sábado, 11 de outubro de 2025

NA CRISTA DA ONDA

 

Recebo hoje, pela décima ou vigésima vez, sei lá, um videozinho enaltecendo a figura histórica do nosso negro mais importante, Quintino de Lacerda, que vem se tornando figura popular na cidade, nos últimos tempos.

Não vou me alongar sobre o personagem; já o tenho feito por várias vezes.

Porém externar uma constatação: "quando a velha não quer dar, a faca não quer cortar". Dizer antigo, a mim passado pela sabedoria dos mais velhos. Ou seja, enquanto a consciência de massa não estiver suscetível à uma ideia, por mais racional que ela não seja será tratada como esquisitice. Não ocorrerá nada. Nem sempre vale a máximo do poeta, "Quem sabe, faz a hora; não espera acontecer" É o caso do reconhecimento público de Quintino.

Denominando uma importante artéria no Centro da cidade, desde por volta dos 70, sua figura tem permanecido irrelevada, durante todos estes anos que nos separam, entre a sobredita homenagem, e a atualidade. Itabaiana tem dificuldade em reconhecer seus verdadeiros heróis (falsos, que é a maioria, também). 

E um povo sem heróis - consistentes, claro; de verdade - é apenas um molho de gente. Ainda bem que temos a Serra, Santo Antônio, e o Tricolor para nos dar identidade.

Nossos logradouros do Centro homenageiam personagens que nunca ouviram falar sobre Itabaiana, ou tinham raiva de quem falava. São marechais, Floriano Peixoto e Deodoro da Fonseca; generais, Maynard Gomes, Valadão e Siqueira de Menezes; praças João Pessoa e Fausto Cardoso.

Para não dizer que nenhum filho da cidade foi lembrado, até os anos 50 (1950), só as travessas de ligação, especialmente à Praça central. As ruas, à época de suas denominações, na periferia, General José Calasans, Manoel Garangau, só em 1962. E a sua sequência, após a Avenida Ivo Carvalho, a já citada, Quintino de Lacerda, em algum momento entre 1968 e 1972.

Nome do funcionário e prefeito interino, até Ivo Carvalho, que denomina o antigo Beco da Câmara ou Cemitério, depois de alargado, somente se consolidou diante das normas da atual Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que diz que uma avenida não pode atravessar uma praça, preservando o mesmo nome. Nesse caso, a Ivo Carvalho terminaria no hoje INSS. Mas a Praça Honório Mendonça, quadra dos Correios e Associação Atlética de Itabaiana, não se confirmou; e hoje ela chega até a Avenida Airton Teles.

João Alves Filho (foto abaixo), o segundo a mais realizar em Itabaiana foi produto do primeiro realizador, José Rollemberg Leite (foto acima) que mudou o destino de Itabaiana com uma estrada que levou nossos feirantes até São Paulo, em cima de um caminhão; e um colégio - o Murilo Braga - para pobre virar doutor. Nenhuma homenagem. Pros dois.


Seriamente me sinto incomodado que se não homenageie homens que foram determinantes para a grandeza do município, como José Matheus da Graça Leite Sampaio, seu tetraneto, José Rollemberg Leite, e João Alves Filho, produto direto de Zé Leite, ou mesmo um Graccho Cardoso, com a primeira rodovia de Itabaiana, e, suspeito, só não o primeiro prédio escolar por mesquinharia dos líderes locais. 
Enquanto lagartenses, simondienses, santamarenses, etc., pediram grupos escolares ao seu governo, os líderes de Itabaiana pediram reforma do prédio da prefeitura para anular a lembrança dos adversários, 10 anos depois de construído. E o grupo escolar teve de esperar mais doze anos e uma ditadura - Estado Novo - para o Guilhermino Bezerra, atual DR-3.
O primeiro grupo escolar só veio para Itabaiana, sob Silvio Teixeira, doze anos depois que a mesquinharia política tinha preferido mudar a cara “cabaú” da prefeitura, construída apenas dez anos antes, ao invés de uma escola. A águia, da Prefeitura reformada era um símbolo do governo Graccho Cardoso.

