sábado, 1 de dezembro de 2018

PERDEMOS PEDRINHO DOS SANTOS

Pedrinho dos Santos, ao meu lado, de camisa amarelo ouro, e junto com os confrades, Vladimir Souza Carvalho, presidente da Academia Itabaianense de Letras, primeiro à esquerda, e Antônio Francisco de Jesus,  vice presidente, em 5 de novembro de 2014, durante a minha recepção na mesma Academia,


Faleceu hoje o grande amigo, o historiador e bibliotecário, Pedrinho dos Santos. Pedrinho era daquelas pessoas de quem a gente lamenta ter passado tanto tempo sem conhecer; e quando conhece passa a lamentar o pouco tempo que se passa com ela, tal o nível de amizade pura, afabilidade e a quantidade e qualidade de conhecimentos que passa numa simples, trivial conversa, regada aos cafezinhos, com que costumava nos receber em sua sala do espaço sagrado da Biblioteca Epifânio Dórea. Só resta lamentar. Ao mesmo tempo agradecer a sua presença profícua entre nós e sua enorme contribuição dada à cultura sergipana, como um todo, e à historiografia sergipana, em particular.
Que o Alto, em sua Glória o receba, meu amigo! 

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A patinha feia


A ESTRADA "CAMINHO DE SERTÃO DO MEIO,desde 1590


O império espanhol, quando em domínio do Brasil, julgou estrategicamente de suma importância o CAMINHO DO SERTÃO DO MEIO[1].Que sobreviveu até metade do século XVIII[2].
O Império português, ao ser restaurada a Coroa portuguesa, e conseqüente domínio sobre o Brasil, fê-lo principal, a ponto de durante a Rebelião dos Curraleiros ser o caminho preferencial da então capital da Colônia, Salvador, para chegar a região conflagrada da Itabaiana, então município de São Cristóvão, também capital da capitania.
O Império do Brasil, no Segundo Reinado, tal a sua importância estratégica esteve a ponto de reativá-lo, construindo a primeira ferrovia de Sergipe sobre ela (vide reprodução de Decreto anexo). Que não passou das intenções.
O Governo Militar de Geisel projetou, e fez a primeira parte - Tobias Barreto a Lagarto - o de João Figueiredo executou a continuação entre Itabaiana e Riachuelo (e não pelo Alecrim. de Malha dor; Santa Rosa de Lima e o povoado Bomfim, de Divina Pastora e própria),  através do Governo de Sergipe, à época, Augusto Franco, que além de governador era presidente nacional do partido do Presidente da República, o PDS, uma obra mais modesta: UMA PISTA DE ASFALTO REGULAR, sem acostamento, sinalização precária, uma gambiarra, boa para 1980, mas vencido dez anos depois, e agora, 38 anos, com movimento intenso e perigo decuplicado.
Seria a via do desenvolvimento de Sergipe; desde que apareça algum estadista para dar-lhe a devida importância estratégica. Quem sabe, um dia, né?
Por enquanto permanece a patinha feia: a "estrada de interior", com pavimentação asfáltica, com mais remendos e buracos que asfalto regular, à espera que o povo - que decide Sergipe - que só conhece Aracaju (mais ou menos) e o Aeroporto Santa Maria, resolvam contrariar Frei Vicente do Salvador (História do Brasil escrita na Bahia em 1627):
"Da largura que a terra do Brasil tem para o sertão não trato, porque até agora não houve quem a andasse, por negligência dos portugueses que, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos."

P. S.: O detalhe interessante é que, interagindo com uma BR, em território da Bahia e outras estaduais daquele estado, a via pode nos levar, de modo muito mais fácil à capital da República. Não custa sonhar.

[1] CONSULTA do Conselho Ultramarino sobre o estado das missões do certão da Bahia e informando acerca dos remedios apresentados para evitar os damnos provenientes da falta de parochos e missionarios. Lisboa, 18 de dezembro de 1698. Anais da BN-Rio, vol. 31, p.21, Rio de Janeiro, 1909.
[2] Alvará com força de lei, ordenando que a liberdade, que se havia concedida aos índios do Maranhão para as suas pessoas, bens e comércio pelos alvarás de 6 e 7 de junho de 1755, se estendesse na mesma forma aos índios, que habitavam em todo o continente do Brasil, sem restrição, interpretação ou modificação alguma, na forma que no mesmo alvará se declara. Belém, 8 de maio de 1758 Imp. (Anexo ao nº 3629). 3633. Anais da BN-Rio, vol. 31, p.297, Rio de Janeiro, 1909.
N. A.: As missões jesuíticas em Sergipe eram: Jaboatão, Tejupeba, Tomar do Geru, e Palmares, esta às margens da grande estrada Caminho do Sertão do Meio, hoje município de Tobias Barreto.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Voltando à velha escola.



 Ela hoje é relativamente grande, pelo menos muito maior; várias turmas, tem até uma academia, a Academia Serrana de Jovens escritores. Não tem mais a pedra, a palmatória e régua, a primeira de há muito substituída por instalações sanitárias, masculinas e femininas; e as últimas, jogadas na lata do lixo, peças dos tempos do carrancismo. São dezenas de funcionários, entre professores, zeladores, etc., tudo é diferente daquele fevereiro de 1968, quando tendo ela migrado, no fim do ano pretérito, de particular para municipal, passei da alfabetização ao Primeiro Ano do Primário, sentado em carteiras “com gavetas”, apesar de coletivas, para cinco a sete crianças; e não mais escrevendo com o caderno apoiado na própria perna, porque sentado em tamboretes, bancos simples de madeira... e até na namoradeira da casa da professora. Passou-me um filme na cabeça, ao olhar a minha esquerda um pequeno grupo de garotos e garotas de menos de sete anos, justo na faixa etária com que comecei minha caminhada. E a ali estava eu, não o coroa de 59, mas o infante de seis pra sete anos, vivendo cada cantiga de roda, cada lance de bola no recreio, simbolicamente num campo que jaz sob a moderna quadra de esportes onde se deu evento; cada dia de brincadeiras no retorno pra casa, cada nota de vialexo de Dete de Josa, bem mais taludo que eu e que não se apartava do instrumento. E das quatro horas de aula com os 30 minutos intermediários do recreio.
Foi um bonito encerramento da “X Semana Literária”, dentro do Projeto Vivenciando o Saber”, com declamação de poema, apresentação de números artísticos, falas rápidas e variadas – no meu caso, fiz a apresentação formal do conjunto de banners com a história de Itabaiana em imagens, legendadas, naturalmente - entrega de moções, e aí a minha surpresa: recebi uma placa, em agradecimento – não sei se o que fiz vale tanto – e pelo fato de ser aluno fundador da escola.
Em tempo: num aspecto, a escola não mudou. O mesmo denodo com que a minha professora primária fez-me atravessar os cinco anos regulares que ali passei, tem as atuais, a partir da direção, em manter a tropa atual em forma, centrada, com espírito humilde, mas de atitude vencedora. Alegre e confiante.
É bom recordar.

