quinta-feira, 16 de outubro de 2025

TRAUMA DE QUATRO DÉCADAS SANADO

O "Beco Novo" (Rua Coronel Sebrão) há 120 anos.
Era chamada do Beco Novo ou Rua de Riachuelo, pois era por onde os tropeiros pegavam a estrada para a então rica cidade da Cotinguiba.

No início de 1980, já há dois anos como auxiliar de serviços gerais e depois balconista nos Correios, fui surpreendido com uma promoção: fui promovido a carteiro. 
Nos meus primeiros meses uma decepção.

Os Correios tinham atingido um nível de excelência tal, que sua popularidade, como empresa, era a maior do país. Rapidez, cuidado, coisa de primeiro mundo, como diz o tabaréu americanizado.

E foi aí que tomei uma rasteira. 

Pego a carta, endereçada à Rua das Flores. Estranhei. Não conhecia nenhuma Rua das Flores, mas, dois meses percorrendo as ruas da minha cidade, naturalmente não as conhecia de có e salteado. E naquela semana, sequer estava no meu trecho habitual, já que substituindo o titular do outro roteiro. Devia ser uma daquelas que não conhecia, pensei.

Peguei a coleção de cartas e impressos em geral e saí para a entrega.

Entrei rua, saí de rua, e nada da estranha e poética Rua das Flores.

Com praticamente cem por cento da tarefa realizada, de certo modo extenuado, retornei à agência para finalizar o turno.

Perguntei a um e outro colega, ninguém soube me dizer se em Itabaiana a tal Rua das Flores existia.

Procedimento padrão, carimbei como "endereço desconhecido", e encaminhei a escrivaninha do chefe da agência postal, o amigo Juarez Ferreira de Góis, que já quase meio-dia, não mais se encontrava ali.

À tarde, quando ponho e pé dentro da agência para o turno vespertino, recebo logo a bronca do chefe: “Oh rapaz, está devolvendo a carta de fulano da Rua das Flores, porque?”

Bem, eu não conhecia o fulano; muito menos a Rua. Então enrubesci e fui meio malcriado, respondendo-lhe que nem conhecia o tal fulano, nem onde ficava essa rua.

Acho que caiu a ficha pra ele, pois baixou a voz e passou a tratar do assunto com ar de gozação. Em seguida me disse que a Rua das Flores era a Barão do Rio Branco e me mandou ir lá entregar.

Nunca mais tentei devolver cartas da Rua das Flores.


Resgate

Não lembro quem foi o vereador proponente; sei que foi aprovada a Lei Municipal 1.850, em 2013, que prevê o resgate histórico de algumas vias centrais, especialmente no Centro Histórico da cidade. Agora a administração da Cultura sob o cetro do médico e professor, Antônio Samarone, com o óbvio aval do prefeito Valmir Costa pretende implementar pra valer a Lei; e brevemente teremos mudanças em algumas placas identificativas, com uma história rica, até agora desconhecida, no mínimo esquecida.

E nomes como Rua Nova, Beco Novo, Rua do Fato, terão mais sentido a partir do conhecimento de suas histórias.

E ninguém mais vai devolver carta por desconhecer o nome tradicional e popular da rua.


sábado, 11 de outubro de 2025

NA CRISTA DA ONDA

 

Recebo hoje, pela décima ou vigésima vez, sei lá, um videozinho enaltecendo a figura histórica do nosso negro mais importante, Quintino de Lacerda, que vem se tornando figura popular na cidade, nos últimos tempos.

Não vou me alongar sobre o personagem; já o tenho feito por várias vezes.

Porém externar uma constatação: "quando a velha não quer dar, a faca não quer cortar". Dizer antigo, a mim passado pela sabedoria dos mais velhos. Ou seja, enquanto a consciência de massa não estiver suscetível à uma ideia, por mais racional que ela não seja será tratada como esquisitice. Não ocorrerá nada. Nem sempre vale a máximo do poeta, "Quem sabe, faz a hora; não espera acontecer" É o caso do reconhecimento público de Quintino.

Denominando uma importante artéria no Centro da cidade, desde por volta dos 70, sua figura tem permanecido irrelevada, durante todos estes anos que nos separam, entre a sobredita homenagem, e a atualidade. Itabaiana tem dificuldade em reconhecer seus verdadeiros heróis (falsos, que é a maioria, também). 

E um povo sem heróis - consistentes, claro; de verdade - é apenas um molho de gente. Ainda bem que temos a Serra, Santo Antônio, e o Tricolor para nos dar identidade.

Nossos logradouros do Centro homenageiam personagens que nunca ouviram falar sobre Itabaiana, ou tinham raiva de quem falava. São marechais, Floriano Peixoto e Deodoro da Fonseca; generais, Maynard Gomes, Valadão e Siqueira de Menezes; praças João Pessoa e Fausto Cardoso.

Para não dizer que nenhum filho da cidade foi lembrado, até os anos 50 (1950), só as travessas de ligação, especialmente à Praça central. As ruas, à época de suas denominações, na periferia, General José Calasans, Manoel Garangau, só em 1962. E a sua sequência, após a Avenida Ivo Carvalho, a já citada, Quintino de Lacerda, em algum momento entre 1968 e 1972.

Nome do funcionário e prefeito interino, até Ivo Carvalho, que denomina o antigo Beco da Câmara ou Cemitério, depois de alargado, somente se consolidou diante das normas da atual Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que diz que uma avenida não pode atravessar uma praça, preservando o mesmo nome. Nesse caso, a Ivo Carvalho terminaria no hoje INSS. Mas a Praça Honório Mendonça, quadra dos Correios e Associação Atlética de Itabaiana, não se confirmou; e hoje ela chega até a Avenida Airton Teles.

João Alves Filho (foto abaixo), o segundo a mais realizar em Itabaiana foi produto do primeiro realizador, José Rollemberg Leite (foto acima) que mudou o destino de Itabaiana com uma estrada que levou nossos feirantes até São Paulo, em cima de um caminhão; e um colégio - o Murilo Braga - para pobre virar doutor. Nenhuma homenagem. Pros dois.


Seriamente me sinto incomodado que se não homenageie homens que foram determinantes para a grandeza do município, como José Matheus da Graça Leite Sampaio, seu tetraneto, José Rollemberg Leite, e João Alves Filho, produto direto de Zé Leite, ou mesmo um Graccho Cardoso, com a primeira rodovia de Itabaiana, e, suspeito, só não o primeiro prédio escolar por mesquinharia dos líderes locais. 
Enquanto lagartenses, simondienses, santamarenses, etc., pediram grupos escolares ao seu governo, os líderes de Itabaiana pediram reforma do prédio da prefeitura para anular a lembrança dos adversários, 10 anos depois de construído. E o grupo escolar teve de esperar mais doze anos e uma ditadura - Estado Novo - para o Guilhermino Bezerra, atual DR-3.
O primeiro grupo escolar só veio para Itabaiana, sob Silvio Teixeira, doze anos depois que a mesquinharia política tinha preferido mudar a cara “cabaú” da prefeitura, construída apenas dez anos antes, ao invés de uma escola. A águia, da Prefeitura reformada era um símbolo do governo Graccho Cardoso.

