sábado, 27 de junho de 2015

2016



Mês de junho, meado de 2015, a apenas 12 meses do início de mais uma refrega eleitoral que, de fato, nunca cessa por estas terras. No momento, tudo definido: o prefeito atual, se à reeleição for, está reeleito por mais quatro anos, até 2020, portanto. Os sinais de desânimo da oposição e de ânimo da situação é o suficiente para isso percebermos. Mesmo que venha haver um esforço gigantesco da oposição como o foi no quadriênio 1985-1988, o momento é outro. Ali, um jovem empresário estava sendo apresentado como a redenção a um período de estagnação, de fato vivido por todo o país, mas domesticamente capitalizado pela oposição, e aqui, ressalte-se, com a desastrosa contribuição da então situação; hoje, é justamente aquela promessa que está desgastada e, em que pese nada mais do gênero ter surgido, e mesmo desgastada como está a liderança-mor da oposição, esta ainda contar com substancial capital de quase metade do eleitorado, a tendência ao princípio da conservação da massa fará com que nada mude.

Mais do mesmo.

A última administração foi tão pífia que, mesmo a atual apenas “cumprindo tabela”, tem empolgado. Parte disso, claro, deve ser creditado também ao desgaste natural que qualquer liderança política em qualquer tempo ou lugar sofre; porém, a perceptível inapetência à boa administração foi desastrosa. Politicamente, à agora oposição; estrategicamente, para o município. Um claro exemplo de que não tem nada bom por aqui é que a cidade continua a perder borbotões de população de alta qualificação. Como me disse um amigo empresário há por volta de 15 anos: continuamos a receber por semana três famílias na periferia e a perder uma por mês nos bairros ditos nobres, habitados por médicos, advogados, engenheiros vários, professores e até comerciantes, o típico empresário da cidade. E, se esse povo continua a ir embora é porque as coisas por aqui não estão boas. Mas é a atual administração, medíocre, no sentido literal da palavra, sem projetos pro futuro, sem apontar para algo substancial e animador, quem completa o quadro desolador. Já se encaminhando para o fim de sua primeira gestão, e sem o sobredito projeto de desenvolvimento, tem tudo pra ser pior na segunda, caso reeleita, como quase certo no momento. E, creia-me: só se muda o que se é obrigado a mudar. Não é desprezível também o fato de ser oposição aos governos centrais, em que pese estes enfraquecidos, notadamente o Federal; mas, como se diz por aqui na filosofia de pé de calçada: governo é governo; e, para um município que sempre houve suas receitas à base de repasses em três quartos e até mais do total, isso é determinante. 
Valendo-se do excesso de liquidez no mercado e das condições creditícias promovidas nas medidas anticíclicas do Governo Federal, a indústria da construção civil, tangida pela especulação imobiliária tem feito milagres maquiando a realidade; mas, tudo inconsistente quando se trata de algo duradouro; reprodutivo e gerador de confiança nos agentes que realmente importam: os que têm dinheiro e decidem. Deste modo, a tendência a virar bairro periférico da capital permanece. O quadro se completa quando se sabe que o mundo está em meio a uma crise que atinge o país; crise internamente maximizada pela intensa campanha da velha elite econômica e seus tentáculos no aparelho de Estado e mídia. E quando se observa a nítida falta de opções, com liderança cansadas ou desgastadas, aí é que a coisa fica mais feia.

Histórico desfavorável.

Sebrão Sobrinho afirmava que Aracaju chupou todas as energias do estado, concentrando tudo em sua capital, ao contrário dos tempos em que a capital esteve na velha São Cristóvão. Afirmação que os números da atualidade e anteriores só confirmam. Laranjeiras, a capital econômica do estado no século XIX, sobreviveu à Aracaju até a década de 1940; mas sucumbiu. Maruim, também. Até mesmo a distante Estância teve seus dias de glória ofuscados pela nova capital, especialmente quando a indústria do petróleo finalmente gerou em Sergipe uma classe média típica, localizada, notadamente, na capital. Itabaiana e Lagarto têm sobrevivido ao vórtice sugador da capital aos trancos e barrancos, contudo, ambos os municípios não conseguem se descolar de ter populações a razão de um sexto da da capital, a pelo menos seis décadas. Em 1940, a classe média sergipana residia em Laranjeiras, com parcela ponderável em Propriá e Estância; hoje está na capital. Itabaiana vem resistindo dentro do fenômeno observado por Vladimir Souza Carvalho em Santas Almas de Itabaiana Grande, de 1973, o de ser um estágio, um degrau na passagem de interioranos rumo à capital e outras cidades grandes do país. Porém, por quanto tempo isso se manterá? Enquanto isso, as sucessivas administrações itabaianenses, quando bem intencionadas e profícuas, cuidam, razoavelmente, do urbanismo e de outros aspectos de manutenção do status quo, nem sempre bem sucedidas por várias questões, dentre as quais, a exiguidade de recursos para investimentos.

O risco do aventureirismo.

A natureza humana ter horror ao vácuo de poder. Cessada a presença de um poder, outro logo lhe sucede, num processo natural. Quase sempre isso transcorre com algum trauma, já que os que mais cobiçam o poder e na sua conquista acabam bem sucedidos são aqueles sem formação civilizada, e afeitos ao primitivismo. A turma do vale-tudo. Isso não constitui, obrigatoriamente, numa maldição; uma vez que boa parte dos incivilizados que ascendem ao poder tende a adquirir um mínimo de refinamento, necessário na condução do Estado; porém, a pequena parte que se mantém no primitivismo costuma causar sérios transtornos às sociedades das quais fazem parte ou passam a fazer logo depois da conquista do poder. Quando há vácuo de lideranças, seja por envelhecimento destas ou por seus desaparecimentos, o que logo comparece, portanto, é sempre digno de preocupação. No mundo inteiro ora se assiste o poder financeiro, de quem se nunca busca atestado de bons antecedentes, cada vez mais capturar o Estado. Quadrilhas multibilionárias tem desestabilizado nações, levando-as à ruína num piscar de olhos, e se apropriando dos espólios. Tocando fogo pra vender as cinzas. Por aqui, num mundo muitas vezes menor do que o interessante diretamente à Cidade (City) londrina ou à Rua do Muro (Wall Street), sopram ventos preocupantes, que, localmente, tem o potencial de furacões. São cada vez mais claros os avanços sobre máquinas públicas municipais da agiotagem, parte criminosa em dois sentidos. Um trastejo das lideranças tradicionais e os lupinos se apresentarão com dentes afiadíssimos. E eles, os lupinos, só querem saber da carcaça. Não são agricultores; sequer criadores; gente acostumada a plantar ou criar pacientemente até que chegue o tempo da colheita. São figurinhas trevosas que chegam pra varrerem tudo, e no menor tempo possível.
Saudades dos anos 80, quando os horizontes por aqui não se limitavam apenas ao visível em nossa cerca natural de serras.