domingo, 28 de outubro de 2018

Mais um desastre brasileiro?

Desenha-se a partir de hoje mais um desastre político-social, queira Deus que não muito pior que de 1967-1976, que culminou com a selvagem e covarde execução de Vladimir Herzog nas masmorras do Doi-Codi da velha amedrontada – e por isso tão reacionária - São Paulo, em 25 de outubro de 1975. Foi preciso uma conjunção de fatos e fatores para que o general-presidente Ernesto Geisel tivesse pulso para, por um lado fechar o Congresso, e reendurecer temporariamente o regime, mas por outro, sair um pouquinho de debaixo das asas do Departamento de Estado americano, voltar aos investimentos nacionais em estrutura e estratégia, estabelecer um programa de “abertura lenta, gradual e segura”, não depois de mostrar ao “capo” do país, Roberto Marinho, senhor da Globo, e por ela do “pensamento” de 80 por cento dos brasileiros, sobre quem agora estava no comando da nação.
“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formou um público tão vil como ela mesma”, para usar integralmente as palavras de um ícone do jornalismo e pensador, Joseph Pulitzer. De repente nos vemos perigosamente mergulhados num protofascismo, irracional, como lhe é próprio, com um “inimigo” totalmente identificado, isolado e acuado, o que exigirá do novo presidente uma atitude geisiana, pra dizer o mínimo, a desarmar a bomba que a infâmia, a maledicência armou, máxime em 13 anos de derrotas eleitorais fragorosas e conseqüentes mentiras e verdades tornadas mentiras pela distorção dos fatos criou.
Ocorre que este presidente, que acaba de ser eleito tem bastante experiência, porque do mais nebuloso nicho da política brasileira – o Rio de Janeiro – mas até o momento não a apresentou; guiando-se por chavões fascistas, tão ao hematológico gosto dos zumbis, da cobertura à senzala, que, cínicos, sádicos e insensíveis somente se comprazem, temporariamente, vendo o sangue alheio escorrer. Foi essa caterva, sempre latente entre os grupos humanos, que a nossa vil imprensa despertou e tem gestado nos últimos 35 anos, e radicalizado a partir do sucesso lulista, desde a eleição de 2002, mas principalmente com o magistral descolamento pessoal de Lula, da patacoada cognominada “mensalão” (em minúscula mesmo).
O trabalho de desconstrução da política pela vil imprensa, reconheça-se, com justiça, o valor do invejoso Fernando Henrique Cardoso e do cabeça oca Aécio Neves na patranha, forjou uma sociedade “apolítica”, bem o demonstrou o resultado do primeiro turno das eleições deste ano, onde, quanto mais o grupo susceptível à deseducação da imprensa, mais expressiva a derrota da política para o aventureirismo.
Tudo começa a se materializar quando Fernando Henrique Cardoso, subscritor-mor do golpe reorganiza o “mensalão”, ao concitar ao “não perder o foco”; e transforma-se em tragédia diante da incompetência de Aécio Neves, em 2012, em mal articular sua vitória, o que criaria com ela uma descompressão e aparente natural alternância de poder: Aécio, por pura preguiça, negação ao gênio político do avô – Tancredo Neves - e arrogância, não negociou com os caciques nordestinos. Botou tudo a perder. Todos os males porque o país vem passando e venha passar nos próximos anos credite-se na conta desses dois homens de caráter frouxo. Não esquecendo, claro, os traidores menores, como o sempre ”Gollum”(1) José Serra.

Baixa com desonra

O ocaso das atuais lideranças políticas, como sempre, premiará, a médio prazo, líderes que sustentaram a falange até o último segundo; colocará no ostracismo os que se revelaram pífios, e porá na eterna execração as biografias polêmicas. Ninguém, contudo, sobreviverá politicamente. Nem mesmo o hoje eleito presidente. De todos, porém, a História será implacável contra os três supra nominados e mais uma meia dúzia de figurões, todos da chamada direita.

Geisear radical... ou o caos.

Diante da vileza da parte enfascistada da sociedade – que não votou em Jair Messias Bolsonaro; votou na condução do PT ao tronco, com açoites, óbvio, “tudo sem processo algum, pelo simples mandado do juiz de fora” (2) – Bolsonaro não terá alternativa: intervirá no Congresso com cassações e prisões; manterá Lula preso, reprenderá Dirceu, prendendo mais alguns ex-figurões do PT para saciar a sede de sangue de “seu” eleitorado. É pouco, porque os ensandecidos são insaciáveis, e por isso, como o foi em 1968, logo, logo a classe média antipetista tornar-se-á antimilitarista; e passará a fustigar-lhe, mais violentamente do que fez a partir de 1968, porque cem por cento conectada. Bem vindo a um novo AI-5! Sofisticado, porque, com fechamento do Congresso, censura pesada, talvez cassações das redes de fofocas, e maledicências, ditas notícias, e toda a cartilha já por demais conhecida, vem aí mais o controle estrito de toda a sociedade mediante os algoritmos. Ditadura à la chinesa. O Admirável Mundo Novo.

