terça-feira, 9 de setembro de 2025

E FOI-SE O TANQUE DA SERRA.

 

Foto 1, com esse reles escriba, mas fã de primeira grandeza, em 24 de agosto do ano passado, 2024;
Foto 2, em comemoração natalina, em 2022, com outro que partiu, o saudoso radialista Djalma Lobo;
À direita, em pose de herói que foi, do esporte, em início da década de 1970.

Eu vivia entalado. O Club Sportivo Sergipe, um timaço, ainda contava com a aristocracia sergipana, que não só financiava, como apoiava, inclusive com chicanas, pela imprensa, majoritariamente vermelhinha, e pela própria Federação Sergipana de Futebol, onde essa manobrava de todos os modos para o obrigatório sucesso do clube. E meu Tricolor – Associação Olímpica de Itabaiana - não saia da retaguarda. Um empatezinho aqui, outro ali, chorado, e tome-lhe vitória do Sergipe.

Garoto de 10 anos, saindo do fedor do mijo, ainda não tinha interesse mais afirmado pelo sexo oposto em si; mas tinha vários amigos, e várias amiguinhas, naturalmente. Num grupelho destes, quatro irmãs, ambas torcedoras do Sergipe, que me enfernizavam a vida quando o meu Itabaiana perdia para alguém, especialmente... para o Sergipe. Até aquele domingo, que perdi as referências de data precisa, mas o sabor da vitória, jamais me saiu da boca.

Logo no início da partida, salvo engano, Bené, abriu o marcador para o Tremendão da Serra. Logo depois, o Tanque da Serra, Horácio, numa cabeçada indefensável ampliou. E aí vieram, no mesmo script, o terceiro e o quarto.

Nunca mais me irritaram; mangaram de mim.

Em outra pose, em 1968, no velho estádio Etelvino Mendonça, hoje Ginásio Chico do Cantagalo;
Embaixo, o sorriso tímido, mas fácil e franco, recentemente;
Na foto colorida, em 1969, no velho Etelvino Mendonça, resguardado pelo também craque Augusto, em pose com a garotinha Gisselma Góis, filha do saudoso dirigente Pedro Góis.

Recebo com tristeza o aviso de um amigo: Horácio morreu.

Toda vida é finita. Verdade intrínseca e insofismável; mas a gente sempre cria perpetuações daqueles que nos são caros: parentes, amigos, mestres, protetores, heróis, enfim. E Horácio José de Oliveira, o eterno Tanque da Serra está inscrito na lista daqueles que tornaram Itabaiana grande, num crítico momento, o da orfandade pelos seus dois maiores líderes, apenas jogando uma bola, com alma e paixão. Nos deu alento. Esperança. Sentimento de vitória.

Vai com Deus, “amigão”.

De camisa azul claro, em 10 de abril de 2018, prestigiando o amigo e biógrafo voluntário (livro Associação Olímpica de Itabaiana - Da Gênese ao Penta), escritor professor Manoel Aelson Góis, em sua posse na Academia Itabaianense de Letras, realizado no Plenário da Câmara Municipal de Itabaiana.
Na fila de cima: Robério Barreto Santos; Aelson, Josevanda Mendonça Franco, Vladimir Souza Carvalho, Antônio Amorosa de Menezes; Horácio, e Anderson da Silva Almeida;
Na fila de baixo: Jorge Luís Pinheiro Souza; eu, José de Almeida Bispo; José Carlos de Mendonça; Tereza Cristina Pinheiro Souza; Rômulo de Oliveira Silva; Antônio Samarone de Santana; Luiz Carlos Andrade; José Augusto Machado (Baldok) e Antônio Francisco de Jesus (Saracura).
Todos... sem exceção, fãs, e agora enlutados pelo nosso grande craque.



domingo, 7 de setembro de 2025

CIDADE ESTRADEIRA.

 

Cidade de Itabaiana. Nascida num entroncamento.

Um fato curioso da cidade de Itabaiana, que completará 350 anos de fundada, junto com sua paróquia-mãe, em 30 de outubro próximo, é a sua origem, e depois permanência com um pé na estrada.

Na década de 1620, curraleiros, ou seja, vaqueiros arrendatários de terras para criar gado, construíram uma das primeiras capelas em “pedra e cal”, isso é, em alvenaria, de Sergipe. Mas distante da Estrada Colonial do Sertão, Salvador-Olinda. Também por esse motivo não pegou e hoje são as ruínas da Igreja Velha. Dali, 400 anos nos contempla.

