terça-feira, 12 de agosto de 2014

O diabo é Chico!

Conta o anedotário político itabaianense que, o advento do acordão em 1990 pegou todo mundo de saia justa. Estava tudo certinho! Chiquistas votariam com Albano e com Collor; anti-chiquistas (ainda não havia propriamente o lucianismo) votariam com João Alves Filho, e aí, as opções para presidente se dividiam entre Ulisses Guimarães, Brizola e até Lula. José Queiroz da Costa, deputado federal, desportista, empresário, quase dono da Associação Olímpica de Itabaiana e da Rádio Princesa da Serra, osso duro de roer, estava mais que decidido: João Alves em Sergipe, e Brizola, em nível nacional. Prazos se aproximando - eleições, acima de tudo, são prazos - e o nervosismo cada vez maior. No plano municipal, Queiroz e o deputado estadual Djalma Lobo haviam rompido com o prefeito Luciano Bispo; e Chico de Miguel (Francisco Teles de Mendonça) estava completamente na oposição. Mas aí entra em cena o presidente da República, Fernando Collor de Melo, instando junto ao então governador Antônio Carlos Valadares, para que esse ajeitasse as coisas por aqui, onde coubesse eleições tranquilas, tanto pra Albano, quanto para João. Zoou um boato que Albano, antes do congelamento dos saldos bancários imposto por Collor em 15 de março do ano anterior, ao assumir, havia retirado enorme soma de dinheiro dos bancos. E que por isso, os demais teriam aceitado o "acordão" de forma mais fácil. O fato é que todo mundo aceitou entrar no mesmo. Quase todo mundo; Queiroz... não!
O médico Luiz Carlos Andrade, hoje imortal na Academia Itabaianense de Letras, logo, meu confrade, é de uma inteligência e um nível de humor e ironia imensos, além do sarcasmo lancinante, era presidente do partido de Queiroz, que, óbvio, demonstrou-se incomodado em entrar no acordão, e preferiu correr por fora, juntamente com seu parceiro Djalma Lobo. Mas Queiroz era Queiroz e possuía um canhão nas mãos chamado Rádio Princesa da Serra que, mesmo depois de 27 anos de existência de outras emissoras na cidade, ainda é olhada com respeito por quem entende disso, e por temor, pelo baixo clero da moralidade, em toda a região. Logo, Queiroz não era desprezível; descartável. Antônio Carlos Valadares tinha rusgas com o velho turrão, de muito tempo; João Alves Filho, em questões de Itabaiana, sempre seguiu seu braço direito, o itabaianense José Carlos Machado. Que nunca se afinou com Zé Queiroz. Coube, portanto, a Albano Franco, pré-candidato à reeleição ao Senado, a inglória tarefa de convencer Zé Queiroz a entrar pro acordão, e assim fechar a cancela. E lá se bota Albano a conversar com Zé Queiroz, que disse a ele, ser Luiz Carlos Andrade, ou, Luiz de Iracema, como ainda é conhecido em Itabaiana, quatro décadas depois de ter-se mudado para a capital, seu guru para tomada de decisões. E lá vai Albano conversar com Luiz Carlos. Promessas vão; promessas vem... quando Luiz Carlos assentia, Albano avivava os olhos e então fazia a pergunta cabal: “Estamos certos, então?” Luiz Carlos, então, saía com essa: “Tudo bem, Dr. Albano; mas, o problema é dividir o mesmo palanque com Chico de Miguel!” Aí, Albano rasgava mais outra ladainha, e isso, e aquilo e por fim, a pergunta: “Estamos certos?” E Luiz Carlos: “Tá tudo uma maravilha! Uma beleza. Mas... o problema é Chico!” Albano avermelhou as orelhas, depois o rosto, coçou a cabeça inúmeras vezes, e à quinta ou décima resposta de Luiz Carlos resolveu fazer a retirada estratégica. Óbvio, buscou aparentar deixar a porta aberta; mas nunca mais a ela retornou. O acordão deu certo pros seus protagonistas; Itabaiana ganhou várias obras do Governo do Estado, inclusive seu mercadão de hortifrutigranjeiros, e Queiroz e Djalma perderam suas respectivas eleições.
Esta história veio-me à mente há pouco, justamente ao ver a advertência de alguém de que uma terceira pessoa, junto a um determinado candidato, é-lhe perda de voto na certa. Ou seja, o eleitor até pode estar pensando em reconsiderar posições tomadas anteriormente, contra o dito candidato; mas, ao ver a criatura, estabanadamente com todo o seu poderio junto ao mesmo, vai recitar o Luiz Carlos: “Tudo bem! Mas, o diabo é estar junto com Chico!”