Fecho da tragédia

Por fim, voltaremos aos tempos de governo petistas, com sinais trocados: um grupo – os militares e seus puxa sacos, interesseiros, como de praxe – um “inimigo” totalmente identificado, isolado e acuado; só que armado, e como é próprio da sua natureza, e diante da titânica responsabilidade nos ombros de “última barreira à destruição do Estado”, destruição da pátria... do Brasil, vai reagir violenta e às vezes irracionalmente.
O futuro imediato cobra, pois, do presidente Jair Messias Bolsonaro que seja uma perfeita combinação de Lula e Geisel: habilidade política a toda prova, e força firme, precisamente aplicada.
Será?
Agnus Dei, miserere nobis!
_______
(1) Personagem da trilogia “Senhor dos Anéis”.
(2) ALVARÁ SOBRE O MESMO. (03/03/1741) Anais da Biblioteca Nacional, vol. 28, p.200, Rio de Janeiro, 1906

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Uma Exposição Industrial em Terras Vaqueiras

Terminou ontem, domingo, 21, às vinte e uma horas, conjugada ao Shopping Peixoto, mais uma experiência no calendário de eventos, com vistas ao desenvolvimento turístico de Itabaiana e Região Agreste, e porque não dizer, de todo o Sergipe: A ITABAIANA EXPO INDÚSTRIA, que se já pode denominar Expo 2018, uma vez que provavelmente será uma constante, como o outro grande evento do gênero, a BIENAL DO LIVRO.
Um sucesso! Se levarmos em conta a apenas recente explosão, mesmo que moderada, da atividade industrial em Itabaiana, podemos afirmar que foi um retumbante sucesso. De público e de vendas. E mais que isso: a perda da timidez em pensar grande, empreender, nesse nosso grave momento de crise política e econômica, onde há dez anos que se trabalha o contorcionismo como tentativa de escapar ao desastre americano, e por tabela mundial, de 2008. E é justamente nessa “década perdida”, que um lugar sem tradição industrial vem celeremente se transformando em potência industrial.

As Feiras Industriais

Com o avanço da Revolução Industrial, em início do século XIX pipocaram feiras industriais pela Inglaterra, e em menor freqüência e número, em outros centros industriais menores, como a Holanda, França, e na Renânia da proto Alemanha, desaguando na primeira Exposição Universal de Londres, de 1851. Desde o seu início foram momentos ideologicamente indutores. Autoconfiança, progresso, bem estar, inovação. Poder.
A primeira destas feiras a seriamente impactar o Brasil foi a Exposição Universal de 1876, na Filadelfia, estado da Pensilvânia, Estados Unidos. Nela, um Estados Unidos realmente unido pela força das armas e da razão, com o fim da ultrajante escravidão se mostrou ao mundo, refeito completamente de uma terrível guerra cível há pouco mais de dez anos, e que pôs irmão contra irmão, se apresentando como líder mundial, que o tornaria no bicho-papão dos últimos oitenta anos. Uma Roma contemporânea. Nas entrelinhas da documentação imperial, a nítida percepção de um Imperador D Pedro II, enquanto fantasiado com o que lá viu, caindo na realidade de contar apenas com um império gigante muito mais adormecido do que antes imaginara, com excesso de esperteza e zero de iniciativa. Que o perigo não estava no abatido Paraguai ou mesmo na então exuberante Argentina, a nação mais rica do continente; estava bem ao norte. Na terra dos homens de iniciativa. Que trazia todo o aprendizado dos guerreiros vikings e celtas, da diplomacia comercial portuguesa, da agressividade comercial anglo-holandesa, contaminado com o recém-nascido império da razão alemão. Perigo real e imediato. Que se confirma até hoje.

Ousadia

“Quem não arrisca, não petisca”. Foi pensando assim que surgiu a Expo Indústria de Itabaiana. Fruto do pensar, quase em devaneio de uma turma de jovens e confiantes empresários, que não param de surpreender, pela audácia, arrojo e afinco com que tem perseguido seus sonhos. A frente da Expo esteve, máxime os empresários Honorino Dias Jr (Perfil Empreendimentos) e Givaldo Marcelino (Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Itabaiana, ACEI), mas também uma plêiade de jovens empresários, sempre comungando em momentos como esse. Junto desse grupo mais jovem, gente tão arrojada, como o empresário Manoel Messias Peixoto, proprietário do Shopping Peixoto, e os sonhadores – e realizadores - de sempre, como o empresário e ex-secretário de Indústria do Município, Francisco Altamiro Brasil, enfiado - quase sempre pai - em dez em cada dez “maluquices”, sadias, obviamente, em Itabaiana nas últimas quatro décadas, e Luiz Bispo, ativista e empresário, também ex-ocupante da pasta, e sob os quais se deu toda a arrancada para os dias atuais.
A idéia que permeou o evento é que ganhe periodicidade bienal. A cada dois anos, o que deixa ainda mais forte a necessidade de um centro de convenções, uma infra-estrutura mínima para eventos dessa natureza e porte.
Sucesso! Esperemos pela próxima.
Passou no teste.

sábado, 22 de setembro de 2018

NOITE DE CONCERTO

Espetacular, a apresentação da Orquestra Preparatória da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, na noite de hoje, no povoado Mangabeira onde nasci e deixei meu “umbigo enterrado” (como se chama placenta no popular). Oito peças executadas, sendo duas de arranjos da MPB, e seis variando entre o barroco de Bach ao modernismo de Sibelius e Elgar. Plateia típica, atenta e a saborear cada nota; um espetáculo!

