domingo, 27 de janeiro de 2013

A revista Omnia


Somente hoje pela manhã é que terminei de ler meu exemplar da revista Omnia deste mês, que me foi passado pelo escritor, redator, editor, diretor comercial, vendedor e distribuidor Robério Santos (se esqueci de mais alguma tarefa, perdão!). Tem sido um trabalho titânico; digo isso porque já enfrentei dois jornais, um dos quais completamente sozinho, nas tarefas principais, é claro; e sei que diabos significa fazer tudo isso sozinho.
O número deste mês vem na conta. Um texto de Jorge Carvalho do Nascimento, usado por ele, inclusive, quando da abertura do III Simpósio no Encontro Cultural de Laranjeiras próximo passado, deste ano, sobre o Imortal Luiz Antônio Barreto, não somente imortal porque da Academia Sergipana de Letras, mas porque nos deixou um legado primoroso que o tempo não haverá de apagar. Um texto de Ilma Fontes sobre teatro; um excelente resgate da memória do fotógrafo Jorge Moreira, grande baluarte d’O Serrrano; uma citação a escritores de Itabaiana; um conto de nosso Antônio Saracura, uma justa citação ao trabalho hercúleo ora desenvolvido por Vicente, popularmente Vicente dos pintinhos na montagem de seu museu rural, que merece um capítulo à parte; sugestões sobre cultura local e um tema que me tem fascinado há décadas: o ex-escravo Quintino de Lacerda; a republicação de uma excelente crônica de 74 anos atrás, da brilhante pena do Zózimo Lima. Estive em Santos(Ver video aqui, aos 47s; clique), São Paulo, em fevereiro de 2011 e fui às cercanias da Santa Casa, não pra ver o campo da Portuguesa santista que lhe fica vizinho; nem mesmo a antológica Vila Belmiro, também próximo, mas para sentir a atmosfera do Jabaquara. E ficar frente à frente com a modesta estátua que os santistas erigiram ali em homenagem a este itabaianense; aliás, também fui à rua que também tem seu nome, nas proximidades.
Quintino, ainda escravo foi vendido para a província de São Paulo quando esta estava despontando para a cultura cafeeira que tornaria o hoje estado o mais rico do país. E infelizmente, por atos desta natureza, o também hoje estado de Sergipe, entre os mais pobres. A proibição férrea patrocinada pela Grã-Bretanha, então a grande potência mundial, do infame tráfico negreiro fez o comércio interno de escravos elevar-se às alturas. As sucessivas leis de proteção aos negros a partir de 1850 tornou claro que aquela bestialidade estava com os dias contados. Infelizmente, a elite sergipana, ao invés de começar a adaptar-se aos novos tempos buscou chupar a última gota de néctar: vendeu sua escravaria, a mão de obra que lhe propiciou por gerações poses e pompas bestas. É como o indivíduo que tem um saco de feijão como semente, que plantado colheria cem ou duzentas vezes mais; porém, como isso dá trabalho que ele não quer ter, come todo o saco de feijão passando a depois mendigar humilhantemente um pedaço de pão aqui outro ali, pelo resto da vida. Óbvio, alguns se encastelaram nos cargos de governo onde ainda hoje resistem algumas daquelas famílias tradicionais como uma espécie de nobreza. Mas a maioria empobreceu; foi à lona.
Estudar Quintino é, pois, não apenas uma forma de ver o sucesso de um ser humano, de um emergente; mas o quanto a idiotia pode acometer mortalmente uma categoria de pessoas, supostamente sábia e bem posicionada no extrato social. E o que faz uns lugares tanto progredirem e outros regredirem como ocorreu a Sergipe.