domingo, 2 de março de 2025

EU FALEI FARAÓ. EGITO Ê(*).

 

Em artigo deste domingo, o médico, atual secretário de Cultura de Itabaiana, Antônio Samarone de Santana, aborda, com propriedade, um aspecto do carnaval no Brasil: um superferiado para 99 por cento, enquanto o 1 por cento se esgoela em avenidas, ruas e vielas, país afora.

É interessante: o São João, inventado pelos jesuítas no afã de atrair a indiada aos cultos e à civilidade, mesmo sendo originalmente uma festa nacional, porém, ao ser estigmatizada de “nordestina”, perdeu o brilho no sul maravilha, ao sul do paralelo 20; e jamais foi içada ao status do carnaval, que nunca atingiu mais do um por cento já dito.

Pegadinhas segregacionistas à parte, como diz o Samarone, o carnaval é, sim, uma festa pra poucos. Porém, para o país, sem decretar feriado, por quatro e até cinco dias, já que seus efeitos começam na sexta-feira, e só vão terminar na quarta-feira, ao meio-dia.

Afinal, este é um país eternamente protocapitalista, desde os holandeses em Pernambuco (os holandeses foram os inventores do capitalismo), e dominado pela cultura bancária (é só ver as filas). E os bandos, digo, bancos (desculpem a contaminação com o boquirroto Berthold Brechter), só abrem ao meio-dia da Quarta-Feira de Cinzas.

E voltamos ao início da civilização.

No Egito dos faraós, o ano foi medido com precisão espantosa, para algo feito há cinco mil anos atrás: 365 dias.

Eles criaram as três (e não quatro) estações; os dozes meses de três semanas de dez dias.

Mas o ano, propriamente, era contado pelos dias comuns, que era 360 dias. Tecnicamente havia mais cinco, perfazendo 365; mas que não eram computados, porque em festa aos deuses Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus; os deuses mais importantes naquela terra encharcada de deuses.

No Brasil, nós reinventamos os cinco dias “que não contam”.

Não é preciso sambar, pular, ou participar de orgias e bacanais. É um superferiado não oficial, e pronto.

O comércio, sempre diligente em fazer seus comerciários trabalharem em jornadas de até dez horas, fecha, ovinamente; indústrias, também. Até certos serviços... até os bancos, os bancos! Esqueça-os no carnaval: está todo mundo celebrando Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus.


(*) Título inspirado em “Faraó, divindade do Egito, por Banda Mel”.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

ECOTURISMO NA SERRA

 

Neste ano, de 350º aniversário da cidade, as coisas estão acontecendo.

Deve estar desembarcando amanhã na Serra, ou seja, em Itabaiana, uma turma, a partir da capital baiana, porém com origem diversa, para passar o carnaval por aqui, no Agreste.

E talvez aproveite, para dar uma caçada no Carneiro de Ouro. Nunca sabe, né?

Pouco a pouco a cidade vai ganhando contornos de centro turístico, em busca das riquezas naturais existentes; do patrimônio cultural imaterial, inclusive o rico patrimônio histórico, ainda pela maioria ignorado; e pelo grande futuro que promete em matéria de turismo religioso.

A cidade, conjuntamente com outros municípios dela originado, tem o único parque ecológico em Sergipe, o Parque Nacional da Serra de Itabaiana. Na franja sudoeste dele, uma preciosidade nacional, que é o Parque dos Falcões.

Junto ao Parque do Falcões, foi recentemente ereta uma pequena estátua de Santa Dulce dos Pobres, à margem da primeira etapa do Caminho de Santa Dulce, Itabaiana-Salvador. Nas colinas abaixo, está um lugar de grande significado histórico, na construção do Brasil, especialmente antes do encontro de ouro em Minas Gerais. É o local da prisão de Melchior Dias Moreia, neto de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, em 16 de julho de 1619, por não ter entregado a mina de prata que descobriu, três décadas antes. A prisão foi efetuada pelo próprio governador-geral, D. Luís de Souza.

Na franja sudoeste da Itabaiana Grande, limite do Parque Nacional da Serra de Itabaiana; a 200 metros de Santa Dulce e 500, de local histórico e nascimento da lenda da prata (v. Paulo Setubal)... eis o Parque dos Falcões (a sede foi reformada recentemente, depois da foto).