Está de parabéns a equipe de apoio da Filarmônica, o pessoal local, especialmente o coordenador Clóvis (coordenador da capela de N. S. Santana, local da apresentação), os assistentes inclusive os de fora, como o professor José Costa Almeida, que veio da capital rever o local do inicio de sua carreira estudantil, e aqui, o meu agradecimento especial aos  garotos e garotas: Ana Luiza, Amanda, Beatriz, Dayse, Fabiana, Gabriel, Greci, Ilana, Joana, Jonathan, Laedson, Layslaine, Liliane, Lirithy, Luana, lucas Alves, Lucas Silva, Luiz, Maria Eduarda, Naiara, Stéfany, Thauana e Yan, que brilharam como músicos; ao maestro Clodualdo Nunes Silva, que também brilhantemente os conduziu; ao maestro-presidente, Valtênio Alves de Souza, pelo esforça na execução do projeto; e aos meus confrades na Academia Itabaianense de Letras, Dr. Rômulo de Oliveira Silva, ex-presidente da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição e entusiasta do projeto, este, em particular, e  Antônio Samarone Santana e sua equipe Serigy, pelo apoio à maravilhosa noite de hoje.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

REVOLUCIONÁRIOS EM ATIVIDADE

Caminhão "pau-de-arara" de feirantes, na Rua Sete de Setembro em frente à "Igreja dos Crentes", início dos anos 70;
Caminhões "mercedinhas", hoje pela manhã, 14/08 estacionadas em ponto tradicional, há 1/4 de século.

Antes de entrar no assunto em pauta, uma observação: tudo que em Itabaiana foi feito de positivo nada teve de ideologia de qualquer natureza; só a luta pela sobrevivência, a garra de quem aproveitou as oportunidades pra sair do limbo e conquistar o seu lugar ao sol. Desde as aulas na Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, tomadas por Luiz Americano, em preparo para uma vaga no Exército brasileiro, e depois sua gloriosa carreira de co-fundador do Chorinho; da vanguarda no comércio varejista, com duas das cinco maiores redes de supermercados do país – chegando a três entre as dez, se ampliarmos o leque – de fins do século próximo passado, à explosão no número de universitários da década de 70 em diante, tem sido tudo em busca do sucesso pessoal, aproveitando o mar de oportunidades com o Nacional-Desenvolvimentismo de Vargas, que no seu núcleo duro foi preservado pelo regime Militar-Civil, e que está sendo sepultado agora por essa corja de criminosos que assumiram o poder, o governo de fato, desde junho de 2013.
Chego agora pela manhã no calçadão da Avenida Airton Teles e estaciono o carro, como sempre fiz. Ao fechá-lo, noto um mercedeiro, pros que não conhecem o termo, um motorista-proprietário de mercedinha, a marca culturalmente aceita por aqui, a diligente e camaradamente acenar pra mim. Acerco-me dele e vem advertência: “É melhor o senhor tirar daí e botar do outro lado. Senão a caneta (multa) come”. É quando me dou conta que invadi o espaço deles, do estacionamento reservado aos mercedeiros. Agradeço, manobro o carro pro outro lado, e quase ao mesmo tempo, no lugar que havia estado mais duas mercedinhas estacionam uma à frente da outra. Faz algo em torno de 25 anos. Há um quarto de século que é assim.

Revolução Popular

Até 1995, uma única empresa explorou o grande filão do transporte público intermunicipal da região da Grande Itabaiana – Itabaiana e seus 16 municípios-filhos – e a linha mais rentável do interior à capital, Aracaju. 30 anos de monopólio. Mas em 1996 as coisas estavam mudando. O Plano Real, no seu início foi desastroso para os trabalhadores em geral; mas para os prestadores de serviço foi um pote de ouro. Apesar de dois anos depois ter começado a se desmanchar. Um monte de pequenos poupadores em breve teria capital pra investir em atividades mais rentáveis que a poupança ou especulação financeira; investir no setor de transportes, segundo o que conhecia; cultura do povo itabaianense.
Teria passado em branco, o aumento de transportes de passageiros paus-de-arara, não fosse a falta, por parte do poder público de planejamento racional do transporte público, descontaminado de preguiça na máquina pública, imperícia e arrogância, mas, com uma Estação Rodoviária, à época, distante; a falência total, nas tentativas de estabelecimento de um serviço de transporte coletivo urbano em Itabaiana – até os dias de hoje; a oferta de serviços sem qualidade das mercedinhas, mas eficiente; e por fim os costumes dos empresários do serviço de ônibus, viciados nas concessões “com previlégios reaes” levou o povo a aplaudir os mercedeiros, quando estes começaram a sofrer pressões estaduais e federais para não transportar passageiros. E virou febre. Passageiros que era pegos no centro de Itabaiana e entregues no centro de Aracaju, sem os custos e os incômodos – demora, inclusive - dos ônibus coletivos daqui e de lá. Ativistas da pequena classe média local, como a professora de português e Literatura, Margarida Andrade expuseram-se publica aguerridamente mente em favor do transporte precário, mas desprovido de pose, e, acima de tudo eficiente e barato.
Como citei, as coisas estavam mudando rapidamente. O governo do Estado não usou da energia costumeira, dez anos antes, durante o Regime de 64; ao contrário: contemporizou. A importação escancarada do governo FHC trouxe a novidade dos veículos orientais, inclusive a Besta, espécie de Kombi, aparentemente mais robusta da Coréia do Sul. Foi um passo para a migração das mercedinhas para as Bestas e Topiques, e dessas para os microônibus, e, mais uma novidade: agora sob o sistema cooperativo, supostamente de um homem, um proprietário, um carro. E não somente nas linhas de e para Itabaiana; mas todo o estado de Sergipe e além fronteiras. 
Hoje, depois de vinte anos de estabilização do sistema sabe-se que existe verdadeiras empresas dentro das cooperativas; mas o miolo do sistema continua dando certo. E principalmente: é eficiente! E barato. Sem o glamour das empresas do velho sistema; mas eficientíssimo. Em 2011, fiz um tour de captação de imagens em cerca de trinta municípios sergipanos. Tudo a borda dos microônibus dos cooperados. Não houve um só atraso de horário ou confusão de escala. Tive que muitas vezes fazer duas baldeações devido ao sistema: saindo de um, entrando noutro. Mas tudo dentro do previsto, segundo a grade de serviços exposta na internet. Graças às mercedinhas.
Com o advento das Bestas e Topics muitos migraram; mas hoje pela manhã, no mesmo ponto, em que despretensiosamente provocaram uma revolução há quase um quarto de século, teimosos, resistentes mercedeiros ainda davam plantão, à espera de algum frete. E me orientavam pra não tomar multas.

