sábado, 19 de abril de 2025

ARCO DE CULTURA E FÉ

 

O Auto da Paixão, começou como uma iniciativa para reviver um povoado estagnado; de onde todo mundo que podia – ou precisava – ir, ia embora: a minha velha Mangabeira, onde nasci e vivi até os cinco de idade, atual região sul, do atual município de Itabaiana.

Para ilustrar, em 1975, a SUCAM encontrou no povoado 195 residências, assim divididas: na Mangabeira de Baixo, entre o riacho do Chico José e o rio das Pedras, 22 unidades; na Mangabeira de Cima, onde se encontra desde 1950, a formação urbana, 138, dispersas em sítios; e 35 concentradas em torno da Praça, hoje denominada Alexandre Frutuoso Bispo, o fundador da mesma.

Aproximadamente 600 habitantes. Em 2005, no entanto, varredura do PCE-Programa de Combate à Esquistossomose, da Secretaria Municipal de Saúde de Itabaiana, e Ministério da Saúde, localizou 462 habitantes.

Insegurança; concentração de melhorias na cidade, e a natural busca por elas, completa o quadro de abandono da zona rural, não somente na Mangabeira; mas em todo o município, que passou de 84% da população municipal rural, em 1940, para 17%, em 1991, numa inversão completa.

Em 1990, segundo o anunciado durante o evento, na última quinta-feira, 18, veio a primeira apresentação. Amadorismo total.

Claro. É um espetáculo amador. Atores, diretores, contrarregras... somente sonoplastas e iluminadores, providencial ajuda do Poder Público municipal, são profissionais.

São pessoas, em esmagadora maioria, que passam o ano inteiro labutando em seus sítios, para ao fim da quaresma, mesmo com o veteranismo da maioria dos componentes, se prepararem para o grande dia. De fato, a grande noite.

O evento ganhou tal projeção natural que, fruto dos novos tempos, a Administração Municipal viu ali um motivo de mão dupla – benefício com contrapartida do reconhecimento – o que é natural; e em 2009 entrou no Orçamento da União, recursos para a construção do conjunto urbanístico, com anfiteatro, cujas obras se iniciaram em 2010. Todavia, a obra empacou; e só foi destravada pela administração municipal seguinte, que a concluiu, em 2014.

Porém, salvo raras exceções, são 35 anos de apresentação, todas as noites de Quinta-Feira Maior, como dito, com várias inclusões de novos artistas e defecções de outros, mas que em torno de 50% permanece desde o começo.

O espetáculo da última quinta, 17, manteve a linearidade própria de um drama, que está prestes a completar 2000 anos. Belo, muito bem executado; tradicional. E casa cheia. Como sempre.

Cena final: Cristo ascende aos céus na Mangabeira.

Efeito multiplicador

Malhada, ou malhador, como local de plantação é um termo antigo. Ao menos nos Açores já era praticada, antes mesmo do Descobrimento do Brasil por Portugal. Consistia numa área pré-determinada, em que se deixava o gado pernoitar por vários dias. Daí o nome malhada, pelo aspecto que adquiria após a saída do gado, e deixando, obviamente, coalhado de excrementos – fezes, e uratos da urina - vitais para fertilizar a terra para o plantio.

A Malhada Velha, após o riacho do Cipó (Çanguê em tupi), na franja sul das terras do primeiro itabaianense e sergipano de sangue europeu, Simão Dias, o francês ou mameluco – a Cova da Onça ou Jacaracica, hoje parte de Moita Bonita – certamente, guarda esses predicativos.

A efervescência cultural serrana, pós-BIENAL 2011; e o estímulo de um exemplo que deu certo - a Mangabeira - moradores do antiquíssimo povoado da Malhada Velha começaram também uma apresentação, que se manteve no mesmo formato, até o ano passado, e agora sofre uma radical transformação com a entrada da força da grana – e, ressalte-se, da boa vontade em bem aplicá-la – e o espetáculo acaba de mudar do tradicional, amador, na raça, para dar passos rápidos à profissionalização.

Ontem ocorreu a primeira apresentação em novo modelo. Eu não fui ver. Cansado de duas: a da Mangabeira, na quinta-feira, à noite; e a do Tabuleiro do Chico, da sexta-feira, às sete da manhã, minhas condições físicas de diabético me levam à contenção de qualquer arroubo. Ficou para o próximo ano. Mas já percebi os traços profissionalizantes, a partir da prévia cobertura da imprensa; e dos vídeos do tradicionalmente efêmero Instagram (belas imagens instantâneas, que quando se busca novamente, “já era”).


O Tabuleiro do Chico

No oeste do município, antípoda à Malhada Velha, está o Tabuleiro do Chico. De denominação recente, do último século. Inexiste no censo eleitoral de 1875, porém, por volta de 1930 já era assim conhecido, conforme informações da família Capitulino.

Recentemente, a comunidade religiosa do povoado, tradicionalíssima, como a vizinha Matapoã, resolveu seguir a Mangabeira e a Malhada Velha.

Ontem, Sexta-Santa, 18 de abril fui lá ver, pela primeira vez. 

Fiquei encantado!

A fórmula é a mesma que se repete, e repete, mundo afora; mas, o esforço amador, a energia, o denodo, aplicação, não fica nada a dever aos meus conterrâneos mangabeirenses; bem como a paixão com que o fazem. Perfeito!

Cenário simples, com alguns melhoramentos; adaptabilidade; coordenação exemplar. Estão de parabéns os tabuleirenses. Como diria meu pai, Alexandre Frutuoso Bispo: “Que Deus os conservem assim!”

Parabéns!

Cristo ascende aos céus, na última cena, no Tabuleiro do Chico.
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Tradição quebrada.

Um dia tudo e todos morrem. É a lei da vida: nascer, crescer, se reproduzir e morrer; e a Apresentação “do Campo” (estádio Presidente Médici, renomeado para Etelvino Mendonça), haverá de parar um dia; porém, causou um certo vazio no peito a ausência das multidões acorrendo ao Estádio para o último ato da Sexta-Santa, em Itabaiana.

O evento, criado pelas franciscanas, Irmã Caridade e Irmã Luciana Quaresma, dando direção espiritual à JUC-Juventude Unida a Cristo, da Paróquia de Santo Antônio e Almas, e abraçado pelo pároco de então, Monsenhor Mário de Oliveira Reis, na Sexta-Santa de 1977, e por todos os demais que o sucederam, apenas em três ou quatro oportunidades, teve breve solução de continuidade.

Mas neste ano se integrou ao projeto Malhada Velha II, a nova fase, deixando de ser executado.

De certo modo, a paróquia, que crava 350 anos de fundada, no próximo 30 de outubro, uma data magna, se ressente do tamanho da responsabilidade e das transformações do tempo, com encolhimento no quadro de paroquianos, seja por divisão de área de abrangência, seja por influências outras. 

A Paróquia, que foi criada há 350 anos atrás, com 3.500 quilômetros quadrados, do rio Cotinguiba ao Cansanção; do Sergipe ao Vaza-Barris, hoje se resume ao Centro da cidade: menos 1,8 km².

Atualmente, para realizar qualquer evento sofre as consequências com a exiguidade de obreiros. Até a instituição-mãe da cidade – a Irmandade das Almas – mais velha dez anos que a própria paróquia, teve de sofrer modificações no seu tradicional quadro de membros, tradicionalmente masculino, com o ingresso de mulheres para continuar a existir. Além de encolhimento natural, há cerca de cem anos deixou de trazer vantagens imediatas dela participar.

