quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O quebrador de vidro.

Foi um alvoroço. Rapaz bem apessoado, filho de família de bem, de repente, pego em flagrante a quebrar vidraças alheias com certeiras pedradas. Deve ter bebido, diziam uns; fumou “uma coisinha diferente” diziam outros mais maldosos. O fato é que a conta foi estratosférica, tanto do ponto de vista financeiro, com os reparos; como a conta de vergonha que a família – e o próprio, depois do acesso – ficou.
Passados alguns dias o fato se repetiu. Agora com mais intensidade. Não teve perdão: engaiolaram o descontrolado e lá se foi a família novamente a pagar as contas. Mas não teve jeito. Os acessos se tornaram tão freqüentes, que sem mais agüentar a família conseguiu de um médico uma indicação de loucura e o internou numa clínica pra curar o “assassino de vidraças”; o maníaco da vidraça. Uma semana depois, aparentando normalidade, o médico resolveu fazer a entrevista para liberá-lo da internação, mesmo continuando com observação e medicação em casa. E aí veio a pergunta com a resposta fatídica:
- O que o senhor fará quando sair daqui? Perguntou médico. Na lata o paciente respondeu:
- Vou quebrar vidro!
De início o médico achou engraçado, porém, sem querer dar bolas pro azar, resolveu reter o paciente por mais uma semana. Mais outra; mais uma entrevista prévia para posterior liberação; e mais a mesma resposta. O médico concluiu que se tratava de patologia grave. Consultou outros profissionais, encaminhou a família para fazer análise, mudou de droga e as respostas, semanalmente permaneceram as mesmas. Começou a esticar o prazo das entrevistas. Primeiro de quinze em quinze dias, depois de mês e mês e lá se foram três anos cheios quando um belo dia a história mudou.
Depois de dois anos havia mudado o médico do setor. O novo médico, que já conhecia a situação há quase um ano chegou ao quarto do paciente, fez os devidos exames físicos, fez as costumeiras perguntas sobre o estado geral, por fim, a pergunta padrão:
- O que o senhor vai fazer da vida quando sair daqui?
- Ah, doutor, quando eu sair daqui eu vou arranjar uma mulher. – Respondeu o maníaco das vidraças.
O rosto do médico se iluminou. Seria agora, meu Deus, que teria vencido essa batalha? Reinserir na sociedade um sujeito que há três anos andava fora dela? Diante da resposta resolveu aprofundar.
- E aí? Vai arranjar uma mulher, e...?
- Vou levar um papo com ela. Vou convencê-la a sair comigo.
- Sim! Sim, diga mais! – Disse o excitado médico.
- Depois de ganha-la no papo, vou levar pra um cantinho sossegado...!
- Sim! Sim, diga mais!
- Ah, doutor, assim eu fico envergonhado.
- Lembre-se que você está com seu médico; alguém que está cuidando de sua saúde e que deve conhecer particularidades suas como forma de melhor ajudar na sua cura. – Ponderou o médico.
- Bem, quando a gente tiver num cantinho sossegado, vou acariciá-la...!
- E?
- Vou tirar a roupa dela todinha, bem devagarinho.
- Certo, certo! E então? – Insistiu o médico.
- Vou deixá-la só de sutiã e calcinha.
- Certo! Mas, diga mais!
- Aí, vou tirar-lhe o sutiã...! – Foi dizendo cada vez mais lento.
Atento, o médico parou de perguntar e ficou só no aguardo. E o nosso paciente continuou:
- Depois vou tirar-lhe a calcinha!
Silêncio. O médico esperou que ele concluísse o pensamento e diante de mais de minuto de silêncio resolveu perguntar:
- Vai tirar-lhe a calcinha, e...?
Numa torrente de palavras o maníaco respondeu:
- Depois tiro o elástico dela; com ele faço uma baleadeira (ou estilingue), pego algumas pedras e vou quebrar vidro!
Extremamente decepcionado o médico juntou o material que colocara sob a mesa pra auscultação e medição de pressão, e sem dizer uma só palavra retirou-se.
Conclusão: Como se diz no popular tem coisas que não tem jeito.