sábado, 28 de julho de 2018

EXPRESSÃO DE VIDA


Eu confesso uma tremenda falha: não estou conseguindo acompanhar o dinamismo das nossas letras. Entre pesquisas, escrita e leitura, tenho dado prioridade a primeira, com repercussão óbvia na segunda; e, com negligência até, em relação à terceira. Assim sendo é que tomei a decisão de logo me debruçar sobre o conteúdo das duas pequenas obras dos iniciantes escritores, a mim ofertadas, em prosa e verso, e oriundos de duas das três escolas homenageadas na noite de ontem, 27 de julho deste 2018, pela Academia Itabaianense de Letras, da qual honrosamente faço parte. Trata-se dos livros-coletâneas, I Antologia Poética, da garotada do Centro Acadêmico de Letras do Colégio O Saber, organizado pelo jornalista, escritor, professor e crítico literário, o confrade da Academia Laranjeirense de Letras, Emerson Maciel Santos, condutor-mor literário da mesma garotada, numa simbiose perfeita com o diretor do estabelecimento, meu amigo Everton Souza de oliveira; e III Antologia Literária, da Academia Serrana de Jovens Escritores, da Escola Dom José Tomaz, do povoado Rio das Pedras, também município de Itabaiana; grupo formado pela professora Rosa Maria Santana, atualmente, também diretora daquela unidade educacional, onde dei meus primeiros passos em seu embrião, a escolinha particular de Carminha de Bastião – Maria do Carmo Nascimento – em 1967, assistindo seu nascer como escola pública municipal, no ano seguinte. há 50 anos, portanto. Nela concluir o Primário, em 1972.
Em ambas as obras o mundo infanto-juvenil, da puberdade, adolescência, esse lindo mundo caótico, confuso, de descobertas mil em tão pouco espaço de tempo, combinadas com os vulcões particulares de paixão incontida, arrebatadora, de cada um pela vida e seus momentos, que caracterizam essa belíssima fase da existência. É a vida, real, pulsante, que esses garotos ali grafam em verso, a maioria; mas também em prosa. Desde a temática política, como a da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada de pouco, lembrada num poema pela Alice da Cunha Menezes(ASJE), ou Nayohna Conceição Oliveira Carvalho (CAL), às histórias de ficção, de João Paulo Santos de Jesus (ASJE) ou talvez contos de família, como a de Jennifer Bispo dos Santos (que é minha prima) da mesma Academia, e a de Vitória Caroline Soares de Souza(CAL), e minha acadêmica-espelho, da cadeira 27; ou ainda a poesia abstrativa de Ivanilson Santos da Silva (meu também acadêmico-espelho), da supracitada Academia Serrana de Jovens Escritores, da mesma, o realismo em Jônathas de Jesus Batista; questões existenciais, como em Phelype Matheus Lima Barreto, Matheus Santos ao romantismo de Raiane Oliveira de Jesus, esses últimos da CAL, ou Camily Santos Batista(também minha prima), da ASJE. A propósito, romantismo é que não falta a essa turma que sonha.
E sonhos que se sonha junto - que como disse o John Winston Lennon- ... É REALIDADE!

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Ecos de boas lembranças.

Convite. À direita. escritor em turma de 1975 do Colégio Estadual Murilo Braga


Será lançado hoje, às 17:00 horas, o livro, “A Vida Como Vocação”, do amigo, irmão por adoção mútua - ex-colega de JUC-Juventude Unida a Cristo, fins dos anos 70, e de Correios e Telégrafos, na mesma época - José Ginado de Jesus, Ginaldo de Seu Zé Mateus. O livro é prefaciado por ninguém menos que o arcebispo de Aracaju, Dom  João José Costa.
O lançamento em Itabaiana ocorrerá no CTP-Centro de Treinamento da Pastoral, ex-Escola Técnica de Comercio de Itabaiana, na Rua José Mesquita da Silveira, 458, Centro, antigo QG da turma da sobredita JUC nos fins dos 70, como já dito, e início dos 80.
Creio-lhe, um momento sublime porque próprio do autor sempre fazer; nunca aparecer. Mas um livro é um livro. O eternizar de idéias: das mais simples, às que transformam a história humana. E, como ativista católico, por quase meio século, Ginaldo tem um arsenal de conhecimentos e experiências acumuladas que agora compartilhará, mas além que usualmente faz.
Às 17:00 horas estarei lá.

domingo, 3 de junho de 2018

Crise econômica tucano-jurídico-midiática ainda não chegou a Itabaiana.


Contratos sendo quebrados, ou suspensos; gente demitida por falência de empresa, crédito apertando... no Brasil de hoje é uma realidade cada vez mais assustadora, mas... ao menos no que concerne à venda de veículos, especialmente, a crise econômica criada pelos tucanos – partido e justiça partidarizada - e amplamente apoiada pela mídia, liderada pelas emissoras das Organizações Globo não chegou à Itabaiana.
Em 31 de dezembro de 2015, estavam registrados no RENAVAM, 90.686.936 veículos em todo o território nacional, e 42.497 em Itabaiana. Nestes dois anos de vigência do golpe, a frota nacional cresceu, 3,4% em 2016 e 2017, contra uma média de 4% no quinquênio anterior. Já para Itabaiana, o crescimento nos dois anos – 2016 e 2017 – foi de 13,8%, já descontados os 4.669 ciclomotores que passaram a ter registro obrigatório. 
É sintomática a destruição na engenharia nacional pelo consórcio tucanos-justiça partidarizada-Globo: o número de tratores de esteira em 2017 é o mesmo de 2015, depois um longo crescimento anual. Todavia, os números da ostentação saltam aos olhos, local e nacionalmente: as caminhonetes, nacionalmente continuaram em alta, 4,4% e 4,8%, respectivamente 2016 e 2017; e localmente, 7,2% e 8,2%,.
Cidade economicamente montada no setor de Serviços (79% no Censo IBGE-2010), já era sabido da capacidade de resistência às crises, especialmente por se tratar de pequenos negócios inclusive de transporte. A CAPITAL BRASILEIRA DO CAMINHÃO tem uma frota modesta (3.640 unidades de caminhões e carretas), frente à frota nacional (3.343.660 unidades), mas que é a sua espinha dorsal. Essa resistência tem limites, mas como se diz por aqui, no dia em Itabaiana quebrar o resto do país já foi pro beleléu.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