E assim, tomara que não, mas aquele esforço, daquela eletrizante geração de jovens, na qual me incluo, a fornecer mão-de-obra às sacras intenções das citadas irmãs missionárias, baldam-se aqui.

Irmã Caridade (in memorian), e Irmã Luciana Quaresma, criadoras junto à JUC da Paróquia de Santo Antônio e Almas, da Via-Sacra do Estádio, em 1977.

Epílogo

Todavia, o tradicional espírito religioso itabaianense, popularmente manifestado na Mangabeira por D. Maria Evangelista dos Santos e seu filho, Alexandre Frutuoso Bispo, com uma providencial mão de D. Zefinha de Gerino (Josefa da Cruz Santos, casada com Angelino Martins Santos), em 1949, e lá mesmo revigorado em 1990, com o Auto da Paixão, continua firme; e, o que é mais salutar: multiplicador.
O apoio oficial, especialmente do Poder Público do Município, através da Prefeitura e suas secretarias, sempre fará toda a diferença.



terça-feira, 8 de abril de 2025

E CAI UM GUERREIRO DAS SERRAS DE ONDE OS RIOS VÊM.


Vitimado por longa enfermidade, que se agravou ao longo dos anos, falece nesta terça-feira, 8 de abril, tricentésimo quinquagésimo ano do nascimento da cidade de Itabaiana, um dos baluartes da armada serrana que, ao lhe ser facultada a possibilidade de avançar, fez das tripas coração e avançou. 

O odontólogo José Valde dos Anjos conquistou, homericamente sua ascensão, mediante o estudo, graças a existência de boas escolas públicas, e uma mãe - do próprio - dedicadíssima, que conseguiu o impensável: fazer um filho de pobre virar doutor. E, obvio, sua própria inteligência e determinação.

Zé Valde foi o garoto prodígio que, com o seu exemplo, encorajou uma multidão silenciosa de pataqueiros, feirantes, sapateiros e outras atividades, em geral de mera sobrevivência, a acreditar, focar, ser objetiva. E conquistar uma direção diferente para a própria vida.

Fez o Ginasial, hoje da quinta a oitava série, no Colégio Estadual Murilo Braga, turma de 1966, conseguindo, aos trancos e barrancos cursar o Colegial ou Científico – dois primeiros anos em Salvador, com inestimável ajuda de D. Sinhá, viúva de Euclides Paes Mendonça – concluindo no Atheneu em Aracaju, já em meio à nata de Itabaiana e a nobreza aracajuana. Ali prosseguiu, até colar grau em 17 de dezembro de 1974. Um feito gigantesco para sua condição sócio-financeira.

Jamais perdeu o jeitão moleque do Beco Novo. Amigueiro, farrista. Popular.

Dos quatros inseparáveis amigos, especialmernte na farra, agora três, Ze Valde (primeira da esquerda), Zé Elson e Robson Porto, à direita, já na eternidade.


Foi candidato a vice-prefeito em 1992, e não eleito, na chapa com José Teles de Mendonça, Zé de Chico, sem, no entanto, nenhum estremecimento nas amizades com os amigos do partido oposto e vencedor; isso numa época em que Itabaiana ainda ficava em pé de guerra a cada quatro anos, nas contendas eleitorais municipais.

Enfim, vai-se mais um meu amigo. Mas ficam as lembranças da sua existência prolífica e exemplar para as futuras gerações. 

A essência itabaianense.

Mais sobre Zé Valde, aqui. Clique!


domingo, 2 de março de 2025

EU FALEI FARAÓ. EGITO Ê(*).

 

Em artigo deste domingo, o médico, atual secretário de Cultura de Itabaiana, Antônio Samarone de Santana, aborda, com propriedade, um aspecto do carnaval no Brasil: um superferiado para 99 por cento, enquanto o 1 por cento se esgoela em avenidas, ruas e vielas, país afora.

É interessante: o São João, inventado pelos jesuítas no afã de atrair a indiada aos cultos e à civilidade, mesmo sendo originalmente uma festa nacional, porém, ao ser estigmatizada de “nordestina”, perdeu o brilho no sul maravilha, ao sul do paralelo 20; e jamais foi içada ao status do carnaval, que nunca atingiu mais do um por cento já dito.

Pegadinhas segregacionistas à parte, como diz o Samarone, o carnaval é, sim, uma festa pra poucos. Porém, para o país, sem decretar feriado, por quatro e até cinco dias, já que seus efeitos começam na sexta-feira, e só vão terminar na quarta-feira, ao meio-dia.

Afinal, este é um país eternamente protocapitalista, desde os holandeses em Pernambuco (os holandeses foram os inventores do capitalismo), e dominado pela cultura bancária (é só ver as filas). E os bandos, digo, bancos (desculpem a contaminação com o boquirroto Berthold Brechter), só abrem ao meio-dia da Quarta-Feira de Cinzas.

E voltamos ao início da civilização.

No Egito dos faraós, o ano foi medido com precisão espantosa, para algo feito há cinco mil anos atrás: 365 dias.

Eles criaram as três (e não quatro) estações; os dozes meses de três semanas de dez dias.

Mas o ano, propriamente, era contado pelos dias comuns, que era 360 dias. Tecnicamente havia mais cinco, perfazendo 365; mas que não eram computados, porque em festa aos deuses Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus; os deuses mais importantes naquela terra encharcada de deuses.

No Brasil, nós reinventamos os cinco dias “que não contam”.

Não é preciso sambar, pular, ou participar de orgias e bacanais. É um superferiado não oficial, e pronto.

O comércio, sempre diligente em fazer seus comerciários trabalharem em jornadas de até dez horas, fecha, ovinamente; indústrias, também. Até certos serviços... até os bancos, os bancos! Esqueça-os no carnaval: está todo mundo celebrando Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus.


(*) Título inspirado em “Faraó, divindade do Egito, por Banda Mel”.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

ECOTURISMO NA SERRA

 

Neste ano, de 350º aniversário da cidade, as coisas estão acontecendo.

Deve estar desembarcando amanhã na Serra, ou seja, em Itabaiana, uma turma, a partir da capital baiana, porém com origem diversa, para passar o carnaval por aqui, no Agreste.

E talvez aproveite, para dar uma caçada no Carneiro de Ouro. Nunca sabe, né?

Pouco a pouco a cidade vai ganhando contornos de centro turístico, em busca das riquezas naturais existentes; do patrimônio cultural imaterial, inclusive o rico patrimônio histórico, ainda pela maioria ignorado; e pelo grande futuro que promete em matéria de turismo religioso.

A cidade, conjuntamente com outros municípios dela originado, tem o único parque ecológico em Sergipe, o Parque Nacional da Serra de Itabaiana. Na franja sudoeste dele, uma preciosidade nacional, que é o Parque dos Falcões.

Junto ao Parque do Falcões, foi recentemente ereta uma pequena estátua de Santa Dulce dos Pobres, à margem da primeira etapa do Caminho de Santa Dulce, Itabaiana-Salvador. Nas colinas abaixo, está um lugar de grande significado histórico, na construção do Brasil, especialmente antes do encontro de ouro em Minas Gerais. É o local da prisão de Melchior Dias Moreia, neto de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, em 16 de julho de 1619, por não ter entregado a mina de prata que descobriu, três décadas antes. A prisão foi efetuada pelo próprio governador-geral, D. Luís de Souza.

