quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Bem vindos à Avenida do Verão!

Que nada de Chunkillo, Kukulcan, Stonehenge, ou mesmo Karnak... ‘Tabaiana, cidade celeiro, tem também o seu observatório solar, oh meu! Trata-se do primeiro trecho da Avenida 13 de Junho, lado par, alinhadíssimo com o sol de 21 de dezembro, início do verão, ou seja, o solstício de verão no hemisfério sul.  Por aqui, aonde a civilização chegou há 400 anos, já nos tempos de calendários modernos, somente em janeiro é que se começa a preparar a terra para as trovoadas de São José, em 19 de março. De fato, a maior parte hoje agricultável nem disso necessita, pois já dispõe do sistema de irrigação; todavia, assim o foi até o início dos anos 80, quando explodiu a implantação de poço artesianos, pequenos açudes particulares e as duas maiores represas: Jacaracica II e Ribeira. Apesar de já haver, desde 1953, o Açude da Macela.
Bem, não sei se a Avenida 13 de junho, a exemplo de Karnak, será tomada ao nascer do sol do próximo 21 de dezembro - agora só em 2017 - por ocultistas, xamanistas, druidas... esoteristas em geral; mas, que é a nossa AVENIDA DO SOL, já que pelo alinhamento, que simboliza o grau máximo de nossa poderosa estrela da vida, aqui em Itabaiana, neste lado sul de nossa Bola Azul, ah, isso é!

domingo, 18 de dezembro de 2016

Um Natal de Sonhos - o segundo.

Ontem à noite, 17 deste dezembro estive na tradicional Festa de Confraternização da CDL-Itabaiana, um acontecimento de grande representatividade numa sociedade onde as atividades de comércio superam de longe as demais, e com o brilho de sempre. Eu não sou comerciante, e já lá se vão doze anos que deixei de prestar assessoria à hoje jovem senhora que, de certo modo também considero minha filha, uma vez que estive ombro a ombro com os dezenove pioneiros que a fundou, em especial o meu amigo e irmão Josenildo Pereira de Souza. O atual presidente, Jâmisson Barbosa, além de ter sido um daqueles soldados através de seu pai, Seu José, também um fundador, é também um grande amigo e me enviou o convite que recebi do diligente, figuraça, patrimônio da instituição e nosso melhor treinador de futsal (campeão inúmeras vezes, inclusive a nível nacional), Wilson Mendonça. Também ontem houve mais um motivo da minha presença: recebeu a mesma homenagem que a mim foi distinguida no ano passado, a Homenagem Cultural do Ano, o meu amigo, confrade e também irmão adotivo (eu o fiz à revelia), Antônio Francisco de Jesus, o nosso querido Saracura, espécie de missionário literário no estado, como o também amigo e irmão Domingos Pascoal que lá esteve. Festa bonita. O grupo musical que a abrilhantou é de uma qualidade impecável; o cerimonial perfeito!
Ao chegar ao imponente prédio atentei para um fato: a Campanha Natalina deste ano tem o mesmo tema da que desenvolvi em 2001, meu melhor trabalho até hoje em marketing, assim o considero: NATAL DOS SONHOS. Neste ano, campanha muito mais rica, a mesma oferece de cara dois carrões a serem sorteados entre os clientes das lojas filiadas. Naquele 2001, há 15 anos, o primeiro prêmio foi bem mais modesto: tratou-se de uma motocicleta, esse símbolo da substituição do cavalo, de enorme importância numa sociedade que tem sua origem num lombo de cavalo, na qualidade de vaqueiro, e depois de burros e suas caravanas de tropeiros. Era uma Honda Titan, vermelha, como é padrão em Itabaiana, 125 cilindradas, e aí vem o motivo de eu achar que foi minha melhor campanha publicitária: além de quase tudo que propus ter sido executado, criando uma movimentação impressionante no comércio, um item dela, um sistema de premiação imediata, de pequenos itens, de bolas pra menino jogar a bicicletas. Deu uma trabalheira danada; mas, e quem disse que o que é bom vem sem trabalho?
A campanha deste ano faz jus ao tamanho da instituição; e, cá entre nós, hoje distante da sua criação e execução, convertido em consumidor comum, já andei preenchendo e colocando alguns cupons nas urnas espalhadas pelas lojas onde comprei e os ganhei. Vai que dou sorte, né?

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Itabaiana: 10 anos. Um perfil de enriquecimento geral.


O automóvel particular é o maior símbolo de poder e de consumo jamais inventado antes. Mas não é só isso: também conta o tipo do automóvel. Nestes tempos de ostentação dos off-roads, um exame, mesmo que superficial sobre a mudança de perfil da frota de transporte particular de Itabaiana é bastante emblemático: a cidade hoje é muito rica e sua frota de caminhonetes não para de crescer.
Com uma história de crônica falta de transportes urbanos, a cidade adaptou muito bem “o cavalo de duas rodas”, substituindo o de quatro patas de até quatro décadas atrás, e o número de motociclos e de ciclomotores explodiu chegando em 2005 com 10.273 veículos, compreendidos entre 8.288 motocicletas e 1.985 motonetas. Entre 2005 e 2010 esses tipos de veículos sofrem forte crescimento de, respectivamente, 53,4 e 68,5 por cento, todavia, no quinquênio seguinte, 2011 a 2015, cai para 37,1 e 23,3, o que evidencia alta melhoria no poder de compra, ao se comparar  os aumentos nos números de outros veículos.

