sexta-feira, 24 de julho de 2020

O PREÇO DA IRRESPONSABILIDADE.


Essa é a rotina há milênios: notou-se qualquer doença de média ou alta transmissibilidade? De imediato, isola-se a área, limitando o movimento das pessoas; procura-se historiar, com o maior detalhamento possível o surgimento da pestilência; procede-se exames minuciosos em todos os habitantes da área e aqueles de fora e que com eles tenham tido contato; e em seguida, os demais cuidados de assistência, em saúde e até econômica, quando devido. Isso é o que faria qualquer governo responsável com seus governados. Desde que não fosse um governo de aventureiros ignorantes e brutos, conduzido por espertalhões agiotas, da banca, logo imediatistas, e apoiado em legiões de néscios vomitando idiotices, supostamente ideologizados.

“Cabeça que não pensa, o corpo é quem padece”.

Ninguém lembrou de fechar portos – inclusive os secos – aeroportos com contato com o exterior, nem endurecer a fiscalização e controle na fronteira terrestre, mesmo quando a China já alertava o mundo para um vírus descontrolado que por lá supostamente aparecera. Milhares chegaram nos aeroportos de Manaus, Fortaleza, Recife, Salvador e São Paulo, especialmente, sem sequer uma rápida entrevista; quanto mais com um procedimento padrão num mundo globalizado e com uma peste anunciada no planeta humano, que seria a anamnese, testagem, e, no mínimo controle de quarentena, isolado ou não.
Resultado? Milhões de empregos indo pra lata do lixo; milhões de micro negócios indo pro ralo, falências ameaçando toda a economia, grandes e pequenas empresas... o país parando. Há quatro meses! Sem contar com um drama terrível que é a questão das sucessões, com sua intrincada rede de intrigas além dos naturais problemas em casos de desparecimento dos dirigentes empresariais, vitimados pela peste.

Voltaremos a ser uma republiqueta terceiro-mundista

Tudo evitável. Ou no mínimo controlável.
Deu uma tristeza danada, hoje, ao sair no centro comercial de Itabaiana e ver a quantidade de lojas fechadas - um volume expressivo dos endereços já para alugar – e o que permanece aberto, sob uma espada de Dâmocles eternamente plantada em suas jugulares.
Vamos retroceder como na República Velha; porém com os agravantes de não termos mais uma região em que o enriquecimento seguirá de vento em popa, e a rapidez da queda: vinte anos na República Velha e apenas sete agora.
Nós não merecíamos isso.
Completamente evitável.
E os números da peste prometem mais dois meses de sufoco e uma sequência de mais um ano de pesadas ameaças.
Que Deus tenha piedade de nós; pois, governo, no principal é um desastre total. E o resto somente pode tentar remendar cobertor puído se partindo a cada menor empuxo.

sábado, 16 de maio de 2020

A CLOROQUINA E O NASCIMENTO DA MODERNA INDÚSTRIA QUÍMICA.


