sábado, 8 de abril de 2023

QUEIMA DE JUDAS

 

Confesso que sempre me senti incomodado com a “queima de judeu” desde pequeno.
Mesmo antes do atual estágio de vida, onde tenho por princípio só matar aquilo que vou comer; que matará a minha fome, para que eu não morra. Aqui, e só aqui é matar ou morrer. Não importa se o grão ou ovo ainda por germinar, porém já vida latente; ou o boi ou baleia: exceto leite, mel, frutos e raízes tuberosas, tudo o mais que se come morreu para nos manter vivos. Cada vida, pois, é sacratíssima.
A queima de judeu (como se dizia no meu meio) ou de Judas, portanto, sempre me soou estranha; uma brincadeira grosseira.
Até que fui crescendo e estudando, e aprendendo sobre a Inquisição.
Foi ela instituída pelo Estado fundamentalista religioso, na tentativa de pela força extremada manter pessoas presas ao seu modo de vida, independentemente das suas vontades. E já começou com punições extremas contra os cátaros, na alta Idade Média, inclusive queimando-os na fogueira. Briga de poder.
Porém foi com seu uso pelas monarquias de Castela e Aragão, como instrumento de tortura e morte, em nome de Cristo, por toda a sorte de mau elemento encastelado no poder, da Igreja ou do nascente império espanhol; e, em geral em ambas posições. Mas não ficou só por isso. De fato, a inquisição espanhola foi um imenso latrocínio conduzido em nome da fé e, pasmem: do maior defensor da vida, o próprio Jesus Cristo.
Fortunas pessoais se fizeram à custa da expropriação pela Corte, que ficava com a maior parte roubada, distribuindo fartas comissões aos denunciantes e até mimos aos inquisidores da Igreja.
À patuleia, com gosto de sangue na boca o momento de gozo era quando ouvia os terríveis gritos de dor dos condenados a queimarem vivos; mas para os agentes dos reis, os covardes denunciantes, principalmente, a fuga do acusado depois de ter todos os bens perdidos, não trazia segurança absoluta, já que testemunho da selvageria perpetrada; contudo, o principal já tinha sido atingido: os bens.
A América foi descoberta com financiamento dessa natureza. Assim também as demais conquistas espanholas, na Europa e além dela.
A fórmula se repetiria a partir de 1934 na Alemanha, e dessa vez com o ouro roubado aos judeus financiando a exponencial máquina de matar de Hitler, até 1945. Latrocidas. Desde grandes quantidades em dinheiro, moeda e imóveis, a reles dentes ouro ou próteses metálicas em algum osso do corpo, arrancado dos gaseados antes de serem queimados nos fornos crematórios. Assassinos e ladrões. Supostamente em nome da pátria e da pureza racial.
Voltando à Espanha de quatro séculos antes, quando o judeu era rico e bem antenado, se conseguisse corromper a máquina – coisa não muito difícil de fazer – poderia fugir e seria queimado um boneco de pano em seu lugar no dia do “Auto de Fé”.
Assim surgiu a tradição da queima do judeu, depois mudado para Judas, haja vista a péssima reputação do discípulo traidor. Para não chocar.
Hoje, como desde o início da pandemia não houve a tradicional “Queima de Judas” no estacionamento do Estádio Mendonção, com suas bombas pipocando e lançando molambos por todos os lados, como há 500 anos em Portugal e principalmente na Espanha, com farta plateia a aplaudir.

SIMBOLISMOS

 

Eu ia fazer um textão deeeesse tamanho para expressar a minha alegria pelo Vice-Campeonato Sergipano de Futebol, previamente conquistado hoje pelo Tremendão da Serra, na semifinal contra o aquival, Club Sportivo Sergipe, nos pênaltis por 5x4; e que necessita bem pouco para pegar a Taça de Campeão.
Mas, paixão não cabe em letras; é indescritível.
Então valho-me da espetacular fotografia colhida por Felipe Araújo, em 24 de abril de 2016, no ainda velho Médici.
E que venha o Confiança ou o Lagarto.


domingo, 2 de abril de 2023

A FINANCEIRIZAÇÃO DA VIDA

 

Em cima, à esquerda, intérpretes e, logo abaixo, personagens reais do drama Terravisions contada pela Netflix em "Batalha Bilionária"; em baixo, à direita, o criador do mp3, hoje tão popular.

Quando Yeshua Ben Yossef, literalmente, Jesus filho de José (sobrenomes são invenções de pouco mais de quinhentos anos) nasceu, o mundo civilizado, o que queria dizer o mundo do Império Romano, recém ordenado por Caio Otavio, que se deu o nome de Augusto, ou Augusto o César estava sob a Pax Romana; a paz romana.
As pessoas podiam ir do Iraque a Portugal, da Inglaterra ao Egito, por estradas modernas, calçadas em pedra; ou fazê-lo pelo Mar Mediterrâneo e pelos rios que nele desaguam. Se aparecesse saltadores? Era só chamar a guarda romana de cada vila ou cidade.
A prata da Espanha, que tinha servido para Aníbal Barca quase destruir Roma, dois séculos antes, voltou-se contra ele e demais cartagineses, que foram arrasados por Roma para sempre, converteu-se em moedas romanas que circulavam dentro e fora do Império. Até em lugares tão longínquos quanto os reinos da Índia e até na China, trocado por porcelanas e seda.
Riqueza. Muita riqueza. E também miséria. Muita miséria.
Haverá sempre aqueles que só querem viver. Na simplicidade. E estes são os que mais sofre com a ganância, geralmente de gente de miolo mole, mas muito bem posicionada, física e moralmente para concentrar tudo; até o básico.
O Império Romano acabara de mudar de inferno. Antes era o medo terrível de eliminação e consequente eterna guerra, supostamente para se defender, e que acabavam em sangrentas conquistas; agora, a dúvida era o que fazer se já tinha conquistado tudo que interessava.
Foi contra esse mundo material, limitado, cruel, ridículo, finito que apareceram várias ideologias, cada uma mais radical, especialmente na Judeia, inclusive a bela ideia sintetizada no Sermão da Montanha, mas presente em todos os Evangelhos.
Ninguém que pensasse um pouquinho mais aguentava tanta conquista; tanta vitória, que, além do risco de desaparecer no ar como fumaça, se isso não ocorresse seria posto a prova com a dura inevitável realidade da morte. Isso, se bem sucedido. Porém sempre houve a multidão dos que só queriam viver em paz.
De verdade, o cristianismo nunca foi além das realidades pessoais de cada um. De fato, logo ele foi reprogramado para ser poder, o mais mundano possível. Servir ao materialismo, extremado até. O Ter muito acima do Ser. Até o uso do próprio Ser pelo Ter como certas religiões. Mas a mensagem está ao alcance de todos; não o pratica quem não quer.

