quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Remoendo pensamentos

Hoje, assinei, para experimentar, o Netflix. Exceto a internet não gosto de ter assinatura de nada; mas acabei caindo na cantada da propaganda e assinei o tal canal de filmes pela rede. Vinte e seis reais e uns quebrados por mês, e aí me vem à lembrança valores doutros tempos e a constatação do quanto caíram os valores da indústria do entretenimento por conta da digitalização e consequente pirataria. O mesmo CD que eu comprava há vinte anos na banca de jornais, ou seja, preços populares, em dez reais, continua em dez reais. Tudo bem se aqueles R$ 10 de 1995 não fossem hoje iguais a R$ 50,58, conforme o IGP-DI.
E sobre os filmes? Em 1997 um amigo abriu uma locadora e, por se tratar de um negócio pequeno não dispunha de funcionários o tempo integral, mormente no período noturno, quando o fluxo era maior; e eu que nada tinha pra fazer pela tardinha, ia pra lá "peruar" e o ajudava no despacho das locações. Conversávamos muito, e, de fato, eu vivia com ele os dramas de administrar aquele negócio. Lembro bem que a fita VHS ficava em torno de R$ 20,00 (R$ 80,61 em preços de hoje), e sua locação não podia ser de mais do que R$ 2,00 (R$ 8,06). Em geral era assim: fitas de baixo teor de qualidade (pornôs, por exemplo), ou de filmes já antigos, eram locados a R$ 2,00; médias, (fitas com mais de ano ou clássicos antigos) ficava em R$ 2,50 (R$ 10,08), e as "top", especialmente lançamentos, em imperdoáveis R$ 3,00. Nos grandes centros esses preços eram mais salgados. Dependendo da locadora em Aracaju, capital de meu estado, a fita “top” não saía por menos do que R$ 5,00 (R$ 20,15). A aquisição de fitas médias custava por volta de R$ 40,00 (R$ 161,22), mas os super lançamentos ninguém conseguia por menos de R$ 75,00. Lembro-me do meu amigo comprando fitas a R$ 77,00 (R$ 310,34 atuais) e a distribuidora ainda ameaçando: "É pegar ou largar!"
Acabou tudo. Tivessem ido com menos sede ao pote no momento da digitalização, talvez tivessem salvado a maior parte; mas a ganância foi tão grande, que, mesmo diante da clara ameaça, já que sob uma tecnologia a popularizar-se, ao contrário, fizeram foi aumentar os preços. Os criadores de jogos, logo, logo, perceberam o novo mundo e se adaptaram a ele: praticamente inexiste a pirataria em matéria de jogos. Já a turma da música e do vídeo ainda não conseguiu se achar. Talvez iniciativas como essa do Netflix venha se converter na redenção da arte industrializada. Já que as TVs também continuam na mesma linguagem que destruiu o mega mercado do entretenimento, quem sabe, a mesma internet que difundiu a pirataria e acabou com intensa especulação redima a indústria do entretenimento a partir de agora.

Atualização monetária aqui:
http://www.fee.rs.gov.br/servicos/atualizacao-valores/