sexta-feira, 3 de junho de 2022

E VAI COMEÇAR A FESTA

 

De fato já começou, com uma alvorada de fogos de artifício na manhã do último 31 de maio, anunciando o trezenário como usualmente ocorre todo os anos, desde o início da tradição que se perde nos tempos, nestes 347 anos de cidade e paróquia de Santo Antônio e Almas.
A matriz devidamente paramentada, a Praça de Eventos Etelvino Mendonça, ponto focal da Festa do Caminhoneiro, idem.
E, altaneiro, Santo Antônio espera que a sua cidade de Santo Antônio de Itabaiana mais vez o celebre.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

DE DEFUNTOS E COVAS

Ao ler (depois de 16 anos sem ler esse cidadão), o artigo de Josias de Souza, de hoje, no Uol, “Com a mão na alça do caixão do PSDB, Lula causa furor ao narrar o enterro”, uma constatação: o PSDB acabou.

Em 1986, atendendo a um convite de meu amigo, ex-professor e então vereador João Alves dos Santos, o João Patola, ingressei no PDT que João estava assumindo municipalmente em Itabaiana.
Havia então um troca-troca partidário automático: entrou num partido, automaticamente estava desfiliado de outro; e usei isso para me desvincular do diretório local do PT, com o qual havia me estranhado profundamente; e que havia ajudado a fundar e ser o primeiro presidente eleito, que o fui em 16 de agosto de 1981 até 1983, apesar de afastado em setembro de 1982 e substituído pelo vice, José Taurino Duarte.
Mas em 1988 havia outra novidade no ar: com os trabalhos de finalização da Constituição, e consequente quebra de amarras partidárias vieram as rearrumações políticas com a fundação do PSDB por Mário Covas.
Covas me animava mais que Brizola, criador do PDT. Polemista por natureza, não me agradava o estilo Brizola. Sempre o achei necessário, importante no contexto político nacional; o tempero exato para apimentar os grandes debates nacionais. Mas, quanto a desejá-lo como líder máximo da nação sempre tive minhas reservas; e Covas, também polemista, mas, se situava, a meu ver, naquele espectro do líder político vivo, real, sério no que a política exige, verdadeiro. Alguém com sangue nas veias; porém, um cérebro a lhe controlar o fluxo.
O então colega de rádio, deputado federal Acival Gomes trouxe a novidade para Sergipe. E, oportunista como todo o itabaianense laborioso e inteligente, pretendente a entrar na política, Paulo de Mendonça – também depois radialista – mediante Acival Gomes trouxe o partido para Itabaiana, claro como presidente do diretório municipal e me convidando para ser o secretário. Topei.
Paulo, porém, estava alinhado majoritariamente com o grupo político de Francisco Teles de Mendonça, enquanto eu estava ligado a Luciano Bispo que seria então eleito prefeito. O fato é que apenas fundamos o partido aqui em Itabaiana; mas nunca militei propriamente nele.
Estadualmente o PSDB só veio a ter real visibilidade com Albano Franco, em quem não votei: estive nos palanques com Luciano Bispo, Jackson Barreto e Lula naquela memorável campanha de 1994; e, sem palanque e apenas votando em Lula em 1998, na hecatombe do eletrocheque, quando em Sergipe se entregou a Energipe e a Telergipe aos especuladores, eufemisticamente chamados de investidores, empreendedores financistas sem pátria. Foi meu desencanto final com o partido, apesar de ainda ter o Mário Covas como referência.
Nacionalmente, o PSDB perdeu o brilho em setembro de 1991, no episódio vergonhoso de FHC, Serra e Richa querendo entrar de qualquer jeito no Governo Collor, bloqueados pela ação enérgica de Covas.
Em 1994 o partido apresentou o ex-comunista (à brasileira, claro) FHC, como sucessor do mineiro Itamar Franco, depois de terem enxotado Fernando Collor de Melo, já sem Rede Globo, sem partido normal, apenas um arremedo, e sequer sem um partido militar-evangélico, como ora ocorre. Sem nada. O PSDB tinha chegado ao apogeu. Era o coroamento do império paulistista que o partido nunca deixou de ser.
Entre 1988 e 1994 sonhei em ter no Brasil a avassaladora dualidade partidária que, bem ou mal tem dado estabilidade política àquela confusa empresa em forma de federação, denominada Estados Unidos da América por mais de dois séculos: os partidos Republicano e Democrata. Que aqui seriam o direitista PSDB e o centrista PT. Mas o PDSB é um partido de São Paulo, com alguns puxadinhos em outros estados, e só. E, por natureza, mesmo numa federação à brasileira, isso é impossível de dar certo. Brasília e Washington não existem à toa. São capitais federais e não estaduais, como foi Salvador até mudar para o Rio, e lá continuou sendo até mudar para Brasília; imagine São Paulo, Recife ou Porto Alegre como o centro de decisões nacionais, como de fato é no que consiste São Paulo capital na atualidade.
A indisposição de Aécio Neves, mineiro, em sair do casulo sulista e fazer política como se deve foi a pá de cal em 2014. No PSDB e quase no país.
O PSDB tem de morrer - como teve a UDN - para que restem o Brasil, e nele São Paulo.


