sábado, 4 de março de 2023

CELEIRO EMPRESARIAL

 

Sebrão, o Sobrinho, historiador e exímio garimpador de documentos antigos tinha algumas afirmações que até podem soar pernósticas; megalomaníacas, quando não arrogantes; mas, quando examinadas com a devida exação, e cuidado... não é que o velho inspetor do Departamento Estadual de Educação tinha razão?
Repetia ele que Itabaiana era a Velha Loba, numa associação comparativa com Roma; a grande ideia civilizatória ocidental.
Como Roma, a cidade de Itabaiana foi, desde o início, uma cidade com o pé na estrada. Plantada num entroncamento, depois de frustrada a tentativa popular na hoje Igreja Velha. Está nas imediações da placa de inauguração da reforma da Praça João Pessoa, de 1990 o cruzamento de uma das mais importantes estradas brasileiras dos dois primeiros séculos da História do Brasil: a estrada colonial Salvador-Olinda, com a mais importante de Sergipe no século XVII, a estrada São Cristóvão-Sertões do Jeremoabo.
Itabaiana é, por natureza, comercial.
No Censo de 1940, mesmo sendo a sexta cidade do estado (apesar da terceira população municipal), mas Itabaiana já figurava com o maior número de estabelecimentos comerciais do interior, pouco menos da metade do existente na capital. E assim permaneceu, com pequenas variações.
Nunca é demais lembrar que três das dez maiores redes varejistas do Brasil (duas delas entre as cinco primeiras) na década de 80 se originaram nas feiras do município de Itabaiana.
Desde 2004, quando dependurei a chuteira de dar consultoria em marketing à CDL local que me desliguei da rotina empresarial do município.
Nestes dezoito anos muita água rolou por debaixo da ponte. Fortunas se fizeram e desfizeram; empresários de vários matizes subiram ou desceram; até de amigos falecidos já há um número considerável, incluindo aquele que fundou a sobredita CDL, meu saudoso amigo Josenildo Pereira de Souza.
Mas a fábrica de iniciativa permanece.

Tiago dos Santos Paulo, 30 anos, o autointitulado Rei do Alface começou assim: plantando – comercializando – hortifrutigranjeiros. Mas, na onda do ramo de óticas que ora existe em Itabaiana não hesitou em diversificar e empreendeu em mais uma loja. Como ele, está cheio de empresários do ramo de farmácia, cerâmicos, lotéricos e até do ramo de papelaria que também podem ser médios produtores de milho, de sorgo, afora a tradicional pecuária, de corte e ou leiteira.
Os atores variam: de vinte de idade a sessenta; muita gente que não conheço pessoalmente como o fazia em relação à velha guarda dos meus tempos de CDL.
Hoje não mais funciona a “universidade” da feira; como nos tempos de Oviedo Teixeira, Gentil Barbosa ou dos irmãos Paes Mendonça. Nem mesmo dos vendedores de água de moringa – distribuidores e fornecedores, como José Carlos Machado – ou a turma do carrego de feira – a Lei proíbe o trabalho a menores. Mas, a julgar pela safra de 20 e 30 anos recém chegados, e aqui uma referência e deferência especial às mulheres, hoje dominantes no ramo de beleza e acessórios além do vigoroso setor de serviços... continuamos com o nível de iniciativa lá em cima.
Se depender de iniciativa continuaremos imbatíveis.

sexta-feira, 3 de março de 2023

RELIGIÃO SEM MÍDIA; MILITAR SEM PARTIDO.

Padre Felismino e Antônio Conselheiro
 

O púlpito, nas igrejas foi outrora o único local permitido à demagogia, independente do seu uso: literal e original; ou no atual sentido baixo da palavra.
Único!
Em 22 de dezembro de 1768, foi preso um preto leigo no interior de Sergipe por estar fazendo pregações ao povo, ato em desuso à época pela Igreja Católica, salvo em Missões, e por um padre; não um leigo(*).
Casos se multiplicam pela História, mas dentre nós o mais notório e dramático foi o de Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro.
Como outro revolucionário religioso redentorista, do outro lado mundo – na China – de 20 anos antes, Hong Xiuquan, mesmo sem o apelativo do chinês, morto de exaustão e doenças pelo cerco, Conselheiro também morreu em idênticas condições, antes da derrocada final do Arraial de Canudos; e o arrasamento do mesmo pelas descomunais forças do Exército brasileiro, arrancando de Euclides da Cunha, testemunha ocular, a observação que:

“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.” (CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Capítulo VI – O fim)

Os dois, acima, por pregar ao relento, sem controle do clero, não licenciados para tal; porém, mesmo padre, e usando o púlpito, o Padre Felismino da Costa Fontes, nascido em Itabaiana, em 1848, e denominando uma rua tradicional da cidade. Por exorbitar de suas funções, ou seja, seu discurso, mesmo do púlpito ultrapassar o razoável para a superioridade hierárquica, acabou afastado e internado, em realidade como louco em Salvador, no hospício Asilo São João de Deus onde veio a falecer em 1892, aos 44 anos. Com suspeitas de intrigas e tudo o mais que para elas concorrem, claro(**).
E por que esse controle?
Porque a palavra é muito perigosa, especialmente quando ardilosamente bem dirigida a mentes receptivas. Nem os reis - ou seus correspondentes - devem ter acesso direto às multidões, por ela, em tempo integral.
Um pastor, um padre ou qualquer outro condutor religioso tem sob sua influência uma legião, que vai de uma ou duas dezenas de pessoas, até dezenas de milhares. Com um microfone e uma emissora, isso pode chegar a dezenas de milhões; e, depois da conquista do celular e da internet, às centenas de milhões. É onipotência explícita para quem é movido por neurônios que podem entrar em curto-circuito a qualquer momento.
Um líder militar, segue o mesmo caminho do religioso, com um agravante: a capacidade de comando de uma tropa, por natureza disciplinada e com poder imediato de morte sobre os possíveis contrários. E esse líder pode não necessariamente ser o comandante natural de um regimento ou algo que o valha; como ora vemos no caso do Brasil: um baixa patente, indisciplinado e por isso rebaixado, suspeito de estar metido até o pescoço em situações morais e legalmente trevosas, politiqueiro padrão, de repente virou o comandante de generais que tudo fazem para o manter no topo. Parece surreal; mas pior - até agora - já existiu em Roma pós-Augusto. Logo...
Tudo isso resultante dos milhares de emissoras de rádio e TV distribuídos à religião; e agora com o total descontrole da mensagem propiciando pela internet, onde de repente a politicagem invadiu também os quartéis.
As campanhas políticas mais assertivas, eleitorais diretas ou não, não mais estão sendo feitas pelos políticos, em sua maioria, ou mesmo partidos, independentemente de suas atividades principais - comerciantes, sindicalistas, industriais, fazendeiros... - mas por padres, pastores, líderes religiosos em geral e policiais, militares inclusive. “Time montado”, no jargão dos peladeiros de várzea.
O político tradicional, salvo raríssimas exceções é paciente, cuidadoso, negociador em extremo... a ponto de viver na linha tênue que separa o legal do ilegal, ou moral do imoral; já aventureiros recentes, em geral são "resolvedores", decididos, ousados e ilimitados. Usam o sistema de retentores sociais, como a Lei, a Justiça e os bons costumes, mais como gambiarras para rapidamente galgar os postos mais altos; contudo, suportados por considerável força coesa, seja de fiéis ou companheiros de farda, forçam a barra o tempo inteiro para fazer tudo aquilo que condenam. Com mais gana do que os "corruptos" e "pecadores" do restante da sociedade.
Quem assim não o faz por dolo, faz por culpa. Por ser inocente ou "vaca fardada" - no dizer de notório e histórico general de 1964 - servindo de escada; levando a culpa, enquanto os espertos levam a grana.
Há ainda esperança de que não ocorra ao Brasil e ao Ocidente, em geral, a repetição do que houve em Roma, com consequente fim de um virtuoso ciclo de progresso da civilização no século IV.

(*) CARTA do Arcebispo eleito D. Manuel de Santa Ignez para Francisco X. de Mendonça relativo á prisão de um preto leigo, que com grande successo, andava pregando na Comarca de Sergipe d'Elrei. Bahia, 22 de dezembro de 1768. 7693 (Anais BN-Rio, vol. 32, p.206, Rio de Janeiro, 1910)

(**) Almeida, J. H. de. (2013). UM PADRE À MARGEM DA HISTÓRIA: A TRAJETÓRIA DO PADRE FELISMINO DA COSTA FONTES. Revista Fórum Identidades. Recuperado de:
https://seer.ufs.br/index.php/forumidentidades/article/view/1737

quarta-feira, 1 de março de 2023

PRAZER DE VIVER.