Enfim... 
Quintino está em alta.
Vida que segue.


quarta-feira, 8 de outubro de 2025

GRANDEZA INAPROVEITADA.

 

Não lhe conheço o significado implícito, se de palma ou folha, a receber parte do decreto que criou a Câmara Municipal e Município (logo, emancipou Itabaiana). Mas que ela representa a emancipação, não há menor dúvida. A segunda maior data da cidade. A primeira é 30 de outubro.

“Mate o homem; MAS NÃO LHE MUDE O NOME.”

O ditado popular, bem ilustra a importância da identidade básica: o próprio nome. Identidade essa que vai se ampliando, e cada vez mais se relativizando, até desaparecer completamente numa massa considerável, onde o ser é apenas um grãozinho em meio aos milhões de indivíduos.

Em tempo: Por ser um lugar dos mais antigos, do Brasil colonial, Itabaiana tem três datas simbólicas no seu calendário cívico. São 350 anos de fundada, quando a cidade nasceu; 328 de emancipada (quando virou município); e 138 que ganhou, finalmente, o título de cidade.

Para nós itabaianenses, o símbolo máximo da itabaianidade é a serra mais alta a nos rodear. Mesmo que Itabaiana, originalmente tenha sido todas as serras a nos circular, e servir de barreira natural; de muralha; segurança. Em seguida, Santo Antônio e sua matriz, que foi pelos primeiros duzentos anos, único fator de congregação da vasta e dispersa população. Em terceiro, mesmo sofrendo a desconfiança e até ojeriza da população, seu aparato mínimo de Estado, qual seja, o Município, e seus símbolos: cartórios e poderes, o Executivo, atualmente exercido pelo prefeito; e Legislativo, desde 1697, exercido pela Câmara de Vereadores, quadragésimo sétimo mais antigo legislativo brasileiro.


O Símbolo Ignorado.

João Alves dos Santos (João Patola) presidente da Câmara Municipal de Itabaiana em 1997; professor José Taurino Duarte, então licenciando em História pela UFS; a saudosa professora Maria Thetis Nunes, inspiradora maior, da grande que acabou mínima celebração.

Em 1997, Itabaiana fez 300 anos de emancipada; e, estudante, fazendo graduação em História, na Universidade Federal de Sergipe, o ora aposentado professor José Taurino Duarte foi alertado por sua mestra, a itabaianense Maria Thetis Nunes, acerca importância da data para Itabaiana, assunto que por ele rapidamente foi trazido até o presidente da Câmara Municipal.

Por sorte, o presidente era o professor João Alves dos Santos, o popular João Patola, da tradicional família dos capitulinos. E foi aí que essa feliz coincidência não deixou os 300 anos de emancipação de Itabaiana passar completamente em branco. Mesmo com parcos recursos, menos ainda boa vontade de outras autoridades com poder de mobilização, mesmo assim, foi encomendado um projeto ao saudoso arquiteto Melcíades Souza, que, a despeito de não ter sido um monumento à altura do que Itabaiana merece, nem do que merece um projeto do saudoso itabaianense, foi modestamente inaugurado pelo Presidente da Câmara, no canto sudoeste da Praça Fausto Cardoso, em fins de outubro de 1997.

Anda necessitando de melhorias; mas é figurativamente, depois da serra e da matriz de Santo Antônio e Almas, aquilo que mais simboliza Itabaiana. Merece, pois, uma melhorada no visual; um projeto complementar ao de Melcíades , de 28 anos atrás. Algo dignificante da cidade.

Porém, não somente uma melhorada física merece o simbólico monumento; mas também, e principalmente um trabalho de conscientização, mormente nas escolas (papagaio ‘véio’ nunca aprende a falar direito; só novo). 

Estamos vivendo um momento especial, o do aniversário de nascimento da cidade de (Santo Antônio de) Itabaiana, agora em 30 de deste outubro. 

Uma união de esforços, de Executivo e Legislativo, e ainda dá tempo fazer alguma coisa.


Melcíades (montagem fotográfica) e sua obra, que está a merecer maior destaque. Especialmente neste que é um ano especial, quando a cidade de Itabaiana completa 350 anos de fundada. Com sua primeira paróquia

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

POLITICAGENS

 

A política é a arte de viver em comunhão; resolvendo as disputas de modo civilizado; onde não haja perdedores ou vencedores totais. Contudo, por isso mesmo é a atividade humana mais susceptível aos vícios decorrente da eterna concorrência universal entre seres, animados e inanimados.

1949, avizinhando-se as primeiras eleições gerais, no município, que ocorreria no ano de 1950, e com os novos ventos do Nacional-Desenvolvimentismo soprando a todo o vapor, finalmente a minha região, na área rural do município de Itabaiana, antes apenas mera passagem da velhíssima estrada real para a antiga capital, São Cristóvão, começa a timidamente receber mimos do governo federal, através do estadual em comunhão com o municipal.

Para o povoado em que nasci, a Mangabeira, sul do município, veio a estrada de rodagem, meia-boca, diga-se; e, nem bem essa terminou de ser feita, a alvissara; novidade: um grupo escolar.

Naquele ano, em 30 de novembro de 1949, foi inaugurada a Escola Normal Rural Murilo Braga, marco na vida socioeconômica da Grande Itabaiana, ou seja, seu município original. E a função primordial do depois Colégio Estadual Murilo Braga era a de formação de alfabetizadores – os normalistas – objetivando a redução ou extinção do analfabetismo de 83 por cento da população(*).

Meu saudoso pai, Alexandre Frutuoso Bispo, pôs o pé na estrada e foi ao chefe político, Manoel Francisco Teles, requerer que um grupo escolar fosse construído lá. Há época, dono do sítio vizinho, doou o terreno de pouco mais de meia tarefa ou 0,26 hectares para que o templo do saber pudesse ser construído.

Manoel Teles, prometeu, mas... demorou.

Seu Alexandre era cordato. Detestava brigas, teimosias, desarmonias, em geral. Mas também não era de fugir facilmente. Iniciados os grupos escolares do Capunga, hoje em Moita Bonita; povoados Serra, Matapoan... resolveu tirar a limpo. Pegou Manoel Teles atrás de sua escrivaninha e partiu para a seriedade: “Seu Manoel, o grupo do Mangabeira, sai, ou não sai? É verdade que Jason (Correia, então prefeito) está levando-o para o sítio do cunhado na Serra Comprida?”

