sábado, 13 de dezembro de 2014

Dia de Santa Luzia

Duas imagens me vieram à cabeça hoje pelas cinco da manhã, quando fui acordado, involuntariamente, pela vizinhança próxima, ou nem tanto, e seus foguetórios de uma dúzia ou meia de foguetes. Logo me lembrei: dia de Santa Luzia. Dia de aniversário de Luiz Gonzaga, o eterno "Rei do Baião". 
Sobre Santa Luzia, sua lembrança me leva diretamente às novenas rezadas por meu saudoso pai, com jaculatória em latim (também ladainha e às vezes até a Salve-Rainha ou “Ave Regina”); à imagem de minha prima em terceiro grau, Conceição, e as balas de hortelã que me deu, quando eu tinha cinco anos e pouco de idade. De fato, até então, mesmo estando sempre na capelinha da Mangabeira com meus pais, quase todas as semanas, não lembro de lembrar da santa. Mas, a primeira viagem que me ficou na memória à Padaria, ou O Ponto, nomes com os quais se denominava o ponto de espera de condução na BR-235, e que hoje é o populosíssimo povoado Rio das Pedras, disso eu não esqueço. E não esqueço porque, além de ver a bonita prima, mocinha de seus 15 ou 16 anos, filha do primo Zé de Didi, filho da tia-avô Didi, claro, e de quem tanto minha mãe falava de boca cheia... além disso, a Ceição me deu cinco balas de hortelã, as quais me eram desconhecidas. Eu sempre ganhava balas e bombons; especialmente de Seu Martim de Cuta, bodegueiro e na Mangabeira; mas aquelas cinco balas me marcaram porque, além de diferentes, foram dadas por minha bonita prima... e que por conta da menta, arderam na boca que só o diabo! E aí, passei a observar que os quadros com figuras de Santa Luzia, misteriosamente com seus olhos no lugar, mas ao mesmo tempo portando um prato com fiéis cópias dos mesmos olhos dentro... eram a cara da minha prima Ceição. Adotei-a, pois; não mais apenas como mais uma santa católica; mas como uma espécie de membro da família. E não um membro qualquer porque... a minha bonita prima Ceição de Zé de tia Didi.
Sobre a devoção à Santa, isso nos leva diretamente à psicologia de Moisés, preso no deserto com uma multidão de miseráveis e esfomeados, perigosamente no limite entre a razão e a insanidade, e ainda tendo que lidar com importunantes cobras, e valendo-se da sugestão como antídoto eficaz (Então disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente de bronze, e põe-na sobre uma haste; e será que todo mordido que olhar para ela viverá. Num. 21, 8). Num tempo onde ter cegos perambulando pelas feiras livres, a cantar seus lamentos em troca de esmolas; e onde até os relativamente ricos como Cazuza Queiroz, e Otoniel Dórea, ex-intendentes de Itabaiana, ou poderosos bandidos como Lampião, eram cegos, em geral pelo acometimento do sarampo durante a infância, não era de se estranhar que tanta gente tivesse tal devoção à Santa. Pelo visto, a devoção continua forte, mesmo nestes tempos de sarampo praticamente erradicado e outros achaques visuais mitigados pela fantástica tecnologia de cura, hoje existente.