sábado, 15 de novembro de 2008

Vinte anos depois...

Há vinte anos, em 15 de novembro de 1988, Itabaiana rompia com uma nefasta tradição, a de ser violentamente sacudida a cada sucessão protagonizada pelos dois grupos políticos existentes desde as primeiras eleições pre-Independência, como a que selou o renascimento de Sergipe como unidade autônoma; e que desde então dividem as paixões e principalmente os interesses da população local. O processo de mudança que começou a partir de 1978 aqui se consolidou com adversários comemorando a vitória, porém sem revanchismos, enquanto outros amargavam a derrota, porém resignadamente com a certeza de que foram seus erros os responsáveis por tal derrota eleitoral. Enfim, uma derrota eleitoral, porém não moral. Ou uma vitória eleitoral em cima de idéias, porém ética dentro do possível na política e, como já dito, sem revanchismo. É emblemática a fotografia tomada por Jurandi Rosa durante a missa de posse de Luciano Bispo na velha Matriz de Santo Antonio e Almas de Itabaiana em março de 1989, quando aparecem lado a lado como dois velhos amigos que sempre foram, o prefeito João Germano da Trindade, saindo, e o pai do prefeito que o derrotou nas urnas, Jose Bispo de Lima, o Zezé Benvenuto (in memoriam). Mesmo que os cabeças do grupo político do prefeito em retirada não tenha ali aparecido, há uma clara mensagem de substituição de idéias; não a de bandos de vantagistas.
Lembro-me bem de um slogan usado em adesivo colocado em automóveis que circulou bastante naqueles tempos: “Não mude de Itabaiana; ajude Itabaiana a mudar”. Era comum desde os primórdios do município como unidade eleitoral, a diáspora dos “perdedores” com medo das retaliações, que sempre vinham. Uma eterna briga de foice onde aos vencidos não era permitido respeito e sim, no máximo clemência diante de pesadas humilhações.
Infelizmente nossa política sempre se pautou pela característica comum aos bandos. Com suas tradicionais apropriações de “posições”, no caso, cargos e empregos públicos. E não pela política de partidos onde orientações administrativas é que dão o tom. Na política do bando, os grupos rivalizam por posições, como já dito, ou seja, como no tráfico de drogas: por pontos de distribuição. Já na política propriamente dita, partidária, civilizada, a luta é pela imposição de idéias, as mais coletivas possíveis. Cargos e empregos públicos são meros detalhes operacionais.
Em 1989, a maior parte da faixa partidária que assumiu o comando conseguido nas urnas em 15 de novembro de 1988 vinha imbuída do sentimento de partido. Da universalidade. Da fuga daquela nefasta política de bando protagonizada desde a morte de Leite Sampaio, em 1829, nas diversificadas agremiações e suas denominações que, no fundo, permaneciam as mesmas: Conservadores e Liberais (Camundongos e Rapinas), Republicano e Conservador, UDN e PSD, ARENA 1 e ARENA 2, PDS 1 e PDS 2. Infelizmente. Houve lucros; porém, o espectro volveu-se pela rearrumação nos velhos e seculares esquemas com panelinhas se formando de um lado e de outro melindrando o progresso democrático e ferindo de morte mais uma vez o progresso material. Tudo que conseguimos de lá para cá foi mera manutenção da posição de segundo colégio eleitoral (agora o terceiro) do interior e segundo município mais populoso (agora também o terceiro) no interior do Estado. O arranque da primeira metade da década de oitenta desse século próximo passado foi tragado pelo jogo de conveniências do poder central no Estado e sua letárgica forma de atrasar o próprio Estado em detrimento dos “bandos” que dominam a política sergipana e que tambem (para mal) refletem em Itabaiana, fenômeno já notado nas brigas de Leite Sampaio e do Capitão Fontes contra os barões da cana, para darem a Sergipe uma Independência que os ditos barões não queriam.
Vinte anos depois estamos de volta(?) ao desafio. A curta experiência de retorno do grupo que perdeu em 15 de novembro de 1988 mostrou que alguma coisa mudou apesar de alguns recalques; porém, muito pouco. Por outro lado, o retorno que haverá em 1º de janeiro já nada tem a ver com os resultados de 1989. Há uma impressão de cansaço. A jovialidade e seu impetuosismo dão cada vez mais lugar aos arranjos milimetricamente dosados, o que retira cada vez mais a possibilidade de avanços, já que tudo vira mera manutenção. O jovem de 15 de novembro de 1988 já demonstra cansaço. Seus adversários acabam de demonstrar o mesmo, materializado na última eleição... “Ideologia, eu quero uma pra viver”. (Cazuza).