O PT e a Revolução Taiping

Em 1830 nas ruas de Xangai houve um encontro inusitado: um jovem estudante chinês e um missionário americano, que pregava o cristianismo e falava do castigo divino do Dilúvio de Noé, purificador. Dilúvio ou inundação. Hong, na língua do jovem que se chamava Hong Xiquan. E eis que a China encontrou sua inundação purificadora; pra cuspir fora toda a corrupção de um império corrompido, invadido por estrangeiros que cada vez mais lhe sugava as riquezas e a alma chinesa. E o senhor Inundação mergulhou nos confins por longos 20 anos, a gestar a revolução restauradora. Em 1839, mais uma humilhação: a China perdeu uma guerra em que a Inglaterra a forçou consumir ópio, algo como nos dias de hoje os Estados Unidos obrigar ao Brasil a legalizar e promover o consumo de cocaína. Isso engrossou o caldo, ao ponto de em 1851 Hong ter cem mil homens, camponeses, em armas e à disposição pra de imediato conquistar a metade da China, e em seguida ameaçar o governo imperial em sua própria capital, Pequim.
O Imperador, que não ficara passivo desde os primeiros movimentos insurrecionais, antes mesmo do avanço da revolução, entrou em pânico, e, para liquidar os insurretos, cometeu o pecado mortal de aceitar a “ajuda” de um combinado de mercenários americanos, naturalmente acompanhados de perto pelo governo americano, e a união univitelina de banqueiros e governo inglês. Venceu os taiping; mas perdeu o país para os ingleses, que já lhe havia imposto a humilhante Guerra do Ópio – origem da HSBC – duas vezes, e logo a seguir impuseram-lhe mais humilhações até o fim do império, em 1912, e da própria república dita democrática, até a selvagem invasão japonesa, de 1937 a 1945.
A redemocratização lenta e gradual trouxe para arena política brasileira algo novo: a presença de um partido literalmente popular, tão popular que uma certa esquerda de vitrine cuspia de nojo “desse pessoal de macacão azul”, uma referência aos uniformes de operário, usados por eles, principalmente pelo seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao contrário do chinês Hong, em 1830, o Lula, de 1968, não teve motivações messiânicas, não pregou revolução, não era esquerdista na acepção da palavra, sequer queria fazer parte de um sindicato. Ao fundar o PT, em 1980, não pregou revolução saneadora, messianismo, redentorismo... só queria melhorar a vida do trabalhador. Do pobre. Colhido pelo processo histórico viria a se tornar Presidente da República, sem rompimentos, cumprindo fielmente e que traçara seus futuros inimigos. Lula nunca devaneou; porém sempre perseguiu uma meta, e os caminhos para atingi-la: ir até onde der. De sonho real mesmo, ver pobre virando classe média, dentro do figurino traçado pela direita brasileira, em seus momentos de louvação hipócrita ao estado de bem-estar europeu. Nada mais!
Desde o seu início o Partido dos Trabalhadores colheu o escárnio da elite, do estamento. Em suas lutas internas teve que administrar puristas inconseqüentes, incendiários; recitadores de fórmulas prontas, biguzeiros e até gente séria e de juízo. Sua natureza popular, democrática - cada um, um voto – sem chefes muitas vezes levou-o a ser uma massa caótica, disforme, perigando a qualquer momento sofrer implosão. Salvou-o a presença forte da liderança visível, admirada de Lula, e o comando firme, odiado, mas imprescindível de Zé Dirceu. E o partido caminhou. Miraculosamente caminhou. Sem exércitos, sem milícias, tudo dentro “da Lei”, ou seja, do traçado pelos donos do poder.
Foram 14 anos à frente de uma nação, dividida em seu modo de pensar, mas mantida com coerência institucional, integridade territorial, crescimento econômico exponencial, sucesso de ponta a ponta; exceto a remoção da cultura escravista, que promoveu o desastre. Não se combinou com os senhores de escravos. E eles trocaram o Brasil por espelhinhos.
E o que deu errado?
Mas a cultura escravista da sociedade brasileira permanece intocada; a Casa Grande jamais iria permitir essa ousadia da Senzala. Por mais que os senzaleiros tentem ser agradáveis, a Casa Grande não os permite ir tão longe. E no desespero foi capaz de cair no ridículo explícito; de baixar a mais reles de todas as condições; de cometer o mesmo erro do Imperador chinês em 1864. E agora, enquanto os vira-latas se comprazem com o martírio de Lula, os raciados se já dão conta do estrago que fizeram colocando o inimigo, não mais na sala, de onde de fato nunca saiu, mas na camarinha de tantos segredos íntimos e vitais. É tarde!
2016 é muito pior que 1889. Muito pior! 
Que Deus tenha piedade de nós!