Na Serra Comprida, vizinho à Mangabeira; e hoje um povoado tão habitado quanto, na época só moravam quatro famílias, e tinha como vizinho do outro lado, o hoje enorme Junco, com apenas uma residência. A Mangabeira, já possuía mais de vinte famílias.

Manoel Teles pigarreou, enfim, diante de um assertivo e desesperado líder de interior, deixou a habitual pusilanimidade de lado a assentiu: Jason Correia o tinha convencido a construir o grupo na Serra Comprida; e não na Mangabeira.

Meu pai deu meia volta, arrasado, e, acabou cruzando na porta do velho armazém, hoje vizinho à Galeria Jandrade, pelo Largo Santo Antônio, com o jovem, educado, mas enérgico Dr. Airton Teles, que, ao lhe ver o desânimo quis logo saber o que estava acontecendo.

Isso ocorreu num sábado. Ainda não havia feira das quartas-feiras. Bem o restante da história é que Dr. Airton foi pra cima do pai, que, na prensa dada pelo filho deu o comando para Seu Alexandre: “Bem, marque lá o terreno que segunda-feira, homens e máquinas chegam para começar a construção”.

Há 75 anos.

E política continua do mesmo jeito: é o cara votando na minha ideia e liberando seu imenso canil para detoná-la.

Manoel Francisco Teles; Dr, Airton Mendonça Teles; Alexandre Frutuoso Bispo



(*) Em 1950 a região possuía 91.362 habitantes- 35.802 em Itabaiana, com apenas 14.734 que sabiam ler e escrever – 7.083 em Itabaiana, ou 19,78%.


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

SEXTA PROMISSORA

 

Outubro, mês de aniversário da velha – e tão renovada - cidade de Itabaiana (350 primaverinhas, dia 30), promete agitação. No bom sentido, claro.

E começa já no dia 3, quando a Academia Itabaianense de Letras faz uma homenagem à história serrana recente, na figura do craque de futebol Horácio, para o acadêmico Aelson Góis (e concordo integralmente com ele), o ponto de viragem na história tricolor, que, claro, tem um monte de gente por trás, a começar do inegavelmente "Pequeno Gigante" (créditos pelo título a Gilson Messias Torres, Portela), José Queiroz da Costa. Que de certo modo, foi a retomada do espírito lutador itabaianense.

Eu, com Honorino Jr (Revista Perfil e Editora Infographics) no Café de Negócios, setembro de 2018, em franca preparação da 1ª Expo-Indústria

A seguir, nos dias 9, 10 e 11, teremos a Expo-Indústria, com promessas de ser melhor que as edições anteriores, e do dia 23 ao 26, a sétima edição da Bienal do Livro, em frenética preparação, e prometendo ser a maior de todos os tempos, trazendo a experiência fantástica das precedentes.

Padre Marcos Rogério Vieira, ex-pároco de Santo Antônio e Almas, ao final da Missa comemorativa aos 349 anos, em 30 de outubro de 2024, oficializa o Ano Jubilar com o selo da Irmandade de Santo Antônio e Almas, desenvolvido para o 7º Jubileu, a encerrar-se no próximo 30 de outubro, quando paróquia e cidade fazem 350 anos de fundadas.

E, dia 30, assegurou hoje o novo pároco de Santo Antônio e Almas, Padre Paulo Lima, em rápido pronunciamento na Câmara Municipal de Itabaiana, haverá a finalização do Ano Jubilar, que o é da referida paróquia, e da cidade. Fundada com sua paróquia original, em 30 de outubro de 1675, a segunda mais antiga em terras sergipanas.

O Livro

No dia 3, além das homenagens a Horácio José de Oliveira, pela Academia Itabaianense de Letras, antes, as cinco da tarde, no Museu da Música, sede da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, haverá o lançamento itabaianense do livro Os Breus, Relato da família no contexto da história itabaianense. 

O livro, é da lavra do professor, historiador, advogado e escritor, também acadêmico da supracitada academia; e membro do Conselho Estadual de Cultura, e do vetusto IHGS-Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, José Rivaldávio Lima. Ou, simplesmente, professor Rivas de Olívio de Breu, dos anos de apogeu do Colégio Estadual Murilo Braga, quando foi vice-diretor do respeitabilíssimo estabelecimento. E tem subtítulo autoexplicativo, por se tratar de história viva, de uma família que marcou, especialmente os segundo e terceiros quartéis do século XX na urbe serrana. Certamente, vem ele, nas entrelinhas, e nas contações dos dramas vividos pela família, recheado de assuntos até então pouco dissecados ou mesmo ignorados da vida da pequenina urbe dos anos 1920, à fase de crescimento acelerado, vivida desde um período, tão breve quanto marcante, o euclidiano.

Vai valer a pena uma criteriosa leitura, muito além de aspectos familiares.

Estarei na fila de autógrafos, de amanhã a oito.

O mimoso prédio da Filarmônica, sob o olhar atento de Tobias Barreto, onde haverá o lançamento.



terça-feira, 23 de setembro de 2025

2ª MAIS ANTIGA PARÓQUIA DE SERGIPE TROCA DE COMANDO.

 

Sai o Padre Marcos Rogerio Vieira; entra o Padre Paulo Tadeu Lima. Comando mudado na segunda mais antiga paróquia de Sergipe, a operar desda a pombalina matriz de Santo Antònio e Almas, em prédio iniciado em 1761 e inaugurado em setembro de 1764. Sob a batuta do Padre Francisco da Silva Lobo.

Hoje, 23 de setembro, início da primavera no hemisfério sul terrestre, assume, em solenidade logo mais à noite, com missa e presença do bispo arquidiocesano, D. Josafá Menezes da Silva, o novo pároco de Santo Antônio e Almas de Itabaiana, Paulo Tadeu Lima.

A Paróquia


Santo Antônio e Almas de Itabaiana foi criada em 30 de outubro de 1675, sob indícios de ser uma ponte para a instalação de uma cidade típica de até então, com muros, torres, etc., visando proteger uma possível mina de prata, que não se confirmou. 

A prata não houve; mas a paróquia, inicialmente em sua igreja de taipa, por noventa anos, aguentou.

Uma igreja de pedra e cal.

Em 1745, com já setenta anos de fundada, e funcionando na velha igrejinha de taipa, foi nomeado seu quarto pároco, o Padre Francisco da Silva Lobo, ancestral indireto de imensa família espalhada por Itabaiana, por Sergipe e até pelo Brasil. Segundo a tradição coligida pro Sebrão Sobrinho, é o Padre Lobo que, no mesmo 1745, vai fincar, de vez, e de fato, as bases da civilidade nesta terra, ao criar o coro sacro, que evoluiria para a magnífica Orquestra Sinfônica de Itabaiana, da Sociedade Filarmônica Nossa Senhora da Conceição.