Ora no meio dessa discussão idiota e perigosa, porque em meio de uma pandemia, qual não se via há mais de cem anos, a quina, originária do Peru, foi a causadora acidental da conquista da química industrial; e de certo modo pela pujança alemã da segunda metade do século XIX.
Esta informação não é científica, portanto não se lhe deve dar crédito como tal; mas quando existia malária por aqui, o que foi vivido até a adolescência pelo meu saudoso pai, com idade de ser meu avô – teria completado 106 anos em março próximo passado – o remédio usado era a quinina, comprada nas farmácias, todas de manipulação, ou uma planta rasteira, de que não me lembro o complemento; só que era conhecido por angelim alguma coisa. Também não lembro qual parte da planta era usada. Por ser uma planta rasteira, o dito é típico de campos abertos, onde aparece em pequenos agrupados, comum nos tabuleiros agrestinos de outrora.
Em 1575, quando os mathiapoones de Itabaiana estava plantando armadilhas, entupindo os canos das armas da soldadesca lusa-espanhola, em auxílio às tribos do rio Real, cada vez mais ameaçadas de extinção, na melhor das hipóteses de virar escravos, uma história de cura malograda de malária, ocorrida numa fazenda que é hoje a cidade de Jequeriçá, no Recôncavo baiano selava o destino da história, especialmente a de Sergipe e de Itabaiana, em particular; mas também do Brasil. Foram as histórias fantásticas contadas pelo explorador Antônio Dias Adorno, antes de morrer, entre um acesso e outro de alta febre que gerou a lenda da Serra da Prata, a Sabarabuçu, de onde vem o topônimo Sabará, Estado de Minas Gerais, mas antes, por cem anos buscada por dezenas de entradistas e outros aventureiros, especialmente no seu primeiro foco: a Itabaiana. A lenda da Sabarabuçu, “grande serra branca que brilha” caiu em desuso após 1700, quando o paulista Manuel Borba Gato negociou a descoberta de ouro – e não prata – na sua Sabaraboçu com o governador no Rio de Janeiro, Antônio Paes de Sande, devidamente autorizado pelo rei D. Pedro II (o de Portugal). Manuel Borba Gato, que era genro de Fernão Dias Paes Leme teve o topete de assassinar D. Rodrigo de Castelo Branco, não reconhecido oficialmente, mas o fundador da hoje cidade de Itabaiana, onde estivera em 1674 a 1678 como governador especial na procura da mítica prata. Sem êxito, foi-se, então, para São Paulo onde em 1682 entrou em dissenso com Borba Gato, que o matou, fugindo das forças do rei, acabou achando o ouro de Minas Gerais.
Ao fim do século XVIII, o império inglês, apropriando-se de grande parte do português ou por conquista própria chegou ao apogeu, em que pese ter perdido em 1776 as 13 colônias norte-americanas que então tomaram o nome de Estados Unidos da América. A exemplo do português e do espanhol era um império onde o sol não se punha, que abarcava as zonas frias e quentes, tropicais, cheias de malária. Gastando somas gigantescas com a quinina, oriunda do Peru, descoberta pelos europeus naquele país pela esposa do próprio vice-rei, doente de malária, numa época que Itabaiana estava cheia de soldados holandeses atrás de gado e prata, em 1638, a quina, árvore que produz o alcaloide mágico e agora no foco nessa pandemia foi replicada por tudo quanto é serra mais alta e úmida dos trópicos, obviamente que também nas colônias inglesas. Mas o consumo era gigantesco. Só a produção da quinina sintética poderia suprir essa demanda.
A química industrial na época propriamente não existia; mas já havia vários estudos em desenvolvimento que vieram dar nela.
1820 os franceses Pelletier e Caventou conseguiram isolar o princípio ativo da casca da quina, a quinina. Os ingleses, não só por necessidade material, mas também política, na sua eterna competição com a França se lançaram em busca da quinina sintética. Acidentalmente, na busca desse objetivo a partir de um subproduto muito usado à época, piche do carvão de pedra, usado largamente na iluminação pública, Sir William Perkin, descobriu a anilina em março de 1856, que batizou de malveína – o primeiro corante sintético.
Estava dada a largada para o que viria a seguir, não propriamente na Inglaterra; mas na jovem Alemanha que em quatro décadas passou a credora da orgulhosa e poderosa Inglaterra.
E foi máxime da Alemanha que veio o grosso da química industrial com a produção de inúmeros medicamentos, corantes, fertilizantes e explosivos. E quando a devedora Inglaterra lhe quis por grilhões... bombas. As bombas de 1914-1918.
Em meio a mais uma queda de braço, uma briga pelo poder, a quinina, inocente, sem nada ter a ver está sendo usada pelo atual governante brasileiro, grosseiramente, contra seus ex-aliados de ontem, porém, querendo se manter governo sem ser governo.
O poder briga e o povo sofre.
A droga da presente discórdia, como se vê, tem muito mais ver com a história humana recente, até mesmo com a minha Itabaiana.