Enfim... 
Quintino está em alta.
Vida que segue.


quarta-feira, 8 de outubro de 2025

GRANDEZA INAPROVEITADA.

 

Não lhe conheço o significado implícito, se de palma ou folha, a receber parte do decreto que criou a Câmara Municipal e Município (logo, emancipou Itabaiana). Mas que ela representa a emancipação, não há menor dúvida. A segunda maior data da cidade. A primeira é 30 de outubro.

“Mate o homem; MAS NÃO LHE MUDE O NOME.”

O ditado popular, bem ilustra a importância da identidade básica: o próprio nome. Identidade essa que vai se ampliando, e cada vez mais se relativizando, até desaparecer completamente numa massa considerável, onde o ser é apenas um grãozinho em meio aos milhões de indivíduos.

Em tempo: Por ser um lugar dos mais antigos, do Brasil colonial, Itabaiana tem três datas simbólicas no seu calendário cívico. São 350 anos de fundada, quando a cidade nasceu; 328 de emancipada (quando virou município); e 138 que ganhou, finalmente, o título de cidade.

Para nós itabaianenses, o símbolo máximo da itabaianidade é a serra mais alta a nos rodear. Mesmo que Itabaiana, originalmente tenha sido todas as serras a nos circular, e servir de barreira natural; de muralha; segurança. Em seguida, Santo Antônio e sua matriz, que foi pelos primeiros duzentos anos, único fator de congregação da vasta e dispersa população. Em terceiro, mesmo sofrendo a desconfiança e até ojeriza da população, seu aparato mínimo de Estado, qual seja, o Município, e seus símbolos: cartórios e poderes, o Executivo, atualmente exercido pelo prefeito; e Legislativo, desde 1697, exercido pela Câmara de Vereadores, quadragésimo sétimo mais antigo legislativo brasileiro.


O Símbolo Ignorado.

João Alves dos Santos (João Patola) presidente da Câmara Municipal de Itabaiana em 1997; professor José Taurino Duarte, então licenciando em História pela UFS; a saudosa professora Maria Thetis Nunes, inspiradora maior, da grande que acabou mínima celebração.

Em 1997, Itabaiana fez 300 anos de emancipada; e, estudante, fazendo graduação em História, na Universidade Federal de Sergipe, o ora aposentado professor José Taurino Duarte foi alertado por sua mestra, a itabaianense Maria Thetis Nunes, acerca importância da data para Itabaiana, assunto que por ele rapidamente foi trazido até o presidente da Câmara Municipal.

Por sorte, o presidente era o professor João Alves dos Santos, o popular João Patola, da tradicional família dos capitulinos. E foi aí que essa feliz coincidência não deixou os 300 anos de emancipação de Itabaiana passar completamente em branco. Mesmo com parcos recursos, menos ainda boa vontade de outras autoridades com poder de mobilização, mesmo assim, foi encomendado um projeto ao saudoso arquiteto Melcíades Souza, que, a despeito de não ter sido um monumento à altura do que Itabaiana merece, nem do que merece um projeto do saudoso itabaianense, foi modestamente inaugurado pelo Presidente da Câmara, no canto sudoeste da Praça Fausto Cardoso, em fins de outubro de 1997.

Anda necessitando de melhorias; mas é figurativamente, depois da serra e da matriz de Santo Antônio e Almas, aquilo que mais simboliza Itabaiana. Merece, pois, uma melhorada no visual; um projeto complementar ao de Melcíades , de 28 anos atrás. Algo dignificante da cidade.

Porém, não somente uma melhorada física merece o simbólico monumento; mas também, e principalmente um trabalho de conscientização, mormente nas escolas (papagaio ‘véio’ nunca aprende a falar direito; só novo). 

Estamos vivendo um momento especial, o do aniversário de nascimento da cidade de (Santo Antônio de) Itabaiana, agora em 30 de deste outubro. 

Uma união de esforços, de Executivo e Legislativo, e ainda dá tempo fazer alguma coisa.