Na fronteira sul do município ficam, do lado itabaianense, o povoado Ribeira, e vizinho, já no município de Campo do Brito, as Pias de Ribeira. 

Trata-se de um conjunto de piscinas naturais, cavadas durando milhões de anos, na pedra calcárea, pela corrente do rio das Pedras, que ali formou mais um dos boqueirões entre as serras, que denominam o lugar, Domo de Itabaiana, ou, simplesmente, Itabaiana.

É, desde prisca eras visitado para relaxantes banhos. Quando a corrente está plena, geralmente no inverno, ainda se pode visualizar poderosa cachoeira, no limite do trecho das piscinas.

Saboroso banho, inclusive da História. E "Coisas que pra um cristão ver, tem que andar a pé".

São atrativos, na zona rural, ainda pouco conhecidos, mas que prometem para o futuro: a área em torno da Serra do Pico, local da última batalha na Conquista de Sergipe; as ruínas da Igreja Velha, seis quilômetros a leste da cidade; e locais de origem de algumas lendas, como a Lagoa do Forno, lendariamente, originada das lágrimas do cacique Panema, arrependido depois de cometer feminicídio contra sua lindíssima Mbuçarãe; e o povoado Boimé ou Boimel, local da assembleia íncola, de condenação à maldição da tribo matapoan.

Na cidade, temos o local do milagre que canonizou Santa Dulce: a Maternidade São José; e a setecentista igreja matriz, de arquitetura iluminista e racional, da fase pombalina. É aconselhável uma visita a todas as outras das Sete Maravilhas da cidade: Feira, Colégio Estadual Murilo Braga, Filarmônica Nossa Senhora da Conceição.

Mas as atrações que moverão o grupo que chega amanhã, vão além do município de Itabaiana, e da própria grande Itabaiana, o que inclui seus municípios filhos.

Em resumo: 

- Estão previstas trilhas para o Parque Nacional da Serra de Itabaiana, e Parque dos Falcões;

- Para a cachoeira de Macambira, e a Pedra das Araras, na vertente oeste da serra da Miaba;

- Para a paradisíaca orla Pôr-do-sol, ao extremo sul da capital, Aracaju, e sua vizinha, a historicamente tão significativa Coroa do Goré;

- Para a cachoeira do Saboeiro, já em terras lagartenses;

- E finalizando com a trilha para os Poções ou Pias de Ribeira, já no município de Campo do Brito, porém, decerto passando pela bucolíssima Ribeira; e com visão privilegiada para um dos primeiros locais colonizados de Sergipe.

Como costumo dizer, em Itabaiana, portas, janelas, portões, cancelas, porteiras, passadiços, colchetes e, principalmente: os braços estarão sempre abertos. Escancarados. Tanto que às vezes pode até soar deseducação; mas é puro passional acolhimento.

Que sejam bem-vindos e voltem sempre.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

DE ROUPA NOVA

 

E, nos 350 anos da cidade fundada, sua Centenária Prefeitura muda de cara. De novo.

A Alcaidaria de Itabaiana, hoje Prefeitura, foi formalmente criada pelo rei D. Pedro, O Pacífico, de Portugal, em 16 de junho de 1700, ao nomear o primeiro prefeito, cargo então chamado de alcaide, em João da Costa Feio.

Começou mal: João da Costa Feio preferiu outro cargo em Portugal. Tiveram que nomear outro depois.

Em meados do século XVIII, com as reformas do Marquês de Pombal - em todo o império - acabou-se o cargo de alcaide. A administração municipal ficou com o presidente do Conselho Municipal, invariavelmente, também presidente da Câmara de Vereadores.

A assim se passaram mais de 150 anos, no Brasil, agora independente, até o fim da monarquia, no reinado do Imperador, D Pedro II.

Com a República, e sua primeira Constituição, renasceu a separação dos poderes, ficando o Poder Executivo Municipal, independente do Poder Legislativo, a Câmara de Vereadores.

Criou-se a figura novamente do Intendente, à época; denominado prefeito, pela Revolução de 1930.