De volta ao mundo dos ricos

Se outrora só podiam possuir um carro pessoas ricas, por motivos óbvios, estamos gradativamente voltando, ironicamente, à mesma situação na atualidade, ao menos no que toca ao uso do automóvel. Com um estratosférico número de crescimento de sua frota de automóveis de 178,7 por cento em apenas dez anos (no país, 116 por cento), de 2005 a 2015, não há, praticamente lugar onde estacionar um carro no centro comercial de Itabaiana. É jogo duro. Exercício de pura sorte encontrar uma vaga. E onde quer que se vá, em que exista concentração de pessoas das classe "C" pra cima, tipo festas ou reuniões sociais já existe a dificuldade de encontrar estacionamentos, mesmo em horários não comerciais. Isso já provoca o nascimento de outro tipo de serviço, qual seja o de estacionamentos rotativos pagos; todavia, torna-se cada vez mais necessário ter um motorista que nos deixe no ponto onde precisamos ficar, e somente retorne ao ser chamado para nos apanhar de volta. Resumindo: vamos voltar aos tempos do motorista particular, porém de forma ampliada. Ou deixar o carro na garagem e ir a pés.
Quanto diferença para a urbe que em 1950 tinha ao todo 59 veículos motorizados.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

UMA TRAGÉDIA SERGIPANA



Mais uma vez causa bastante discussão os números de homicídios ocorridos no estado de Sergipe no ano próximo passado de 2015, levados a público pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e que, com seus 57,3 homicídio por 100 mil habitantes coloca Sergipe como o mais violento estado da Federação, tendo suplantado estados tradicionais, infelizmente, nessa estatística macabra. E isso me levou a rever os dados que venho coletando há mais de 15 anos, focados nos números do Datasus, de desde 1979, que vão aqui publicados.

O Brasil parece não saber conviver com o Estado de Direito.

Constatação primeira: a sociedade brasileira não sabe conviver com o regime pleno de leis, com direitos e deveres. Não sabe, ou não quer, administrar os controles típicos da democracia baseado no sistema de freios e contrapesos. Isso está escancarado quando se observa o comportamento do Estado, pelo que lhe é mais sagrado, que é a manutenção da ordem, ao que os gregos antigos chamavam de eunomia, a boa ordem, dentro do Estado de Direito. Ao se verificar os números, observa-se que, enquanto houve a ameaça da força bruta, típica da ditadura, do “regime forte”, os agentes do Estado não permitiram o avanço do crime; quando se saiu do regime de força, simbolicamente com a saída do último presidente militar, a coisa começou a sair de controle numa espiral sem fim.
Constatação segunda: pobreza e miséria não são responsáveis pela violência. Estas até podem influenciar; porém é a dúvida sobre a punibilidade – e, claro, a certeza da impunibilidade - que leva ao clima do “o mundo é dos mais espertos”; do açodamento da criminalidade. Durante os últimos 30 anos a economia sergipana, na pior das hipóteses seguiu a média nacional, tendo, inclusive, verificado-se sensível redução no crônico movimento de emigração do sergipano, quase sempre para os estados do sudeste do país, entre os censos de 2000 e 2010
Constatação terceira: os números nem sempre são aquilo que parecem. Analisemos: conforme a fria estatística, a pequenina Amparo de São Francisco cravou um índice de violência absurdo de 59 assassinatos por 100 mil habitantes quando em 1980 comparece com um, apenas um caso. É que ali a pequenina urbe sanfranciscana tinha apenas 1704 habitantes, o que dá a estratosférica média acima citada. Em 2004, a mesma cidadezinha volta a ilustrar a estatística com uma média de 43 assassinatos por cem habitantes. Um único caso registrado naquele ano, mas que confrontado com a sua população, agora de 2.331 habitantes, ainda a coloca como teoricamente uma das mais violentas do país. Logo, ao se analisar os números, faz-se mister que observemos várias outras nuances da estatística; e não apenas o número direto. Por isso mesmo também trabalhei com números decenais. Para ilustrar, aqui, a mesma pequenina Amparo com três casos na década 1995-2004 fica numa média de 13 assassinatos por 100 mil habitantes, o que, em números frios ainda está bem além dos 5 por 100 mil preconizados pela Organização Mundial da Saúde como toleráveis; mas bem abaixo do número duro, direto, de 1980.
Surtos de violência, como o ocorrido a Nossa Senhora Aparecida em 2014, quando no município de 8.809 habitantes foram assassinadas onze pessoas, também têm que serem levados em conta ao se fazer a análise dos números frios. Naquele ano, o município nascido de Ribeirópolis, e portanto também filho de Itabaiana em tempos antigos cravou a média 125 assassinatos por 100 mil habitantes. Porém, quando se analisa a média decenal, mesmo adicionados esses números, isso cai para 25 por 100 mil.

Um oásis de tranquilidade

No geral, nas três décadas pesquisadas, o paraíso em Sergipe se chama Canhoba. Na década 1985-1994, a sua mais violenta, o município, que em 1994 tinha aproximadamente 3.774 habitantes (Estimativa do IBGE para o Tribunal de Contas da União), teve três assassinatos com uma média de 8 por 100 mil habitantes/ano. Na década seguinte de 1995-2004, houve apenas um assassinato para uma população que em 2004 era de 4,017 habitantes, e a média caiu para aproximadamente 2 por 100 mil habitantes (os números relativos das tabelas foram arredondados, para mais ou para menos a depender da fração). E na década de 2005-2014, com apenas dois casos de assassinatos, e população em 2014 de aproximadamente 4.057 habitantes (um dos que menos cresceram na década no estado) foi o único entre os 75 municípios sergipanos a se posicionar dentro da média desejável pela Organização Mundial da Saúde, com a média de 5 casos por 100 mil habitantes.

