segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A vingança.

Em programa do deputado e radialista Gilmar Carvalho, na rádio Ilha FM, nesta última segunda-feira, 11, o deputado estadual Augusto Bezerra (Democratas), afirmou que protocolará o pedido de CPI na Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe com a finalidade de investigar o suposto desvio na merenda escolar pelo governo do Estado. Sem entrar no mérito de, se houve ou não danos à coisa pública, todavia a reação do deputado é, digamos assim, uma reação tardia e com endereço errado, à campanha difamatória sofrida pelo então governador João Alves Filho, de cujo grupo o deputado é membro, e que foi movida através da Veja, por seus adversários em maio de 1985. Tradicionalmente tolerante com traquinagens das empresas privadas, a Veja e depois os veículos que lhe repercutiram - jornais, rádios e TVs de Aracaju, exceto a Rádio Jornal - sequer levaram em conta a presença de um dos maiores grupos empresariais do Brasil, a terceira maior rede de supermercados de então, os Supermercados Paes Mendonça.
Com o título “Parceria roubada”, a Veja de número 870, página 108, de 08 de agosto de 1985 escrachou de forma impiedosa uma operação legal - segundo se provaria depois - que envolvia o governo do Canadá, na condição de doador; os flagelados sergipanos aos quais se destinava a doação; os Supermercados Paes Mendonça, que aceitou fazer a operação de permuta; e tudo pra atingir o “negão” governador. Nem mesmo as insistentes explicações do presidente da COMASE – Companhia de Abastecimento de Sergipe, Julio Prado Leite foram suficientes para barrar a “raiva cívica” dos indignados de vitrine. Da mesma forma que na atualidade, a notícia na Veja ecoou por semanas em Sergipe e acabou por selar os destinos políticos de Itabaiana. Ao acusar publicamente o governador João Alves de ladrão de farinha de trigo, partidários do saudoso ex-deputado Chico de Miguel acabaram por criar a senha esperada pela oposição para rompimento em definitivo do governador com o grupo Teles de Mendonça.
A operação, em valores de hoje envolvendo 3,9 milhões de Reais, era a seguinte: o governo do Canadá repassava a ajuda ao governo de Sergipe na forma de doação de farinha de trigo com a condição de este converter da melhor maneira possível em produto adequado localmente; o governo de Sergipe procurou os Supermercados Paes Mendonça, único com capacidade de executar tal operação, que fez a conversão, recebendo a farinha de trigo e devolvendo o valor em farinha de mandioca. Alguns pacotes nos supermercados da rede em Salvador foi o suficiente para a Veja – e depois a mídia sergipana, exceto a Rádio Jornal e a Princesa da Serra – fazer o carnaval. Nem mesmo a intervenção do Sr. Peter Koenz, representante do governo canadense aplacou a “ira cívica” da Veja que em nova reportagem com título “Trigo amargo”, em seu número 872 de 22 de maio, não reconsiderou o que havia publicado na edição anterior, mantendo o clima de suspeição no estilo "mas que aí tem coisa, isso tem!"
A vingança do deputado Augusto Bezerra é tardia e de endereço errado porque na época ele era um bem sucedido professor de cursinho de vestibular – o Unificado – e afiadíssimo com a oposição - que realmente importava - a João Alves : a que tinha família Franco seu referencial. O adversário de hoje, nem passeata na época fez já que não possuía membros suficientes para tal.