Na franja sudoeste da Itabaiana Grande, limite do Parque Nacional da Serra de Itabaiana; a 200 metros de Santa Dulce e 500, de local histórico e nascimento da lenda da prata (v. Paulo Setubal)... eis o Parque dos Falcões (a sede foi reformada recentemente, depois da foto).

Na fronteira sul do município ficam, do lado itabaianense, o povoado Ribeira, e vizinho, já no município de Campo do Brito, as Pias de Ribeira. 

Trata-se de um conjunto de piscinas naturais, cavadas durando milhões de anos, na pedra calcárea, pela corrente do rio das Pedras, que ali formou mais um dos boqueirões entre as serras, que denominam o lugar, Domo de Itabaiana, ou, simplesmente, Itabaiana.

É, desde prisca eras visitado para relaxantes banhos. Quando a corrente está plena, geralmente no inverno, ainda se pode visualizar poderosa cachoeira, no limite do trecho das piscinas.

Saboroso banho, inclusive da História. E "Coisas que pra um cristão ver, tem que andar a pé".

São atrativos, na zona rural, ainda pouco conhecidos, mas que prometem para o futuro: a área em torno da Serra do Pico, local da última batalha na Conquista de Sergipe; as ruínas da Igreja Velha, seis quilômetros a leste da cidade; e locais de origem de algumas lendas, como a Lagoa do Forno, lendariamente, originada das lágrimas do cacique Panema, arrependido depois de cometer feminicídio contra sua lindíssima Mbuçarãe; e o povoado Boimé ou Boimel, local da assembleia íncola, de condenação à maldição da tribo matapoan.

Na cidade, temos o local do milagre que canonizou Santa Dulce: a Maternidade São José; e a setecentista igreja matriz, de arquitetura iluminista e racional, da fase pombalina. É aconselhável uma visita a todas as outras das Sete Maravilhas da cidade: Feira, Colégio Estadual Murilo Braga, Filarmônica Nossa Senhora da Conceição.

Mas as atrações que moverão o grupo que chega amanhã, vão além do município de Itabaiana, e da própria grande Itabaiana, o que inclui seus municípios filhos.

Em resumo: 

- Estão previstas trilhas para o Parque Nacional da Serra de Itabaiana, e Parque dos Falcões;

- Para a cachoeira de Macambira, e a Pedra das Araras, na vertente oeste da serra da Miaba;

- Para a paradisíaca orla Pôr-do-sol, ao extremo sul da capital, Aracaju, e sua vizinha, a historicamente tão significativa Coroa do Goré;

- Para a cachoeira do Saboeiro, já em terras lagartenses;

- E finalizando com a trilha para os Poções ou Pias de Ribeira, já no município de Campo do Brito, porém, decerto passando pela bucolíssima Ribeira; e com visão privilegiada para um dos primeiros locais colonizados de Sergipe.

Como costumo dizer, em Itabaiana, portas, janelas, portões, cancelas, porteiras, passadiços, colchetes e, principalmente: os braços estarão sempre abertos. Escancarados. Tanto que às vezes pode até soar deseducação; mas é puro passional acolhimento.

Que sejam bem-vindos e voltem sempre.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

DE ROUPA NOVA

 

E, nos 350 anos da cidade fundada, sua Centenária Prefeitura muda de cara. De novo.

A Alcaidaria de Itabaiana, hoje Prefeitura, foi formalmente criada pelo rei D. Pedro, O Pacífico, de Portugal, em 16 de junho de 1700, ao nomear o primeiro prefeito, cargo então chamado de alcaide, em João da Costa Feio.

Começou mal: João da Costa Feio preferiu outro cargo em Portugal. Tiveram que nomear outro depois.

Em meados do século XVIII, com as reformas do Marquês de Pombal - em todo o império - acabou-se o cargo de alcaide. A administração municipal ficou com o presidente do Conselho Municipal, invariavelmente, também presidente da Câmara de Vereadores.

A assim se passaram mais de 150 anos, no Brasil, agora independente, até o fim da monarquia, no reinado do Imperador, D Pedro II.

Com a República, e sua primeira Constituição, renasceu a separação dos poderes, ficando o Poder Executivo Municipal, independente do Poder Legislativo, a Câmara de Vereadores.

Criou-se a figura novamente do Intendente, à época; denominado prefeito, pela Revolução de 1930.

Em 1890, inexistia prédio da Prefeitura. No local da atual ficava e pequeno Mercado Municipal. Em 1913, foi inaugurada a "Intendência"; reformada em 1924; desmanchada e reconstruída com feições mais modestas, em 1965. Até hoje.

Mas o prédio da Intendência – a Prefeitura - só viria a ser construído em 1913, quase vinte anos depois.

E, desde 1913, o hoje centenário prédio, sofreu duas reformas radicais: a de 1924; e a de 1965, que o deixou no formato atual.

Em 2005, contudo, começou e festival de cores, já ensaiado em outros próprios municipais, desde 1997. E a cada administração, o prédio tem recebido nova demão de pintura, em geral, conforme o partido no poder.

Mas dessa vez, o Poder Executivo inovou: saem as cores partidárias; entram os cinza e grafite; conferindo certa seriedade e classe ao conjunto.

Roupa nova; nova fase.

A primeira mudança de cor foi na administração Maria Mendonça. O retorno de Luciano Bispo, em 2009, imprimiu-lhe novas cores; substituídas, a seguir, por Valmir Costa, e mantidas por Adailton Rezende. Agora, no retorno de Valmir, toma a feição da primeira foto deste artigo.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

MUNDOS EM TRANSFORMAÇÃO

 

100.3 Liberdade FM fora do ar. O último suspiro do empreendedorismo começado por Albino Silva?

Na semana passada eu li uma matéria no portal 93, mais uma, sobre a agonia da radiofonia, no caso, a marca Liberdade de Sergipe; melhor, o que dela restou, a Liberdade FM.

A FM, informam os aplicativos para rádio na internet, ora consultados, está fora do ar. Provavelmente sem retorno.

Em mim, causa certa tristeza, apesar de ser missa cantada: só sobreviverão produtores e emissores de conteúdo estribado em fundos públicos, sejam eles estatais ou privados. De governos ou instituições. Impressos, em áudio ou vídeo. Os tempos de financiamento privado acabaram para esses segmentos.

Mas, no caso da Liberdade, a coisa pega um pouco mais.

A Liberdade AM, em que pese politicamente, ser parte de um projeto de poder, que desaguou no golpe e regime de 1964, também foi ela de enorme importância para Sergipe, especialmente no terceiro quartel do século XX.

Para começar, quando foi alcançada pelo próprio veneno que ajudara a fabricar – a censura ditatorial - a emissora foi uma trincheira em defesa da cultura nordestina, chegando a atrair para Aracaju nomes como Dominguinhos, Anastácia, Clemilda, Gerson Filho, a prata da casa Jose Vaqueiro, e outros figurões voaram nas ondas da Rádio Liberdade de Sergipe, mormente quando só existia ela e a Difusora, hoje Aperipê.

O advento da Liberdade FM em meados dos 80 coroou a obra. A emissora veio com um estilo classe A, tanto na linha musical, MPB, pop nacional e internacional, e até boas arranhadas na música clássica. Dava gosto de ouvir. A quem de fato ouve música.

Confesso meu divórcio do rádio – não somente da clássica Liberdade FM – à medida que se diversificaram os meios, especialmente a internet; mas dói-me saber que mais uma ilha de excelência fechou as portas.