A cloroquina, sintética é derivada da quinina, sintetizada pelos alemães, baseada na substância natural, vinda da casca da árvore quina. (fotos)

terça-feira, 28 de abril de 2020

DO PRIMEIRO PICOLÉ A GENTE NUNCA ESQUECE

O dia amanheceu radiante, especialmente para mim. Era um sábado, dia de feira livre na cidade e meu pai, desde a tardinha da sexta-feira que já tinha avisado para minha mãe: Amanhã eu vou chegar terra a aquelas carreiras de feijão do aceiro de cima da malhada e você vai fazer a feira.
Ir pra feira, para minha jovem mãe significava abastecer a dispensa semanalmente; mas também andar pelos armarinhos em busca de agulhas, carrinhos de linhas e cachetes, se abastecer de bicos e outros acessórios de costura, e, ter a chance de ir no pegue-pague, novinho em folha, com menos de três anos em funcionamento e com um sortimento ultra diversificado em um só lugar, e o mais importante: com total liberdade de escolha; diferente dos armazéns onde se tinha que tudo pedir ao balconista. De fato, quase ninguém o chamava assim de forma tão impessoal, fria. Já era G. Barbosa e pronto.
E, o ir para feira da minha mãe significava uma festa para mim. Os manuais de comportamento social de até a chegada da televisão dizia que toda mulher casada só deve sair acompanhada. Seja do marido, ou pelo menos um filho. Eu era o único filho.
Então chegou o tão esperado sábado.
A minha mãe se aprontou e a mim. Coisa simples: uma alpercatinha afivelada; um calça curta – bermuda é estrangeirismo que também veio com a TV – uma camisa simples e meu indefectível chapéu de palha. Essa herança antiga reza que todo homem, adulto ou menino tem que usar chapéu. E o de palha, além de ser produção regional e inúmeras vezes mais accessível que o de baeta; usado pelos adultos, e somente em ocasiões especiais.
Pegamos a estrada. Passamos pela casa de D. Conceição e Seu Oziel; descemos a pequena ladeira, a parte mais acentuadamente íngreme junto ao abandonado sítio de Cantídeo e aí tivemos que cortar caminho pro dentro do sítio de Arnaldo porque o restante do acesso à pista onde tomaríamos o pau-de-arara estava intransitável devido aos atoleiros. Atravessamos o riacho Mundesinho, naturalmente saindo por trás da olaria de Seu Toinho Higino, à beira do dito riachinho. E então nos encaminhamos em direção à pista, porém, não chegamos a alcançá-la: D. Maria, esposa do Seu Toínho também ia à feira; só que iria no “pavão”; e nos ofereceu carona.
Nunca soube porque o apelido; deduzo que inspirado no romance em cordel, intitulado Pavão Misterioso, muito popular na época; mas pavão era como chamavam um velhíssimo caminhão Ford, à época já conhecido como caminhonete, e que era faz-tudo em matéria de transporte da olaria, quando se tratava de cargas pra fora ou de fora, como pequenas entregas de telhas, tijolos e ladrilhos, ou de lenha para abastecer os fornos. E, é claro, servir de transporte entre o Rio das Pedras, locação da narrativa até agora, e a cidade, e suas feiras, especialmente as dos sábados.
Bem, a minha mãe aceitou a carona e subimos no “pavão”: eu na carroceria de metal com outra pessoa que me era desconhecida e alguns objetos para a “casa da rua” da D. Maria; e ela e a minha mãe na cabine, além do motorista, obviamente. E disparamos pela rodagem a afora. Tempos depois eu tive a curiosidade de olhar: o rústico mostrador do painel só marcava até 60 quilômetros horários.
Chegamos na cidade e a minha mãe agradecida despediu-se na “casa da rua” da família que se localizava no hoje glamuroso trecho da Ivo Carvalho, de frente para a quadra onde se encontra a Associação Atlética de Itabaiana, onde D. Maria ficou, e seguimos em direitura à feira, nosso objetivo.
Minha mãe fez sua indispensável oração na matriz de Santo Antônio e Almas, cumpriu suas obrigações de católica caridosa, distribuindo esmolas a pobres aleijados, cegos e velhos abandonados, e em seguida, meteu-se na feira comigo a tiracolo a pechinchar e negociar o melhor pelo menor que podia comprar... enfim: fez a feira.
Terminadas as tarefas, pusemo-nos em direção ao “carro de feira”, como era conhecido entre nós o caminhão pau-de-arara, que invariavelmente estacionava o mais próximo possível da feira, do lado oeste da comprida Praça João Pessoa.
