quinta-feira, 12 de novembro de 2015

20 anos sem o Kizomba – justa homenagem a Ivan Andrade

Neste sábado, 14, colegas radialistas da Rádio Capital do Agreste estarão fazendo seu programa sabático, Caravana Capital, na Praça Chiara Lubich, onde, à noite, como tradicionalmente ocorre todos os dias 14 de cada mês haverá mais apresentações culturais, essa, já uma tradição criada pelo empreendedor incorporador Edson Passos.
O trabalho dos colegas da Capital de Agreste se reveste de especialidade por homenagear o meu saudoso amigo Ivan Andrade. Muito bem merecida homenagem. Muito bem merecida!
Ivan representou uma virada cultural em Itabaiana, que, se não ainda consolidou-se, mas mudou completamente o jeitão de ser da cidade. No final dos anos 80, foi a lufada de ar que precisávamos pra dotar nossas noites de algo alegre e de qualidade impecável. 
Itabaiana sempre foi a terra do trabalho. E continua sendo. Famílias inteiras envolvidas no comércio, ou nos sítios, a produzir insumos para o comércio agregar valor. Gente que só se via na Semana Santa, Festa de Santo Antônio, e, furtivamente no Natal ou Ano Novo; nunca nas duas datas, porque, feirantes ou caminhoneiros que eram - ou ainda sejam - não tinham tempo para o lazer social. Mas a cidade cresceu; suas atividades econômicas se multiplicaram; surgiu a classe dos estudantes, dos prestadores de serviços, incluindo o próprio comércio local. Festas foram feitas; mas eram esporádicas e poucos concorridas. Até que chegaram os anos 90.
Em 1983, depois de perder a eleição para prefeito, Luciano Bispo de Lima pegou a Associação Atlética em estado de morbidez profunda e transformou-a num clube vivaz, assim se mantendo por quase vinte anos. E, o primeiro ato para agitar foi o estabelecimento de uma seresta às sextas-feiras, que começava aí pelas vinte e duas horas e ia até às duas ou três da manhã. Teve seu tempo. Cinco anos depois já tinha desvanecido e ficaram apenas os mega-bailes, um ou dois por mês.
Em 1986, com a onda do axé cada vez mais se avolumando, durante a campanha política ensaiou-se, por inciativa do também saudoso Chiquinho (José Francisco de Mendonça), irmão da deputada Maria Viera Mendonça, a vinda de grupos baianos de axé. A praça encheu, mas, desacostumada, uma plateia meio que envergonhada balançou os pezinhos, mas sem sair do lugar, mesmo diante da energia do Chiclete com Banana. O mesmo grupo voltaria em 1988, por ocasião da celebração da elevação do status da sede do Município à condição de cidade, porém, o público continuou na mesma. Mas em 1989, se os grandes eventos continuaram inexistentes ou pouco participativos, com a sociedade se concentrando apenas nas procissões, Sete de Setembro e nos comícios, quando em campanha política, surgiu o Kizomba. Um bar meio mal localizado, no início da Rua Barão do Rio Branco, quase no oitão de uma igreja, a Presbiteriana; pequeno, mas sob a direção de... Ivan Andrade. Dono de um repertório formidável que alcançava praticamente toda a MPB, em especial o segmento nordestino – o cabra era PhD em Geraldo Azevedo – e uma canhota excepcional a dedilhar as cordas de seu violão. Logo o bar tornou-se o “point” da galera jovem e de gosto mais refinado, por mais de cinco anos a fio. Infelizmente a inveja doentia abreviou aqueles que foram dias bem interessantes, ficando a minha e subsequente gerações órfãs de algo de qualidade e endereço definido. 
A iniciativa do grupo de colegas da Capital do Agreste, pois, reveste-se de simbolismo maior, ao realizar a dita homenagem, justo no local onde renasce o cultivo da cultura e arte com elevado nível de sofisticação, portanto de qualidade. Parabéns aos colegas!
O título deste pequeno artigo seria somente “Ivan Andrade”. Mas, em reconhecimento ao registro feito pelo itnet há exatos dez anos, tomo-lhe emprestado o título do artigo escrito por Jamysson Machado e o parafraseio como acima.