 “mas encontrei muitas pessoas tristes; desaprendendo conversar, que parece que eu estou carregando os pecados do mundo” 

(Sá, Rodrix e Guarabira, em A Última Canção da Estrada)

Hoje pela manhã, cingi-me de boas intenções e saí disposto a praticar alguma das 40 práticas para a quaresma, emitidas pelo Santo Padre, o Santo Chico, que se Papa não fosse eu assim o consideraria.
Cumprimentei com alegria as pessoas que vejo todos os dias. (ou quase); sorri (para todos que me foi possível), um cristão é sempre alegre!; telefonei (em verdade mandei mensagem) para (todos) que você não veja há algum tempo; ouvi a história do outro, sem julgamento, com amor; procurei ser - e até fui - gentil com os que estão perto de você; e mais alguns.
Um, em especial foi sobremodo confortante: Abracei amigos para tocar-lhes o coração com o meu; já noutro, “Animar a quem está triste”, falhei miseravelmente.
Neste último caso, encontrei nos mil metros percorridos na ida para o centro, pessoas nervosas, preocupadas, centradas, provavelmente em ganhar dinheiro, porque negociantes em negociação; porém, uma, em especial me marcou com profundidade. Uma amiga de adolescência: cara triste, sofrida, talvez de dor, mas que entre o choque de revê-la depois de anos, naquele estado; e de certa forma termos cortado o contato e o papo me vi impedido de pará-la em plena Rua São Paulo, em dia de feira, ela vindo em sentido contrário ao meu. Deixei-a passar sem sequer lhe dirigir um leve aceno. Não sei se ela me viu; mas não a percebi olhando para mim. Já eu a vi e fiquei pasmo com o possível sofrimento que possivelmente venha passando, interferindo até no seu envelhecimento, já que visivelmente mais velha para o padrão esperado para a idade, similar à minha.
Todavia, também nos sobreditos mil metros vi, distribui e retribuí muitos sorrisos, ora acompanhados de mensagens sonoras – o tradicional bom dia – ora, apenas a leve menção; mais que suficiente para induzir a produção de serotonina ao meu cérebro; em linguagem simples, dar felicidade.
E o apogeu foi quando cheguei “ao Senadinho” – a Kiola - para o “primeiro” expediente parlamentar do dia.
Além de alguns contumazes amigos, já ali presente, privei de imediato pela companhia do amigo, companheiro de aventuras político-ideológicas, o antológico professor secundarista de Português e Literatura no Murilo Braga, depois na Federal de Sergipe, José Costa de Almeida.
Zé Costa, para minha surpresa, recentemente se identificou a mim como ex-aluno do Curso Primário da Escola Rural da Mangabeira; escola essa que foi um dos esforços do meu saudoso pai, Alexandre Frutuoso Bispo junto às autoridades competentes. E, entre outros benefícios, por cujo os conterrâneos mangabeirenses em agradecimento levaram a primeira administração municipal de Valmir dos Santos Costa a nominar a Praça do povoado, onde fica a mesma escola, com o nome do meu pai. É a única no estado que ainda resta com o nome de “Rural”.
Nem bem tinha posto as fofocas em dia com Zé Costa e demais amigos, eis que aparece minha eterna professora de Educação Artística, Marineuza Andrade. Aí se formou dois ícones do velho Murilo e, obviamente que o papo só fez render o caldo
Fechando com chave de ouro a prática quaresmal a que aludi... meu amigo Paulinho de Dóssi.
José Paulo de Oliveira, filho do casal, maestro da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, José Olintho de Oliveira e Eudócia, a matrona serrana típica Dóssi, e ainda tendo por irmão o outro meu grande amigo, o saudoso Antônio de Oliveira é uma lenda viva na nossa historiografia recente.
Só para registro, outro membro da família – José de Oliveira, Zé Oínho – residente por muitos anos no Rio de Janeiro, depois de morto fez algo inusitado: antes de morrer pediu às filhas que queria ser cremado e suas cinzar espalhadas ao vento em cima da serra de Itabaiana. E assim foi feito em 22 de agosto de 2021.
Itabaiana, até meados do século XX é produto totalmente individual de “carregadores de piano”, no dizer de Fefi (Francisco Tavares da Costa), ele próprio um deles. Mas não mudou muito, ao menos nas três décadas a seguir, a partir de 1950. Paulinho é um deles.
Despretensiosamente, o então jovem bancário apaixonou-se por artes, desde o cinema, a música e a fotografia. E é aqui onde sua colaboração foi imprescindível em atar uma linha de fotógrafos a registrar Itabaiana, desde Miguel Teixeira, passando por Percílio Andrade, João Teixeira Lobo, Romeu Alves Santos e, coexistindo com esse e com volume maior, o excelente amador Paulinho.
Muito se teria perdido nos descaminhos do esquecimento não fosse o registro desinteressado, porém lúdico e cuidadoso do garotão “perdedor de tempo”.
Foi com figura dessa estatura que fechei a manhã.
Como se diz... ganhei o dia.