Naqueles tempos, além do consumismo inexistir, seja por educação neste sentido, seja por indisponibilidade da enormidade de artigos hoje existente, e principalmente por carência financeira geral, crianças, sempre ávidas a novidades eram contidas por sua severas mães e geralmente só ousavam pedir algo quando muito natural, exemplo de um copo de água pra matar a sede, ou, outra coisa só com muito cuidado em casa; no mínimo, escondido do público. O dinheiro era curtíssimo e, em geral não se ofertava aos filhos aquilo que se julgava desnecessário, seja devido a não prioridade ou simples falta de hábito. Dessa forma, inexistia dia de feira que o meu pai esquecesse de cocadas, bolachinhas de ovos, quebra-queixo, mariolas... “essas coisas do estrangeiro”, não. Eu adorava, especialmente os confeitos – amendoim com açúcar semi-caramelizado – as mariolas e goiabadas, claro! Mas, nas raríssimas vezes que acompanhava minha mãe à feira morria de vontade de experimentar os “estrangeirismos” vistos cada vez mais nela; cada vez mais apelativos. Especialmente os picolés. Curiosidade total.
Mas ninguém me oferecia um picolé.
Chegamos ao caminhão. Uma escadinha posta do direito facilitava o acesso aos bancos dispostos na carroceria onde minha mãe sentaria e me poria no colo. Se ocupasse um lugar do banco pagaria passagem inteira, mas no colo seria só meia passagem, e depois dos seis. O que houve de menino de cinco anos que passou três ou quatro sem aniversariar não foi pouco. Nessa época eu tinha cinco e meio, mais ou menos.
Mamãe me pôs em cima, e só quando certificou-se da minha segurança subiu a escada de três ou quatro degraus, sentando-se próximo ao meio: “menos arriscado”. Tão logo terminou de sentar-se, eis que também sobe a escada D. Maria. O pavão tinha ido fazer algum serviço; e ela, pra não muito se demorar na cidade resolveu retornar no “caminhão de linha”, como a eles geralmente se referiam quem tinha algum veículo.
As conversas de praxe, o menino da moringa a vender água, como sempre garantindo que era boa e fria e nós três a tomamos. Diante do que veio a seguir, esqueci completamente quem pagou pelos três copos d’água: outro menino logo aparece oferecendo picolés. Minha mãe declinou da oferta direta, do vendedor; e da que veio a seguir por parte de D. Maria. E eu? Quer, Zé, perguntou-me ela, incisiva! Encolhi-me, pego de surpresa, com toda a vontade do mundo, mas, sem a mínima autoridade em passar por cima das ordens maternas. O coração disparou! Muito além das glândulas salivares. Uma revolução! À repetição da pergunta, minha mãe, seríssima resolveu o impasse: “Se quer, diga, rapaz!”.
Alívio geral, mas, a seguir outro complicador, menor, mas não menos importante. “Quer de quê, Zé?” E eu lá sabia de sabores, variedades... salvou-me a lembrança recente da lista de produtos dada pelo moleque ao ofertar: “de goiaba”. Só então percebi que a D. Maria já levava o seu à boca, justo de goiaba, no qual deu mordida inspirando-me a fazer o mesmo.
Eu nunca tinha visto gelo na vida. Nem na padaria de Seu Valdomiro, depois de Seu Zé Antônio tinha sequer tomado o tradicional suco de maracujá gelado no refrigerador a gás – de fato querosene – que lá existia. Para mim, o picolé seria como um pedaço de dulcíssima goiabada gelada, como os sucos de maracujá de Seu Valdomiro.
De posse do meu presente, num perfeito e sacro ritual de iniciação, aprumei o picolé na boca e, como D. Maria dei uma mordida com vontade.
Perdi momentaneamente os dentes. Os olhos se encheram de lágrimas. A vergonha pelo vexame passado me fez entrar em estado de transe. Ainda bem que ela não percebeu ou se fez de desapercebida com pena da minha tabaroíce. Respirei fundo; deixei os dentes “voltarem à boca” e a língua desengrossar... e terminei de saborear o primeiro picolé da minha vida.
Pequenos pedaços de memória que é uma vida. Para toda a vida.
D. Maria de Seu Toínho Higino nos deixou hoje depois de uma família muito bem criada e centenas de amigos feitos ao longo dos 86 anos que conosco neste plano passou.
Que Deus a abençoe! O céu ganha mais uma estrela.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A OLHOS VISTOS