Mas o Padre chegou num momento auspicioso para o Império Português, qual seja o das mudanças marcantes, que culminaria com o profícuo reinado de D. José e seu braço direito, o Marquês de Pombal. Iluminista, Pombal cuidou de podar vícios, nem que para isso tivesse que praticamente eliminar até ordens religiosas, como a poderosíssima dos jesuítas. Por outro lado, cuidou do clero secular, com moderníssimas igrejas, tudo construindo seguindo o racionalismo iluminista. 

Padre Lobo pediu, e ganhou. Uma igreja matriz belíssima; que ainda hoje é referência geográfica no altiplano do Domo de Itabaiana, onde está assentada, quase ao meio do círculo de serras, outrora conhecido como a Itabaiana: “serras moradas dos homens de onde os rios vêm”.

A paróquia de Santo Antônio e Almas atual, com seu 1,82 km² está muito longe dos 3.500 km² de até 1718, quando a paróquia de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba foi criada, e começou sua ultrapassagem além do Caminho do Mar, no rumo das serras; mas sempre será segunda mais antiga de Sergipe, e uma das mais consolidadas, já que inicialmente era para ser consagrada a São Miguel; mas a vaqueirama da época bateu o pé: tinha que ser Santo Antônio. Mesmo que a igreja velha continuasse desprezada.

A missão do Padre Paulo Lima.


A velha "Rua da Vitória" (General Siqueira) parcamente preparada com tapete para a passagem, logo mais à tarde do dia 14 de dezembro de 1975, da procissão comemeorativo, criada pela Mons. Soares e executada pelo sucessor, Mons. Mário Reis.

O novo pároco assume num momento especial. Não somente pela redução de paroquianos, há três décadas, em debandada do Centro, especialmente nas duas últimas, como a crítica redução territorial, que restringe a paróquia a apenas o Centro da cidade. Também recai às mãos do Padre Lima, o fecho das celebrações do Sétimo Jubileu de Ouro da paróquia, a ser celebrado no próximo dia 30 de outubro, quando completará 350 anos de fundada.

Ao completar 300 anos, coincidentemente, o ano de nascimento do Padre Marcos Rogério, antecessor, e promotor deste ano jubilar, a paróquia também passou por uma sucessão: estava de saída o Monsenhor José Curvelo Sores, e assumindo o também Monsenhor Mário de Oliveira Reis, que realizou belíssimo Congresso Eucarístico, em dezembro de 1975, sem contudo, nenhuma menção à data magna, da paróquia, e da cidade, nascida com ela. 

Nesse 2025, não passou em branco. Em que pese a pouca efusividade do Município e quase nenhum engajamento de sua intelectualidade, especialmente a indispensável da escola, os 350 anos, agora nas mãos do novo pároco promete uma contida, mas marcante festa, que só teremos nova chance de uma data cheia nos 400 anos, em 2075. Certamente eu não mais estarei por aqui; bem como 8 em cada 10 itabaianenses atuais.

Que venha o 30 de outubro.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

RODA DO TEMPO

 

Em cina, zona de expansão leste, com complexo Chiara, nos bairros Anizio Amancio e Marianga;
Embaixo, o imenso Santa Mônica, ao norte.

Ontem, 15 de setembro, encontrei um estupefato Antônio Samarone, dando conta que o centro da capital sergipana está morrendo. 

De fato, já não entrou em completa decadência graças aos teimosos aracajuanos, pobres ou classe média baixa, em geral do norte da cidade, da área original dela, aldeia do cacique João Mulato, feito capitão em 1693. E especialmente da multidão de interioranos, em quantidade suficiente para deixar qualquer Dr. Ruy Álvares d’Azevedo Macedo, presidente provincial em 1872, atônito com “o descontrole”. São eles que vivificam o velho Centro, onde até seu bairro chique de até 30 anos atrás converteu-se, cada vez mais num amontoado de casas fechadas. As de sorte, converteram-se em estabelecimentos comerciais, e especialmente de serviços, que vão de consultórios a estacionamentos privados.

Narrou Samarone, que, uma rápida visita à Rua João Pessoa, vizinho à Igreja do São Salvador, o surpreendeu com a falta de dinamismo, próprio de veias principais de grandes centros.

Corte rápido, em nossa Itabaiana não tem sido diferente. Desde a nova e vigorosa onda de expansão, que, há duas décadas, aproveitando os fartos capitais públicos, que destravou os de origem privada, de meados da primeira década deste século em curso, que não para de surgir novos condomínios, cada um mais luxuoso que o outro, transformando a cidade de outrora permanente planura social, numa típica cidade de “prime” e “sub-prime”, ou seja, dentro ou fora do muro.

Isso apressou a morte do Centro como lugar de se habitar. Agora – e por enquanto - é só comércio. Talvez resida aí grande parte do temor de resolver o avolumado gargalo em que se transformou o atacadão de frutas, verduras e legumes, que converteu o centro da cidade em CEASA: se tirar, pode afetar o comércio estabelecido.

No Largo Santo Antônio, a antepenúltima residência foi do saudoso Adelardo José de Oliveira, a penúltima, de familiares de Rodrigo da farmácia, e a última fechou definitivamente como a tradicional e mista, loja na frente e residência ao fundo, da Sra. Anete Siqueira, com o seu falecimento.

No Largo José do Prado Franco, as últimas residências desapareceram em fins da década de 1980, no trecho, sequência da Rua São Paulo.

Na Rua da Vitória, ao menos entre o Largo Santo Antônio e o Rua do Cisco, há mais de quarenta anos não reside ninguém. Na do Cisco, resiste de pé o primeiro sobrado moderno, construído pelo prefeito interino, Edson Leal; mais três ou quatro residências, ao longo de toda a Rua, do lado da sombra, ou seja, de frente para o nascente.

Nos primeiro e segundo trechos da Rua das Flores, somente um estabelecimento híbrido: comércio no térreo; residência no pavimento superior. No terceiro, dois, talvez três residências. Mas é no último trecho, oficial e atualmente com o nome de Marechal Floriano Peixoto, que, do que não foi convertido em estabelecimento comercial ou de serviços, muitos estão vazios, replicando o Bairro São José, na capital.

E nas travessas não são diferentes, seja no Beco dos Lírios, no Largo José Joaquim da Fonseca, ou nas curtas a sair da Praça da Matriz, ou da Rua das Flores à Praça de Santa Cruz.

Até o núcleo original da Rua da Macambira, tem, paulatinamente, perdido seu conteúdo residencial, natural de uma Itabaiana que preparou a que hoje desfrutamos.