Isso faz-me lembrar do que escreveu Humberto de Campos, por ocasião da morte de João Ribeiro: “Cai um jequitibá do Nordeste; qual marmeleiro será plantado em seu lugar?”

E tem também o danado do bairrismo. Mesmo que tenha a emissora, há bastante tempo saído da ligação direta com Itabaiana.

A marca Rádio Liberdade foi ao ar em 7 de setembro de 1953, forçando a Difusora, do Governo, a correr atrás. Pelas mãos de um ceboleiro: Albino Silva.

Albino Silva da Fonseca nasceu em Itabaiana, em 05 de março de 1909 e faleceu em Aracaju, em 19 de junho de 1992, aos 83 anos.

Empresário inovador, acabou sendo pioneiro em vários setores da economia sergipana, fundando as primeiras fábricas de biscoitos e de macarrão; a primeira granja do estado, o gás engarrafado em Sergipe, e água mineral. Foi um dos construtores da respeitabilidade itabaianense no comércio, acompanhando Gentil Barbosa, os irmãos Paes Mendonça e Oviedo Teixeira, entre outros.

O fim da Rádio Liberdade, conquanto que deixe a sensação de ter lutado o bom combate, deixa um gostinho amargo de saudade, e da constatação que eterno, só a eternidade.


domingo, 26 de janeiro de 2025

OS SONHOS DE FLORENTINO

 

Entrada oficial para o Parque, em montagem fotográfica com o Professor Florentino Teles de Menezes, o idealizador.

Daqui a cinco meses, o Parque Nacional da Serra de Itabaiana completará vinte anos de criado.

De fato, transformado, no segundo ano do primeiro governo Lula, uma vez que então já uma Estação Ecológica, criada pela Portaria 118, do extinto Ministério do Interior, em 1981, durante a presidência do último general-presidente da ditadura, João Batista Figueredo.

Brasil: Cultura de destruição em massa da natureza. Desde a chegada europeia. O senso de eterna exuberância

Tem sido uma vitória, sofrida, um passo de cada vez, fazer alguma preservação, enquanto a sociedade pratica a cultura de terra arrasada; tipicamente brasileira; desde as destruições da Mata Atlântica do século XVII, até a desertificação atual da Caatinga e seus correntões, temos vivido empenhados em destruir por destruir. Exuberância total. E irracional.


A idílica Serra de Itabaiana.

A serra de Santa Maria da Graça, de Américo Vespúcio.
(Mapa Cosmografia Universal, de Martin Waldseemüler, 1507, conforme informações de Vespúcio, em 1501)

De montanhas-guia aos navegadores, começando pelo mais famoso, Américo Vespúcio, que a denominou Serra de Santa Maria da Graça – e não pegou – a esperanças de aventureiros por metais preciosos, nos nos dias, as protuberâncias do velho vulcão do arqueano, em forma de cadeia montanhosa ainda chama a atenção, especialmente a mais alta.
Em 1902, ao publicar o seu livro, Quadro Corográfico de Sergipe, Laudelino Freire nos coloca as serras, originalmente denominadas de Itabaiana, como locais aprazíveis, ideais para curas de enfermidades, especialmente das vias aéreas. Respiratórias. Já era lugar comum em Sergipe, entre médicos e seus parcos recursos de cura, especialmente num de seus mais temíveis flagelos: a tuberculose.
E assim se passaram três décadas. De novidade na área, só a peregrinação anual do Dia de Todos os Santos, até a capelinha, no alto da serra maior, que se arrastou, desde seu início, em 1910, até fins os anos 1980.
No nervoso fim da República Velha, se adiantando aos fatos que viriam, o professor Florentino Teles de Menezes, movidos pelos novos ventos, que tanto inspiram os sonhadores, moveu mundos e fundos, e usando do seu vasto e inquestionável prestígio, criou o Centro de Propaganda da Serra de Itabaiana, cujo objetivo final era operar uma estância curativa e recreativa. 
Dele, diz o também professor, Ibarê Dantas, em seu livro biográfico (Florentino Teles de Menezes, O sociólogo pioneiro, Aracaju, 2009, versão pdf) sobre o citado: “Sonhando com Sergipe incorporado às grandes causas, mostrou-se atento para a questão do meio ambiente ao propor, em 1928, que a serra de Itabaiana “fosse transformada num centro turístico”". 
Em cima da serra grande, já reduzida à sua atual denominação, uma redundância que se impôs: Serra de Itabaiana. 
Florentino organizou caravanas da alta sociedade aracajuana; envolveu grandes autoridades estaduais no projeto... mas, ficou só no projeto.
Parques nacionais no Brasil, só viriam a serem criados no Estado Novo .
O parque se espraia por cinco municípios. Numa região antiga e densamente povoada, busca reduzir ao mínimo os contenciosos.
Nunca faltou idealista, contudo, poucos sequer sabiam com exatidão o que pleiteavam.
Em 1966, a criação de um parque de transmissões, pela Embratel, veio se somar à capelinha existente. E a tão sonhada estrada de acesso, ao topo da serra, não a partir de Areia Branca, como sonhado por Florentino Menezes e sua diretoria, em 1932; mas no trajeto atual, para a sede do Parque, veio como benefício geral.
Em 1981, fruto da crescente consciência ecológica, e seu eco na ainda adolescente Universidade Federal de Sergipe, veio a primeira tentativa séria de reconhecer a Serra de Itabaiana como um lugar especial: O Ministério do Interior, através da Portaria 118/81 criou a Estação Ecológica Serra de Itabaiana. Porém. Como quase sempre ocorre com o mundo intelectual, dissociado completamente da cultura popular e política local. Nota de rodapé, talvez, em algum jornal ou boletim temático. Só.
Verdade seja dita, no meio popular, ecologia ainda era um palavrão; e só o Dia da Árvore, comemorada em modestas escolas de alfabetização. Uma vez por ano.
E, por ser uma medida intelectualizada, burocrática; com típico modus operandi da época de fim da Ditadura, impositivo, puro e simples.
Algum esforço de trazer o tema para o povo foi então posto em prática, como o 1º Simpósio Sobre a Realidade Ecológica da Serra de Itabaiana, no início dos 90, organizado pelo professor Taurino Duarte e o pessoal do IBAMA.
Em 30 de setembro de 1998, na 8ª Reunião do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, em Matinhos-PR, dezessete anos depois de criada, foi lavrado um requerimento, pela implantação em definitivo da Estação Ecológica da Serra de Itabaiana.
De fato, o IBAMA local, que andou meio sonolento, acordou com algumas iniciativas particulares de se envolver com a área já trabalhada. Interpretadas como invasão deliberada.
Em 1998 as prioridades governamentais eram outros “verdes”. Preferentemente, impressos no Tesouro americano. E nada foi adiante.
De tanto malhar em ferro frio, ou seja, querer tirar o povo da serra, optou-se por transformar a Reserva, de Estação em Parque Nacional, o que franqueia o acesso, desde que controlado, englobando outras áreas, inicialmente de fora, incluindo a Itabaiana-Mirim – serras, do Bauzinho, Comprida e do Boqueirão – e a Cajaíba, ou, Cajueiro, bem como o grosso das nascentes dos rios Cotinguiba e Poxim, Mirim e Açu.