A EXUBERÂNCIA ECONÔMICA ITABAIANENSE NOS 20 PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO.


Crescimento nos anos: 2004-188,2%; 2010-10,3%; 2011-9,3%; 2012-8,4%; 2013-8,2%; 2014-1,6%; 2015-15%; 2016-13,7%; 2017-7,3%; 2018-6,4%; 2019-6,8%;
Longe está do ‘boom’ verificado em 2004, quando a frota itabaianense cresceu estratosféricos 188,2%; mas, também bem distante do atípico 2014, a redução pequena, no ímpeto de crescimento demonstra que continuamos em pleno vigor; e até um pouco descolando-se da situação geral do país.

A quem vive na cidade é impossível não notar; e, para os viajantes temporários que visitam Itabaiana a cada ano ou mais, e que costumam bem observá-la é chocante o progresso material em todos os sentidos; contudo, no mais sintomático de todos numa sociedade de consumo - o transporte - é assombroso se chegar na cidade e rodar muito para encontrar um vaga de estacionamento: a frota de automóveis cresceu mais de 11 vezes nos últimos 20 anos. Para quem achar isso muito, já que vigoroso crescimento nacional foi de três vezes e meia no mesmo período, o drama do estacionamento não se tornou pior graças a um “jeitinho” itabaianense: motocicletas, motonetas e ciclomotores. Juntos, os três perfizeram a soma, em 31 de dezembro próximo passado, de 34.442 unidades; uma para cada três habitantes do município. No segmento de duas rodas, em 20 anos tivemos o incremento de 22,6 vezes, contra 6,5 vezes ao nível de Brasil, para mais de 100 cilindradas; e de 34 vezes, contra 11 vezes no plano nacional, quando se trata de até 100 cilindradas, onde, culturalmente o tipo mais comum é a Bizz, da Honda. Não se dispõe de números relativos ao aumento dos ciclomotores devido a este tipo ter começado a registro obrigatório somente no quarto trimestre de 2015 para cá.
Caracteriza uma explosão de poder aquisitivo também o fato de que, nos segmentos típicos de prestação de serviços, os números se assemelharem aos do país. O caso do caminhão, que levou a cidade a ser agraciada com o título de Capital Nacional do Caminhão, em 2014 (Lei 13.044, de 20 de novembro de 2014) é exemplar: cresceu 4,6 vezes em 20 anos, pouco mais que o dobro do nacional que foi duas vezes, destacando-se mais no segmento caminhão-trator com o vigoroso crescimento de 12 vezes contra menos de 4 nacional.

Sinais irrefutáveis de enriquecimento.

Porém, o mais veemente sinal de enriquecimento entre os seus habitantes está na disparada do seguimento caminhonete, as off-roads: cresceu de meras 41 unidades em 2001 para 3.160 até o último 31 de dezembro; crescimento de 77 vezes. Nacionalmente também houve forte crescimento; mas de 27 vezes, quase um terço. Em Itabaiana, portanto, o segmento obteve crescimento de quase três vezes os níveis nacionais.

Mais de 20 pontos de estacionamentos exclusivos para motocicletas, motonetas e ciclomotores reduzem a estresse da falta de estacionamentos; mas está longe de solucioná-los.

Problemas de mobilidade

À presença de tantos veículos nas ruas é inevitável os engarrafamentos, lentidões, queima excessiva de combustível, e muitas vezes é mais vantagem deixar o carro em casa e ir a pé, especialmente quando o foco da viagem está no Centro, e se não mora tão distante. Torna a situação mais dramática certos gargalos, como as duas feiras livres semanais, além do atacadão de frutas, legumes e verduras das quintas-feiras e já de algum tempo das sextas. Esse último, parece estará resolvido em breve com a inauguração da CEASA; já a feira livre... é uma identidade serrana: é mais fácil se mudar a cidade.
Como cidade centro regional, Itabaiana ainda conta uma frota flutuante diária, oriunda da capital, mas em maior número de cidades da região. Neste caso se não tem estatística, mas seguramente o número local de automóveis e acrescido de 5%, de segunda a sexta-feira. Haja espaço.