domingo, 13 de maio de 2018

Uma Mãe Menininha

Em seminário da SM da Saúde, 12/03/09
Maria de Jesus Andrade, ou Menininha de Pedro Severo, do Pé do Veado, era professora primária municipal (depois professora de religião, do Estado, no Murilo Braga), e foi a pessoa certa encontrada pelo Monsenhor José Curvelo Soares, então pároco de Santo Antônio e Almas, consequentemente presidente do CASCI-Centro Social Católico de Itabaiana, instituto que tem uma folha corrida extensa de serviços a Itabaiana, e que contou com próceres da sociedade itabaianense em suas diretorias, como Adelardo José de Oliveira, José Hênio Araújo, Francisco Tavares da Costa, José Queiroz da Costa, entre inúmeros outros. E Menininha, aliás, D. Menininha foi pilotar a Casa dos Estudantes por longos dez dos seus quatorze anos de existência da mesma como república estudantil.
A Casa do Estudante foi mais uma das instituições criadas pelo CASCI, com a finalidade de suprir um antigo sonho da Itabaiana esmagadoramente rural e agrária, portanto, com o advento de uma escola agrícola, que nunca saiu das intenções. Uma das últimas realizações do paroquiato do padre Arthur Moura Pereira, ficou latente sob aquele e sob o curto período do padre José Araújo Santos. Veio funcionar com destinação secundária, ou seja, de república estudantil, a partir da chegada do Segundo Grau na cidade, em 1970, decisão do Monsenhor Soares, animado pelos resultados positivos da Escola Técnica de Comércio, hoje CTP-Centro de Pastoral.
Ficava num sítio na periferia da cidade, na quadra compreendida entre as avenidas 13 de Junho e Manoel Francisco Teles, e as ruas Pedro Diniz Gonçalves e Quintino Bocaiuva, a do SENAC, Colégio Djalma Lobo, Secretaria Municipal de Educação e Energisa, que lhe ficam de frente. Dividia-se em três unidades, a saber, a Casa dos Meninos, o Refeitório, para ambos, a Casa das Meninas, único que estava dentro da cidade, na esquina da Avenida 13 de Junho com Quintino Bocaiuva, já com formação urbana, reconstruída e atualmente abrigando alguma coisa da Prefeitura. O resto, sítio.
D. Menininha chegou na Casa em 1973, Depois de malsucedidas gestões outras em bem conduzir três e até cinco dezenas de jovens e adolescentes, com os hormônios lá em cima e a rebeldia própria de quem está para o despertar da vida plena. Vinha de uma família interiorana típica, exceto no número de seus membros; religiosa, conservadora. De repente se viu diante de membros das mais estranhas tribos. Houve momentos da Casa contar com pessoas de 40 localidades diferentes.  Era muita diversidade! Solteirona, nunca sequer namorou, e de família pequena para os padrões da época, era de se esperar que a falta de experiência em lidar com tal diversidade público a conduzisse a rotundo fracasso; mas não.
Com sua personalidade explosiva, acelerava em dez segundos, ficando vermelha como uma pimenta, quando alguma coisa a contrariava; do mesmo modo desacelerava, e logo estava rindo com aquele sorriso quase infantil, porém sem jamais abrir mão da firmeza, dos princípios. Determinada, virou motorista de seu fusquinha azul celeste em 1977, numa época de raras motoristas por aqui.  Tinha prazer em servir.
Era só gerente da Casa, mas não raras vezes emprestou dinheiro aos seus pupilos, que por um motivo ou por outro a mesada atrasou. Era solidária até nas desilusões amorosas da garotada. Desde que não envolvendo membros “da família”. Nada de namoricos entre membros da casa. Tinha um faro exemplar pra evitar problemas e sabia muito bem do que era capaz a menor quantidade possível de pólvora perto da menor fagulha. Viveu cada momento da vida de cada um de nós que pela casa passamos nos dez anos que a dirigiu. Mais que uma gerente e até uma preceptora: uma segunda mãe.
Hoje, dia das mães, ao ouvir Maria Bethânia e Gal Costa cantando o clássico de Caymmi, Mãe Menininha do Gantois lembrei dessa passagem que me marcou. A Casa, no seu plantel feminino sempre possuiu exemplares que “olho ruim não podia ver”. Meninas belas, meigas, o que elevava a testosterona da macheada, só de nelas pensar. Mas o controle era rígido: terminou a refeição, único momento de congraçamento sob os olhares vigilantes de D Menininha e sua fiel escudeira, Zefinha, logo vinha a ordem: todo mundo se recolher aos seus aposentos. Mas a inteligência é criativa. No princípio do segundo semestre letivo de 1975, de repente resolvemos fazer uma serenata para as meninas; e aí, a galera chegou no pé do murinho na delas, já sabendo que viria bronca de lá pra cá. Tombeira (nome de guerra de Antônio Beltrame), adolescente, mas já era baixista no conjunto Musical Embalo D, de Nossa Senhora das Dores, à época um dos melhores do estado - e era, claro, o nosso artista - no violão; Fernandão, Eduardo, Aluísio, eu, Valtênio, e outros a cantar. De repente a luz acendeu no interior do casarão! Já esperávamos mas.. era ela, D. Menininha.
De imediato a música mudou. E entoamos em coro a Mãe Menininha do Gantois. Nem sequer atinamos que poderia ter efeito inverso, já que D. Menininha era católica tradicional, e a música louva, de certo modo, ao candomblé. Qual nada! Uma cara sorridente apareceu na janela que se abriu, para, mesmo por trás de um belo sorriso ditar a firme ordem: "vão dormir, meninos. Já está tarde viu?"
Fechou a janela. E satisfeitos saímos cantarolando a Mãe Menininha do Gantois pelos cem metros de estrada que nos separava, com aquele sorriso típico de mãe em nossas mentes para mais uma noite de sono.
Saudades!

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Malhando em ferro frio para tirar dele um mínimo de calor

Desculpem o título quilométrico, mas é que quis que fosse auto explicável, nestes tempos de twitters e facebooks, em que os fenícios – os inventores do alfabeto consonantal – foram vitoriosos em cima dos gregos – que o corromperam, inventando as vogais – e já perde para os rupestres... involução total em nome da velocidade.
Bem, contratei hoje o artista plástico, desenhista e escultor, Adilson Lima, que me ajudará a criar, em cenas, passos da bela, profunda e grandiosa história de Itabaiana. Eppur se muove, dizia Galileu. Serão dezoito a vinte banners, com mapas, gráficos, e muitas cenas fotográficas – desde o advento da fotografia por aqui, a partir de 1890 – e desenhos, que, uns raros, de mera ilustração vali-me do magnifico acervo de autoria de Percy Lau, e seus registros do cotidiano nordestino, o e grosso pela pena do Adilson, exclusivamente para o tema em foco.
A minha previsão é que esteja o projeto todo pronto em agosto, o mais tardar em vinte de outubro, quando começa a quinzena máxima na história de minha cidade, com a criação do município, 20 de outubro (com a instalação da Câmara de Vereadores, em 1697); o fundação da cidade, de 30 de outubro (com a instalação da paróquia de Santo Antônio e Almas, 1675); e finalmente a Rebelião dos Curraleiros, de 5 de novembro, data da invasão de São Cristóvão por vaqueiros revoltados contra o padre que obstou o reconhecimento da Igreja Velha como paróquia, pelo bispado na Bahia, e cobrança abusiva de impostos sobre o gado, em 1656.
Tarefa muito difícil, especialmente porque, além de trabalhosa, muito dependente de terceiros. Mas acredito nas parcerias. Acredito que vai dar.

domingo, 22 de abril de 2018

Mais uma comemoração fixa a cultura serrana: Santo Antônio fujão

Samarone explicando o simbolismo da pequena muda de quixabeira. À sua direita, o prefeito Valmir dos Santos Costa; e à esquerda, o secretário de Agricultura.