segunda-feira, 30 de maio de 2022

A MALDIÇÃO DO PADRE SEBASTIÃO PEDROSO DO GOIS.

 

No último dia 22, dois antes de começar a chuvarada desta semana, em conversa pela rede social com o amigo e conterrâneo mangabeirense, professor Josivado Freire, esse me informava de que a barragem do Projeto Ribeira estava cheia de tratores e caçambas, aproveitando o nível extremamente baixo da água, praticamente na cota crítica, emergencial, para proceder algo comum por aqui em tempos idos, ou seja “a limpeza de tanques” ou fontes de água de resíduos que se vão acumulando nos leitos ao longo dos anos.
Isso me acendeu o alerta de que a maldição do padre Sebastião Pereira de Gois permanece, apesar das felizes decisões do aguadeiro-empresário Zé de Petrina e seu amigo governador, João Alves Filho.
Zé de dona Petrina ou o ex-vice-governador, ex-vice-prefeito de Aracaju e deputado estadual, federal e tantos outros cargos, José Carlos Machado, quando garotão dono de cisterna muito dinheiro ganhou, vendendo moringas d’água para a molecada mais desassistida do precioso líquido aí pela metade da década de 1960, que revendiam aos copos aos feirantes, retiradas, obviamente sob consentimento familiar da reserva da família. Toda família mais ou menos bem economicamente da minúscula cidade de Itabaiana, até os anos 70 tinha que ter uma cisterna no fundo da casa. Fez parte de um mundo lúdico, que as conquistas tecnológicas acabaram: os meninos vendedores de “água fria” de moringa na Feira.
João Alves Filho, o “negão” João da Água foi a retomada, numa versão popular do Nacional-Desenvolvimentismo em Sergipe, protagonizado, especialmente por seu padrinho político, o grande José Rollemberg Leite. Ambos engenheiros civis deram esplêndida continuidade ao padrão Zé Leite da escola mineira que tanto produziu no país, e saíram espalhando água por esse Sergipe semi-árido, em que pese todo ele tão próximo do mar e a 11 graus de latitude sul, logo, equatorialíssimo.