Os infernos

ARACAJU – A capital sergipana tem sido ao longo das últimas três décadas e meia um retrato piorado do estado de Sergipe. Em 1980 já cravava a média de 13 assassinatos por 100 mil habitantes, contra a média de sete de todo o estado, bem além dos cinco preconizados pela OMS. Naquele ano, numericamente, como já visto, o mais violento do estado foi Amparo do São Francisco, todavia, contra as demais quatro então maiores cidades do interior do estado: Itabaiana (com 6), Lagarto(2), Estância(8) e Tobias Barreto(3), Aracaju estava bem além. Em 1994, quatorze anos depois, a capital tinha disparado para 40 assassinatos por cada 100 mil habitantes naquele anos, e, mesmo a média decenal - 1985-1994 - ficando em 19, aumentou para 33 na década seguinte, de 1995-2004, e praticamente se estabilizando, com os 31 em média da década 2005-2014.
CANINDÉ DO SÃO FRANCISCO – Cidade, na prática refundada, a partir da construção da Hidrelétrica de Xingó, e em paralelo o projeto de irrigação Jacaré-Curituba, viu sua população autóctone, de 6.157 habitantes quase quintuplicar nos últimos 35 anos, bem como a quantidade de dinheiro no município, compatível com jardins do sul do país como Gramado, no Rio Grande do Sul, com quem a renda municipal de Canindé se assemelha. Nos seis anos que vão de 1979 a 1984 não houve um só assassinato em Canindé. Média zero de violência. Na década que daí se inicia em diante, de 1985 a 1994, a história já é bem diferente. Cidade de aventureiros, a pacatíssima cidadezinha foi transferida de lugar e terminou a década já como uma das mais violentas no estado, com uma média de 13 assassinatos por 100 mil habitantes. No ano seguinte a espiral continuou com 21 casos a cada 100 mil habitantes; e na década de 2005-2014, cravou 34. O mesmo ocorrendo na outrora pacata Tobias Barreto. Também em Laranjeiras onde a violência que já vinha num crescendo preocupante explodiu em 2014 com a cidade ficando como a terceira mais violenta do estado, com a média de 104 assassinatos a cada 100 mil habitantes (O município todo tinha em 2014, 28.835 habitantes).
ITABAIANA – na últimas três décadas o município seguiu a tendência geral, inclusive ultrapassando o da capital e outros classicamente violentos. De 6 assassinatos a cada 100 mil habitantes em 1980 (tinha 52.601 habitantes) evoluiu para a média de 18 por 100 mil na década 1985-1994, para 28 na década 1995-2004, e para 51 na década 2005-2014, um dos mais violentos municípios de Sergipe
Apresento-vos as tabelas que pacientemente construí. Uma delas, a completamente colorida, com todos os números secos, extraídos da fonte de dados ali citada. Noutra, o estudo detalhado, com a proporcionalidade por três décadas. E por fim a tabela que compreende os primeiros anos do estudo e suas médias referentes ao quinquênio 1980-1984. O ano de 1979 ali está apenas como demonstrativo, mas sem média, já que não nos foi possível ter a previsão de população para aquele ano. 

Estudo sobre o Quinquênio 1979, primeiro ano de registros disponíveis online, e 1984, último ano da Ditadura. (As tabelas estão em formado foto. Para melhor vê-las, baixe-as no seu computador e então as abra.)


Números gerais, de 1979 a 2014

Números de anos chaves e suas relatividades (casos por 100 mil habitantes), referentes aos ditos anos e às décadas subsequentes.



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A CIDADE DA PRATA COMPLETA 341 ANOS

Por estas terras sempre andou a inquietação, o inconformismo com a mediocridade, a busca por melhorias, o espírito empreendedor e por isso mesmo os choques com o status quo de uma sociedade nacional e até estadual, montada pra não progredir; apenas extrair, apenas deleitar-se eternamente com os frutos da terra, como observado pelo padre Pero de Magalhães Gândavo em seu livro, Tratado de Terra do Brasil, publicado em 1575, e lamentado pelo Frei Vicente do Salvador em sua História do Brasil, de 1627. Na Itabaiana, esse modo de ser preguiçoso sempre foi confrontado. E sempre incomodou.
Na terceira e início da quarta década do século XVII, vaqueiros amontoados dentro das serras resolveram por conta própria construir uma igreja que seria o núcleo original de um novo município na capitania de Sergipe, então restrito apenas a São Cristóvão. Não deu certo! Até a Proclamação da República, e, principalmente até o século XVIII, anterior, portanto, qualquer ermida tinha que ser licenciado pelo bispado com consentimento do papa, e, óbvio, pelo rei. Os vaqueiros da Igreja Velha não tiveram nem uma nem outra coisa; em contrário, ao retornar a normalidade pós invasão holandesa, viram-se foi diante do poder do Estado a lhe bitributar, com as cotas de impostos impostas a São Cristóvão, e com a Câmara de Salvador a dividir seu impostos com o gado de Itabaiana numa situação nebulosa de governo que se manteve desde 1590 até 1757, quando a autonomia de Sergipe foi completamente retirada. Como resultado, explodiu a Rebelião dos Curraleiros em 5 de novembro de 1656, com os vaqueiros ocupando a capital, São Cristóvão e prendendo o padre Sebastião Pedroso de Gois, frontal inimigo da capela da Igreja Velha e única autoridade encontrada na cidade naquele dia. À chegada da força legalista e vários proprietários foram presos, alguns deportados para Lisboa, e a vaqueirama, ou debandou ou ficou presa em São Cristóvão. Seriam esses vaqueiros que em um novo levante em 1671 fariam o governador-geral Alexandre de Souza Freire mandar vir um exército de paulistas contratados, boa parte de índios, para expulsar em definitivo os nossos vaqueiros, deixando a terra vazia de gente e gado.

A Prata

Acossado pelo poderio inglês, cada vez maior e mais lhe engolindo o império, o rei de Portugal resolveu reagir.
Em 1672, chegou a Lisboa o oficial Sebastião Lopes Grandio com uma caixa cheia de amostras de prata, supostamente de Itabaiana. A mesma Itabaiana que havia recebido o governador-geral D. Luiz de Souza em 16 de julho de 1619, e o general holandês Van Schopke em julho de 1637, em busca da prata. De imediato, o ainda príncipe-regente, que se tornaria rei com o título de D. Pedro I, o Pacífico, começou a providenciar ultra secretamente uma expedição com destino à Itabaiana. Foi uma operação de guerra, conduzida com todo o cuidado necessário para não despertar a curiosidade de outras nações europeias, afinal, além de se tratar de prata, metal valiosíssimo, a mina supostamente estaria muito próxima dos portos de mar. Devido a isso, junto com o plenipotenciário chefe da expedição, D. Rodrigo de Castelo Branco, veio o capitão Jorge Soares de Macedo à frente de uma tropa de 30 oficiais, e com plenos poderes para convocar qualquer homem em idade de luta, dos residentes no Brasil. E FUNDAR UMA CIDADE EM ITABAIANA, seguindo o modelo espanhol, usado em Potosi, na Bolívia. Seria a segunda cidade de Sergipe, que já tinha a de São Cristóvão, e que de fato nunca assumiu tal condição antes da Independência de Sergipe em relação à Bahia, confirmada em 1823, quando só então passou a realmente ter tropas permanentes.
Foi uma expedição caríssima pelo que ali se ensejava.  D. Rodrigo vinha ganhando de soldo quase quatro vezes o que recebia o capitão-mor de Sergipe, e Jorge Soares Macedo ganhava a metade. À todos, porém, estava garantida a participação em percentuais da prata encontrada e D. Rodrigo de Castelo Branco, sob ordens reais, ainda foi agraciado com prêmios que limparam os cofres da capitania de Sergipe, e tendo garantido grande participação nos frutos da pesca à baleia realizada ao longo da costa brasileira.