A lenda é conhecida, talvez desde que o padre Sebastião Pedroso de Gois teve que abrir mão das rendas, as esmolas provenientes dos criadores de gado de Itabaiana, e criar a Paróquia de Santo Antônio e Almas da Itabaiana, em 30 de outubro de 1675; circunstâncias que incluiu as andanças de D. Rodrigo de Castelo Branco atrás da já lendária mina de prata, e seu general, Jorge Soares de Macedo - e tropa - que trazia ordens expressas  do ainda príncipe regente, D. Pedro, depois D. Pedro II (em Portugal) também chamado o pacífico, de fundar uma cidade fortificada na região conhecida como Itabaiana, no caso de confirmação da mina. O padre, em briga contra os vaqueiros e sua primeira tentativa – a Igreja Velha – desde a década de 1620, teve que ceder, mesmo que a prata não tenha sido encontrada, e que a cidade tenha sofrido solução de continuidade.
O povo de Itabaiana queria a Igreja Velha; mas o Estado, representado pela Igreja, ou seja, pelo padre Sebastião Pedroso de Gois queria a Paróquia noutro lugar: seco, esturricado, aqui seria instalada a Irmandade das Almas, mola mestra da cidade de Itabaiana, até que essa viesse a ser tornar viável, quase dois séculos depois. E a igreja oficial. A outra, a Igreja Velha, nunca foi reconhecida; mesmo sendo uma construção robusta, que apesar de 250 anos de abandono e depredações, alguma coisa ainda resta de pé. A Matriz de Santo Antônio, só veio a ser construída em 1763, noventa anos depois.
Foi um ato de força de Estado a fixação da Paróquia na Caatinga de Ayres da Rocha; e, se era o Estado, através da Coroa e da Igreja, ninguém era doido contestar: seria executado pelo governo e maldito pela Igreja, sem direito a sonhar com o paraíso depois da forca. Mas, o Poder que tem juízo só usa a força bruta em ultimíssimo caso; algum padre criou A VONTADE DO SANTO, como forma de convencimento e aculturação. A imagem furtivamente fugia da Igreja Velha e vinha se postar na forquilha de uma quixabeira, ao lado da casa da fazendola dos herdeiros de Ayres do Rocha Peixoto, conhecida como caatinga. E, como era da vontade do santo, aqui foi instalada a Paróquia.

A REVITALIZAÇÃO DA LENDA

As ruínas da Igreja Velha, primeira tentativa de estabelecimento de uma paróquia e cidade. No detalhe, 250 anos de abandono não abalou a fé por inteiro.

A data de origem da lenda se perde no tempo, mas vem sendo cuidadosamente revitalizada por um grupo, pequeno, mas determinado, liderado pelo médico Antônio Samarone Santana, escritor, pesquisador, professor da UFS e acadêmico das academias de Medicina de Sergipe, e Academia Itabaianense de Letras, onde ocupa a cadeira número 1, que tem como patrono Alberto Carvalho, entre outras obras, compositor do hino da Associação Olímpica de Itabaiana.
No dia 19 do próximo passado mês de março, junto ao Secretário de Agricultura do Município de Itabaiana, Erotildes de Jesus, e do prefeito Valmir dos Santos Costa, Samarone começou a materializar a ideia com o plantio de uma muda de quixabeira, na Praça Fausto Cardoso, em gente à matriz de Santo Antônio. Mas não fica por aí.  Está agendada para o próximo 13 de junho, dia do santo padroeiro, uma caminhada desde a Igreja Velha até a sobredita quixabeira, distribuição de material informativo-educativo entre outros, doravante todos os anos na mesma data.
É o início de mais um evento cívico-cultural que a cidade estava a dever a seus filhos e outros interessados. Três séculos depois.
Que seja bem vindo!

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O "ALVARAL"


Na campanha política para as eleições municipais, de 1988, um taxista amigo, aqui de Itabaiana virou para o lado, para o partido que eu acompanhava e que ganhou naquele ano. Um dilema, porém, o perseguiu durante toda a campanha: "E se eu perder o 'alvaral'?" Dizia ele, num vício de linguagem com a palavra alvará, licenciamento usual para exercer a atividade de taxista. Pra variar, o alvará de táxis, é, mais um instrumento de aliciamento político partidário nas mãos dos prefeitos, ou de seus vereadores, ainda hoje Brasil afora.
Assim que a poeira assentou no início do primeiro governo Lula, e Lula não fez um montão de besteiras, como esperava até gente bem intencionada, eu comecei a imaginar os papos inquietantes em rodas chiques da elite, com “o governo do cara que não fala inglês” condição indispensável para ser presidente DO BRASIL, segundo Otavio Frias Filho, dono do jornal Folha de São Paulo e do Uol. Lula não só não fala inglês, como deu pra dar inodoras alfinetadas nos Estados Unidos, mas que para os vira-latas locais era uma heresia imperdoável. Uns, por reles puxa-saquismo mesmo; mas outros por medo de perderem “o alvaral”; ou seja, uns poucos green cards e uma montanha de vistos de entrada.
Como se há de ter um país com uma gente dessa - há 200 anos que é assim - e ainda mais no comando dele?
Este país é um milagre!