Os contras

A transformação em Parque, em 15 de junho de 2005, o abriu oficialmente ao público, respeitadas, obviamente, as normas ambientais. Melhorou. Mas ainda sofre pesados ataques, inclusive de autoridades. Nesse caso, o Parque já deu início sofrendo pesado ataque.
Em dezembro de 2005, em reunião de emergência, o Governo de Sergipe foi instado a atrapalhar, “uma obra dos adversários partidários”, no melhor estilo pebas versus cabaus.
Atualmente rola por aí uma lenda urbana, de que o asfalto da decantada rodovia Itaporanga-Itabaiana (na realidade, São Cristóvão-Itabaiana) empacou por conta do ICMBio, administrador do Parque. 
Uma ligeira consulta aos órgãos competentes, contudo, não apontou nenhum contencioso. Apesar da rodovia atravessar o boqueirão entre as serras de mesmo nome e da Cajaíba, entre os povoados Cajueiro, no município de Itaporanga, porém administrado desde 1963, por Areia Branca; e o povoado Boqueirão, neste município. No sobredito boqueirão, o Parque se liga por uma estreitíssima faixa de apenas 279 metros, atravessada pela centenária estrada real de São Cristóvão, que será(?) usada pelo asfalto.
Já a rodovia BR-235, tem sua travessia já prevista no Art. 2º, alínea II, parágrafo único, do decreto nº 10.557, de 15 de junho de 2005.
Como sonhou Florentino Menezes, também sonho com o dia em que teremos delimitação precisa da área do Parque; instrumentação completa de visitação e até pontes verdes, conectando as serras Itabaiana-Açu com a Itabaiana-Mirim e a Cajaíba, enfim com o dia em atingiremos condição satisfatória de civilidade, e a transformação do Parque num dos principais atrativos para a grade turística, padrão internacional, do desprezado estado de Sergipe, onde cargos de agentes públicos do turismo são meros empreguinhos. Pra constar. E acomodar acólitos partidários.

Entretanto, se move

O Parque, pouco a pouco, vem resistindo à sanha dos destruidores, que vão desde mineradores a cachaceiros, que usam o espaço só para encherem a cara; coisa que podem fazer em qualquer espelunca. E depredarem.
E os sonhos, dos teimosos sonhadores, não morrem.
Projeto de acessibilidade, como o teleférico à Itabaiana-açu, volta e meia volta à pauta. Dos sonhadores, óbvio. 
Dentro do possível, o Instituto Chico Mendes, administrador do espaço vem fazendo as lições de casa. Falta melhorar a cultura de pertencimento, que, diga-se de passagem, mesmo assim já está com uma boa quilometragem, relativamente aos meus tempos de garoto, a perseguir as siriemas para vê-las – além de ouvir – cantar, a cada intervalo das ligeiras chuvas de agosto na vertente sul da serra grande. Ou dos lenhadores a extrair cargas de mangue nas encostas do Poco das Moças.
Enfim, apostemos no futuro.
“Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar”, como magistralmente recita em forma de canto, Guilherme Arantes.
Sergipe só tem espaço para crescer mediante o turismo. Ou se investe nisso, de fato, ou continuará um jipe, sujeito à ferrugem. Ao fim. Nunca um Tupolev.

Concepção artística de Marlon Delano, para um teleférico, facultando maior acessibilidade ao topo da serra. É um sonho de consumo dos florentinos atuais. 
Quem sabe, né?







sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

SÃO PAULO E ITABAIANA.

 

Anchieta, ao criar uma missão nos campos de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, deu o pontapé para a maior cidade do mundo ocidental, na atualidade: São Paulo, capital.
Do mesmo modo, a criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana, em 30 de outubro de 1675, também criou a hoje dinâmica Itabaiana.

Amanhã, 25 de janeiro, a maior cidade do Ocidente (África, Américas e Europa) completará 471 anos de fundada.

Originalmente a cidade foi fundada, como uma missão jesuítica – o Colégio São Paulo - porém, tanto impactou a ousadia do Padre José de Anchieta, hoje santo, que três anos depois a missão se emancipou com vila, de São Vicente, que era então, o único município do hoje grande estado. 

Como vila virou capital da capitania em 1663. Mas o status de cidade, só em 1711, 157 anos depois; e, mais três séculos, veio a assumir a "cabeça do Brasil".

Observação: no sistema administrativo português, só era cidade se fosse fortificada. Com muros e exército permanente. Com o tempo, isso foi mudando, e, no caso do Brasil, a ditadura do Estado Novo, pelo Decreto-Lei 311, de 1938, acabou com a vila como sede de município: agora, só cidade.


Itabaiana.

Itabaiana: uma cidade-cofre, para guardar prata. Que só veio a ter o status de cidade, 213 anos depois de fundada.

Incomparavelmente menor, mas a nossa cidade tem mais a ver com a história da grande aniversariante de amanhã do que parece.
Primeiro centro econômico do estado de Sergipe, nos primeiros 50 anos de colonização, foi-lhe negado qualquer organização social até 1675. 
Fundada a paróquia de Santo Antônio e Almas, em 30 de outubro de 1675, estava aí fundada a cidade, que só veio ter esse título em 28 de agosto de 1888, 213 anos depois.
Originalmente, a cidade foi Santo Antônio de Itabaiana; Itabaiana, era toda a área entre as serras, desde o rio Sergipe ao Vaza-Barris
Em 1674, um ano antes, a chegada de D. Rodrigo de Castelo Branco, numa busca desesperada por prata, acabou forçando o nascimento da Paróquia de Santo Antônio e Almas, como parte, certamente de uma cidade fortificada para guardar a prata.
Prata não houve. E a tímida povoação foi emancipada do município-pai, o de São Cristóvão, por decreto de 20 de outubro de 1697, 22 anos depois. Com o status de vila.
Com o status de vila, Itabaiana passou 191 anos, só ganhando o status de cidade em 28 de agosto de 1888. Mas só a partir de 1950 reassumiria sua condição de locomotiva interiorana de Sergipe. Como foi no início dos anos 1600.
Do livro Razoes do Estado do Brasil. Do Sargento Diogo Campos Moreno, 1612.
No início do século XVII, Itabaiana era também o campo de teste da pecuaria nacional, propriamente dita; como as commodities atuais. Onde houver uma manada de pé, no país, foi aqui o campo definitivo de teste de viabilidade econômica.


Meus parabéns aos paulistanos pelos 471 anos de existência de São Paulo dos Campos de Piratininga.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

350 ANOS: SANTO ANTÔNIO, O PEREGRINO.

 

Santo Antônio em peregrinação à matriz de Nossa Senhora do Bom Parto.

E, dando sequência às comemorações do Sétimo Jubileu de 350 anos de criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas, Santo Antônio, nem fugiu, nem escolheu outra quixabeira para pousar.(*) 

Hoje à noite, em procissão, devidamente acompanhada pela banda da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição, a imagem do Santo deixou a centenária primeira matriz do interior de Sergipe, e, sob cortejo de fiéis, iniciou uma visita à paróquia-filha de Nossa Senhora do Bom Parto, a segunda mais antiga do sítio urbano, que estará em festa da sua padroeira até o próximo dia 30, última quinta-feira, deste janeiro de 2025.

Além das seis paróquias urbanas, de Itabaiana, filhas de Santo Antônio e Almas, são também filhas diretas as paróquias: do Sagrado Coração de Jesus, de Ribeirópolis; Nossa Senhora da Boa Hora do Campo do Brito; São Paulo, de Frei Paulo; e Santa Terezinha, de Moita Bonita. 

