segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

INVERNICO PROVIDENCIAL

 

Tanque da Pedreira, por séculos a única fonte de água próxima.
 

“He o logar da Villa de poucos moradores, por ser aridíssimo, e tão falto de agoas, que as não há senão no inverno, razão pela porque se faz digno de que S. Magestade (sic) seja servido de o mandar prover de algúa cisterna ou agoada de pedra e cal para remédio dos Parochos, e dos poucos moradores que nelle habitão, o povo, que vem às festas, às missoens, e semanas sanctas, e mais funções da matriz e villa, pois so no inverno tem agoa em hú buraco chamado pedreira, que dura pouco tempo pelo verão valendo-se os da villa, e mais povo que vem às festas e funcçoens da vila das cacimbas das serras distantes da Matriz húa legoa grande.” 

Noticia sobre a Freguezia de Santo Antonio e Almas da Villa  do Itabayana, pelo Vigário Francisco da Silva Lobo. 1757. (Anexa ao n. 2666).

Há quase uma semana que aqui em Itabaiana chove todos os dias. Às vezes, uma chuva passageira; um sereninho como ainda se diz. Às vezes torós bem mais robustos, como os de quarta-feira, 30 de novembro, à noite; e do dia seguinte. Mas o fato é que acaba de dar mais uma manga d’água, hoje, 5, desde as nove e pouco da manhã até por volta das onze da manhã, com alguns repiques posteriores.
Ao menos em relação à providência divina, as culturas irrigadas e o abastecimento humano de água estão salvos neste verão. Agora é só a Cohidro e a DESO cumprirem as suas respectivas partes.
Por outro lado, foram mais uma vez testadas e aprovadas as recentes obras de drenagem realizadas na parte mais crítica da cidade, ao entorno do riacho Macela.
O avanço da urbanização no antigo Campo Grande, hoje Bairro Rotary Club e consequente impermeabilização total da área, associado ao aterro da Tanque do Povo, hoje o Mercadão, sem a devida estrutura na drenagem do riacho, desde o seu nascedouro na esquina do início da Rua Manuel Teles de Mendonça na Avenida Dr. Pedro Garcia Moreno Filho, até pelo menos o cruzamento na Rua Percílio Andrade transformou o córrego seco numa bomba-relógio: a qualquer chuvinha mais grossa, o caudal saía levando mercadorias, invadia lojas e até arrastou carros, dando monumentais prejuízos a cada vez que ocorreu.


Quanto ao abastecimento, o crescimento da cidade e da agricultura irrigada vem preocupando porque, desde que o atual sistema ficou pronto, acabando com séculos de penúria com a falta d’água, como visto na reprodução textual inicial há cerca de dez anos as barragens que nos asseguram o continuidade vem secando cada vez mais rápido. Pior: a capacidade de represamento se exauriu. E, volta e meia tem alguém apontando para o extenuado Velho Chico.
Por enquanto, ao menos nos próximos dez anos vamos continuar torcendo por mais e frequentes trovoadas, e administrando o que temos.