Em 1890, inexistia prédio da Prefeitura. No local da atual ficava e pequeno Mercado Municipal. Em 1913, foi inaugurada a "Intendência"; reformada em 1924; desmanchada e reconstruída com feições mais modestas, em 1965. Até hoje.

Mas o prédio da Intendência – a Prefeitura - só viria a ser construído em 1913, quase vinte anos depois.

E, desde 1913, o hoje centenário prédio, sofreu duas reformas radicais: a de 1924; e a de 1965, que o deixou no formato atual.

Em 2005, contudo, começou e festival de cores, já ensaiado em outros próprios municipais, desde 1997. E a cada administração, o prédio tem recebido nova demão de pintura, em geral, conforme o partido no poder.

Mas dessa vez, o Poder Executivo inovou: saem as cores partidárias; entram os cinza e grafite; conferindo certa seriedade e classe ao conjunto.

Roupa nova; nova fase.

A primeira mudança de cor foi na administração Maria Mendonça. O retorno de Luciano Bispo, em 2009, imprimiu-lhe novas cores; substituídas, a seguir, por Valmir Costa, e mantidas por Adailton Rezende. Agora, no retorno de Valmir, toma a feição da primeira foto deste artigo.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

MUNDOS EM TRANSFORMAÇÃO

 

100.3 Liberdade FM fora do ar. O último suspiro do empreendedorismo começado por Albino Silva?

Na semana passada eu li uma matéria no portal 93, mais uma, sobre a agonia da radiofonia, no caso, a marca Liberdade de Sergipe; melhor, o que dela restou, a Liberdade FM.

A FM, informam os aplicativos para rádio na internet, ora consultados, está fora do ar. Provavelmente sem retorno.

Em mim, causa certa tristeza, apesar de ser missa cantada: só sobreviverão produtores e emissores de conteúdo estribado em fundos públicos, sejam eles estatais ou privados. De governos ou instituições. Impressos, em áudio ou vídeo. Os tempos de financiamento privado acabaram para esses segmentos.

Mas, no caso da Liberdade, a coisa pega um pouco mais.

A Liberdade AM, em que pese politicamente, ser parte de um projeto de poder, que desaguou no golpe e regime de 1964, também foi ela de enorme importância para Sergipe, especialmente no terceiro quartel do século XX.

Para começar, quando foi alcançada pelo próprio veneno que ajudara a fabricar – a censura ditatorial - a emissora foi uma trincheira em defesa da cultura nordestina, chegando a atrair para Aracaju nomes como Dominguinhos, Anastácia, Clemilda, Gerson Filho, a prata da casa Jose Vaqueiro, e outros figurões voaram nas ondas da Rádio Liberdade de Sergipe, mormente quando só existia ela e a Difusora, hoje Aperipê.

O advento da Liberdade FM em meados dos 80 coroou a obra. A emissora veio com um estilo classe A, tanto na linha musical, MPB, pop nacional e internacional, e até boas arranhadas na música clássica. Dava gosto de ouvir. A quem de fato ouve música.

Confesso meu divórcio do rádio – não somente da clássica Liberdade FM – à medida que se diversificaram os meios, especialmente a internet; mas dói-me saber que mais uma ilha de excelência fechou as portas.

Isso faz-me lembrar do que escreveu Humberto de Campos, por ocasião da morte de João Ribeiro: “Cai um jequitibá do Nordeste; qual marmeleiro será plantado em seu lugar?”

E tem também o danado do bairrismo. Mesmo que tenha a emissora, há bastante tempo saído da ligação direta com Itabaiana.

A marca Rádio Liberdade foi ao ar em 7 de setembro de 1953, forçando a Difusora, do Governo, a correr atrás. Pelas mãos de um ceboleiro: Albino Silva.

Albino Silva da Fonseca nasceu em Itabaiana, em 05 de março de 1909 e faleceu em Aracaju, em 19 de junho de 1992, aos 83 anos.

Empresário inovador, acabou sendo pioneiro em vários setores da economia sergipana, fundando as primeiras fábricas de biscoitos e de macarrão; a primeira granja do estado, o gás engarrafado em Sergipe, e água mineral. Foi um dos construtores da respeitabilidade itabaianense no comércio, acompanhando Gentil Barbosa, os irmãos Paes Mendonça e Oviedo Teixeira, entre outros.