A Praça da Matriz, está cada vez mais vazia de habitantes. E sem comércio e poucos serviços.

A Praça de Santa Cruz, nos seus lados mais extensos, tem quatro famílias, com poucas pessoas, de um lado, e quatro de outra. No lado sul, desde que deixou de ser Avenida Pinheiro Machado que lá está a Escola Guilhermino Bezerra; e do lado norte desde a década de 1950 que é comércio ou serviços.

Na Rua São Paulo somente três residências. O restante, tudo comércio.

Mas, o que mais assusta é o número de fugas para os condomínios. Imóveis, dentro do Centro histórico, em geral, com valores inferiores, mesmo com locação propícia ao comércio.

Miraculosamente, apenas a Rua do Sol, núcleo original da cidade; e a Rua do Futuro continuam preservadas como residenciais, praticamente toda ocupada. Sem abandonos.

Como diz o poeta: “Nada do já foi será do mesmo jeito que já foi um dia.”



terça-feira, 9 de setembro de 2025

E FOI-SE O TANQUE DA SERRA.

 

Foto 1, com esse reles escriba, mas fã de primeira grandeza, em 24 de agosto do ano passado, 2024;
Foto 2, em comemoração natalina, em 2022, com outro que partiu, o saudoso radialista Djalma Lobo;
À direita, em pose de herói que foi, do esporte, em início da década de 1970.

Eu vivia entalado. O Club Sportivo Sergipe, um timaço, ainda contava com a aristocracia sergipana, que não só financiava, como apoiava, inclusive com chicanas, pela imprensa, majoritariamente vermelhinha, e pela própria Federação Sergipana de Futebol, onde essa manobrava de todos os modos para o obrigatório sucesso do clube. E meu Tricolor – Associação Olímpica de Itabaiana - não saia da retaguarda. Um empatezinho aqui, outro ali, chorado, e tome-lhe vitória do Sergipe.

Garoto de 10 anos, saindo do fedor do mijo, ainda não tinha interesse mais afirmado pelo sexo oposto em si; mas tinha vários amigos, e várias amiguinhas, naturalmente. Num grupelho destes, quatro irmãs, ambas torcedoras do Sergipe, que me enfernizavam a vida quando o meu Itabaiana perdia para alguém, especialmente... para o Sergipe. Até aquele domingo, que perdi as referências de data precisa, mas o sabor da vitória, jamais me saiu da boca.

Logo no início da partida, salvo engano, Bené, abriu o marcador para o Tremendão da Serra. Logo depois, o Tanque da Serra, Horácio, numa cabeçada indefensável ampliou. E aí vieram, no mesmo script, o terceiro e o quarto.

Nunca mais me irritaram; mangaram de mim.

Em outra pose, em 1968, no velho estádio Etelvino Mendonça, hoje Ginásio Chico do Cantagalo;
Embaixo, o sorriso tímido, mas fácil e franco, recentemente;
Na foto colorida, em 1969, no velho Etelvino Mendonça, resguardado pelo também craque Augusto, em pose com a garotinha Gisselma Góis, filha do saudoso dirigente Pedro Góis.

Recebo com tristeza o aviso de um amigo: Horácio morreu.

Toda vida é finita. Verdade intrínseca e insofismável; mas a gente sempre cria perpetuações daqueles que nos são caros: parentes, amigos, mestres, protetores, heróis, enfim. E Horácio José de Oliveira, o eterno Tanque da Serra está inscrito na lista daqueles que tornaram Itabaiana grande, num crítico momento, o da orfandade pelos seus dois maiores líderes, apenas jogando uma bola, com alma e paixão. Nos deu alento. Esperança. Sentimento de vitória.

Vai com Deus, “amigão”.

De camisa azul claro, em 10 de abril de 2018, prestigiando o amigo e biógrafo voluntário (livro Associação Olímpica de Itabaiana - Da Gênese ao Penta), escritor professor Manoel Aelson Góis, em sua posse na Academia Itabaianense de Letras, realizado no Plenário da Câmara Municipal de Itabaiana.
Na fila de cima: Robério Barreto Santos; Aelson, Josevanda Mendonça Franco, Vladimir Souza Carvalho, Antônio Amorosa de Menezes; Horácio, e Anderson da Silva Almeida;
Na fila de baixo: Jorge Luís Pinheiro Souza; eu, José de Almeida Bispo; José Carlos de Mendonça; Tereza Cristina Pinheiro Souza; Rômulo de Oliveira Silva; Antônio Samarone de Santana; Luiz Carlos Andrade; José Augusto Machado (Baldok) e Antônio Francisco de Jesus (Saracura).
Todos... sem exceção, fãs, e agora enlutados pelo nosso grande craque.



domingo, 7 de setembro de 2025

CIDADE ESTRADEIRA.

 

Cidade de Itabaiana. Nascida num entroncamento.

Um fato curioso da cidade de Itabaiana, que completará 350 anos de fundada, junto com sua paróquia-mãe, em 30 de outubro próximo, é a sua origem, e depois permanência com um pé na estrada.

Na década de 1620, curraleiros, ou seja, vaqueiros arrendatários de terras para criar gado, construíram uma das primeiras capelas em “pedra e cal”, isso é, em alvenaria, de Sergipe. Mas distante da Estrada Colonial do Sertão, Salvador-Olinda. Também por esse motivo não pegou e hoje são as ruínas da Igreja Velha. Dali, 400 anos nos contempla.

Mas em 30 de outubro de 1675, há 350 anos, atendendo ao rei de Portugal, o Padre Sebastião Pedroso de Gois, rapidamente, comprou o sítio que pertencia aos herdeiros de Ayres da Rocha Peixoto; levantou uma igreja de taipa, e nela instalou a paróquia de Santo Antônio e Almas, da Itabaiana, já que a região, assim era conhecida pelos indígenas.

E onde?

No local do provável cruzamento das duas estradas, hoje tem assentada placa de identificação de melhorias pela Prefeitura.
Ao longo da grande Estrada das Entradas, hoje das Flechas, Caraíbas, etc., muitos escravos passaram, vindos do sertões de Jeremoabo; mas também do povoado Flechas, onde em 1874, o negro Quintino de Lacerda foi vendido para o hoje estado de São Paulo. E lá, foi liberto, ficou rico e virou prefeito de Santos.

Mais uma simples passagem da Estradas das Entradas, o hoje povoado Carrilho, tem leve lembrança na denominação, ao primeiro grande entradista, Fernão Carrilho; e lidera o domínio de Itabaiana no fornecimento de castanhas de caju torradas... nacionalmente.
Onde, desde 1590 funcionava a Estrada Salvador-Olinda, ou estrada das boiadas; no cruzamento com a então recentemente aberta, a Estrada das Entradas aos Sertões do Jeremoabo, pelo entradista Fernão Carrilho, em 1665.

