segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A propaganda é alma do negócio

"Se somente um dólar eu tivesse, eu investiria em propaganda." 
Henry Ford

Entre 1941 e 1945, Manoel Francisco Teles comandou o Município de Itabaiana, praticamente sozinho; sem ameaças. Antônio Dultra, velho e adoentado, faleceria em 1944; o Coronel Sebrão, um dos donos de Itabaiana por quatro décadas, também velho, adoentado e sem mandato, faleceria em 1946; Otoniel Dórea (O Dorinha), deixara a política depois de perder a Prefeitura pra Silvio Teixeira em 1936, falecendo em 1950; Silvio Teixeira, literalmente abandonou o cargo de prefeito biônico (mandato prorrogado palacianamente), e Esperidião Noronha, o mais longevo deles a morrer, em 1956, além de não ser um líder aguerrido, nem tinha mandato nenhum nem cofre público nenhum, à sua disposição. Manoel Teles estava sozinho.
O prefeito Manoel Teles Juntou dinheiro por quatro anos; quando a oposição udenista descobriu a dinheirama, num golpe tomou-lhe o poder, queimando todo o dinheiro em apenas um ano de administração de Etelvino Mendonça, que ficou com a fama de benfeitor, trabalhador; e Manoel Teles de preguiçoso. Em 1947, primeiras eleições depois do Estado Novo, Manoel Teles elegeu seu sobrinho, Jason Correia, contra um aventureiro, pequeno comerciante, com menos de dez anos de chegado da roça: Euclides Paes Mendonça. Foi a administração municipal onde mais se inaugurou obras, proporcionalmente falando, até hoje. Todas de grande vulto. Além das promessas mais que reais de mais duas, uma delas que mudaria o destino da cidade de Itabaiana: a BR-235. A outra foi o Açude da Macela.
Mas... nas eleições de 1950, seu adversário na de 1947 levou o troféu. Houve suspeitas e casos mais que escandalosamente comprováveis de roubo na eleição, com padre e juiz, praticamente brandindo suas cruz ou martelo contra Manoel Teles. Mas Manoel Teles tinha o governo do Estado, do seu PSD, tão matreiro quanto a turma da UDN, que foi eleito; e tinha um portfólio de obras, suas ou do Estado supostamente indicações suas que até hoje ninguém chegou nem perto, em termos proporcionais. Se bem posicionado em popularidade, nenhum ladrão teria a ousadia de lhe roubar os votos. Mas, com a popularidade em frangalhos, não só tiveram, como lhe roubaram. Descaradamente. E ficou por isso mesmo. Caberia a Euclides Paes Mendonça ficar com a fama. Barulhento, mascate perfeito, Euclides transformava qualquer nuvenzinha mínima numa tempestade. Mesmo nas investidas que deu e quebrou a cara, como a construção do aeroporto de Itabaiana, nunca ninguém ousou questionar se não teria sido pura armação de sua parte; nunca! As estradas que fez no município foram de fato recuperações das feitas por Manoel Teles com recursos federais entre 1945 e 1947, e executadas pelo Estado, governado pelo seu PSD; As ruas que abriu, a maioria delas somente se confirmaria vinte e cinco anos depois e algumas simplesmente desapareceram pelas administrações posteriores; mas não dormiu no ponto no momento de adquirir três novas unidades estaduais de ensino, uma delas que somente se confirmaria seis anos após sua morte, e, principalmente: fazer intensa propaganda delas. Não somente delas: Euclides era uma máquina de propaganda ambulante. Euclides cavalgou a onda de repulsa ao governo Vargas e aliados, convertendo todos os benefícios federais em marketing seu. E, claro, enquanto a UDN nacional bloqueava o governo Vargas o tempo inteiro na justiça pra não faz nada, Euclides deu um jeitinho em Sergipe pra fazer o Açude da Macela com “sobras de cimento” do Açude das Três Barras do município de Graccho Cardoso. Superfaturavam lá, e traziam o excedente pra cá, já que oficialmente a obra estaria bloqueada. Mas era do interesse de Euclides.
Não basta ser a mulher do César; tem que parecer a mulher do César.