O fim da Rádio Liberdade, conquanto que deixe a sensação de ter lutado o bom combate, deixa um gostinho amargo de saudade, e da constatação que eterno, só a eternidade.


domingo, 26 de janeiro de 2025

OS SONHOS DE FLORENTINO

 

Entrada oficial para o Parque, em montagem fotográfica com o Professor Florentino Teles de Menezes, o idealizador.

Daqui a cinco meses, o Parque Nacional da Serra de Itabaiana completará vinte anos de criado.

De fato, transformado, no segundo ano do primeiro governo Lula, uma vez que então já uma Estação Ecológica, criada pela Portaria 118, do extinto Ministério do Interior, em 1981, durante a presidência do último general-presidente da ditadura, João Batista Figueredo.

Brasil: Cultura de destruição em massa da natureza. Desde a chegada europeia. O senso de eterna exuberância

Tem sido uma vitória, sofrida, um passo de cada vez, fazer alguma preservação, enquanto a sociedade pratica a cultura de terra arrasada; tipicamente brasileira; desde as destruições da Mata Atlântica do século XVII, até a desertificação atual da Caatinga e seus correntões, temos vivido empenhados em destruir por destruir. Exuberância total. E irracional.


A idílica Serra de Itabaiana.

A serra de Santa Maria da Graça, de Américo Vespúcio.
(Mapa Cosmografia Universal, de Martin Waldseemüler, 1507, conforme informações de Vespúcio, em 1501)

De montanhas-guia aos navegadores, começando pelo mais famoso, Américo Vespúcio, que a denominou Serra de Santa Maria da Graça – e não pegou – a esperanças de aventureiros por metais preciosos, nos nos dias, as protuberâncias do velho vulcão do arqueano, em forma de cadeia montanhosa ainda chama a atenção, especialmente a mais alta.
Em 1902, ao publicar o seu livro, Quadro Corográfico de Sergipe, Laudelino Freire nos coloca as serras, originalmente denominadas de Itabaiana, como locais aprazíveis, ideais para curas de enfermidades, especialmente das vias aéreas. Respiratórias. Já era lugar comum em Sergipe, entre médicos e seus parcos recursos de cura, especialmente num de seus mais temíveis flagelos: a tuberculose.
E assim se passaram três décadas. De novidade na área, só a peregrinação anual do Dia de Todos os Santos, até a capelinha, no alto da serra maior, que se arrastou, desde seu início, em 1910, até fins os anos 1980.
No nervoso fim da República Velha, se adiantando aos fatos que viriam, o professor Florentino Teles de Menezes, movidos pelos novos ventos, que tanto inspiram os sonhadores, moveu mundos e fundos, e usando do seu vasto e inquestionável prestígio, criou o Centro de Propaganda da Serra de Itabaiana, cujo objetivo final era operar uma estância curativa e recreativa. 
Dele, diz o também professor, Ibarê Dantas, em seu livro biográfico (Florentino Teles de Menezes, O sociólogo pioneiro, Aracaju, 2009, versão pdf) sobre o citado: “Sonhando com Sergipe incorporado às grandes causas, mostrou-se atento para a questão do meio ambiente ao propor, em 1928, que a serra de Itabaiana “fosse transformada num centro turístico”". 
Em cima da serra grande, já reduzida à sua atual denominação, uma redundância que se impôs: Serra de Itabaiana. 
Florentino organizou caravanas da alta sociedade aracajuana; envolveu grandes autoridades estaduais no projeto... mas, ficou só no projeto.
Parques nacionais no Brasil, só viriam a serem criados no Estado Novo .
O parque se espraia por cinco municípios. Numa região antiga e densamente povoada, busca reduzir ao mínimo os contenciosos.
Nunca faltou idealista, contudo, poucos sequer sabiam com exatidão o que pleiteavam.
Em 1966, a criação de um parque de transmissões, pela Embratel, veio se somar à capelinha existente. E a tão sonhada estrada de acesso, ao topo da serra, não a partir de Areia Branca, como sonhado por Florentino Menezes e sua diretoria, em 1932; mas no trajeto atual, para a sede do Parque, veio como benefício geral.
Em 1981, fruto da crescente consciência ecológica, e seu eco na ainda adolescente Universidade Federal de Sergipe, veio a primeira tentativa séria de reconhecer a Serra de Itabaiana como um lugar especial: O Ministério do Interior, através da Portaria 118/81 criou a Estação Ecológica Serra de Itabaiana. Porém. Como quase sempre ocorre com o mundo intelectual, dissociado completamente da cultura popular e política local. Nota de rodapé, talvez, em algum jornal ou boletim temático. Só.
Verdade seja dita, no meio popular, ecologia ainda era um palavrão; e só o Dia da Árvore, comemorada em modestas escolas de alfabetização. Uma vez por ano.
E, por ser uma medida intelectualizada, burocrática; com típico modus operandi da época de fim da Ditadura, impositivo, puro e simples.
Algum esforço de trazer o tema para o povo foi então posto em prática, como o 1º Simpósio Sobre a Realidade Ecológica da Serra de Itabaiana, no início dos 90, organizado pelo professor Taurino Duarte e o pessoal do IBAMA.
Em 30 de setembro de 1998, na 8ª Reunião do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, em Matinhos-PR, dezessete anos depois de criada, foi lavrado um requerimento, pela implantação em definitivo da Estação Ecológica da Serra de Itabaiana.
De fato, o IBAMA local, que andou meio sonolento, acordou com algumas iniciativas particulares de se envolver com a área já trabalhada. Interpretadas como invasão deliberada.
Em 1998 as prioridades governamentais eram outros “verdes”. Preferentemente, impressos no Tesouro americano. E nada foi adiante.
De tanto malhar em ferro frio, ou seja, querer tirar o povo da serra, optou-se por transformar a Reserva, de Estação em Parque Nacional, o que franqueia o acesso, desde que controlado, englobando outras áreas, inicialmente de fora, incluindo a Itabaiana-Mirim – serras, do Bauzinho, Comprida e do Boqueirão – e a Cajaíba, ou, Cajueiro, bem como o grosso das nascentes dos rios Cotinguiba e Poxim, Mirim e Açu.