A povoação não se desenvolveu. Mesmo depois de emancipada; também em outubro, só que vinte e dois anos depois, em 1697.

As estradas logo perderam importância; e, a de Salvador-Olinda, que foi inicialmente a mais importante, em 1800, segundo D. Marcos Antônio de Souza, funcionava precariamente por dentro de terrenos particulares. E a dos entradistas aos sertões, nunca chegou a um centésimo da importância que tem a sua versão mais recente, a BR-235, tecnicamente, a grande rota de Itabaiana.

Mas a cidade de Itabaiana sempre cresceu em busca de suas estradas.

Nos séculos XVII e XVIII, toda a importante movimentação de entrada e saída da pequenina cidade de Itabaiana era, ou para Laranjeiras, Maruim, Riachuelo, etc., pelo Beco Novo (Rua Coronel Sebrão), a que aparece acima, por trás da árvore e ao lado da matriz;
ou para São Cristóvão, depois para Itaporanga, pela Rua da Tenda, aqui, no foto acima, o atual trecho, em frente ao Nunes Peixoto, da depois Praça João Pessoa. Ou pelo Beco dos Alfaiates (Início da Rua Capitão José Ferreira).
A cidade fundada no cruzamento das suas duas principais estradas coloniais, assim se manteve até a década de 1950, quando veio a BR-235, em 1952. Rapidamente, ela correu pra lá, com a Avenida Otoniel Dórea; as ruas Antônio Dultra e Boanerges Pinheiro, Campo do Brito, Santa Cruz, José Ferreira Araújo, Monsenhor Eraldo Barbosa e 13 de Junho.
Avenida Otoniel Dórea (em amarelo) em pretensa ligação com a Praça Fausto Cardoso, primeiro espaço de alto padrão em moradias, ligava a BR-235 (e ainda liga) no seu primeiro trajeto, hoje avenidas Manoel Francisco Teles e Carlos Reis. Expansão organizada da cidade, em 1952.
Na primeira década deste século, contudo, o padrão mudou, e a cidade se expandiu para o norte e para sudeste, onde aparentemente não passa nenhuma estrada principal. 
Não? Não tem estrada principal?
Entrada atual da Estrada das Entradas aos Sertões (Estrada das Flechas), ao atravessar o riacho do Fuzil, e desaparecer pelo traçado urbano moderno do Santa Mônica, só reaparecendo integralmente no primeiro trecho da Rua Capitão José Ferreira, até a Pração João Pessoa.

A expansão a sudeste – complexo Chiara – busca a rota original da Estrada Colonial do Sertão, Salvador-Olinda, hoje identificável na estrada do Boimé, a caminho do povoado Serra.
E a expansão norte – complexo Santa Mônica – segue a trilha da velha Estrada dos Entradistas, popular e recentemente conhecida por estrada das Flechas. E até um condomínio, recentemente surgido ao fim do Bairro Bananeira, no antigamente conhecido como Bom Jardim, à margem direita do Açude da Macela (plantinha), está margeando o trajeto da mesma Salvador – Olinda, desde que a cidade foi fundada, há 350 anos.
Sempre com o pé na estrada.

Estrada do povoado Serra, aqui na foto, cortada em fente, pelo primeiro trajeto da Estrada Colonial do Sertão (ou estradas das boiadas, e também dos jesuítas), próximo ao povoado Boimé, ou popularmente Boimel, 2,6 km do limite urbano, depois do totem "EU AMO ITABAIANA".

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

BIENAL: ESQUENTA CULTURAL

 

Ontem, quarta-feira, 03, pela manhã a feira de Itabaiana foi invadida por grupos armados de muita alegria, música e cores.

Brincantes de reisado, da Secretaria Municipal de Ação Social; pequena, mas mui bem representativa delegação da tradicional Quadrilha Balança, Mas Não Cai; o neófito grupo dos boymés(*), organizado pelo mestre Tito, do grupo de capoeira, Maculelê; e afinadíssima Banda Francisco Paes da Costa, da Ação Social (com uma canjinha de componentes da SOFIVA), e sob a batuta do Professor Célio Melo fazendo a fanfarra. 

Captura de vídeo de Air Drone (Helinho), mostrando o plano urbanístico da década de 1950.

Foi uma pequena amostra da alegria que nos espera nos dias 23, 24, 25 e 26 de outubro próximo, quando a BIENAL 2025 estará abrindo a última semana das comemorações aos 350 anos de fundação de Itabaiana.

Cortejo passando ao lado da velha matriz de Santo Antônio e Almas, onde a cidade nasceu, em 30 de outubro 1675.


(*) Mais um resgate da história completamente esquecida de Itabaiana. Os boymés, só localizados, documentalmente, e já reduzidos à Missão do Carmo, hoje cidade de Japaratuba, deles há indícios fortes de que também habitaram dentro das serras, conforme lenda existente, os contrapondo aos mathiapoanes; e a presença, desde priscas eras, de um povoado “Boi Mel”, em torno do ramal primitivo – antes da fundação da cidade - daquela que foi a primeira grande estrada de Itabaiana, que a conectava a Salvador, e a Olinda: o Caminho do Sertão.


domingo, 3 de agosto de 2025

MILAGRE DE SANTA DULCE

 

Chegada da imagem de Santa Dulce dos Pobres, conduzida por milhares de peregrinos, à pequena ermida - à direita - sob a sombra dos paredões rochosos da velha serra de Itabaiana da lenda da prata, do carneiro de ouro, etc., etc..

Hoje, realizou-se a peregrinação local, rumo à ermida serrana da Santa, ereta ao sudoeste da serra, limites do Parque Nacional da Serra de Itabaiana, cuja vizinhança nobre é o franciscano Parque dos Falcões. Sucesso. Mais vez.

Logística impecável; ambiente humano dos melhores, mas o que mais chamou a atenção é que desde a quinta-feira à noite que São Pedro vem carregando na mão, e em todo o Sergipe, nas serras em particular, as chuvas se intensificaram, ao ponto de ameaçar a própria peregrinação, se não influindo pelo seu adiamento, mas pela sensível redução de público. Qual nada! Não apenas se manteve, como sofreu sensível aumento, em relação a do ano passado.


350 anos: Santo Antônio, o acompanhante ilustre.

Neste ano, Santo Antônio se fez presente. Ele, de quem Santa Dulce foi devota; que foi a primeira denominação da cidade; cuja paróquia, deu origem à mesma, há 350 anos.