Esse C++ (gratuito) foi a base, (CD à esquerda) suficiente a um garoto de 16 anos, cursante do Primeiro Ano do Ensino Médio, hoje engenheiro de software, meu filho Uriel, em programar o primeiro site de Itabaiana, o itabaiana.inf.br, mais o segundo - da CDL - e o terceiro, da Câmara Municipal de Itabaiana nas suas versões originais.

Na recente passagem do milênio, e do século, obviamente, experimentamos uma revolução que ora está em franco declínio, qual seja a da democratização plena do conhecimento.
A fase da paixão na informática levou-nos à anarquia e até a níveis perigosos, bem além de matar a clássica indústria do entretenimento, em gravuras e som.
Tudo se precipitou numa catarse. Milhares de programadores ao redor do mundo ousaram quebrar paradigmas, regras, e inundar o mundo com seus programas livres, desenvolvidos, na maioria por mera curiosidade e ostentação de conhecimentos; ou contra esta. Mesmo os programas comerciais, feitos por exímios técnicos e péssimos administradores, completamente avessos à monetização ficavam meses disponíveis demo; afora a pirataria clássica pura e simples.
Mas o diabo estava à espreita. E logo apareceram os investidores. Yuppies, filhos de Reagan e Thatcher que logo invadiria tudo com suas Microsofts, Apples, Googles, Metas, etc., etc. e etc.
A música, a primeira fronteira aberta pelo mp3 de Karlheinz Brandenburg, e tornada mundial pelo garotão Shaun Fanning e seu Napster, foi a primeira a reagir. Não proibiram a execução particular de velhos hits tão caros às gerações de menos de 40 anos; todavia, ninguém se engane: não o foi por ser muito dispendioso e dar modesto retorno; porém, os arquivos são monitorados através dos players, todos gratuitos, porque espiões, ao contrário da maioria dos que existiram até a década de 10. Ou seja, está tudo “sob controle’” do mercado; no dia em que quiserem acabar com a farra é só apertar o dedo na tecla “enter”. E a nova produção está inteiramente subjugada, não mais à gravadora clássica; mas ao “streaming”, tipo Spotify.
Exemplo? Costumo enviar bom dias musicados aos meus contatos de WhatApp. Metade dos que regem reclamam de certas dificuldades na reprodução.
O cerco vem se fechando.
O twitter – que não uso e nunca usei – inaugurou recentemente uma modalidade “vantajosa”; espécie de serviço vip para seus usuários. Isso já é comum em toda a rede e até reles blogs pessoais já vêm com a premissa de financeirização, onde só entra “autorizados”, senão já em execução da captação financeira, em vias disso.
Sites de notícias já se percebe nitidamente duas modalidades de propaganda, ditas matérias noticiosas: as de acesso direto; e as que só mediante identificação, incluindo cookies. E até pagamento. Pagar para ler propaganda.
Música, filmes... o “streaming” (correnteza) cobre tudo. Tudo aparentemente barato. Pela internet clássica, mas avança velozmente os conteúdos privativos na TVs nas plataformas de áudio. Devagarinho, como forma de teste até no conteúdo antes impresso de livros, revistas e jornais, exceto pelas Amazons da vida, que se agigantou exatamente indo por essa área.
Tudo dinheiro!
O plano de Saúde é financeirizado assim com o são o hospital, o laboratório farmacêutico, a clínica, o especialista, louvar a Deus (quase todos os casos), a escola... tá tudo dominado.
A Besta apocalíptica alcança a tudo e a todos em qualquer tempo e lugar.
Recentemente o governo americano, buscando defender sua ditadura mundial deu uma colossal prensa no Tik Tok. Talvez por isso já se observa certa dificuldade em operar certos codecs provenientes, especialmente da Rússia. O império anglo-americano é essencialmente dinheiro; e tudo que for necessário para assegurar o total controle mundial dele.
Às empresas anglo-americanas, tudo. O Terravision, invenção de um grupo de molecotes alemães na década de 90, liderados por Joachim Sauter e Pavel Mayer hoje é inteiramente usado pelo Google numa excepcional máquina de cobertura de todo o planeta, com detalhes impressionantes... sem praticamente pagar nada aos idealizadores, história apaixonante, mostrada em filme pela plataforma Netflix, intitulada “Batalha Bilionária”.
Admirável Mundo Velho, enferrujado e se quebrando; mas sempre se vendendo como Mundo Novo.