deu tudo errado; mas o governo municipal não andou, não progrediu, não supriu as carências e principalmente as expectativas; e, no segundo ano de mandato seu irmão já perdeu uma eleição impensável de perder, a de deputado estadual. E mais dois anos depois, seu adversário, Luciano Bispo retornou, lhe retirando a reeleição. E nenhum político tem como bem administrar num ambiente negativo; onde tudo que faz é visto com outros olhos. E isso não é culpa do povo que, aliás, nunca tem culpa de nada: o político é que não teve a necessária sabedoria para agradá-lo.
Há um descompasso gigantesco entre o Brasil velho, todo ele entranhado na administração pública de alto a baixo; mas com mais persistência ao nível de Município, e o Brasil moderno da empresa ágil, do sistema bancário mais moderno do mundo - em que pese o mais caro - e do setor de serviços em geral, às vezes melhor que as mecas do capitalismo como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. É no Município onde as mazelas da nossa colonização, logo da fundação do Brasil, tanto persistem.
Tenho acompanhado a administração pública de meu município de Itabaiana a mais de três décadas, desde que me envolvi na política partidária e ao mesmo tempo nas comunicações, com inclusive a fundação de um efêmero jornal em março de 1982. Nunca gostei do que tenho visto. Na última administração de Luciano Bispo, se já andava descrente, a casa caiu quando no quarto mês da dita administração, uma estrela do grupo do Prefeito, ao comentar comigo sobre um assunto estratégico para a cidade, não somente desclassificou o objeto da minha preocupação – quase desdenhou – como em seguida me afirmou: “Não adianta lutar por isso; isso é assim mesmo e pronto!”
Um fato é relevante: boa parte da perda de controle das administrações tem sido por não saber administrar em tempos de inflação baixa. Luciano Bispo se elegeu a primeira vez quando a inflação chegava a até 1000 por cento ao ano; e Maria Mendonça e boa parte de seu staff, havia antes administrado o Município com inflação de até 300 por cento ao ano. Uma inflação dessas mói todos os salários, o que significa poder empregar mais gente com menos dinheiro. O atual prefeito é o primeiro relativamente descontaminado com isso; porém, ainda tem resquícios deste tempo consigo.
Mas o fato mais relevante nas administrações municipais que até aqui tivemos é sua total falta de profissionalismo e o total uso do improviso, onde os orçamentos são peças totalmente decorativas, pra fazerem frente às exigências de instâncias superiores, especialmente a União.
Não há propriamente uma burocracia de Estado no Município de Itabaiana. Por outro lado, tenho observado que a pretensa melhoria neste quesito tem se perdido na ineficiência de gestão, tornando o modelo antigo, do compadrio e apadrinhamento até mais eficiente. Fui testemunha de uma experiência pra lá de complicada. Uma pessoa de excelente nível técnico foi colocada pra gerenciar certo local.  Como disse, tecnicamente em sua área, irrepreensível, contudo, o que veio ganhar com a função era irrisório para dedicar-se exclusivamente, e por isso não abriu mão de outros vínculos empregatícios que tinha. Logo transformou sua vida e a vida de todos os seus subalternos num inferno. À não presença buscou compensar com o que há de pior na natureza humana: o puxa-saquismo. Contou-se em certo momento dez pessoas que “entregavam” umas às outras e a terceiros via celular... a administração on line; no pior sentido. O ambiente de trabalho virou um inferno e ela perdeu o controle muito mais rápido do que se possa imaginar. Como resultado, os novos contratados mediante concurso público logo estavam repletos de vícios e “de direitos”; os nomeados por partidarismo em luta constante entre si e o serviço a degringolar. Somente por sorte, pura sorte, o prefeito resolveu nomear uma pessoa a pedido de outra que conseguiu contornar a situação e por ordem na casa sem maiores danos. O medo de errar tolhe a ousadia e a iniciativa. E o medo de errar é justamente o produto do obsessivo controle e vigilância. Uma espécie de terrorismo auto-infligido.
Os nossos políticos e politiqueiros não demonstram saber trabalhar num Estado moderno; onde a política sirva pra resolver as pendências coletivas, e não apenas as vantagens estritamente pessoais de cada um. Não bem administram no sistema velho, porque agigantado e por isso viciado, carcomido de corrupção; e não sabem, ou nem querem saber um mínimo sobre como usar a técnica da boa administração para fortalecer a política, inclusive suas próprias permanências nela.
Outro dado é importante frisar. No caso específico do Município de Itabaiana, o mesmo há 30 anos era responsável por menos de 50 por cento da alfabetização e zero por cento nos graus mais adiantadas na Educação; no caso da Saúde, mal possuía um médico ocasional. Até o serviço de odontologia a escolares seguia o curso das verbas federais. O funcionalismo se restringia aos poucos da Educação, os poucos da área fazendária, da tímida assistência social, esta majoritariamente feita pelos politiqueiros, e à burocracia propriamente dita. A modernização a fórceps pós Constituição de 1988, a municipalização da Saúde e da Educação e outras áreas menos visíveis tornou obrigatória à administração pública municipal o ingresso na administração técnica. Que não tem ocorrido satisfatoriamente. E, quanto mais tempo isso demorar, mais problemas acarretarão a todos; inclusive aos que supõe tirar vantagens da bagunça.
Nenhum prefeito pode prescindir de um bom secretário; e para ser um bom secretário, na atual estrutura administrativa do Município de Itabaiana, este tem de assumir com no mínimo umas cinco pessoas de sua inteira confiança e capacidade, nas secretarias menores. No caso das áreas da Saúde e da Educação, esse leque de pessoal é muito mais amplo porque o Município conta com mais 30 postos de Saúde e mais de 40 unidades municipais de ensino em todo ele. Na Saúde ainda mais porque ainda existem pelo menos dez programas de Saúde específicos, que demandam corpo técnico qualificado, mas ao mesmo tempo não podem prescindir do sátrapa; do “olho do dono”, ou seja, gente que administre tecnicamente, mas sem perder o viés político. Já que não existe nem deve existir administração pública sem política; já que do povo, para o povo e pelo povo.