O alerta se deve a uma constatação.
Em 1975 eu vim de mala e cuia embora para a cidade. O que, em geral, como dito pelo Caetano Veloso, “No dia em que vim embora não houve nada demais”. Mas “o mundo não para”, como disse outro poeta-cantor, Cazuza, expressão repetida pelo saudoso colega radialista Francis de Andrade, e, em 1975, residindo na Casa de Estudante, um sítio entre a cidade que acabava na avenida 13 de Junho e os Eucaliptos, atual frente do SENAC, sobrava água no banheiro e advertências da gerente da casa, uma espécie de república de estudantes, Maria de Jesus Andrade, ou Menininha de Pedro Severo do Pé do Veado, para não avultar a conta a pagar a DESO.
Assim foi até o inverno de 1977; mas, quando retornou o estio, depois de setembro, a velha adutora da Ribeira e sua distribuição já não suportava o consumo que saltara dos 16.433 habitantes urbanos do Censo de 1970 para já os quase 26.284 que seriam apurados em 1980. A coitadinha da barragenzinha gemeu.
Em 1978, 1979 e até a operação da barragem e adutora do riacho do Coqueiro, do outro lado da serra de Itabaiana e próxima a Areia Branca, salvo engano em 1985 foi esse sufoco. Para tomar banho, somente buscando água salobra do poço, na bomba manual da esquina da Avenida 13 de Junho com Rua Quintino Bocaiuva, atual Energisa (atual point noturno do meu saudoso amigo Sartana, ainda em atividade, apesar de sua ausência já há alguns anos).
E a população continuou crescendo, naturalmente, bem como a qualidade e os novos níveis de consumo. Uma residência que hoje consome um metro cúbico ao dia, na década de 70 levava três dias para consumir o mesmo.
Porém, em 1984 começou a ser posta em andamento a engrenagem que traria o consumo de água aos níveis confortáveis atuais. Duas grandes barragens começaram quase simultaneamente a serem construídas, originalmente visando unicamente a irrigação: Jacaracica I e no povoado Várzeas da Cancela, a do Projeto Ribeira. A do Jacaracica, ainda hoje é somente para irrigação; já do Ribeira, por volta de 1990 já começou a receber estruturação para também fornecer água ao consumo humano. O sistema atingiu o apogeu quando foi construída a barragem do Jacaracica II, ousadamente projetado para cobrir quase toda a Itabaiana original – do Riachuelo ao Carira – e seus múltiplos povoados, além das sedes municipais.
Mas o sistema já dá sinais de cansaço e agora, cada vez mais são cada vem mais curtos os períodos em que os reservatórios estão confortavelmente cheios.
Dos últimos dez anos, aos menos nos últimos cinco tivemos três fases críticas: 2017, 2019 e agora neste princípio de 2022.
E a nossa capacidade de acúmulo anda cada vez mais resumida. Já não há bacias viáveis para serem represadas. O recurso adicional do reforço do lençol freático e consequente abertura de poços artesianos viáveis também já foi atingido.
Volvemos o olhar para o já maltratado e superutilizado Velho Chico. Se, e quando será, se não sabe; mas que está drasticamente se convertendo numa solução real, isso está.

O padre
Certamente depois de muito embromar os poderosos dos currais de Itabaiana e humilhar os menos dotados, juntando a raiva gerada por deixar apodrecendo de abandono a hoje ruínas da Igreja Velha, o padre Sebastião Pedroso de Góis se viu diante de uma emergência: ajudar o rei de Portugal com tudo a seu dispor a encontrar a mina de prata.
A chegada de outro Sebastião, o Lopes Gradio, em Lisboa com uma caixa de amostras de prata em julho de 1673 “de Itabaiana”, aguçou a cobiça real; e, à extrema necessidade de fazer frente ao nascente Império Inglês e sua enorme fome de poder mundial.
D. Rodrigo de Castelo Branco aqui chegou em 16 de julho de 1674, com poderes e incumbência de fazer tudo para encontrar o minério, e não seria um parocozinho de “uma cidadezinha perdida longe da civilização” que, por rezingas pessoais iria lhe atrapalhar.
Poucos vaqueiros restaram em Itabaiana depois da trágica devassa, lawfare puro, que sob Sergipe – quase resumido ao rio Real, Lagarto e principalmente Itabaiana e a cidade, de São Cristóvão, obviamente – se abateu depois daquele 5 de novembro de 1656; mas, toda a ajuda era necessária para encontrar a prata. E, se encontrada, levantar os muros, cavar o fosso ao redor, fazer as pontes elevadiças, instalar os canhões e, dentro instalar o governo – Câmara, Cartórios e Tesouro – as pessoas de “bens”... e a matriz. Uma verdadeira cidade. Pra dar segurança à prata antes de embarcar para Portugal.
Um ano depois – 30 de outubro de 1675 - e D. Rodrigo ainda não tinha encontrado prata; mas a esperança permanecia. Teria ele aberto o Tanque da Pedreira, e por isso o padre Sebastão Pedroso de Gois fundado a matriz onde hoje está? Ou teria o padre, pra se vingar definitivamente da vaqueirama de Itabaiana, aceitado Santo Antônio na sua Irmandade das Almas, mas arranjado a história do sítio de Ayres da Rocha Peixoto, dado uma “corda” em D. Rodrigo para abrir a pedreira, justificado a criação da futura sede municipal num lugar totalmente sem água, como grafado 72 anos depois (1757) grafado pelo pároco de Itabaiana padre Francisco da Silva Lobo?
Se por suposição de prata ou não, essa dita ou não dita maldição só foi definitivamente quebrada em 1986, com a construção do Projeto Ribeira.
Mas ameaça permanece.