São “netas”, todas as demais, dessas, derivadas: São Domingos de Gusmão, de São Domingos; Sagrado Coração de Jesus, de Carira; São José, do Pinhão; São Francisco de Assis, de Macambira; Nossa Senhora do Patrocínio, da Pedra Mole e Nossa Senhora Aparecida, da cidade de mesmo nome. 

São também “netas”, as de Nossa Senhora da Conceição, do povoado Alagadiço e Menino Jesus, do povoado Mocambo, oriundas da Paróquia de São Paulo, de Frei Paulo; e São Sebastião, do povoado Serra do Machado, oriunda da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, de Ribeirópolis.

Não definível os respectivos status, mas ainda caberiam na família Santo Antônio e Almas, as paróquias: de São João Batista, de Areia Branca; Nossa Senhora da  Conceição, de Riachuelo; Santa Rosa de Lima, da cidade de mesmo nome; São José e Santa Dulce de Malhador, e de São Miguel, do Aleixo.

É que, antes de ser de Nossa Senhora da Dores, a partir de 1859, São Miguel do Aleixo e toda a margem direita do rio Sergipe era de Itabaiana e sua paróquia. Do mesmo modo, antes de ser de Laranjeiras e Riachuelo, Areia Branca foi Itabaiana, até 1874. Assim também Malhador. A própria Riachuelo, como povoado Rio de Sergipe, na passagem de São Gonçalo, foi disputado por Santo Antônio e Almas e Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba até ser completamente integrado à Paróquia Nossa Senhora do Socorro, em fins do século XVIII (**). Santa Rosa de Lima foi tirada da Itabaiana e anexada à Divina Pastora, só em 1896.

Santo Antônio não teria tempo, até 30 de outubro de visitar todas elas.

Em tempo: por ironia, São Miguel, a quem o Padre Sebastião Pedroso de Góis intentou incutir como devoção principal do itabaianense, não pegou. E foi ressurgir como padroeiro em São Miguel do Aleixo, depois da área desmembrada de Itabaiana, e adicionada a Nossa Senhora das Dores.

Ao dirigir as comemorações do 7º jubileu de Ouro - 350 anos - da criação da Paróquia de Santo Antônio e Almas, e naturalmente de fundação da cidade, o Padre Marcos Rogério traz-nos à reflexão do porque realmente Itabaiana é grande
Em 1975, nos 300 anos, falou-se no Congresso Eucarístico, e nada sobre a data, Houve um cochilo; dessa vez, não.



(**) Conforme cartas paroquiais de 1757, ao Conselho Ultramarino; e mapa de 1825.

domingo, 19 de janeiro de 2025

QUANDO “AS JUSTIÇAS SE NÃO FAZEM”(*).

Montagem, com o velho Chico Breu e a Rua das Flores, (hoje Barão do Rio Branco).
Do lado esquerdo, a casa de D. Izidia Pinto Monteiro, base de meu avô e família, quando vinha à cidade, e minha mais tenra lembrança da infancia, em 1962; do outro lado, atrás do senhor de pé, o antigo quartel da Rua do Cotovelo, da era imperial, aí já loja, e hoje a Sorveteria Kiola, início da Rua 13 de Maio.

Tudo começou com um dissenso por causa de um valado. Evoluiu para a total falta de respeito, e quem assim praticou, pagou salgado preço.

Desde que me entendi por gente, um modo de dizer, consciente de mim mesmo, que ouvi, repetidas vezes, com a mesma curiosidade da primeira vez, o meu pai, que na época do fato, estava com dez, quase onze anos de idade, sobre o acesso de cólera do seu padrinho, Francisco Antônio de Lima, o Chico Breu, que resolveu de uma vez por todas se livrar do opróbrio com tanto desaforo e nenhum cobro por parte das autoridades.

Foi no dia 15 de janeiro de 1925, assim, com propriedade, nos contará seu neto, o advogado, historiador, professor José Rivadálvio Lima, o Rivas, antológico vice-diretor, da não menos antológica Maria Pereira, da década de ouro do Colégio Estadual Murilo Braga, em preparo de livro sobre o assunto. Para breve.

Pacatíssimo, caboclo respeitador, amigueiro, padrinho de uma reca de afilhados que, só do meu avô eram dois filhos: meu pai, de batismo; e outro – não lembro o qual tio – de crisma. Vivia da labuta de qualquer sujeito endurecido pela vida, desde as experiências como “soldado” da borracha, a plantador de algodão e o que mais desse. 

Porém, depois de constantes xingamentos, do mais baixo calão, possível; inúmeras ameaças físicas, a si, e especialmente, a seus dependentes; desmoralizações, como receber escarrada e cusparada no momento de se dirigir a uma pia batismal para ajudar a fazer mais um futuro cidadão, na fé e ensinamentos de Cristo... no 15 de janeiro de 1925, Chico Breu, deixou a passividade de lado e resolveu resolver. Foram quatro, na ruma.

Fez 100 anos, um século fechadinho, na última quarta-feira, 15. 

Mais? Não conto. Deixarei para quem de direito; porém, desde criança que o herói de meu saudoso pai é também meu herói.


(*) Frase do ouvidor-mor, da capitania de Sergipe d’El-rei, Antônio de Magalhães Passos, em carta à D. Maria I, rainha de Portugal, dando conta da situação precária da justiça em Sergipe, em 1799.

 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

GENTE, MENOS, NÉ?

POLÍTICA E PROPAGANDA.

O bom político é aquele que promete o que o povo quer; faz o que o povo necessita; e convence ao povo que aquilo foi o pedido.(*)


Independente de detalhamentos, o primeiro grande político da história foi a serpente do paraíso. Ganhou pelo bom papo. Todavia, ficou para sempre amaldiçoada, símbolo do mais abjeto e perigoso ente. Tivesse agido com um pouco mais de sutileza, teria passado à história como um arcanjo ou até um semideus.
A natureza humana necessita do irracional. Traduzido, às vezes, em forma de arte, seja plástica, literária, ou performática, a mais atraente, impactante. Daí porque pastores, políticos, comunicadores em geral tanto consiga na arte de influenciar e dominar.
Desde priscas eras da humanidade, a propaganda sempre foi arma de dominação; e tão eficiente é, que convence multidões a usar a mesma marca, onde individualmente se sente especial; único.
E, comerciante ou dirigente de qualquer natureza, que não investe em propaganda é um fracassado, líquido e certo.
Hoje lendo um artigo de Rui Castro, no jornal Folha de São Paulo, O Poder pelo Poder, o mesmo analisa, crítica e deploravelmente os passos do futuro presidente estadunidense, a partir do próximo dia 20, o retornante Donald Trump.
Cá entre nós, a eleição de Trump, pela segunda vez, nada é mais simbólico para uma nação que esqueceu de trabalhar para jogar; seja nos cassinos de Trump, em Las Vegas; seja nas cafuas da Rua do Muro, a Wall Street, como gostam de chamar nossos “colonistas” da mídia, e em que hoje não se joga apenas ações de fábricas e redes comerciais, na Bolsa de Valores. Todo tipo de trapicola é feito no sistema. Até coisas honestas ainda tem. Raríssimo; mas tem. E eles podem jogar – e trapacear - à vontade porque a maior máquina de matar da história humana está em cima da mesa do carteado. Nem no coldre é.
Reclama o artículo-“colonista”, que Trump disse isso, disse aquilo, ameaçou, bravateou. Coisas de cafueiros; que Trump jamais deixará de sê-lo.
Aí abro os sítios de internet daqui de Sergipe, e vejo, Sua Excelência, o Governador parecer boneco de posto. Ou como diria o saudoso colega radialista, Rosalvo Soares, nos tempos albanistas, “vai até pra casamento de bonecas”. Claro: já entregou a DESO e outros caraminguás devem estar a caminho. É seu mister. O resto? Feijão com arroz.
Radialista Rosalvo Soares (in memoriam), cunhando a expressão "Indo até pra casamento de boneca". Pelos excessos das altoridades e seus marqueteiros.