Os contras

A transformação em Parque, em 15 de junho de 2005, o abriu oficialmente ao público, respeitadas, obviamente, as normas ambientais. Melhorou. Mas ainda sofre pesados ataques, inclusive de autoridades. Nesse caso, o Parque já deu início sofrendo pesado ataque.
Em dezembro de 2005, em reunião de emergência, o Governo de Sergipe foi instado a atrapalhar, “uma obra dos adversários partidários”, no melhor estilo pebas versus cabaus.
Atualmente rola por aí uma lenda urbana, de que o asfalto da decantada rodovia Itaporanga-Itabaiana (na realidade, São Cristóvão-Itabaiana) empacou por conta do ICMBio, administrador do Parque. 
Uma ligeira consulta aos órgãos competentes, contudo, não apontou nenhum contencioso. Apesar da rodovia atravessar o boqueirão entre as serras de mesmo nome e da Cajaíba, entre os povoados Cajueiro, no município de Itaporanga, porém administrado desde 1963, por Areia Branca; e o povoado Boqueirão, neste município. No sobredito boqueirão, o Parque se liga por uma estreitíssima faixa de apenas 279 metros, atravessada pela centenária estrada real de São Cristóvão, que será(?) usada pelo asfalto.
Já a rodovia BR-235, tem sua travessia já prevista no Art. 2º, alínea II, parágrafo único, do decreto nº 10.557, de 15 de junho de 2005.
Como sonhou Florentino Menezes, também sonho com o dia em que teremos delimitação precisa da área do Parque; instrumentação completa de visitação e até pontes verdes, conectando as serras Itabaiana-Açu com a Itabaiana-Mirim e a Cajaíba, enfim com o dia em atingiremos condição satisfatória de civilidade, e a transformação do Parque num dos principais atrativos para a grade turística, padrão internacional, do desprezado estado de Sergipe, onde cargos de agentes públicos do turismo são meros empreguinhos. Pra constar. E acomodar acólitos partidários.

