sexta-feira, 25 de abril de 2008

Metendo o bedelho.

Num excelente artigo publicado no jornal sergipano Correio de Sergipe, o itabaianense Vladimir Souza Carvalho, historiador, contista, fundador do jornal O Serrano, daqui de Itabaiana nos idos de 1969 e ora juiz do Tribunal Federal da 5ª Região, em Recife, questiona o, ou os porquês de as autoridades estarem catando cavacos no que se refere ao combate do mosquito da dengue. Eu que modestamente sou da área desde setembro de 1982, venho aqui meter o bedelho na história.
Em primeiro lugar, a maldição neo-liberal da (des)administração pública protagonizada pelos pupilos da Escola de Chicago desde o governo Collor desmontou o núcleo de todo o controle de endemias que se havia a duras penas implantado no Brasil desde 1942 quando se criou na Amazônia, mediante convênio com os americanos de Roosevelt e sob a administração destes, os Serviços Especiais de Saúde Pública, depois renomeados para Fundação SESP. Logo a seguir veio o desmembramento de ações com a criação do departamento de combate a malária e o Departamento Nacional de Endemias Rurais, o DNERu, de cujo órgão foi chefe aqui em Itabaiana por muitos anos o saudoso Dr. Pedro Garcia Moreno Filho. O dito sistema acabou com a malária na região de Mata Atlântica, inclusive em Sergipe; reduziu, controlou, e em alguns casos até acabou com a esquistossomose, a doença de Chagas, a leishmaniose cutânea (ferida braba), a leishmaniose visceral (calazar), imunizou milhões de brasileiros contra a varíola que tantos milhões antes matou, enfim, apesar dos desmandos de (des)administradores federais, especialmente no período democrático ou de apadrinhados no sistema ditatorial, o Brasil saiu da zona negra da Organização Mundial de Saúde.
Em segundo lugar, não contentes com a destruição protagonizada durante o governo Collor, a turma da Escola de Chicago no governo FHC através de seus ministros da administração Bresser Pereira (depois Claudia Constin, atual diretora na Veja), e da Saúde, José Serra, destruíram as últimas cepas daquilo que apelidaram “herança maldita do getulismo”, e a partir daí entregando uma soma enorme de recursos aos municípios(veja aqui) sem a menor condição técnica e sem a menor intenção política de bem gerir, antes, sim, destruindo a tímida e já claudicante malha fiscalizadora federal. Resultado, já em 96 o então prefeito João Alves dos Santos, o João de Zé de Dona, daqui de Itabaiana, mediante denúncias de fiscais da Dengue foi às barras da Justiça para explicar o não aproveitamento correto da verba para combate à doença.
Em terceiro, o Estado brasileiro continua a serviço de gente de pouca ética; que se aproveita do Estado para ganhar mole. Por isso é que até agora ninguém falou em acabar com o BNDES. Logo, o Estado – União, Estados ou Municípios - não investe, principalmente em aspectos em que os resultados demoram a aparecer. Daí que só teremos uma tecnologia contra a dengue, uma doença tropical que muito pouco interessa a americanos, japoneses e europeus, se a Índia ou a Malásia, países também tropicais, investir. Por aqui, a Fiocruz vai continuar sob contenção de verbas; o laboratório de arbovirus Evandro Chagas vai continuar servindo apenas de altar de imolação de profissionais dedicados e frustrados. Isso dá discurso político que não mais acaba, dos mais indignados de vitrine possíveis, e até alguns votos. Além de dor, sofrimento e morte.
Em quarto e último, jamais os municípios conseguirão dominar as endemias pelo simples fato de que moscas, mosquitos, barbeiros (o inseto), cães, gatos, aves em geral, nenhum deles tem obrigação de reconhecer limites territoriais humanos. Isso somado à clássica indisposição dos politiqueiros, preocupados apenas em fazer o mínimo para manter-se o máximo em seus cargos, já nos dá uma dimensão da nossa triste situação.
Ah, sim, Vladimir questionou por que a AIDS tem tratamento vip, se mata tão poucos, proporcionalmente; além de extremamente previsível. Pra refrescar a memória, a AIDS foi diagnosticada primeiramente nos Estados Unidos, entre riquíssimos e famosíssimos, gente da alta mídia e que, ao chegar ao Brasil, o mesmo Estado que era proibido de gastar com pobre comum foi pressionado para gastar tudo com pobres especiais – os aidéticos – em cujo meio estavam também os rajás da cobertura. A mesma turma que prega a destruição do Estado para o povo, mas adora o BNDES pra financiar fábricas pré-falidas, jornais, idem etc., e etc. Rios de dinheiro são gastos com a AIDS. Junte todas as doenças imagináveis de alcance mais comum – diabetes, dengue, cardiopatias, amarelão, amebíase, chagas, tifo... o diabo, e o dinheiro que laboratórios, clínicas, fábricas de aparelhos e insumos referentes a AIDS levam ainda é muito mais. É a indústria da doença em ação. Derrubou até as idéias de Bill Clinton de fundar um sistema de saúde nos Estados Unidos igual ao do vizinho Canadá. Comprou todo o congresso americano. Inclusive Hillary Clinton. Imagina aqui onde qualquer institutozinho de meia tigela – de araque, claro – mantém a ração para dúzias de deputados e senadores, além de comunicadores e até professores universitários com a finalidade de servir-lhes.
Tá tudo dominado!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Noite de insônia.

Certos assuntos costumam mudar o comportamento do nosso cotidiano como, por exemplo, afetar o sagrado ato de dormir. Pois bem, hoje, quarta-feira, vinte e três deste abril, deste ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2008, receio que não dormirei. O motivo é o dilema a que me expuseram hoje rádios e portais locais da internet com essa terrível dúvida se Maria será, ou não será candidata a prefeita (à reeleição). Essa dúvida é que me mata.
E eu aqui me matando de pensar em devaneios do tipo, obras de infra-estrutura física como pavimentação, esgotos, áreas de lazer; programas de excelência administrativa, investimentos em estrutura social como emprego, educação, cultura, erudição e saúde... Enfim, o boboca aqui pensando abobrinha enquanto o mundo tá acabando por causa da maldita dúvida se Maria será ou não será candidata.
O pior é constatar que é a mediocridade, e não a excelência, que compõe o dia a dia. Logo, em tese, a mediocridade é sempre vencedora.
E eu, que também estou morrendo de dúvidas, não dormirei.