A as prefeituras, cujos mandatários acabam de ser empossados? 
“Release”, na mídia é o prato do dia. As “matérias” até parecem terem sido escritas pelos próprios prefeitos.
Choradeira, principalmente. E acusações. Parecem até que assumiram as lideranças das respectivas oposições; e não como mandatárias ou mandatários.
Na qualidade de marqueteiro às antigas – e bote antigo nisso – eu tenho certeza de que governo precisa se comunicar. “Todo o artista tem de ir aonde o povo está”, como diz o poeta-cantor, Milton Nascimento. Dar publicidade do que faz, como bem apregoa a nossa Carta Magna. Que propaganda tem de ser feita, tão intensamente como na campanha política. Porém, o modo aqui não é propositivo, muito menos acusativo. Mudou. O eleito agora tem que governar.  É governo; não oposição.
Do contrário do que vem parecendo há dois anos, em relação ao Estado; e nas duas últimas semanas em relação a pelo menos metade das 75 prefeituras no estado.
Rezemos.

(*) Frase minha. Desconhecendo qualquer coisa semelhante. Que deve existir.

domingo, 12 de janeiro de 2025

A NATUREZA RESISTE


Algo que mudou a cabeça do europeu depois das aventuras portugueses do último quartel do século XV, foi a sua descoberta de que o mundo não se resumia a seu umbigo, e mais algumas lendas orientais: existia uma África inteira, bem diferente das franjas conhecidas do Mediterrâneo; e algo completamente incógnito até então: a América e a Oceania. E seus milhões de espécies diferentes das relativamente muito poucas da Europa.

Os iluministas holandeses ficavam fascinados. Abestalhados com tanta riqueza.

Quando Nassau resolveu provar que o modelo que representava era muito superior ao pós-medieval da Espanha imperial, obscurantista, fundamentalista até a medula, e trouxe inúmeros artistas e estudiosos na sua equipe, eles não perderam tempo.

A Holanda fervia. Amsterdã era um caldeirão borbulhante. A primeira bolsa de valores, e o primeiro “crash”. Com lucros, retorno de saques milionários, discussões filosóficas e artes. Muita arte.

E é nesse clima que o alemão Johannes Mauritius Von Nassau-Siegen, contratado pelos holandeses,  embarca para dois meses e meio sacolejando nas ondas do Atlântico com sua numerosa equipe de naturalistas, botânicos, o que veio a ser depois geólogos, matemáticos, astrônomos, e médicos, naturalmente, desenhistas, pintores e cartógrafos.

Em Sergipe, onde pouco estiveram, produziram uma obra de arte, em modo mapa, naturalmente ilustrada por bela guirlanda de frutos da terra, e três das espécies animais que mais os despertaram: A anta (tapir, em tupi); a capivara e a jaguar tupi ou onça pintada.

Mapa: Prefeitura de Sergipe, em Sergipe d'El-rei, com Itabaiana.
In BAERLE, Carpar, Rerum per Octennia in Brasilia. Amsterdã, 1646

"Hei, estão voltando as flores".

Ou é percepção falha minha, ou, realmente, uma onda de resistência vem ocorrendo acerca do mundo animal selvagem. Capivaras, jacarés, jaguatiricas estão sendo vistas cada vez mais em Itabaiana. Há anos, preservo uma antena comum de TV, que serve todas as manhãs de pouso a barulhentos bem-te-vis. Por ela também já vi os indefectíveis pardais, cabeças-vermelha, lavandeira e outros, durante o dia; à noite é ponto de apoio na caça às corujas, que acabaram com o estoque de morcegos que habitavam a região.

Carcarás, nem se fala. Onde houver um trator capinando, ou mesmo um trabalhador com enxada à mão, lá vai estar, ao menos um atrás de merenda. Seja uma cobrinha, uma minhoca. Qualquer coisa serve de petisco. Arredios à cidade, eles abrem exceções, quando se trata da periferia.

Lendo há pouco uma matéria de jornal carioca, o mesmo dando conta que as antas, supostamente extintas do estado do Rio de Janeiro, há um século, como que magicamente, reapareceram.

Aqui, em Itabaiana, não há documentos que o afirme; nem também o negue, porém é possível que antas tenham desaparecido daqui ainda no século XVII, derrotadas pela concorrência de vacas, bois e bezerros, no grande curral em que se tornou Itabaiana, dentro e fora das serras. Assim como as onças de maior porte, abatidas em nome da economia. Na esteira, depois também vieram a jaguatirica e o gato do mato.

Que agora, teimosamente estão voltando. Ainda bem.

Registro do cotidiano rural nordestino de 1640, por Frans Post
.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

CARREGADORES DE PIANO(*).


As mudanças tecnológicas, aceleradas com o advento das comunicações eletrônicas, especialmente o rádio, definitivamente pôs o mundo de perna pro ar, e começou a sepultar velhas tradições, ou forçar a adaptação de outras, para sobreviver.

A bandinha de música municipal foi uma delas.

Antes, divertimento clássico, meio de propaganda política e, no caso de Itabaiana, a única escola profissionalizante, a Lira Filarmônica Nossa Senhora da Conceição foi frontalmente afetada com a nova era. Não desapareceu graças à tenacidade de uns pouquíssimos componentes, que lhe seguraram as colunas.

Lembrei disso ao ontem passar em frente à antiga residência do saudoso maestro Antônio Melo, desde a sua morte, adquirida pela professora Edezuita Araújo Noronha (outra gigante no mundo cultural Itabaianense), que recentemente trocou de endereço, vendendo-a a empresário local que a está pondo abaixo, e a substituirá por um estabelecimento comercial.

Antônio Melo foi o teimoso que resistiu; e só deixou de teimar quando encontrou no atual maestro Valtênio Souza, a pessoa certa para dar a continuidade.

A Lira, atualmente está entre as instituições que representam Itabaiana aonde quer que chegue. Uma das vitrines da cidade.

A Academia Itabaianense de Letras guarda certas semelhanças com a Nossa Senhora da Conceição, apesar de ainda ser um bebê, frente aos mais de dois séculos e meio da grande instituição musical.

Para começar, a Academia apareceu num momento difícil, de radicalização da cultura "fast-food" da internet, e suas redes sociais. Mesmo que paradoxalmente, seja um momento de rara produção literária, com proliferação de obras.

Em seguida, em plena ressaca da sua instalação, que é quando se desvanece todo o brilho mágico de qualquer começo, vieram dois anos de pandemia, na qual, alguns dos seus membros foram vítimas, dois deles, fatais; e um, quase; porque perdeu a dileta companheira da fase mais rica e marcante da sua vida. O sodalício saiu com graves lesões, pois.

