
Foi assim quando vi o Beco Novo pela primeira vez no início dos anos 70. Primeiro é que achei algo impressionante o sobrado do padre, demolido depois pela insensibilidade artístico cultural de um deles que, diga-se de passagem, foi um dos mais eruditos entre os que por aqui passaram. Pra resumir, um professor universitário – doutor de verdade - de Ciências Humanas deitou o velho prédio abaixo sem cerimônia alguma deixando o início do Beco Novo menos poético.
Ontem passei pelo Beco Novo mais uma vez e me deparei com cenas triviais, logo, despercebidas, da reformulação contínua da sua arquitetura, um mixto de exemplo do século XIX e XX.
No início da Rua, oficialmente denominada de Coronel Sebrão (Já foi Riachuelo), no seu primeiro trecho, ainda há algumas casas mais antigas, entretanto, a maioria estilo anos 30 a 50 do século próximo passado.
Depois do terceiro trecho que termina no cruzamento da Rua Padre Filismino, toda a arquitetura é recente haja vista a cidade somente ter alcançado tal área a partir dos anos 50. Entretanto, o terceiro trecho e principalmente o segundo, situado entre as ruas da Pedreira (oficialmente Marechal Deodoro) e a Monsenhor Constantino é onde mais podemos ver exemplos de arquitetura da era de ouro de Itabaiana – quando finalmente a riqueza começou a chegar pra ficar - e a transformação que não pára com casas mais antigas cedendo lugar às novas, inclusive de gosto artístico bastante duvidoso.
Andar pelo Beco Novo, desde a esquina da Praça Fausto Cardoso até a Rua das Sete Casas na Moita Formosa é como relembrar aquela turma de batalhadores pela sobrevivência e suas cargas em lombos de burros - às vezes até na cabeça, mesmo, por não ter dinheiro para comprar o animal - com destino às feiras dos engenhos e cidades adjacentes do século XIX e de início do século XX. Dá até pra ouvir o tropel dos animais no leito de terra da rua ou na sua passagem pelos atoleiros de inverno do Tabuleiro dos Caboclos, hoje Bairro São Cristóvão.
A estrada floresceu - como já dito - em fins do século XVIII quando a feira de Laranjeiras que deu origem à cidade foi inventada. Disso é fácil concluir que a importância do Beco Novo por volta de 1800 era mais ou menos a que ora tem a Avenida Luiz Magalhães. Possivelmente a denominação “Beco Novo” venha daí, já que até então a estrada mais movimentada era a que deu origem às ruas da Tenda e Itaporanga; a primeira delas atualmente o lado leste da atual Praça João Pessoa. O curioso é que a estrada de São Cristóvão passou a ser conhecida como de Itaporanga e a de Laranjeiras, também uma vila bem mais importante – o Beco Novo - foi durante algum tempo a Rua de Riachuelo.
Semânticas à parte, o Beco Novo continua a traduzir a saudade dos tempos em que as esperanças – e desesperos - do Itabaianense chegavam por ali a pé ou a cavalo.