Mas em 30 de outubro de 1675, há 350 anos, atendendo ao rei de Portugal, o Padre Sebastião Pedroso de Gois, rapidamente, comprou o sítio que pertencia aos herdeiros de Ayres da Rocha Peixoto; levantou uma igreja de taipa, e nela instalou a paróquia de Santo Antônio e Almas, da Itabaiana, já que a região, assim era conhecida pelos indígenas.

E onde?

No local do provável cruzamento das duas estradas, hoje tem assentada placa de identificação de melhorias pela Prefeitura.
Ao longo da grande Estrada das Entradas, hoje das Flechas, Caraíbas, etc., muitos escravos passaram, vindos do sertões de Jeremoabo; mas também do povoado Flechas, onde em 1874, o negro Quintino de Lacerda foi vendido para o hoje estado de São Paulo. E lá, foi liberto, ficou rico e virou prefeito de Santos.

Mais uma simples passagem da Estradas das Entradas, o hoje povoado Carrilho, tem leve lembrança na denominação, ao primeiro grande entradista, Fernão Carrilho; e lidera o domínio de Itabaiana no fornecimento de castanhas de caju torradas... nacionalmente.
Onde, desde 1590 funcionava a Estrada Salvador-Olinda, ou estrada das boiadas; no cruzamento com a então recentemente aberta, a Estrada das Entradas aos Sertões do Jeremoabo, pelo entradista Fernão Carrilho, em 1665.

A povoação não se desenvolveu. Mesmo depois de emancipada; também em outubro, só que vinte e dois anos depois, em 1697.

As estradas logo perderam importância; e, a de Salvador-Olinda, que foi inicialmente a mais importante, em 1800, segundo D. Marcos Antônio de Souza, funcionava precariamente por dentro de terrenos particulares. E a dos entradistas aos sertões, nunca chegou a um centésimo da importância que tem a sua versão mais recente, a BR-235, tecnicamente, a grande rota de Itabaiana.

Mas a cidade de Itabaiana sempre cresceu em busca de suas estradas.

Nos séculos XVII e XVIII, toda a importante movimentação de entrada e saída da pequenina cidade de Itabaiana era, ou para Laranjeiras, Maruim, Riachuelo, etc., pelo Beco Novo (Rua Coronel Sebrão), a que aparece acima, por trás da árvore e ao lado da matriz;
ou para São Cristóvão, depois para Itaporanga, pela Rua da Tenda, aqui, no foto acima, o atual trecho, em frente ao Nunes Peixoto, da depois Praça João Pessoa. Ou pelo Beco dos Alfaiates (Início da Rua Capitão José Ferreira).
A cidade fundada no cruzamento das suas duas principais estradas coloniais, assim se manteve até a década de 1950, quando veio a BR-235, em 1952. Rapidamente, ela correu pra lá, com a Avenida Otoniel Dórea; as ruas Antônio Dultra e Boanerges Pinheiro, Campo do Brito, Santa Cruz, José Ferreira Araújo, Monsenhor Eraldo Barbosa e 13 de Junho.
Avenida Otoniel Dórea (em amarelo) em pretensa ligação com a Praça Fausto Cardoso, primeiro espaço de alto padrão em moradias, ligava a BR-235 (e ainda liga) no seu primeiro trajeto, hoje avenidas Manoel Francisco Teles e Carlos Reis. Expansão organizada da cidade, em 1952.
Na primeira década deste século, contudo, o padrão mudou, e a cidade se expandiu para o norte e para sudeste, onde aparentemente não passa nenhuma estrada principal. 
Não? Não tem estrada principal?
Entrada atual da Estrada das Entradas aos Sertões (Estrada das Flechas), ao atravessar o riacho do Fuzil, e desaparecer pelo traçado urbano moderno do Santa Mônica, só reaparecendo integralmente no primeiro trecho da Rua Capitão José Ferreira, até a Pração João Pessoa.

A expansão a sudeste – complexo Chiara – busca a rota original da Estrada Colonial do Sertão, Salvador-Olinda, hoje identificável na estrada do Boimé, a caminho do povoado Serra.
E a expansão norte – complexo Santa Mônica – segue a trilha da velha Estrada dos Entradistas, popular e recentemente conhecida por estrada das Flechas. E até um condomínio, recentemente surgido ao fim do Bairro Bananeira, no antigamente conhecido como Bom Jardim, à margem direita do Açude da Macela (plantinha), está margeando o trajeto da mesma Salvador – Olinda, desde que a cidade foi fundada, há 350 anos.
Sempre com o pé na estrada.

Estrada do povoado Serra, aqui na foto, cortada em fente, pelo primeiro trajeto da Estrada Colonial do Sertão (ou estradas das boiadas, e também dos jesuítas), próximo ao povoado Boimé, ou popularmente Boimel, 2,6 km do limite urbano, depois do totem "EU AMO ITABAIANA".