domingo, 29 de maio de 2022

RETORNO DE SUCESSO

 

Acima, três dos cinco empossados; abaixo, geral na duas fotos, demonstrando em primeiro plano, à direita, a representante de Margarete Brito, e a galeria da Câmara lotada, incluindo membros fardados de verde do MOCMAP

Sexta-feira última, 27, teve lugar, como sempre no Plenário Olímpio Arcanjo de Santana, da vetusta Câmara Municipal de Itabaiana a primeira reunião solene da Academia Itabaianense de Letras, depois de mais de dois anos de inação devido a pandemia que, entre os milhares de entes queridos – até ontem, 28, no estado, seis mil, trezentos e quarenta e oito e no país, seiscentos e sessenta e seis e trezentos noventa e uma vítimas fatais – duas diretamente ligadas à Academia, quais sejam o queridíssimo confrade Luiz Eduardo Magalhães, ocupante da cadeira 22, patrocinada pelo padre itabaianense, em vias de beatificação pelo Vaticano, o memorialista José Gumercindo dos Santos; e também a gentilíssima, saudosa Sandra Marcondes, esposa do confrade José Marcondes, este ocupante da cadeira 20, patrocinada pelo padre e filósofo, José Araújo Mendonça. Duas perdas lastimáveis, também no seio do nosso sodalício.
Bem, mas sexta-feira, 27, foi dia de recolocar o pé na estrada; até mesmo em memória dos que nos deixaram.
Foi dia de apresentarmos mais uma etapa no crescimento da arcádia serrana. Depois de algumas convocações e imediato adiamento devido às reações dos números da pandemia e consequentes riscos, trouxe-se cinco novos membros, quais sejam os acadêmicos-correspondentes; aqueles que diretamente nos representarão – a Academia e a cultura itabaianense como um todo – por onde estiverem lotados. Os itabaianenses natos, José Oliveira Benjamim, Jorge Roberto Costa Passos e Wellington Mendes Filho, e os colaterais, Margarete Brito e José Pereira da Silva.
E aproveitou-se para comemorar o nono aniversário da Academia, mesmo que tardiamente; a data oficial, 1º de fevereiro, foi uma convocação que teve que ser adiada por recrudescimento da peste.

Maria Pereira, primeira à direita, então diretora do Colégio Estadual Murilo Braga e sua então equipe de auxiliares. Junto dela a hoje acadêmica Tereza Cristina, ocupante da cadeira 29 da Academia. À direita, Antônio Francisco de Jesus - Saracura - no penúltimo sábado, 21, prestigiando grande evento da Academia Gloriense de Letras e à nossa parceira especial, professora Rosa Maria Vieira de Santana, líder do grupo um do Movimento Cultura Maria Pereira, então homenageada, expõe camiseta do referido grupo
 

 

A noite trouxe mais novidade. Além da presença do primeiro grupo do MOCMAP – Movimento Cultural Maria Pereira, já de reconhecimento estadual, a incansável líder do grupo, professora rosa Maria Vieira de Santana apresentou-nos mais outros componentes, que comporão os outros quatro grupos, incluindo mais duas professoras – o terceiro estava em outra nobre missão educacional - que liderarão oficialmente depois de julho, quando forem empossados os seus respectivos grupos, quiçá já com o quinto e último, com o quadro de 30 membros ao todo que homenageiam personagens da nossa cultura, não contemplados em outras posições na Academia, a saber: Álvaro Fonseca Oliveira; Antônia Andrade (dona Tota); Armindo Guaraná; Artur Moura Pereira (padre); Maria Auxiliadora Graça Leite(irmã); Carlos Augusto Mesquita Moura; Elias Andrade; Eraldo Barbosa (padre); Eulina Nunes; Filomeno Andrade; Francisco da Silva Lobo (padre); Francisco Vilobaldo de Oliveira (Chico do Cantagalo); Gabriel Andrade; Guilhermino Amâncio Bezerra; João de Deus Teixeira; João de Matos; João Rocha Sobrinho; Joaquim Fraga Lima; José Bezerra dos Santos; José de Andrade Sucupira; Josefa Esteves de Freitas (Dona Bebé); José Mesquita da Silveira; José Luiz da Conceição; Melchiades José de Souza; Manoel Garangau; Ormeil Câmara de Oliveira (doutor); Pedro Garcia Moreno; Quintino de Lacerda; Serapião Antônio de Góis.
O MOCMAP é o fermento da continuidade, da perenização. Daí a feliz lembrança de uma das maiores educadoras da história serrana: Grupo Cultural MARIA PEREIRA. 

