Mas não arrefeceu. A tenacidade e resistência de parte volumosa de seu quadro de componentes, fê-la sobreviver. Para isso, além da subscrição de valiosos companheiros, contou a intrepidez de uma gestora pública de mão cheia na presidência da instituição, que enfeixou nos braços, acolheu e conduziu, na difícil tarefa dar-lhe travessia em tempos trevosos, desanimadores, incertos. 

Não foi fácil. Mas, depois de um ano de passados os piores momentos da pandemia, a Academia Itabaianense de Letras se prepara para fazer jus ao nome Itabaiana, no tricentésimo quinquagésimo ano de fundação, o sétimo jubileu de ouro, da Paróquia e cidade de Santo Antônio e Almas. De Itabaiana.

Parabéns à presidente da Academia Itabaianense de Letras, a confreira, historiadora, professora Josevanda Mendonça Franco, pela firmeza à frente da arcádia serrana. 

E aproveitando a deixa, por mais uma primavera nesse dia 10 de janeiro.


(*) “Carregador de piano”, era uma atividade de dificílima execução pois que o instrumento era transportado na cabeça, em grupo, em geral de cinco, onde todos deviam ter a mesma altura, andar no mesmo ritmo. Serem esmerados com instrumento tão nobre, caro, refinado e ao mesmo tempo, frágil.

A expressão é usada pelo patrimônio serrano, que responde pelo nome de Francisco Tavares da Costa, o Fefi, para denotar coisa difícil ou tarefa duríssima de realizar, só comumente abraçada pelos loucos. Ou pelos idealistas; que no fundo, no fundo, são a mesma coisa.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

FENÔMENOS ITABAIANENSE, NA ERA DA COMUNICAÇÃO TOTAL

Todo sergipano que sobe me leva consigo. E se for um ou uma itabaianense, aí nem se fala mais.


Definitivamente, o brega não é, nem nunca foi o meu estilo de música. 

Aliás, o meu gosto brega sempre esbarrou nos antigos, tipo o cearense Zé Ribeiro; o goiano Lindomar Castilho e no baiano Waldik Soriano, construtor da pérola Tortura de Amor, que com Maria Creuza se tornou um clássico da música romântica brasileira. E claro, também naqueles pops, rotulados de “brega”, como José Augusto, Fernandes Mendes, Odair José... todos da época em que o pop nacional atingiu a maioridade, por volta de cinquenta anos atrás

Bregueiros? Está cheio por aí deles. Em geral, caracterizam-se por cantarem canções de temática romântica, em linguagem simples, e até simplória; com arranjos pra lá de econômicos; simplistas. Do mesmo modo a harmonia. Nada de grandes orquestras, ou mesmo caprichadas bandas-base, com sucessos daqueles que demoraram meses para atingir o nível de serem lançados ao público. Sem grandes produções. Mas sempre grande públicos.

A evolução do popular

Se a era da sanfona aposentou a rabeca e mais uma tralha de instrumentos, substituídos pelo fantástico “órgão portátil” – o acordeão ou sanfona, a do teclado eletrônico bagunçou o estilo consagrado de fazer música, bem trabalhada, e, portanto, relativamente cara. Difícil. É aí surgiu a enormidade de cantores-tocadores, a esmagadora maioria de harmonias e melodias sofríveis, quase sempre “samba de uma nota só”.

É sempre assim: democratizou? Enriquece-se o cenário com figuras mantidas o tempo inteiro no anonimato; porém junto, sempre vem uma torrente de aspirantes a artista, nem sempre de qualidade.

Um estágio intermediário para o brega atual, dito arrocha, se deu com a proliferação de serestas, comuns nas décadas de 1980 e 1990, voz, violão e bateria eletrônica. Pouco exigente, o conjunto era perfeitamente executado com uma mesa de som diminuta, um amplificador, e às vezes só uma simples caixa de som, já amplificada. 

Mas na década de noventa, a popularização do teclado substituiu tudo, bateria, inclusive. Vez por outra alguém arrisca somar mais um violão, saxofone e até guitarra, elétrica, naturalmente; mas o que prevalece é o teclado.

A chegada pra valer da popularização de mídias digitais como o MD, o CD e o depois o pendrive, compôs com o teclado a grande virada. E ai vem smartphone e sua proliferação. Só pra citar o caso nacional, o número de celulares excede em muito a população brasileira. Todo mundo conectado.

E assim velho brega ganhou roupagem nova, e até titulação de “arrocha”. Mais pobre melodicamente do que as baladas, boleros, guarânias e até modinhas do brega clássico de outrora, o novo ritmo é monotônico; basicamente se sai de uma música e entra na outra sem que se altere muita coisa. Inexiste qualquer forma de interlúdio ou outro recurso antimonotonia, embelezador e enriquecedor. Tudo compensado pela comunicação do cantor, que muitas vezes age mais como pastor religioso nas suas pregações arrebatadoras. Neste caso, hoje se tornou comum. O axé, por exemplo, não sobreviveria sem o clássico “tira o pé do chão”; “mãozinha pra cima”. Naturalmente que ao vivo, real ou simulado, com direito a “BG” (back ground ou fundo) de assanhada plateia.

Com a destruição da indústria fonográfica pela era digital, cuja, por outro lado, favoreceu a que um simples celular se transforme num estúdio, começaram a pipocar os fenômenos, em geral muito mais baseados no talento comunicacional do artista que na técnica. Porém o meio extremamente confuso da internet, e da sua forma máxima de publicação - as redes sociais - que se tornou principal, ainda carece e carecerá de certos elementos, fundamentais na era analógica, organizadinha, da difusão musical, a era da indústria fonográfica. E o mais fundamental deles é o empresário; o cara que dá alguma organização.


Natanzinho

E nesse ambiente de corrida selvagem para se impor que surge Natã Lima Nascimento, itabaianense, talentoso, que parece ter encontrada o empresário e o meio certo, e juntando os fatores, aos meros 22 anos, tornou-se fenômeno nacional do “arrocha”.

Natãzinho faz o contraponto, na outra ponta do espectro musical brasileiro, ao outro itabaianense, Mestrinho, ganhador em novembro passado, do Grammy Latino, reconhecido mundialmente. Mestrinho, classe “A”; Natanzinho, povão. Incendiando o país, especialmente o Norte-Nordeste, com sua cativante presença, executando sua música para as multidões. Aos 22 anos apenas.

E o futuro, a Deus pertence.

Foto: À esquerda, acima, o casal Noel Rosa e sua esposa,a itabaianense, Lindaura Martins; embaixo, a itabaianense Josefa da Silva Rocha e sua famosíssima filha, Dolores Duran. No centro um dos inventores do chorinho, o itabaianense, (apesar de nascido em maternidade de Aracaju), Luiz Americano; e à direita, o fenômeno atual, Mestrinho, ganhador de Grammy Latino em novembro do ano passado.

Levando Sergipe e Itabaiana mais longe

Nada mal para uma cidade que indiretamente produziu Adileia da Silva Rocha, a Dolores Duran (filha da itabaianense Josefa da Silva Rocha); Luiz Americano, nascido numa maternidade em Aracaju, mas de família itabaianense, e aqui residente; e até casando uma itabaianense – D. Lindaura Martins - com o famoso Noel Rosa. (ver mais aqui)

Itabaiana esteve, pois, presente no cerne da formação da Música Popular Brasileira, com esses três nomes envolvidos. Nada demais que hoje tenha dois representantes máximos da música brasileira: um, classe “A”; e outro representante do povão: Natanzinho.

Vida longa aos nossos embaixadores culturais.