A cidade

Não foi possível, ao menos até o momento, uma descrição minuciosa das aventuras da Expedição da Prata nos campos da Itabaiana, porém, sabe-se que D. Rodrigo aqui chegou em 11 de julho de 1673, por aqui permanecendo em incursões até 1676, mas é fato que a prata não foi encontrada e nem Jorge Soares Macedo fundou a cidade como ordenado pelo rei, caso a mesma fosse encontrada. 
Por este tempo, o padre Sebastião Pedroso de Gois, o mesmo que se tinha havido contra os vaqueiros, duas décadas antes, montou a estrutura para construção da futura cidade com a venda de um sítio, supostamente adquirido aos herdeiros de Ayres da Rocha Peixoto, à Irmandade de Santo Antônio e Almas, nos mesmos moldes com que seriam moldadas as vilas e cidades auríferas de Minas Gerais, algumas décadas depois, e a criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas da Itabaiana, em 30 de outubro de 1675. 
Inicialmente não veio a cidade; nem mesmo a vila, o tipo de sede municipal clássica daqueles tempos, e que perdurou até praticamente a Constituição de 1937, ditada pelo Estado Novo. A própria paróquia em si, bem como a Irmandade das Almas que a secundou desde então, constituiu-se em entidade, porém sem um prédio, uma igreja que lhe servisse de sede. Há suspeitas de que mesmo nunca tendo sido reconhecida pela Igreja Católica, a Igreja Velha continuou por algum tempo servindo para os raros cultos, como era comum naqueles tempos devido à falta de padres. A tabela de párocos da dita Paróquia de Santo Antônio e Almas os lista a partir do padre Salvador da Costa Duarte, este, porém, bem como seu sucessor, Gregório Martins Carneiro, o histórico da mesma lhes não traz as datas de exercício.
D. Rodrigo de Castelo Branco, Jorge Soares de Macedo e seus comandados foram embora de Sergipe em 1679, sem prata e sem deixar cidade ou vila no agora sítio da Irmandade das Almas. Em 1695, três anos depois dos rumores de ouro em Minas Gerais, um não identificado padre encontrou ouro nas encostas da Serra Comprida, conforme carta do rei, de 9 de julho de 1703, obviamente proibida e esquecida por ordens reais, mas, também por ordens reais, um ano depois veio a carta de 5 de setembro de 1696, a ordenar ao governador-geral D. João de Lencastro que fundasse vilas, ou seja municípios, dentre os quais, o de Santo Antônio de Itabaiana; e em 20 de outubro de 1697, o dito governador-geral ordenou ao ouvidor Diogo Pacheco de Carvalho, nomeado por alvará régio de 16 de fevereiro do mesmo ano, para que assim que recebesse a missiva viesse criar o município com o estabelecimento de sua vila. Vinte e um anos depois da fundação da Paróquia, fato que teve lugar em alguma data de 1697, talvez até no mesmo dia da fundação da povoação e no qual sua paróquia aniversariou: 30 de outubro; contudo, essa data até hoje não foi confirmada. Em 16 de junho de 1700, as primeiras nomeações de autoridades municipais confirmaram a emancipação de Itabaiana: o primeiro alcaide, hoje cargo de prefeito; primeiro escrivão da Câmara de Vereadores, tabeliães, etc.. Quanto ao status de cidade, isso só viria em 28 de agosto de 1888, pegando carona num projeto do município de Capela, e por interesses poucos nobres: forçar a promoção de dois funcionários irmãos do deputado itabaianense que conseguiu negociar tal proeza.

Uma mesma história, caminhos diferentes.

Como a hoje maior cidade do país, a cidade de Itabaiana foi fundada à sombra da cruz. As semelhanças, contudo, param por aí. São Paulo conseguiu sua emancipação de São Vicente quatro anos depois, quando se tornou vila de São Paulo; Itabaiana, somente vinte e dois anos depois. São Paulo virou capital da capitania, ainda como vila, em 1669; Itabaiana abrigou capitães-mores, é bem verdade; mas, à época, sequer já tinha sido emancipada de São Cristóvão. São Paulo ganhou o status de cidade em 1711, no rastro da riqueza produzida pelo ouro; Itabaiana ganhou o status de cidade pelos nada nobres motivos acima citados, e somente em 1888. De qualquer modo, a data de 30 de outubro é a data magna de nossa história.

Parabéns, cidade de Itabaiana, pelos 341 anos de fundação!

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Mudanças no horizonte.