 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

NO CAMINHO DE SANTA DULCE, COM AS BELEZAS DA HISTÓRIA.

 

Santa Paulina

Olhando assim, a montagem mapa e foto de fundo é só uma vaca no meio de outras pastando, que a minha netinha, Elisa, três aninhos, ontem, 26 deste fevereiro, por volta das onze horas me fez parar e fotografar. Mas isso sempre me leva à memória do nosso fantástico passado. À História.

Túnel do tempo.


Na minha mente, contudo, houve um retorno rápido a 1640, quando os holandeses de Maurício de Nassau vieram regulamente por sete anos, ao fim de cada ano, na fazenda da qual essa pastagem de hoje faz parte comprar parte da boiada para abastecer Pernambuco, pelos seus engenhos de força motriz e suas cozinhas de carne. Boiadas e mais boiadas atravessaram o rio São Francisco em tempo de seca do rio (julho a dezembro).

O início do Caminho

Fui conferir o mais novo item, parte do que identifica o trecho inicial do Caminho: a estátua de Santa Paulina – fotos que abrem este artiguete - uma espécie de integração aos caminhos do Brasil, uma vez que o Caminho dela já é realidade no estado de Santa Catarina.
O trecho do Caminho de Santa Dulce até o Parque dos Falcões é esquenta aos caminhantes peregrinos, que sai da Maternidade São José – local do primeiro milagre da Santa – com o firme propósito de percorrer os 400 quilômetros até o Santuário da santa, em Salvador.
Uma aventura gostosa, com higienização da alma e com sérias consequências benéficas à saúde; senão pela fé, mas pelo próprio exercício mental e físico. Bem estar geral.

O Cavaleiro, eu e minha neta
O “esquenta”, que percorri de carro(*) - eu com minha esposa, Rosinete; e nosso xodó, Elisa - em parte, só até a estátua do cavaleiro, ao pé da serra se acha muito bem sinalizado; contudo, ainda cabe mais enriquecimento, e nesse caso com marcos celebrando nossa história.
Um que considero imperativo no trajeto é um monumento onde cruza com a primeira versão da estrada real do sertão, Salvador-Olinda, ou Caminho do Sertão do Meio(**), coincidentemente há poucos metros da entrada para o povoado Boimé.
Os boimés foram a segunda tribo existente dentro das serras, ao lado dos mathiapoones, mais a oeste, donde surgiu a lenda, provavelmente levantada por Armindo Guaraná e que chegaria aos dias de hoje pelo grande timoneiro Sebrão, o Sobrinho. (***)
Ali é imperativo que se tenha um monumento celebrando nossa cultura, com natural indicativo da estrada aqui encontrada pelos holandeses, e que foi por ela até a fundação da cidade, em 30 de outubro de 1675.

(*) Não o fiz a pés, apesar da curta e prazerosa caminhada devida a ainda me achar em recuperação das sequelas de um AVC, sofrido há quatro anos. Mas o gostoso e se fazer assim.

(**) Também Caminho das Boiadas, e ainda dos jesuítas.

(***) Os boimés foram aldeados na Missão do Carmo do Japaratuba, hoje cidade de Carmópolis, provavelmente no início do século XVIII, obviamente sob responsabilidade dos carmelitas. Foi um costume da época. Já quanto aos mathiapoones, provavelmente foram extintos, parcialmente, escravizados ou mestiçados com o invasor luso-espanhol de 1590.
Há dois povoados em Itabaiana com os respectivos nomes: Boimé e Matapoan.




domingo, 26 de fevereiro de 2023

FESTA DE CORES?

 

Acho que vamos ter novo espetáculo de cores. Passei em frente e percebi que está florando novamente, por um tímido ramo florido. É esperar para ver. E encher o olhos; porém com atenção se no volante: fica a poucos metros do semáforo do Shopping, à direita de quem vai para Aracaju.