Vinte anos depois. E daí?


“Apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos...”

(Belchior in Como nossos pais)




É inegável que nosso padrão de vida melhorou. Mas nem tanto. E o que o foi, ocorreu pela melhoria geral. Fruto dessa mesma conjuntura geral – e a falta de respostas locais - perdemos cinema, o vigor de nosso símbolo maior no futebol que não consegue se levantar, nossas emissoras consagraram-se, via de regra em meros palanques prejudicando assim uma maior condição de nosso comércio; esportes amadores foram reduzidos quase a pó, e enquanto vimos cidades como a Capital investir pesadamente em qualidade de vida (esporte e cultura para o lazer) nós nos contentamos com porta-malas dos carros de mal-educados a nos ensurdecer com seus malditos decibéis de arrogância e mostração.
Não temos um projeto para Itabaiana já que, via de regra, trabalhamos unicamente pelo emprego de prefeitura ou de governo arranjado mediante politicagem. Como num grande mercadão, nossa perspectiva é ganhar algum dinheiro e ir embora pra civilização. A “velha loba” como costumava chamá-la Sebrão, o Sobrinho, resiste. Graças aos seus resistentes filhos que, por comodismo ou esperança vã apega-se às ultimas conseqüências a algum fio da dita esperança e de que a dita cuja não caia. E ela não cai. Mas sua população de maior poder aquisitivo e intelectual, sempre vai.
Há quem conteste a teimosia do IBGE em não nos colocar na faixa das cidades com mais de cem mil habitantes. Desde 1990 que essa “frustração” cada vez mais se materializa. O crescimento físico da cidade é visível, porém, a resposta está na população rural escorraçada de seus outrora vigorosos sítios pela marginalidade incontrolada com a ajuda da mão de politiqueiros porta-de-cadeia e acomodação do restante do aparato de Justiça. Uma cidade perigosamente entregue ao tráfico que ceifa em torno de quarenta vidas nos seus ajustes de contas todos os anos. Coisa de Rocinha, de Morro do Alemão e outras plagas famosas no Brasil pelo domínio da marginália. Quantos apartamentos, chácaras paradisíacas estão sendo compradas e mantidas com o resultado disso, se não sabe; quantas “garotas de programa” são mantidas por essa indústria também se não sabe; porém, sabe-se que desde 1980 que nossa estatística de mortes saiu da zona da briga de bar, de ciúmes ou cobranças políticas para o ajuste de contas da marginália. A geração de favelas tornou-se corriqueira. Cheias de gente com esperança na vida, mas também recheada de gente que vive da morte.
Nossa capacidade de geração de renda mediante a agricultura esgotou-se. Chegamos ao máximo. Nossos serviços estão longe de atrair gente pra cá já que sua base – a máquina estatal (prefeitura e Estado) – como já dito é mero local para poleiro de sinecuras na troca de emprego por voto. Industrialização como forma de geração de riquezas é coisa do passado; a China acabou com essa possibilidade no resto do mundo.
É, o ex, agora futuro - de novo - prefeito Luciano Bispo continua com os mesmo desafios de vinte anos atrás. Rezemos para que acerte.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Os números


Números da administração municipal de Itabaiana.
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