Não se trata de mudanças abruptas, nem perempção das antigas num estalar de dedos, não; é um processo natural que vem ocorrendo desde pelo menos uma década e meia: a entrada de novas lideranças políticas no cenário itabaianense e o processo de desgaste e lento ocaso das existentes.
A família Teles de Mendonça é a primeira na história de Itabaiana em que o chefe da família faz sucessores, que vão além do seu desaparecimento. Francisco Teles de Mendonça, o Chico de Miguel, faleceu em 2007, e, desde então, sua filha Maria Vieira Mendonça foi eleita e reeleita deputada estadual, retornando à Assembleia Legislativa onde já estivera desde que o seu pai dali se desligou, em 1990. O mesmo parece estar sendo difícil ao ex-prefeito e atual deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Luciano Bispo de Lima que ontem viu seu irmão e braço direito, Roberto Bispo de Lima amargar a maior derrota proporcional de toda a história eleitoral de Itabaiana. Todavia, ambos têm algo em comum: suas prováveis sucessões.
Na primeira metade da década de 1980, a então diretora do Colégio Estadual Murilo Braga, Maria Vieira Mendonça não mediu esforços no sentido de estimular um garotão meio tímido, meio avançado, e muito esperto, filho de um eleitor tradicional à liderança estudantil dentro daquela instituição. Dali já surgira alguns líderes efêmeros, como foi o caso do jovem emedebista Pedro Germano de Oliveira, o popular Pedro Langanho, depois o professor João Alves dos Santos, o João Patola, e o aluno e também liderança popular, José Wilson da Cunha, o Gia. Valmir dos Santos Costa, o nome do garoto prodígio de Maria Mendonça, que se manteve amadurecendo dentro do Murilo Braga, mesmo bem depois da saída de Maria Mendonça em 1984, não fez feio: em 1988, na eleição em que seu grupo perdeu um controle político de 40 anos sobre o município, Valmir foi eleito com uma das melhores votações para a Câmara de Vereadores, tornando-se ali um dos mais jovens a chegar àquela casa. Em 1996, sacrificou a reeleição pro seu mandato líquido e certo ao formar com sua vice-prefeita eleita no último dois de outubro, Maria do Carmo Mendonça Andrade. Coincidentemente, os dois, com papeis invertidos, ela candidata a prefeita, ele a vice, tomaram a então maior goleada de votos numa eleição em Itabaiana, aplicada pelo candidato que então retornava, Luciano Bispo de Lima. Em 2000 Valmir retornou á Câmara de Vereadores; novamente em 2.004, 2.008 e, em 2.012, surpreendentemente, Valmir foi candidato e eleito prefeito de Itabaiana, rompendo uma tradição de que vereadores com mais de um mandato, jamais foram eleitos prefeitos, e até no tempo da Intendência, poucos foram os intendentes que à ela chegaram, contando com mais de uma legislatura na Câmara Municipal.
Há dez anos, numa virada histórica, a deputada Maria Vieira Mendonça venceu o pleito para a prefeitura municipal de Itabaiana, uma eleição histórica porque, além de quebrar a sucessão de vitórias obtidas pela ala de Luciano Bispo desde 1988, ela foi a primeira mulher a sentar na cadeira de João da Costa Feyo, o primeiro alcaide do então novíssimo município de Itabaiana, instalado três anos antes, mas que só teve seu administrador nomeado por Lisboa em 16 de junho de 1700. A eleição de Maria recuperou a autoestima dos chiquistas, em frangalhos desde 1988, e principalmente com as sucessivas derrotas impostas pela máquina lucianista da década de 90. No teatro político, muitos dos chiquistas históricos, por si, ou por seus filhos e até netos, mas também vieram personagens que não se apresentaram antes com tanta veemência, dois deles essenciais para a virada num momento completamente atípico, já que além da máquina lucianista continuar como dantes, o mesmo estava num segundo mandato de prefeito, de posse da máquina municipal, e aliadíssimo ao governador de Estado da época, o atual prefeito de Aracaju e não reeleito, nesse último dia dois, João Alves Filho, e que foi o período em que a arrogância do lucianismo chegou à estratosfera. Seus nomes? Edvan Amorim (à esq. e à dir., fotos centrais), ex-genro do mesmo João Alves Filho e já transformado em potência política no estado de Sergipe, e José Mota, o Nem de Tonho de Glória (à esq., e de camisa vermelha, foto maior).
Terminada a eleição de 2004, Nem foi deixado de lado e isso foi suficiente para se aproximar de Luciano Bispo, participando da virada de 2008, com o próprio Luciano Bispo de candidato cabeça. Mais desentendimentos, agora com Luciano Bispo, e Nem retorna ao centro chiquista, agora para a eleição contra a nova reeleição de Luciano (iria pro quinto mandato), na mesma formação de 2004, em 2012. Nova vitória. Valmir vitorioso (vide a foto maior, de ambos) e Nem emplacou seu primeiro membro da própria família na política: seu filho John David Torres Mota, eleito vereador, que, obviamente, já foi direto para a Mesa Diretora onde ainda se encontra até o próximo dia 31 de dezembro, quando se encerrará o seu mandato, e obviamente seu cargo de secretário da Mesa Diretora da 47ª mais antiga casa legislativa do país. 
A candidatura de David a vice prefeito na chapa de Roberto Bispo guarda dois aspectos importantes na política itabaianense. O primeiro é que seu pai, Nem, não entrou na política desde 2004 para brincar: a coisa é pra valer! O segundo é que seu posicionamento agora, não mais como vereador, mas como vice, traz uma sinalização mais que óbvia e comum a praticamente todos os candidatos a vice que é o fato de serem os financiadores-mores das campanhas. Em Itabaiana, desde que foi instituído o cargo de vice, nas eleições de 1966, e levando em conta somente os eleitos, houve os casos de Josias Nunes, João de Deus Souza (chapa puro sangue com João Germano da Trindade, de cabeça), Luiz Carlos Andrade, José Araújo Tavares e, eleita ontem, Carminha Mendonça só. Nestes casos, os candidatos a vice entraram apenas com o nome ou serviços pessoais, como o caso do militante João de Deus ou do médico Luiz Carlos. Todos os demais entraram com algo a mais.

Depois de 1º de janeiro de 2017

A cena da foto maior, provavelmente, jamais se repetirá.
Valmir dos Santos Costa, o Valmir de Francisquinho, com a esmagadora vitória de ontem, dia 02 deste outubro do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2016, consolida algo que estava preocupante: um sucessor de Chico de Miguel, em definitivo, que não somente se reafirma como o cimento entre os dois irmãos, José e Maria Mendonça, nenhum dos dois até agora assumindo essa importante função. Uma transição de poder mais que harmoniosa, ressalve-se, e, se for sábio, daqui a dois anos deixará a batuta para que Carminha Mendonça termine o mandato, elegendo-se folgadamente a deputado estadual. Para isso, claro, terá que haver grande negociação com a deputada Maria Mendonça e seu irmão, José Teles de Mendonça, este com três mandatos de estadual e três de federal, mas que poderá propugnar pelo retorno ao exercício de cargos eletivos. Também Valmir pode pensar no plano federal. De qualquer modo, a sobrevivência do esplendor eleitoral que se viu ontem, dois de outubro, depende desse xadrez; e a sobrevivência da liderança de Valmir, depende de seu desapego ao cargo de prefeito, visão que faltou a Luciano Bispo já em 2002, e seu ingresso em esfera maior de poder. Aqui também depende das arrumações dos irmãos Edvan e Eduardo Amorim, obviamente, que têm sido um esteio dessa retomada do velho udenismo-chiquismo.
Quanto ao José Mota, o Nem, sai dessa eleição também com liderança política consolidada, mesmo seu filho tendo perdido a chance de ser vice-prefeito. É o que se chama por aqui a “terceira força”, que de fato não existe. Aqui só existe lugar para o primeiro e o obrigatório segundo; logo a situação é mais complicada. Vai ter de lutar objetivando o primeiro pra no mínimo ficar em segundo, como tem sido na história política itabaianense. Uma espécie de penetra, que todos querem como apoio na eleição, mas dele têm medo no pós esta, dificilmente se ajeitará nas hostes lucianistas, cujo líder, Luciano Bispo, sai dessa eleição chamuscado, mas não torrado; imprestável. Além do cacife mínimo de uma oposição em Itabaiana, com um capital seguro de 35 por cento dos votos, pouco importando os nomes postos, conta com a máquina do Governo do Estado, emperrada, quase parando, mas... máquina.
O xadrez da política itabaianense, doravante, será jogado, máxime, pelos três personagens: Valmir, escudado por Maria Mendonça, José Teles(último foto à direita) e Edvan Amorim; Luciano Bispo, (última foto à esquerda) escudado pelo atual governador Jackson Barreto de Lima; e José Mota, o Nem de Tonho de Glória, que por hora é sozinho. 
A conferir, num futuro próximo, quando vierem as eleições gerais de 2018.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Hoje, 25 de agosto, é dia do feirante.







