domingo, 13 de janeiro de 2008

O Beco Novo

Antes mesmo de me aprofundar na história da velha Itabaiana sempre achei o Beco Novo com um certo charme de coisa antiga. Das velharias de que sempre gostei, desde os tempos em que me debruçava no batente de porta de uma das minhas inúmeras madrinhas de fogueira a ouvir-lhe as crônicas orais repassadas, muitas delas, de geração a geração.
Foi assim quando vi o Beco Novo pela primeira vez no início dos anos 70. Primeiro é que achei algo impressionante o sobrado do padre, demolido depois pela insensibilidade artístico cultural de um deles que, diga-se de passagem, foi um dos mais eruditos entre os que por aqui passaram. Pra resumir, um professor universitário – doutor de verdade - de Ciências Humanas deitou o velho prédio abaixo sem cerimônia alguma deixando o início do Beco Novo menos poético.
Ontem passei pelo Beco Novo mais uma vez e me deparei com cenas triviais, logo, despercebidas, da reformulação contínua da sua arquitetura, um mixto de exemplo do século XIX e XX.
No início da Rua, oficialmente denominada de Coronel Sebrão (Já foi Riachuelo), no seu primeiro trecho, ainda há algumas casas mais antigas, entretanto, a maioria estilo anos 30 a 50 do século próximo passado.
Depois do terceiro trecho que termina no cruzamento da Rua Padre Filismino, toda a arquitetura é recente haja vista a cidade somente ter alcançado tal área a partir dos anos 50. Entretanto, o terceiro trecho e principalmente o segundo, situado entre as ruas da Pedreira (oficialmente Marechal Deodoro) e a Monsenhor Constantino é onde mais podemos ver exemplos de arquitetura da era de ouro de Itabaiana – quando finalmente a riqueza começou a chegar pra ficar - e a transformação que não pára com casas mais antigas cedendo lugar às novas, inclusive de gosto artístico bastante duvidoso.
Andar pelo Beco Novo, desde a esquina da Praça Fausto Cardoso até a Rua das Sete Casas na Moita Formosa é como relembrar aquela turma de batalhadores pela sobrevivência e suas cargas em lombos de burros - às vezes até na cabeça, mesmo, por não ter dinheiro para comprar o animal - com destino às feiras dos engenhos e cidades adjacentes do século XIX e de início do século XX. Dá até pra ouvir o tropel dos animais no leito de terra da rua ou na sua passagem pelos atoleiros de inverno do Tabuleiro dos Caboclos, hoje Bairro São Cristóvão.
A estrada floresceu - como já dito - em fins do século XVIII quando a feira de Laranjeiras que deu origem à cidade foi inventada. Disso é fácil concluir que a importância do Beco Novo por volta de 1800 era mais ou menos a que ora tem a Avenida Luiz Magalhães. Possivelmente a denominação “Beco Novo” venha daí, já que até então a estrada mais movimentada era a que deu origem às ruas da Tenda e Itaporanga; a primeira delas atualmente o lado leste da atual Praça João Pessoa. O curioso é que a estrada de São Cristóvão passou a ser conhecida como de Itaporanga e a de Laranjeiras, também uma vila bem mais importante – o Beco Novo - foi durante algum tempo a Rua de Riachuelo.
Semânticas à parte, o Beco Novo continua a traduzir a saudade dos tempos em que as esperanças – e desesperos - do Itabaianense chegavam por ali a pé ou a cavalo.