Entretanto, se move

O Parque, pouco a pouco, vem resistindo à sanha dos destruidores, que vão desde mineradores a cachaceiros, que usam o espaço só para encherem a cara; coisa que podem fazer em qualquer espelunca. E depredarem.
E os sonhos, dos teimosos sonhadores, não morrem.
Projeto de acessibilidade, como o teleférico à Itabaiana-açu, volta e meia volta à pauta. Dos sonhadores, óbvio. 
Dentro do possível, o Instituto Chico Mendes, administrador do espaço vem fazendo as lições de casa. Falta melhorar a cultura de pertencimento, que, diga-se de passagem, mesmo assim já está com uma boa quilometragem, relativamente aos meus tempos de garoto, a perseguir as siriemas para vê-las – além de ouvir – cantar, a cada intervalo das ligeiras chuvas de agosto na vertente sul da serra grande. Ou dos lenhadores a extrair cargas de mangue nas encostas do Poco das Moças.
Enfim, apostemos no futuro.
“Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar”, como magistralmente recita em forma de canto, Guilherme Arantes.
Sergipe só tem espaço para crescer mediante o turismo. Ou se investe nisso, de fato, ou continuará um jipe, sujeito à ferrugem. Ao fim. Nunca um Tupolev.

Concepção artística de Marlon Delano, para um teleférico, facultando maior acessibilidade ao topo da serra. É um sonho de consumo dos florentinos atuais. 
Quem sabe, né?







sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

SÃO PAULO E ITABAIANA.

 

Anchieta, ao criar uma missão nos campos de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, deu o pontapé para a maior cidade do mundo ocidental, na atualidade: São Paulo, capital.
Do mesmo modo, a criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana, em 30 de outubro de 1675, também criou a hoje dinâmica Itabaiana.

Amanhã, 25 de janeiro, a maior cidade do Ocidente (África, Américas e Europa) completará 471 anos de fundada.

Originalmente a cidade foi fundada, como uma missão jesuítica – o Colégio São Paulo - porém, tanto impactou a ousadia do Padre José de Anchieta, hoje santo, que três anos depois a missão se emancipou com vila, de São Vicente, que era então, o único município do hoje grande estado. 

Como vila virou capital da capitania em 1663. Mas o status de cidade, só em 1711, 157 anos depois; e, mais três séculos, veio a assumir a "cabeça do Brasil".

Observação: no sistema administrativo português, só era cidade se fosse fortificada. Com muros e exército permanente. Com o tempo, isso foi mudando, e, no caso do Brasil, a ditadura do Estado Novo, pelo Decreto-Lei 311, de 1938, acabou com a vila como sede de município: agora, só cidade.


Itabaiana.

Itabaiana: uma cidade-cofre, para guardar prata. Que só veio a ter o status de cidade, 213 anos depois de fundada.

Incomparavelmente menor, mas a nossa cidade tem mais a ver com a história da grande aniversariante de amanhã do que parece.
Primeiro centro econômico do estado de Sergipe, nos primeiros 50 anos de colonização, foi-lhe negado qualquer organização social até 1675. 
Fundada a paróquia de Santo Antônio e Almas, em 30 de outubro de 1675, estava aí fundada a cidade, que só veio ter esse título em 28 de agosto de 1888, 213 anos depois.
Originalmente, a cidade foi Santo Antônio de Itabaiana; Itabaiana, era toda a área entre as serras, desde o rio Sergipe ao Vaza-Barris
Em 1674, um ano antes, a chegada de D. Rodrigo de Castelo Branco, numa busca desesperada por prata, acabou forçando o nascimento da Paróquia de Santo Antônio e Almas, como parte, certamente de uma cidade fortificada para guardar a prata.
Prata não houve. E a tímida povoação foi emancipada do município-pai, o de São Cristóvão, por decreto de 20 de outubro de 1697, 22 anos depois. Com o status de vila.
Com o status de vila, Itabaiana passou 191 anos, só ganhando o status de cidade em 28 de agosto de 1888. Mas só a partir de 1950 reassumiria sua condição de locomotiva interiorana de Sergipe. Como foi no início dos anos 1600.
Do livro Razoes do Estado do Brasil. Do Sargento Diogo Campos Moreno, 1612.
No início do século XVII, Itabaiana era também o campo de teste da pecuaria nacional, propriamente dita; como as commodities atuais. Onde houver uma manada de pé, no país, foi aqui o campo definitivo de teste de viabilidade econômica.