É uma data que não podia passar em branco em Itabaiana! De modo algum.
Infelizmente, acho que pouca gente se lembra. Além de ter sido escola de noventa por cento do nosso empresariado: do pequeno lojista aos maiores varejistas do país como os irmãos Mamede e Pedro Paes Mendonça, Gentil e Noel Barbosa. Foi na feira, pois, que nasceram três das maiores redes varejistas do país ao fim do século passado, com DNA itabaianense: Paes Mendonça e Bom Preço do povoado Serra do Machado, hoje no município filho de Ribeirópolis; e G. Barbosa da região de Candeias, hoje no município filho de Moita Bonita, pelas mãos destes. Mesmo tendo começado no balcão do tio, Antônio Dultra de Almeida, mas foi na feira que Oviedo Teixeira teve seu batismo de fogo. Foram as feiras espontâneas de a partir do fim do século XVIII, como a do sítio Laranjeiras, hoje já uma cidade histórica, que serviu de local de ganhar dinheiro para a montanha de agricultores pobres da então grande Itabaiana que englobava os outros 15 municípios dela gerados.
O comércio era uma atividade menosprezada, estigmatizada e até combatida, a depender da época, lugar e status social prévio de seu praticante. Era nobre e abençoado por Deus ter uma montanha de escravos animalizados e sob a chibata a produzir a riqueza para tão poucos; mas era feio, desprezível, asqueroso, criminoso até, se ganhar dinheiro honestamente numa intrincada negociação onde se tem de fazer das tripas coração para convencer o cliente a pagar pelo que pedimos. Uma arte em todo o seu esplendor. Assim nasceu o comércio de feira em Sergipe, como de resto em todo o Brasil. Com o tempo, nichos comerciais “com privilégios reais”, como o das carnes, farinha, tabaco e outras drogas, enfim, material de guerra ou de primeira necessidade passaram a ser tolerados; em que pese monitorados para que marginalizados como judeus, ciganos e povão em geral nele não tivessem acesso. Mas feirantes sempre foram marginalizados por estarem fora desses controles. Foi daí, contudo, que a economia se desenvolveu. No estado de Sergipe constam duas feiras criadas oficialmente, até a República: São Cristóvão, então capital, em 05 de julho de 1835; e Aracaju, vinte anos depois quando surgiu a nova capital. Em todas elas, incluindo as espontâneas estavam itabaianenses. Em algumas, suspeitosamente tendo sido seus criadores como apontam as evidências sobre o caso de Laranjeiras e Riachuelo.
Parabéns aos feirantes nas pessoas dos amigos comerciantes que nas feiras fizeram seus cursos... tiveram ali suas faculdades de economia.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Analogias.