domingo, 19 de janeiro de 2020

ECOS DE INFÂNCIA NO HOJE E SEMPRE



O drama começava, geralmente assim: estando na feira dos doces, no Largo José do Prado Franco, ao comer gulosamente uma fatia de cocada-puxa, vinha a sede; ao beber a caneca d’água, rebentava uma incontida vontade de mijar. E agora? Num canto do Mercado do Talho de Carne, nem pensar; o sanitário público, além do ambiente hostil, representado pelo coxo do mictório alto, feito só pra adultos, os vasos sanitários também eram um pouco altos, e a sujeira ali por mal-uso e pior conservação era um convite à desistência. O Tanque do Povo, com suas escadarias a lá filme O Encouraçado Potemkim possuía muro baixo; além do mais, as minhas lições de ecologia religiosa diziam que seria pecado urinar dentro da água. Nossa Senhora choraria! E, quem iria se atrever a, além da falta de educação, da exposição das “partes fracas” e do pecaminoso crime ecológico, levar a mãe de Cristo às lágrimas? O drama persistia.
Súbito, uma olhada em direção à frete do Vapor de Joãozinho Tavares, a Beneficiadora de Algodão São Luiz, visualizava minha salvação: uma rua esquisita, na verdade um beco, o beco do Coima, onde, apesar de já ocupado por casas, algumas eram vazias e aonde ficavam dispostas no chão, em fileiras, umas tabuas à venda, logo à espera de freguês, misturadas com peças mais robustas. Como num passe de mágica eu lá chegava, sem ninguém por perto e me aliviava.
Estava consumada a tragédia! Acordava ainda nos últimos pingos como se o inconsciente me quisesse pregar uma peça e me advertisse: “Tá vendo aí? Mijou na rede - ou cama - de novo”.
E no dia seguinte ia tomar xinga, regularmente, com advertências que, neste caso nunca se confirmavam de algumas execuções pela temível “vara da infância e adolescência”, ou mesmo o cinto gasto ou um reles chinelo.

Obras

A Rua Cupertino Dórea ou Beco do Coima (Queima, pros populares) está em obras. Uma vala central aberta para a colocação da estrutura de escoamento de esgotos e a de águas pluviais. Faz parte do gigantesco e tardio trabalho – e ainda bem que veio – de boa destinação das águas e efluentes neste lugar seco, que, em 1757, o padre Francisco da Silva Lobo, quatro anos antes de começar “em pedra cal e óleo de baleia”, a construção da igreja matriz de Santo Antônio já implorava ao rei D. José:
“He o logar da Villa de poucos moradores, por ser aridíssimo, e tão falto de agoas, que as não há senão no inverno, razão pela porque se faz digno de que S. Magestade (sic) seja servido de o mandar prover de algúa cisterna ou agoada de pedra e cal para remédio dos Parochos, e dos poucos moradores que nelle habitão, o povo, que vem às festas, às missoens, e semanas sanctas, e mais funções da matriz e villa, pois so no inverno tem agoa em hú buraco chamado pedreira, que dura pouco tempo pelo verão valendo-se os da villa, e mais povo que vem às festas e funcçoens da vila das cacimbas das serras distantes da Matriz húa legoa grande.”
A obra é exatamente para gerar a estrutura de coleta, transporte e tratamento do esgoto, além de separação de contaminação as águas pluviais.
A rua, como mijadouro de moleques mijões nas redes e camas há muito deixou de ser; como também curral de aprisionamento de animais vadios, invasores de roças, cuja queixas chegaram a incomodar até o Rei D. João VI, quando no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Efeitos borboleta. Ou, o acaso não existe.


