sábado, 16 de maio de 2020

A CLOROQUINA E O NASCIMENTO DA MODERNA INDÚSTRIA QUÍMICA.


Ora no meio dessa discussão idiota e perigosa, porque em meio de uma pandemia, qual não se via há mais de cem anos, a quina, originária do Peru, foi a causadora acidental da conquista da química industrial; e de certo modo pela pujança alemã da segunda metade do século XIX.
Esta informação não é científica, portanto não se lhe deve dar crédito como tal; mas quando existia malária por aqui, o que foi vivido até a adolescência pelo meu saudoso pai, com idade de ser meu avô – teria completado 106 anos em março próximo passado – o remédio usado era a quinina, comprada nas farmácias, todas de manipulação, ou uma planta rasteira, de que não me lembro o complemento; só que era conhecido por angelim alguma coisa. Também não lembro qual parte da planta era usada. Por ser uma planta rasteira, o dito é típico de campos abertos, onde aparece em pequenos agrupados, comum nos tabuleiros agrestinos de outrora.
Em 1575, quando os mathiapoones de Itabaiana estava plantando armadilhas, entupindo os canos das armas da soldadesca lusa-espanhola, em auxílio às tribos do rio Real, cada vez mais ameaçadas de extinção, na melhor das hipóteses de virar escravos, uma história de cura malograda de malária, ocorrida numa fazenda que é hoje a cidade de Jequeriçá, no Recôncavo baiano selava o destino da história, especialmente a de Sergipe e de Itabaiana, em particular; mas também do Brasil. Foram as histórias fantásticas contadas pelo explorador Antônio Dias Adorno, antes de morrer, entre um acesso e outro de alta febre que gerou a lenda da Serra da Prata, a Sabarabuçu, de onde vem o topônimo Sabará, Estado de Minas Gerais, mas antes, por cem anos buscada por dezenas de entradistas e outros aventureiros, especialmente no seu primeiro foco: a Itabaiana. A lenda da Sabarabuçu, “grande serra branca que brilha” caiu em desuso após 1700, quando o paulista Manuel Borba Gato negociou a descoberta de ouro – e não prata – na sua Sabaraboçu com o governador no Rio de Janeiro, Antônio Paes de Sande, devidamente autorizado pelo rei D. Pedro II (o de Portugal). Manuel Borba Gato, que era genro de Fernão Dias Paes Leme teve o topete de assassinar D. Rodrigo de Castelo Branco, não reconhecido oficialmente, mas o fundador da hoje cidade de Itabaiana, onde estivera em 1674 a 1678 como governador especial na procura da mítica prata. Sem êxito, foi-se, então, para São Paulo onde em 1682 entrou em dissenso com Borba Gato, que o matou, fugindo das forças do rei, acabou achando o ouro de Minas Gerais.
Ao fim do século XVIII, o império inglês, apropriando-se de grande parte do português ou por conquista própria chegou ao apogeu, em que pese ter perdido em 1776 as 13 colônias norte-americanas que então tomaram o nome de Estados Unidos da América. A exemplo do português e do espanhol era um império onde o sol não se punha, que abarcava as zonas frias e quentes, tropicais, cheias de malária. Gastando somas gigantescas com a quinina, oriunda do Peru, descoberta pelos europeus naquele país pela esposa do próprio vice-rei, doente de malária, numa época que Itabaiana estava cheia de soldados holandeses atrás de gado e prata, em 1638, a quina, árvore que produz o alcaloide mágico e agora no foco nessa pandemia foi replicada por tudo quanto é serra mais alta e úmida dos trópicos, obviamente que também nas colônias inglesas. Mas o consumo era gigantesco. Só a produção da quinina sintética poderia suprir essa demanda.
A química industrial na época propriamente não existia; mas já havia vários estudos em desenvolvimento que vieram dar nela.
1820 os franceses Pelletier e Caventou conseguiram isolar o princípio ativo da casca da quina, a quinina. Os ingleses, não só por necessidade material, mas também política, na sua eterna competição com a França se lançaram em busca da quinina sintética. Acidentalmente, na busca desse objetivo a partir de um subproduto muito usado à época, piche do carvão de pedra, usado largamente na iluminação pública, Sir William Perkin, descobriu a anilina em março de 1856, que batizou de malveína – o primeiro corante sintético.
Estava dada a largada para o que viria a seguir, não propriamente na Inglaterra; mas na jovem Alemanha que em quatro décadas passou a credora da orgulhosa e poderosa Inglaterra.
E foi máxime da Alemanha que veio o grosso da química industrial com a produção de inúmeros medicamentos, corantes, fertilizantes e explosivos. E quando a devedora Inglaterra lhe quis por grilhões... bombas. As bombas de 1914-1918.
Em meio a mais uma queda de braço, uma briga pelo poder, a quinina, inocente, sem nada ter a ver está sendo usada pelo atual governante brasileiro, grosseiramente, contra seus ex-aliados de ontem, porém, querendo se manter governo sem ser governo.
O poder briga e o povo sofre.
A droga da presente discórdia, como se vê, tem muito mais ver com a história humana recente, até mesmo com a minha Itabaiana.

A cloroquina, sintética é derivada da quinina, sintetizada pelos alemães, baseada na substância natural, vinda da casca da árvore quina. (fotos)