Pasmo aqui com mais um ato de desmanche do país promovido pela sua “elite”, ora de muita visibilidade na justiça e na indústria de opinião, com a prisão de um ícone da Defesa Pátria, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, voltou-me à mente certos devaneios que nunca me deixam.
Fugindo dos temíveis assírios, os fenícios fundaram o império cartaginês; como a Fenícia, um estado fundeado na negociação, onde a guerra sempre foi o último recurso, até mesmo porque o nacionalismo cartaginês não passou de apegos individualistas de cada um a seus lucros.
Fugindo da traição dos gregos que lhes incendiaram a cidade, por onde extorquia todos que ali passassem, gregos inclusive, os deserdados de Troia construíram Roma. Que se tornou o mais longevo, o maior, o mais forte e poderoso Estado até existente. Os romanos inovaram, criando a inclusão social e a divisão de poder, cujos espasmos de tensão eram dissipados derramando sangue alheio em terras distantes, pela glória do Senatus Populus Que Romanus, que ainda hoje é o espírito de Roma, camuflado nos dois estados que por ali subsistem e coexistem.
E eis que chegou a hora da verdade: Roma e Cartago, como era de se esperar bateram de frente. E a Roma republicana, calcada na agricultura, comércio e guerra arrasou para sempre com a Cartago individualista, sem nacionalismo íntegro, calcada no comércio tendo a agricultura como mero suporte a este, e nada de guerra.
Pano rápido!
Fugindo da exponencial máquina de guerra de Castela, financiada com o dinheiro dos latrocínios a judeus, quase sempre queimados, os portugueses, que em 1249 chegaram ao máximo que queriam em termos de território, com a conquista do Algarve, ao também se verem ameaçados tal qual os reinos menores da península que Castela os engoliu, repetiram os fenícios e puseram o pé na estrada. Aliás, nas águas. Os fenícios haviam se notabilizado por serem marinheiros do mar azul, ou seja, alto mar, porém quase restrito ao Mediterrâneo; os portugueses levaram isso a capricho conquistando-os a todos. E, meio sem querer vieram aportar no Brasil. Como os fenícios trouxeram com eles os judeus de Salomão, dois mil anos depois. Aqui foi fundado um país que até hoje não tem certeza de sê-lo. A elite é de espírito puramente colonial, mais desobrigada com o país que aqueles egoístas comerciantes cartagineses, e o povo a inveja e sonha ser exatamente como ela. Neste meio, alguns Aníbal Barca da vida se levantam de vez em quando e, conquanto sequer ouse desafiar Roma, muito menos a afligir como o fez o grande geral de Cartago, leva o Império que, como todo Império é zeloso pelo seu poder a sempre estar de olho, e agir com todas as armas que possui contra “os perturbadores da ordem”.
Fugindo da extorsão de senhores feudais, aliado a cerceamento de liberdades, dentre as quais as religiosas, comunidades paupérrimas das ilhas britânicas atravessaram o Atlântico pra fundarem um país diferente; romper com o passado, tal qual aqueles troianos expulsos pelos gregos. E fundaram o maior império de todos os tempos, superando Roma em todos os quesitos, inclusive na matança de estrangeiros em terras estrangeiras, além do cultivo de certos esportes que diria, cruéis. Recriaram a inclusão conforme Roma: “cresça e apareça!”, recriaram a democracia, mais para os moldes gregos, com cidadãos plenos e escravos sem plenitude, e criaram uma máquina de guerra assustadora porque capaz de eliminar boa parte da vida na Terra. Sistema político tão instável quanto o romano, tem necessidade imperiosa de estar em guerra pra desviar os focos domésticos de tensão, e nos últimos cento e cinquenta anos, poucas vezes não esteve em Estado de Guerra.
E eis que me vi certa noite, uns cinco ou seis anos atrás tomado de súbito pavor. E se o país, a despeito de sua trevosa elite chegasse ao estágio de potência? Como se comportaria “Roma”? Queimaria Cartago novamente, salgando-lhe simbolicamente o solo? Deportaria-nos como escravos para longínquas províncias? A Índia, mais uma vez, não interessa à “Roma” dominá-la; pelo mesmo modo também a China, e a questão com a Rússia mais parece ser uma birra dos comerciantes judeus, máxime de certa tribo adotiva do que propriamente uma necessidade de “Roma” como um todo. Mas “Cartago” e sua elite hiperindividualista, em larga parte canalha, já tornada colônia há tempos, a essa é imperdoável qualquer naco de insurreição. Como se comportaria “Roma” ao saber-nos dotados de relativa e real capacidade de defesa? Como se sentiria vendo-nos encaminharmos para quinta, quarta, talvez até terceira potência mundial?
Minha solidariedade ao almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva por não ser mais um rato.
Eu não suporto ratos!

quinta-feira, 28 de julho de 2016

E o Dragão do Mar reapareceu

Consegui! Terminei de ler mais um livro da pequena lista de 45, ou melhor de agora 44, de relativa obrigatoriedade de leitura que até aqui tenho. Ou porque, além do conteúdo, a mim doados por pessoas de minha profunda atenção, ou porque, mesmo não tendo essa origem, uma necessidade na minha busca por entender a vida, que somente se bem faz analisando a História em toda a sua grandeza. No caso em particular, tudo junto.
O livro em questão é TODO O LEME A BOMBORDO, com subtítulo MARINHEIROS E DITADURA CIVIL-MILITAR NO BRASIL. DA REBELIÃO DE 1964 À ANISTIA. Um grande trabalho em monografia do amigo e confrade, professor Anderson da Silva Almeida, transposto para um livro pelo projeto do Arquivo Nacional, intitulado Prêmio de Pesquisas Memórias Reveladas, um belo passeio por um tema geralmente tratado superficialmente dado a pouca importância do mesmo pelos que decidem a nação.
Uma descrição detalhada e centrada naqueles que chegam a ser acusados de provocadores do Golpe de 1964, conquanto não avance na temática da geopolítica, à qual o marcante acontecimento está ligado, traz, contudo nas entrelinhas ou explicitamente toda a dramaticidade de um momento que ficou para sempre na construção desta nossa nação. Um passeio na História. Desde a revelação de um Brizola como um líder revolucionário, a momentos cândidos de um pranto sincero de uma figura doce e tão gentil como a atriz Bete Mendes, então deputada federal, e uma das vítimas do Regime de 64, engajada na luta que se seguiu à Abertura por reparação às violências sofridas por um monte de injustiçados pela Anistia.  Também um belo momento, dignificante, quando ele traz o relato de gente como o grande Mario Lago se cotizando para levantar fundos no sentido de ajudar aos buscadores de justiça e lhes financiar custosas viagens.
O Brasil profundo aqui aparece com a revelação de homens submetidos aos ditames da caserna, às procelas da vida no mar e em terra, mesmo sendo inconscientes herdeiros das vicissitudes pelas quais passaram centenas de milhares deles que os antecederam, desde que a então poderosa frota portuguesa aportou por estas praias. O Anderson não vai até os dramáticos recrutamentos de portugueses pobres para Real Marinha, e, séculos depois, de índios e marginalizados em geral, aprisionados para o serviço nas galés; mas deixa bastante claro que a maioria daqueles que foram punidos em 1964 “por terem se deixado induzir numa manobra política” (minha visão pessoal) em participar, nos dramáticos acontecimentos daquele ano, de fato estavam fugindo da fome e da miséria; da falta de perspectivas. As evidências pra mim são claríssimas que a sobrevivência da nossa Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, máxime é devido à facilidade de engajamento numa das duas forças militares até meados do século passado, Marinha ou Exército (no mínimo Polícia) para os que detinham o conhecimento musical, como se observa no caso do grande Luiz Americano Rego, um ícone da Música Popular Brasileira. A Marinha, pois, era um modo de fugir de um mundo predestinado à miséria. A Marinha era, pois, uma forma de inclusão social. Apesar de ser altamente classicista, com uma divisão muito bem nítida entre nobres e plebeus, fato também explorado pelo historiador na obra em tela.
A leitura é riquíssima, especialmente, reforço, porque se trata de um tema bastante conhecido, mas nunca aprofundado conforme seus maiores interessados: os marinheiros vítimas de injustiça. Parabéns ao Anderson pela excelente pesquisa e brilhante explanação.
Encantado!