Bem, mas à noite, como já dito foi também de comemoração ao nono aniversário da Academia Itabaianense de Letras. E ninguém mais apropriado para falar sobre esse momento em particular, bem como o fantástico momento literário-cultural estadual que todo o Sergipe vive neste momento que Domingos Pascoal de Melo.
 O atual momento foi ansiado e gestado pelo saudoso grande Luiz Antônio Barreto, desde seu adentrar-se nas letras na primeira explosão que teve lugar ao fins do 60, início dos 70, coincidentemente com a criação da Universidade Federal de Sergipe quando a política deu lugar à discussões mais amenas. No início da segunda década deste século, já desprovido das naturais amarras do serviço público, naturalmente pesado, burocrático, tão logo saiu do secretariado da Cultura do Estado que Luiz Antônio resolveu fazer o que sempre quis faz. Nas palavras do próprio Pascoal, sexta, à noite “descobrir os saberes do povo, do interior”, ao contrário do lugar comum que sempre foi o “levar conhecimento ao povo”. Não muito pôde ir além. No dia 17 de abril de 2012, dez anos atrás, deixou-nos fazendo nascer uma lacuna.
A lacuna deixada pela ausência de Luiz Antônio Barreto não pode ser preenchida. Porem, já se encontrava envolvido com o próprio Luiz Antônio essa grande figura humana, dona de sete fôlegos, que a exemplo de outro cearense, Juarez do Nascimento Fernandes Távora na Revolução de 1930 consegue estar em três, quatro municípios durante o mesmo dia levando em frente a materialização daquilo que sonho Luiz Antônio em forma de academias, grêmios ou simples núcleos; desde municípios mais populosos e política e economicamente mais poderosos. Com seu fiel escudeiro Antônio Francisco de Jesus, o Saracura deram integral apoio a pelo menos 45 agremiações, além de suportarem outras iniciativas, sejam na capital, um num simples povoado como Rio das Pedras, com a Academia Serrana de Jovens Escritores, patrocinada pela educadora Rosa Maria, acima citada, e, puxando pela minha sardinha, na minha escola municipal, hoje Dom José Thomas, onde aprendi a gostar do meu estado, sua Geografia e sua História, mediante outro “cabeça-chata”, e que me conduziu a um terceiro - e, perdoe-me Pascoal e Araújo, o maior de todos - João Capistrano de Abreu.
O fato é que sem alguém como Pascoal de Melo para pegar o andor que estava sendo preparado pelo saudoso papa-jaca, o queridíssimo “Arara”, nada disso teria tido curso. Talvez tudo tivesse morrido na praia. E aí parafraseio Zé Dantas e Luiz Gonzaga: “E graças a esses feitos de homens que tem valor” chegamos ao atual estado de efervescência cultural.

