terça-feira, 16 de junho de 2015

Marco desmarcado

Começaram as obras de um símbolo mais que polêmico da cidade de Itabaiana conforme culturalmente inculcado na sociedade: o pretenso marco do Ponto Geodésico do estado de Sergipe. Dizem que motivo de emenda parlamentar ao Orçamento Geral da União por parte do senador Eduardo Amorim, o que, ao examinarmos com exação os três últimos orçamentos federais, concluímos que não: é recurso federal, sim; mas não de emendas.
A priori, o centro geodésico do estado de Sergipe está bem distante do município de Itabaiana (vide reprodução abaixo do Centro Geodésico e do Centro Geográfico absoluto do estado), que se localiza na região do povoado Várzea do Exu, município de São Miguel do Aleixo; todavia, as gerações de intelectuais itabaianenses a partir do último quartel do século XX criaram essa cultura, que ora se materializa imperfeitamente na construção do dito marco.

E qual o significado daquele marco ali plantado desde fins dos anos 40? Pessoalmente, não sei. Posso sugerir que se trate de um marco da Irmandade das Almas, proprietária da cidade e sob quem, não fosse sua existência não haveria cidade alguma. Seria o ponto mais plausível, já que próximo à Matriz de Santo Antônio, de onde tudo partiu a partir de 1675. Sem documentos ou sequer sem uma testemunha ocular de algum fato que lembre a sua imposição ali naquele local, seria de grande irresponsabilidade da minha parte dizer isso ou aquilo, todavia, a certeza de que não é o Centro Geodésico, isso eu a tenho. Não vou aqui declinar sobre a caracterização de marco porque aqui não cabe e há inúmeras referências confiáveis na internet para que o quiser fazer.

De quando é?

Fotografia da Praça em reforma, na administração do prefeito Silvio Teixeira, do 7 de setembro de 1940, mostra um coreto novinho, na sua administração construído; além de mais adiante no horizonte já aparecer a torre e telhado da “igreja dos crentes”, a Igreja Presbiteriana, da Rua Sete de Setembro, inaugurada em dezembro de 1939. Nem sinal do tal marco. Em fotografia de João Teixeira Lobo, de 1949, porém, na administração de Jose Jason Correia já é possível vê-lo com aspecto de recém-implantado. Na reforma feita por Euclides Paes Mendonça em sua primeira administração, 1951-1954, parece ter sido realocado alguns metros mais a norte, como forma de adaptar-se ao redesenho da Praça. Dali não mais saiu.

Na primeira foto, de fins dos anos 20, no local onde foi fincado o marco nada existe.
Na segunda foto, com o início da urbanização da Praça iniciada pelo prefeito Silvio Teixeira, e continuada por Manoel Francisco Teles, cerca de 1941, já existe o coreto, por sobre ele vê-se a torre da "igreja dos crentes", ou, de Eulina Nunes, da Rua Sete de Setembro (Igreja Presbiteriana), e nada do marco.
Na terceira foto, na administração de Jason Correia, já é possível ver o tal marco por entre as árvores.
Na quarta foto, de 1954, vê-se o dito marco, e também percebe-se que andou alguns metros do local original, mas para próximo do passeio público, onde até hoje se encontra.
Nesta imagem, capturada do filme promocional do Governo Luiz Garcia, feito pela Atalaia Produções, em 1961, também percebe-se o corpo de concreto, como se um elemento estranho, a fazer parte da paisagem.