terça-feira, 19 de abril de 2016

Dez anos de histórias contadas

Completo hoje, um projeto imaginado há dez anos, com a publicação on line de toda a coleção de documentários sobre a História de minha cidade que produzi. Em cinco capítulos, com cinco temas diferenciados, porém entrelaçados, um modo de contar a bela história da minha terra, suponho eu, de forma menos cansativa.
O projeto nasceu logo depois das eleições de 2004, quando então fui candidato a vereador, única e exclusivamente com a intenção de espalhar o resumo de todas as pesquisas que até então fizera, para todas as pessoas em minha cidade, e não apenas aos doutos; geralmente limitados por conveniências mercadológicas e acadêmicas, e até preconceitos. Não fui eleito, obviamente, mas os frutos daquela estratégia ainda hoje estão sendo colhidos, e melhor: não somente por mim.
Originalmente, sem recursos pra contratar profissionais e material, vali-me de extratos de vídeos, fotografias, gráficos e desenhos, e, exceto aos vídeos, parte deles por mim próprio produzidos artesanalmente. Tudo aqui é artesanal; logo, não esperem, pois, muita qualidade artística e gráfica. Arriscaria a dizer, contudo, que a qualidade informativa foi a melhor que pude obter, e que tudo está lastreado em documentos, quase sempre fontes primárias.
Ao produzir o primeiro deles, intitulado HISTÓRIAS DOS TEMPOS DOS VAQUEIROS, minha intenção era publicar no nascente Youtube, o que foi feito, todavia me senti da obrigação de realizar uma cópia em disco, DVD, para o meu amigo e colaborador, professor José Taurino Duarte. Taurino me convenceu que poderíamos fazer uma excelente distribuição, inclusive cobrando pela cópia como forma de financiar todo o projeto. Inicialmente relutei, mas, como disse, convenci-me. Foram distribuídas por volta de 1.300 cópias. Se foram vistas, não sei; mas no meu controle, nestes dez anos, foi esse o número daquela primeira cópia. 
O projeto era publicar todos os cinco episódios em 2007, porém, só em 2008 é mais dois volumes: o segundo e o terceiro. E ai veio o problema de orçamento e de logística: pra fazer os dois últimos era imperativo que eu colhesse material bem além de Itabaiana, o que somente pude fazer em 2011, numa viagem que fiz até a Baixada Santista, circulando pelos caminhos trilhados pelo nosso povo, seja no êxodo para o sul do país; seja em suas viagens comerciais, a levar produtos locais e trazer outros de lá. Em 2013, finalmente saiu o quarto e, em fins de 2014, o quinto e último. Somente agora, contudo, é que consegui publicá-los como originalmente pensado, para que fique disponível a qualquer pessoa no mundo.
Há muitas pessoas a quem quero agradecer pela ajuda na execução desse projeto, contudo, vou me limitar aqui apenas a dois, que foram fundamentalíssimos: o sobre dito professor José Taurino Duarte, estimulador e distribuidor da reprodução em cópia física, e um cliente mui especial que, ao adquirir um exemplar do primeiro volume, e promover sessões de assistência em pleno Palácio do Governo, foi fundamental para que essa ideia ganhasse a devida credibilidade. Meu muitíssimo obrigado ao saudoso companheiro governador Marcelo Déda Chagas pela ajuda completamente desprovida de intenções prévias. Do melhor tipo que há. 
E é em sua memória que dedico aqui toda esta coleção, agora disponível para o mundo.

Itabaiana, 19 de abril de 2016.

José de Almeida Bispo
Publicitário, radialista, pesquisador, documentarista
Membro da Academia Itabaianense de Letras, cadeira 27, patronesse Maria Thétis Nunes.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Civilidade! Civilidade!

No último fim de semana o GoogleEarth atualizou a fotografia por satélite do sítio urbano de Itabaiana com a fotografia encomendada em abril pela Ethos Incorporadora. É assustador o crescimento; o espraiamento da cidade: quase vinte por cento, contando com os loteamentos semi ou totalmente construídos, em apenas dez anos. Outra constatação: a planta da cidade perdeu o formato triangular que perdurava desde a década de 50, quando iniciou-se sua fase de maciça expansão, depois de dois séculos e meio de estagnação.
A outra constatação é que... nossa laje de concreto continua a se expandir: as quadras da cidade de Itabaiana tem muito menos verde que as da capital do estado, Aracaju; ou de outros sítios urbanos sergipanos menores, como Estância e Lagarto. Como resultado? Calor abrasador. A cidade não dispõe - ao menos que seja do meu conhecimento - de um estudo sobre variação de temperatura; mas, com segurança, vem se tornando sufocantemente mais quente, com a crônica falta de verde no espaço público e o fim dos grandes quintais cheios de fruteiras de até vinte e cinco anos atrás. Pra piorar, todo mundo corre pro ar condicionado, que, resfria o ambiente imediato, mas sob o custo de gastos e custos estratosféricos de energia elétrica e adição de mais calor ao ar que circula pela cidade.

Aqui, o comparativo, entre 2006 e hoje, 03/02/2016.


E aqui, o comparativo entre quatro cidades: Itabaiana, Lagarto, que, apesar da cidade ter um um sítio urbano de metade de Itabaiana (o município inteiro é três vezes maior e pouco mais populoso), é a cidade do interior que mais se assemelha a Itabaiana; Aracaju, capital de Sergipe e São Paulo, a maior cidade da América do Sul e uma das maiores do mundo.
Os quadriláteros medem respectivamente mil por mil metros de sítio urbano e, por eles, se vê que São Paulo, A SELVA DE CONCRETO, tem muito mais verde do Aracaju, que tem mais do que Lagarto, que tem bem mais do que Itabaiana. Pior: como o sítio urbano de Lagarto tem metade do tamanho do de Itabaiana, as consequências da impermeabilização se faz faz sentir bem amena; ao nível do que era Itabaiana há justos 25 anos.
Imagens de Itabaiana gentilmente cedidas por Edson Passos, mediante Milton Sobral (2006) e Robério Santos (2015). De Lagarto, Aracaju e São Paulo, diretamente do GoogleEarth.



(Título retirado dos lamentos em pregação do pároco Domingos de Melo Rezende, que do púlpito da Matriz de Santo Antônio e Almas protestava, à sua maneira, em fins de 1888, contra a esperteza do deputado provincial Guilhermino Bezerra, de conseguir mudar o status da sede municipal, de Vila de Itabaiana para Cidade de Itabaiana, apenas no intuito de elevar os salários de seus dois parentes professores).