Meus parabéns aos paulistanos pelos 471 anos de existência de São Paulo dos Campos de Piratininga.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

350 ANOS: SANTO ANTÔNIO, O PEREGRINO.

 

Santo Antônio em peregrinação à matriz de Nossa Senhora do Bom Parto.

E, dando sequência às comemorações do Sétimo Jubileu de 350 anos de criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas, Santo Antônio, nem fugiu, nem escolheu outra quixabeira para pousar.(*) 

Hoje à noite, em procissão, devidamente acompanhada pela banda da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, a imagem do Santo deixou a centenária primeira matriz do interior de Sergipe, e, sob cortejo de fiéis, iniciou uma visita à paróquia-filha de Nossa Senhora do Bom Parto, a segunda mais antiga do sítio urbano, que estará em festa da sua padroeira até o próximo dia 30, última quinta-feira, deste janeiro de 2025.

Além das seis paróquias urbanas, de Itabaiana, filhas de Santo Antônio e Almas, são também filhas diretas as paróquias: do Sagrado Coração de Jesus, de Ribeirópolis; Nossa Senhora da Boa Hora do Campo do Brito; São Paulo, de Frei Paulo; e Santa Terezinha, de Moita Bonita. 

São “netas”, todas as demais, dessas, derivadas: São Domingos de Gusmão, de São Domingos; Sagrado Coração de Jesus, de Carira; São José, do Pinhão; São Francisco de Assis, de Macambira; Nossa Senhora do Patrocínio, da Pedra Mole e Nossa Senhora Aparecida, da cidade de mesmo nome. 

São também “netas”, as de Nossa Senhora da Conceição, do povoado Alagadiço e Menino Jesus, do povoado Mocambo, oriundas da Paróquia de São Paulo, de Frei Paulo; e São Sebastião, do povoado Serra do Machado, oriunda da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, de Ribeirópolis.

Não definível os respectivos status, mas ainda caberiam na família Santo Antônio e Almas, as paróquias: de São João Batista, de Areia Branca; Nossa Senhora da  Conceição, de Riachuelo; Santa Rosa de Lima, da cidade de mesmo nome; São José e Santa Dulce de Malhador, e de São Miguel, do Aleixo.

É que, antes de ser de Nossa Senhora da Dores, a partir de 1859, São Miguel do Aleixo e toda a margem direita do rio Sergipe era de Itabaiana e sua paróquia. Do mesmo modo, antes de ser de Laranjeiras e Riachuelo, Areia Branca foi Itabaiana, até 1874. Assim também Malhador. A própria Riachuelo, como povoado Rio de Sergipe, na passagem de São Gonçalo, foi disputado por Santo Antônio e Almas e Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba até ser completamente integrado à Paróquia Nossa Senhora do Socorro, em fins do século XVIII (**). Santa Rosa de Lima foi tirada da Itabaiana e anexada à Divina Pastora, só em 1896.

Santo Antônio não teria tempo, até 30 de outubro de visitar todas elas.

Em tempo: por ironia, São Miguel, a quem o Padre Sebastião Pedroso de Góis intentou incutir como devoção principal do itabaianense, não pegou. E foi ressurgir como padroeiro em São Miguel do Aleixo, depois da área desmembrada de Itabaiana, e adicionada a Nossa Senhora das Dores.

Ao dirigir as comemorações do 7º jubileu de Ouro - 350 anos - da criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas, e naturalmente de fundação da cidade, o Padre Marcos Rogério traz-nos à reflexão do porque realmente Itabaiana é grande
Em 1975, nos 300 anos, falou-se no Congresso Eucarístico, e nada sobre a data, Houve um cochilo; dessa vez, não.



(**) Conforme cartas paroquiais de 1757, ao Conselho Ultramarino; e mapa de 1825.