Um jovem repórter necessita de suporte: orientação, conselhos e financiamento aos primeiros voos no rádio que, no devido uso dos talentos pessoais os levem até a glória, inclusive de ser uma força política dentro do seu estado: fala com o Brasil.
Um jovem empresário tem uma ideia: fundar um grupo de comerciantes na cidade, baseado em experiências de recente passado; com ele uma cooperativa de compras, e com isso fazer frente à naturalmente predatória concorrência que desponta nesta dinâmica década de 1990 com a vigorosa modernização dos shoppings centers na capital. Não consegue fundar a cooperativa; mas em lugar traz o Clube, hoje Câmara de Diretores Lojistas, a CDL. O Brasil estava lá.
Um jovem, querendo promover seu negócio atrai outro jovem; este, artista de mão cheia das artes gráficas começa timidamente e timidamente continua até que, ao cabo de um ano, desanimado com a falta de progresso de sua revista na base que escolheu e onde apostou todas as fichas, está prestes a fechar seu sonho de publisher e gráfico e partir pra outra. De repente, tudo muda, os sonhos voltam com força total, monta uma das mais modernas gráficas do estado, diversifica, deixa o negócio com os irmãos, e investe em algo impensável para Itabaiana, vinte, dez, cinco ou mesmo dois anos antes: uma Bienal do Livro, já na quinta edição e consolidada como o grande evento da indústria cultural no estado de Sergipe, sediada em Itabaiana, óbvio. Quem o cobrou a voltar a estrada e enfrentar? O Brasil.
Na última virada do século Itabaiana viveu uma espécie de puberdade; aquela coisa de, repentinamente irrompermos numa nova fase de vida sem a mínima noção do que fará dela; os medos, afoitezas, erros e mancadas uns por cima dos outros. Não foi exatamente uma fase de segurança, e, aos primeiros grandes erros sempre vieram as indagações, interiores ou não: e agora?
Porém eu voltarei dez anos antes e vou encontrar o escritório de uma marmoraria de um então recente amigo, um garotão simpático, comunicativo, apesar de contido, um pouco tímido, e lhe sentir certa empatia. O sujeito me pareceu inteligente e parece ter-se afeiçoado a mim, o motivo não sei dizer. Foi amizade à primeira vista.
Cinco anos depois eis que vou encontrá-lo numa marmoraria própria, e enamorando-se de uma amiga, aplicada funcionária de uma ótica. Aqui começa pra valer uma saga que levou o sítio urbano de Itabaiana a crescer 30 por cento em dez anos. Meus conhecimentos e traços rudimentares em arquitetura, completamente amadores aplicados à dita loja ótica chamaram a atenção do jovem empresário marmorista que, superestimulado pelo dono da mesma mergulhou prazerosamente num curso de Arquitetura e Urbanismo. A sopa que se seguiu levou-o a partir de 2006, em primeiro, surpreender-me com uma foto de satélite da área urbana, em alta definição; e a seguir embarcar no maior projeto urbanístico do interior do estado até então, que modificou todo o conceito urbanístico de Itabaiana.
E retomou a confiança da cidade.
Sintomaticamente, o primeiro investimento, bem mais tímido denominou-se Mandacaru, símbolo da resistência nordestina, mas, o segundo veio trazendo uma homenagem explicita à mente remotamente responsável por toda essa carga de estímulos: o nome Chiara Lubich, uma religiosa leiga, fundadora do Movimento dos Focolares, mundial, e suas várias oficinas, entre as quais a Economia de Comunhão, já chegou aqui, em 1978 pelo casal Altamiro Brasil e Joseiza, tão dinâmica quanto, que ao mesmo são ligados, antes mesmo de suas chegadas à Itabaiana, em fins dos anos 70 do século passado.
Então: qual o nome da borboleta que, ao bater asas provocou toda essa tsunami modernizadora?

Enfim, Francisco Altamiro Brasil.

Fui surpreendido no último fim de semana com a notícia de que, Francisco Altamiro Brasil presidirá a Câmara de Dirigentes Lojistas de Itabaiana que, ajudamos a nascer naquele 7 de outubro de 1989. Eu, como assessor; ele como empresário, sempre empreendedor futurista e estimulador de tudo quanto foi ideia boa nos últimos 40 anos. Não direi, “já era hora”, porque gente como Brasil passa a léguas de rótulos; logo, ser ou não ser presidente, pouco importa. O que vale é trabalhar. Produzir. Ser útil. Mas que é, digamos, justo que enfim ocupe o cargo máximo da instituição, disso que não haja dúvidas.
O credencia o eterno espírito de adolescente de que é portador; a experiência de, inclusive já ter ocupado um cargo público, titular no secretariado municipal, a participação em várias diretorias da própria CDL; a natureza humana, o alto nível de empatia, o pensar sempre à frente, como bem o demonstra os quatro exemplos com que iniciei essas mal traçadas linhas
Parabéns ao ex-presidente, Jâmisson Barbosa Ferreira, que ora deixa o cargo; aos demais que têm administrado essa que, tenho por ela um sentimento de pai por vê-la vir ao mundo e ter acompanhado seu desenvolvimento até o seu debut, aos 15 de idade, em 2004.
Que meu amigo Altamiro Brasil, companheiro de tantas jornadas nestas últimas quatro décadas faça uma boa administração.