Neste ano, a imagem da Santa ganhou, como acompanhante, Santo Antônio. Que foi da devoção da Irmã Dulce dos Pobres, desde que a jovem Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes se definiu em sua vocação religiosa.
Mas não é somente isso. Santo Antônio da Itabaiana é o nome original da cidade em que Santa Dulce fez o seu primeiro milagre, o que levou o Vaticano a proceder a sua canonização.
Santo Antônio de Itabaiana, antes mesmo de sua paróquia, foi o primeiro grande fornecedor de gado aos ancestrais da irmã Dulce; e, a cidade de Santo Antônio, está fazendo 350 anos – o Sétimo Jubileu de Ouro – de fundada, com a óbvia fundação da sua paróquia, no próximo dia 30 de outubro.
Nada mais natural que acompanhar Santa Dulce nesse belíssimo cortejo à pequena, humilde e graciosa ermida da serra. Feita, segundo o estilo Santa Dulce: simples, terna, ativa. Funcional.

Matando Saudades

Particularmente, estive tentado a me somar aos desistentes, caso São Pedro mantivesse suas copiosas nuvens a nos regar.
Para o meu bem – e do meu parceiro de aventura, Juarez Ferreira de Góis – o dia, com esparsas garoinhas, se mostrou muito mais que amigável que o esperado: belíssimo.
O sol veio na medida e constância, certas; as estradas, enlameadas, mas transitáveis; apesar do aguaceiro dos dias anteriores. E, voltar a sentir aquele cheiro de mata agreste – a Caa-ndu, que deu origem ao nome do povoado: Gandu – recentemente molhada... não tem preço.
Os pés de alecrim-de-serra, verdinhos, a cada toque ou sobraçada, liberando aquele cheiro inebriante... coisa para Chico de Assis nenhum botar defeito. Com direito a Irmão Vento, em modo brisa, a tudo a me trazer, de graça, os aromas com que vivi na infância.
Mesmo ainda em recuperação motora, por AVC sofrido há seis anos, ainda arrisquei os últimos dos 13 quilômetros, em acentuada subida, feitos a pés. Estimulado, claro, pela vigilante SMTT e Polícia Militar, a interditar trânsito de veículos nos últimos 1.500 metros. Risos. 
Que venha agosto de 2026.
Chegada. Cercada de verde vegetação agreste que me recorda a infância e seus aromas de mato.
De camisa listrada o óculos escuros, na foto, meu ex-chefe, amigo, e excelente fotógrafo, Juarez.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

É PRECISO ASSUMIR O PRÓPRIO PASSADO.

 

O boi é sinônimo de bem, de riqueza, há tempos; especialmente no mundo de língua portuguesa, ele é a rês. A coisa. O bem, em bom latim falando.

Em 1534, Martim Afonso de Souza já introduzia alguns animais em São Vicente-SP, mas foi no Nordeste, especialmente no entorno do entreposto marítimo português, hoje denominado de Salvador, que a criação ganhou folego com o protegido de Tomé de Souza, Garcia d’Ávila, a partir de 1650.

A criação, sob risco de confisco estrangeiro, pirata ou corsário, à beira da praia, não muito evoluiu, até 1590.  Mas depois de 1590, os rebanhos encontraram as condições perfeitas para se reproduzirem, mesmo não estando tão distantes do mar: a serrania denominada Itabaiana.

O Lugar

A serrania, em redor de Itabaiana, a fez o primeiro grande centro pecuarista brasileiro, e irradiador para o resto do Brasil
 
Itabaiana é um conjunto de serras baixas, resultante de enorme vulcão do período Arqueano, cuja forma gera um curral natural, como sobredito, não tão distante do mar; mas o suficiente para se tornar o primeiro centro pecuarista, e logo a seguir, disseminador da pecuária pelo Brasil.
Qualquer gênero de aboio, nascido nos campos do norte da África e transportado para a velha Ibéria, teve sua reprodução e evolução aqui. Os primeiros curtumes; as iniciais vestes encouradas sertanejas, arreios, as apartações. Apartações que desportivamente deram origem às vaquejadas.

Assim começaram as vaquejadas.

Os criadores raramente eram também donos da terra. Em geral, eram arrendatários, pagando todos os anos, em parte do gado, as suas dívidas. Por isso eram chamados de curraleiros.
Também, todos os anos, fiscais provenientes de Salvador vinham cobrar as fintas, ou seja, impostos do gado. Mesmo que hipotética e legalmente São Cristóvão fosse a responsável por essa tarefa. 
Era hora de juntar o gado. Fazer a apartação. Ver quanto sobrava para quem efetivamente trabalhou. E começava os tropeis dentro do mato para juntar reses dispersas, e depois dividir.

Cultura vaqueira

Ao nascer da década de 1980, a cidade voltou a reviver a cultura vaqueira. Com o então desconhecimento histórico, uma mera festa, quando de fato representou muito mais. À direita, ruínas da Igreja Velha, o mais antigo símbolo do Ciclo do Gado no Brasil.

Mesmo tendo deixado de ser um centro pecuarista há mais de três séculos, a cultura vaqueira sobrevive por aqui, e basta que alguém se proponha a administrar um evento, ele logo toma fôlego, surpreendendo. 
Assim foi, quando em 1979, o saudoso radialista, Djalma Teixeira Lobo promoveu grande vaquejada, estimulando o surgimento de outras pelo estado. E desde então, tem alguém relembrando aquele sucesso.
De fato, já passou da hora de Itabaiana se assumir como terra mãe da pecuária brasileira, com centro permanente de comemorações e memória, da apaixonante arte de criar gado, e toda a mística cultural que isso envolve.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

ACADEMIA ITABAIANENSE DE LETRAS - SEDE EM ANDAMENTO

Logo da 7ª Bienal, à esquerda; e equipe visitante ao histórico prédio, que será reformado e cedido pelo Executivo Municipal por tempo ainda indeterminado, para sede da Academia Itabaianense de Letras. Da esquerda para direita; Marcos Lima; Tamires, da equipe da Comunicação; secretário de Cultura, Antônio Samarone; José Oliveira; José de Almeida Bispo; presidente da Academia, Vladimir Souza Carvalho; secretário de Comunicação, Edilson Carvalho Silva Júnior; jornalista Grazy Freitas; e arquiteto Gabriel Franco.

Hoje, 23 de julho de 2025, mais um capítulo na Cultura itabaianense, com a visita do arquiteto Gabriel Franco, responsável pelo projeto arquitetônico, que norteará a Prefeitura Municipal de Itabaiana na reforma do velho prédio, número 42, da Praça Fausto Cardoso, que já sediou a Filarmônica Nossa Senhora da Conceição; depois o Fórum Maurício Graccho Cardoso; e por fim algumas secretarias municipais. O prédio, reformado, servirá de sede à Academia Itabaianense de Letras.

O prédio verde e azul, já foi sede musical, fórum de justiça e secretaria. Nestes 350 anos de Itabaiana, ser reformado e transformado em sede acadêmica.

