terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eu não acredito! Mas...

Revela o radialista e blogueiro Edivanildo Santana que Luciano Bispo teria lhe confessado sobre a possibilidade de renunciar ao mandato de prefeito e concorrer ao cargo de deputado estadual. Cá pra nós, tem muito prefeito e ex querendo ir para o parlamento. Mas, ‘xa pra lá!

Males-entendidos
Vai fazer um século de um grande mal entendido.
Corria tudo de vento em popa. Os políticos maiores de Sergipe, ninguém queria viver em aqui. A maioria vivia no Rio e uma menor parte em Salvador. Porém, todos queriam cargos de Sergipe. Uma herança dos tempos do Império quando o
Visconde de Itabaiana, Manuel Rodrigues Gameiro Pessoa, sequer sabia pra que lado ficava Sergipe; muito menos Itabaiana. Gameiro Pessoa foi um dos negociadores da “Independência” que entregaram o Brasil à Inglaterra até que os Estados Unidos resgatou-nos para si. Pois, bem! Mas, voltando ao assunto dos políticos maiores de Sergipe, todos queriam os títulos. Deputados, senadores, presidente (na época não existia o título de governador), mas ninguém queria morar em Sergipe.
Manuel Batista Itajay, o pato perfeito. Senhor de Itabaiana, um dos maiores currais eleitorais do interior, com certa influência em sua terra natal, o Lagarto, fiel, inofensivo ante o poderio dos coronéis do açúcar e seus esquemas na capital da República... perfeito! O pato perfeito. Eleição em 1908, vitória consagradora e aí, Dr. Rodrigues Dória o sergipano mais baiano que existia naqueles tempos, que só saia de Salvador para tomar posse em Sergipe e olhe lá, eleito como presidente resolve se mandar. Ninguém sabe por que, mas, além de passar o governo para Itajay, seu vice, deixou-lhe também uma carta de renúncia em mãos para ser usada sob senha do próprio. Ocorre que o próprio, nem voltou, nem mandou novas ou mandadas.
Itajay assumiu o governo como um assinador de papel. Quem mandava mesmo eram os coronéis cabaús. Itajay não tinha a menor condição de ser presidente de fato. Num Estado que já completava oitenta anos de esquemas pesados, ele sequer era do meio de um deles. Não tinha um juiz na sua algibeira, um promotor, muito menos um desembargador. Sequer tinha um mísero deputado. Nem mesmo o contínuo do Palácio o respeitava como presidente em exercício. Cansado resolveu mexer na máquina. Mexeu no vespeiro. Publicou a carta de Dória em 22 de outubro de 1909 e em seguida começou a dar cabeçada. Os próprios que lhe batiam palmas, induziam-no ao erro; levavam vantagem com isso e depois conspirava contra pra manter as benesses conseguidas. Por outro lado, conhecedor de suas obrigações com os barões do açúcar e os banqueiros baianos em quem eles viviam dependurados, Dória criou uma explicação esdrúxula sobre a carta de renúncia, mesmo que depois tenha buscado minimizar a “traição” de Itajay, colocando-o na galeria dos “ingênuos” manipulado pelo juiz federal Nobre de Lacerda. O esquema que golpeou Fernando Collor foi brincadeira de criança para o que as máfias do poder no velho Sergipe fizeram ao lagartense de nascimento, itabaianense por adoção. O fato é que moeram Itajay. Tudo contra ele. Judiciário, o maior cabide de empregos para nobre falidos que há, especialmente no Nordeste; o Legislativo, que todo mundo já sabe que é o órgão de maior sensibilidade política que existe num lugar, e que sempre vai pela maioria; todo mundo contra ele. Pressionado pela elite sergipana, Rodrigues Dória retornou de Salvador no dia 12 de novembro de 1910.
Só alguns exemplos de leis criadas por Itajay já demonstra o despreparo, no mínimo desleixo, em deixar um rabo de palha daquele tamanho à vista, com inimigos tão numerosos e tão poderosos. Dá até pra vê-lo, na solidão de sua cadeira presidencial, cercado de hienas a lhe ouvir e transmitir depois a seus verdadeiros patrões sob estrondosas gargalhadas. Gente do Judiciário, se fingindo de amiga e partidária, orientando-lhe a cometer uma barbeiragem atrás da outra. Deputados exigentes, querendo cada vez mais para aprovar qualquer besteira. Vai fazer cem anos; mas parece que acaba de acontecer, quando se percebe o modus operandum, que é o mesmo de hoje.