Cearenses que me são caros.
Acrísio Torres Araújo
Amante do lugar em que nasci e vivo, mais tomei gosto pela minha terra quando no Segundo Ano Primário me defrontei com uma preciosidade: a Geografia e a História de Sergipe, feitas por um professor cearense que há pouco por cá chegara, e que, sentindo a completa ausência de conhecimentos sobre Sergipe na grade curricular da formação inicial dos sergipanos resolveu arregaçar as mangas e preencher essa lacuna. Passei horas, dias, semanas, maravilhado com os pequenos textos de Geografia de Sergipe em que o professor Acrísio Torres Araújo me premiava com informações de Lagarto, Itabaiana, Tobias Barreto, Capela... enfim, todo o Sergipe, e não somente a capital. Lembro que, inclusive, o mapa de Sergipe presente na capa trazia uma cidade que nunca ouvira falar: Curituba, desde então um povoado de Canindé do São Francisco, mas então já ex-sede municipal; porém que o mapa não trouxe atualizado. Também que a serra de Itabaiana, usando as informações equivocadas do IBGE tinha 860 metros de altura e era o ponto culminante de Sergipe. O fato é que os dois livrinhos me impactaram decidida e definitivamente.
A criação da Universidade Federal de Sergipe em 1968, exatamente no ano em que foram impressos meus livrinhos, e logo a seguir o nascimento de um núcleo mais dedicado à historiografia sergipana nos trouxe aos dias atuais de exuberante produção.

Domingos Pascoal de Melo
Seu ativismo recente, como dito acima, não somente confirmou o trabalho de Luiz Antônio Barreto como mais estimulou seu agigantamento.
Tudo começou com uma reunião no Templo Beneficente Rei Salomão, de administração das três lojas maçônicas de Itabaiana, em agosto de 2011, com repetição em 7 de setembro, a seguir, de onde, de concreto nasceu o grupo de Facebook “Itabaiana Grande”, ideia original de Robério Santos, prontamente apoiada por Luiz Antônio Barreto, pela ex-secretária municipal de Educação, professora Tereza Cristina Pinheiro Souza e pelos demais, eu, inclusive. De iniciativa particular, galvanizado pelo sucesso do ambiente cultural, na realidade, um clima de retroalimentação da Revista Perfil, o início de tudo, o Publisher da revista, Honorino Junior gestou e realizou a Bienal 2011, com estrondoso sucesso e, naturalmente a participação de Luiz Antônio Barreto a presidir os debates, cuja mesa composta, entre outros, por três dos 15 acadêmicos iniciais, fundadores da Academia Itabaianenses de Letras: Antônio Samarone, José de Almeida Bispo e Luciano Correia. Domingos Pascoal estava lá; de escudeiro-mor de Luiz Antônio.
Ao final de outubro, a Bienal 2011 foi o precipitar, pontapé inicial do processo cultural que hoje experimentamos em todo o estado de Sergipe. Luiz Antônio, infelizmente não viveria para presenciar o que ajudou a promover: “os saberes que já estavam por cá”. E aí, com sua morte em abril de 2012, em primeiro veio o espanto e a pergunta: “e agora?”.
Materializou-se então a ideia da criação da Academia Itabaianense de Letras. Dificuldades de articulação, no entanto, levaram a feliz instalação da ubérrima Academia Gloriense de Letras em 12 de dezembro de 2012, com a Academia Itabaianense de Letras somente sendo instalada em 1º de fevereiro do ano seguinte de 2013. Pascoal presente. E desde então, em todas as demais, geralmente com seu “Sancho Pança” Antônio Saracura a lhe apoiar.

Capistrano de Abreu
Apresentado por José de Alencar, foi aprovado para bibliotecário da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, nela tomando posse em 1879. Desde então empreendeu verdadeira cruzada santa na sistematização das fontes históricas daquela casa, já no primeiro volume dos Anais da Biblioteca Nacional em que participou ativamente - o volume 5, 1878/1879 - revelando de forma organizada praticamente toda a História colonial brasileira, contribuindo desta forma com o fim do achismo de excelentes cronistas, mas de péssima propensão à ignorar a exatidão das fontes documentais; ou às malditas interpretações onde cabe tudo.
Foi nele, na documentação por ele sistematizada, e digitalizada ao fim da década de 1990 – quase cem anos ou mais de sistematizado - publicado na rede mundial que fui buscar a maior parte das informações com que confirmei, ou dirimi e descartei outras recebidas ou que vim a receber.
É com Capistrano que nasce a ciência História.
Para completar meu fascínio pelo grande intelectual cearense, sondado na terceira ou quarta rodada para compor a Academia Brasileira de Letras, já e rapidamente transformada num pavonário de vaidades extremadas, refutou energicamente.