Melcíades (montagem fotográfica) e sua obra, que está a merecer maior destaque. Especialmente neste que é um ano especial, quando a cidade de Itabaiana completa 350 anos de fundada. Com sua primeira paróquia

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

POLITICAGENS

 

A política é a arte de viver em comunhão; resolvendo as disputas de modo civilizado; onde não haja perdedores ou vencedores totais. Contudo, por isso mesmo é a atividade humana mais susceptível aos vícios decorrente da eterna concorrência universal entre seres, animados e inanimados.

1949, avizinhando-se as primeiras eleições gerais, no município, que ocorreria no ano de 1950, e com os novos ventos do Nacional-Desenvolvimentismo soprando a todo o vapor, finalmente a minha região, na área rural do município de Itabaiana, antes apenas mera passagem da velhíssima estrada real para a antiga capital, São Cristóvão, começa a timidamente receber mimos do governo federal, através do estadual em comunhão com o municipal.

Para o povoado em que nasci, a Mangabeira, sul do município, veio a estrada de rodagem, meia-boca, diga-se; e, nem bem essa terminou de ser feita, a alvissara; novidade: um grupo escolar.

Naquele ano, em 30 de novembro de 1949, foi inaugurada a Escola Normal Rural Murilo Braga, marco na vida socioeconômica da Grande Itabaiana, ou seja, seu município original. E a função primordial do depois Colégio Estadual Murilo Braga era a de formação de alfabetizadores – os normalistas – objetivando a redução ou extinção do analfabetismo de 83 por cento da população(*).

Meu saudoso pai, Alexandre Frutuoso Bispo, pôs o pé na estrada e foi ao chefe político, Manoel Francisco Teles, requerer que um grupo escolar fosse construído lá. Há época, dono do sítio vizinho, doou o terreno de pouco mais de meia tarefa ou 0,26 hectares para que o templo do saber pudesse ser construído.

Manoel Teles, prometeu, mas... demorou.

Seu Alexandre era cordato. Detestava brigas, teimosias, desarmonias, em geral. Mas também não era de fugir facilmente. Iniciados os grupos escolares do Capunga, hoje em Moita Bonita; povoados Serra, Matapoan... resolveu tirar a limpo. Pegou Manoel Teles atrás de sua escrivaninha e partiu para a seriedade: “Seu Manoel, o grupo do Mangabeira, sai, ou não sai? É verdade que Jason (Correia, então prefeito) está levando-o para o sítio do cunhado na Serra Comprida?”

Na Serra Comprida, vizinho à Mangabeira; e hoje um povoado tão habitado quanto, na época só moravam quatro famílias, e tinha como vizinho do outro lado, o hoje enorme Junco, com apenas uma residência. A Mangabeira, já possuía mais de vinte famílias.

Manoel Teles pigarreou, enfim, diante de um assertivo e desesperado líder de interior, deixou a habitual pusilanimidade de lado a assentiu: Jason Correia o tinha convencido a construir o grupo na Serra Comprida; e não na Mangabeira.

Meu pai deu meia volta, arrasado, e, acabou cruzando na porta do velho armazém, hoje vizinho à Galeria Jandrade, pelo Largo Santo Antônio, com o jovem, educado, mas enérgico Dr. Airton Teles, que, ao lhe ver o desânimo quis logo saber o que estava acontecendo.

Isso ocorreu num sábado. Ainda não havia feira das quartas-feiras. Bem o restante da história é que Dr. Airton foi pra cima do pai, que, na prensa dada pelo filho deu o comando para Seu Alexandre: “Bem, marque lá o terreno que segunda-feira, homens e máquinas chegam para começar a construção”.

Há 75 anos.

E política continua do mesmo jeito: é o cara votando na minha ideia e liberando seu imenso canil para detoná-la.

Manoel Francisco Teles; Dr, Airton Mendonça Teles; Alexandre Frutuoso Bispo



(*) Em 1950 a região possuía 91.362 habitantes- 35.802 em Itabaiana, com apenas 14.734 que sabiam ler e escrever – 7.083 em Itabaiana, ou 19,78%.