![]() |
O "Beco Novo" (Rua Coronel Sebrão) há 120 anos. Era chamada do Beco Novo ou Rua de Riachuelo, pois era por onde os tropeiros pegavam a estrada para a então rica cidade da Cotinguiba. |
Os Correios tinham atingido um nível de excelência tal, que sua popularidade, como empresa, era a maior do país. Rapidez, cuidado, coisa de primeiro mundo, como diz o tabaréu americanizado.
E foi aí que tomei uma rasteira.
Pego a carta, endereçada à Rua das Flores. Estranhei. Não conhecia nenhuma Rua das Flores, mas, dois meses percorrendo as ruas da minha cidade, naturalmente não as conhecia de có e salteado. E naquela semana, sequer estava no meu trecho habitual, já que substituindo o titular do outro roteiro. Devia ser uma daquelas que não conhecia, pensei.
Peguei a coleção de cartas e impressos em geral e saí para a entrega.
Entrei rua, saí de rua, e nada da estranha e poética Rua das Flores.
Com praticamente cem por cento da tarefa realizada, de certo modo extenuado, retornei à agência para finalizar o turno.
Perguntei a um e outro colega, ninguém soube me dizer se em Itabaiana a tal Rua das Flores existia.
Procedimento padrão, carimbei como "endereço desconhecido", e encaminhei a escrivaninha do chefe da agência postal, o amigo Juarez Ferreira de Góis, que já quase meio-dia, não mais se encontrava ali.
À tarde, quando ponho e pé dentro da agência para o turno vespertino, recebo logo a bronca do chefe: “Oh rapaz, está devolvendo a carta de fulano da Rua das Flores, porque?”
Bem, eu não conhecia o fulano; muito menos a Rua. Então enrubesci e fui meio malcriado, respondendo-lhe que nem conhecia o tal fulano, nem onde ficava essa rua.
Acho que caiu a ficha pra ele, pois baixou a voz e passou a tratar do assunto com ar de gozação. Em seguida me disse que a Rua das Flores era a Barão do Rio Branco e me mandou ir lá entregar.
Nunca mais tentei devolver cartas da Rua das Flores.
Resgate
Não lembro quem foi o vereador proponente; sei que foi aprovada a Lei Municipal 1.850, em 2013, que prevê o resgate histórico de algumas vias centrais, especialmente no Centro Histórico da cidade. Agora a administração da Cultura sob o cetro do médico e professor, Antônio Samarone, com o óbvio aval do prefeito Valmir Costa pretende implementar pra valer a Lei; e brevemente teremos mudanças em algumas placas identificativas, com uma história rica, até agora desconhecida, no mínimo esquecida.
E nomes como Rua Nova, Beco Novo, Rua do Fato, terão mais sentido a partir do conhecimento de suas histórias.
E ninguém mais vai devolver carta por desconhecer o nome tradicional e popular da rua.