domingo, 29 de novembro de 2009

Liberta Quae Sera Tamen


O dístico na bandeira das Minas Gerais bem se aplica ao que representa para quase totalidade dos itabaianenses o 29 de novembro: o nascimento do Colégio Estadual Murilo Braga. Sem ele, metade dos engenheiros, médicos, advogados, enfermeiros, químicos... e a quase totalidade de nossos professores não teriam existido com tais habilidades. Algo como 1.500 profissionais de nível superior hoje em atividade, seja no próprio município, seja fora dele.
Lugar de gente pobre, espalhada em pequenos e pouco produtivos sítios(1), aqui vivemos por três séculos e meio a partir da nossa colonização, sem direito a uma educação de qualidade.
Sinceramente, esse singular escriba que deita essas palavras aqui, teria ficado apenas no curso primário, não fosse o Colégio Estadual Murilo Braga. Alguns símbolos de progresso são muito fortes em Itabaiana, como o manejo com regularidade da água e as estradas que nos projetaram pelo país inteiro a vender nossas poucas, mas tão importantes mercadorias. Todavia, o Murilo Braga fez-nos sonhar e em muitos casos concretizar o sonho de ter empregos de qualidade, e principalmente, de capacitação intelectual superior. Quem hoje vê meio mundo de colégios particulares de segundo graus e os indefectíveis pré-vestibulares, máquinas de dar acesso às faculdades, não tem a menor dimensão do que era para um “tabaréu” dono de sítio, um carroceiro, um pedreiro, uma verdureira ou qualquer feirante e até mesmo um pataqueiro(2) nos 70 ler a lista de aprovados na Universidade Federal de Sergipe e ver seu filho lá. Coisa impossível de acontecer nos anos 40.
A partir de 1949 começou a saga de libertação da pobreza de um povo cheio de força e esperança de crescer, porém pouco meios de o fazer. E em 1969 o processo se completou com a implantação do Segundo Grau.
Eis porque associo o “Liberdade ainda que tardia” dos Inconfidentes mineiros ao fato aqui ocorrido três séculos e meio depois de iniciada a colonização do lugar.
O Murilo Braga foi a consolidação de nossa Independência; em seu último e definitivo grito.
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(1) Em 1971 Itabaiana possuía em seus 338 quilômetros quadrados 46 latifúndios, representado 20% de seus 32.801 hectares e 5.412 minifúndios (sítios)que dividiam entre si os demais 80%.
(2) O termo deriva de pataca, moeda portuguesa existente nos tempos coloniais, mas que foi usada ainda por muito tempo no Brasil independente. Seu valor era ínfimo conferindo a quem ganhava uma pataca uma situação de pobreza extrema. Geralmente eram trabalhadores braçais nas roças quem ganhavam a pataca.