O prédio, ainda um sobrado, em 1930 e pertencendo a particulares. Há quase um século.


terça-feira, 8 de julho de 2025

O OITO DE JULHO

 

Quando a corte portuguesa se transferiu de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808, encontrou um Brasil de vícios arraigados, de violência silenciosa, no exercício da administração, e suas consequentes monumentais injustiças.

O então príncipe regente, D. João, futuro João VI, encontrou uma realidade onde, um terço de todos os impostos cobrados e recebidos por Salvador, era proveniente de Sergipe. Que nada recebia de volta, sob qualquer benefício. Isso continuou.

Quatro células básicas, três delas antagônicas entre si, deram origem ao Brasil: O Maranhão, pouco influente; Pernambuco, Bahia e São Paulo. Tudo o mais, em maior ou menor intensidade foi avassalado por essas. Especialmente Sergipe. Provincianismo na veia.

Por outro lado, a ordem de Felipe II, de criar Sergipe em 1590 – por isso o nome de Sergipe D’EL REY - além de nunca ser encontrada – suspeita-se que a Câmara de Salvador a descartou – beira a total falta de lógica. Por que criar mais uma onerosa unidade administrativa, se já existia outra, poderosa e bem próxima?

Como assuntos de riqueza mineral sempre foram tratados com muito cuidado e sigilo, somente os boatos de mina de prata, no território original da futura capitania, justificaria todo esse cuidado do então plenipotenciário monarca espanhol.

Felipe II faleceu em 1598, sem encontrar prata em Sergipe; até mesmo porque, já nadava na prata de Potosi, hoje Bolivia. Deixou o governo sob seu filho, Felipe III, e seu ministro, o Duque de Lerma (Francisco de Sandoval y Rojas), de quem o povo espanhol depois cantou: “Pra não morrer enforcado, o grande ladrão da Espanha se vestiu de encarnado”. Virou bispo do Igreja. Se livrou da forca.

Mas os nascentes baianos nunca engoliram uma capitania, tirada da “sua” capitania, que já consideravam um reino a parte.

Os impostos, religiosamente sempre foram cobrados, em Sergipe, pela Bahia, sem nada de benefícios.

As vilas, municípios interioranos criados por ordem de Portugal, que retomou o controle em 1640, e a própria cidade de São Cristóvão de Sergipe d’El Rei, eram de uma miséria só.

A matriz de Nossa Senhora da Vitória, um puxadinho da homônima, na capital baiana, só veio ser terminada, em “pedra e cal”, mais de um século depois; e a de São Gonçalo, construída antes de 1630, nunca foi aproveitada. Envelheceu e caiu de abandono em fins do século XIX.

Em 1650, a penúria de São Cristóvão e descrita em soneto do “Boca do Inferno”, Gregório de Matos. (Veja ao fim).

Percebe-se uma estratégia, supostamente pensada para Sergipe não dar certo. 

Estrategicamente, seguindo o corrente, à época, a capital deveria ter sido criada onde é hoje Santo Amaro das Brotas. Cristóvão de Barros preferiu Aracaju, que depois migrou duas vezes até parar em São Cristóvão. Pedra que muito se muda, não cria limo.

Estância, depois da expulsão holandesa de Sergipe, e esvaziamento do povoado, com a saída das forças de Henrique Dias, poderia substituir a então miserável São Cristóvão e seus casebres de palha. Não somente foi desencorajada a isso, como até a vila, meio século depois, foi para a matriz de Santa Luzia, essa, por sua vez um puxadinho de Santo Amaro da Ibipitanga, hoje em Lauro de Freitas, na Grande Salvador.

Santa Luzia do Itanhy, por sua vez, foi asfixiada por Salvador com o poderio do município de Abadia se estendendo até onde hoje estão os municípios de Cristinápolis, Indiaroba e Umbaúba.

Lagarto, e especialmente Itabaiana, além de serem interioranas, e sem rios navegáveis, sempre foram mantidas com discreta, mas firme vigilância. 

E São Cristóvão, proibida de cobrar impostos e de administrar, além da mera execução de ordens emanadas da Câmara Municipal de Salvador. E obviamente, das ordens da Corte e do governo colonial

Enfim, de 1590 a 1820, Sergipe alimentou a Bahia, “com que fornecem a esta cidade (Salvador e Recôncavo), que sem elas não pode subsistir”, com farinha de Santa Luzia, cereais de outros municípios e carne de Itabaiana, depois também Lagarto, Simão Dias e Tobias Barreto. E com os suculentos impostos, cobrados, mesmo enquanto Sergipe permaneceu “quase” uma capitania independente, até meados dos setecentos.

A vinda da Corte para o Rio de Janeiro mudou a história. A presença do rei fez com que a elite local tentasse uma aproximação direta, mormente na figura do historicamente injustiçado, José Mateus da Graça Leite Sampaio, que, tornando-se Cavaleiro de Cristo, chegou a antessala real, e mesmo perseguido pelos agentes de Salvador em Sergipe, logrou do rei a decisão de quebrar o poderio baiano, aliado dos inconfidentes do Porto, em Portugal, obviamente. E mesmo sob a pressão inglesa, exercida pelos bocós colonialistas do Porto, obviamente pelos ingleses manipulados; e retornando a Portugal, o seu decreto de 8 de julho de 1820, teria a confirmação por seu filho, feito imperador do Brasil, em 1822.

Extrato do mapa Carte du Bresil et d'une partie des pays adjacents, BRUE, Adrien Hubert (1826)

E Sergipe cresceria velozmente até 1900, quando novamente caiu sob outro provincianismo, desta feita o paulista e sua República, de onde até hoje é dependente. E, apesar dos laivos do pós-Estado Novo, nunca mais voltou a ter a grandeza que teve no Segundo Império.

Vida que segue.

Por enquanto, comemoremos nossa segunda maior data, já que a maior, o nascimento, nesta fase histórica, é o 1º de janeiro de 1590.

Foi fácil tomar quase todo o Sergipe: os senhores de engenho, em sua esmagadora maioria, só se interessavam pelo próprio umbigo.


São Cristóvão de Sergipe d'El-rei, por Gregório de Matos, 

meados do século XVII


Três dúzias de casebres remendados, 

Seis becos, de mentrastos entupidos, 

Quinze soldados, rotos e despidos, 

Doze porcos na praça bem criados. 

  

Dois conventos, seis frades, três letrados, 

Um juiz, com bigodes, sem ouvidos, 

Três presos de piolhos carcomidos, 

Por comer dois meirinhos esfaimados. 

  

As damas com sapatos de baeta, 

Palmilha de tamanca como frade, 

Saia de chita, cinta de raqueta. 

  

O feijão, que só faz ventosidade 

Farinha de pipoca, pão que greta, 

De Sergipe d'El-Rei esta é a cidade.