domingo, 4 de outubro de 2009

Os ciclos políticos em Itabaiana

Tudo na vida é cíclico e a política, atividade humana por excelência, não poderia diferir.
Estamos a quase meio século de vida pública dos Teles de Mendonça e quase três décadas de reinado de Luciano Bispo de Lima. Ninguém na história de Itabaiana passou tanto tempo liderando por aqui como o primeiro grupo; e no caso do segundo, já está a cumprir a média histórica. Concorre para o questionamento ainda o fato de vivermos na era da informação, onde tudo transcorre bem mais rápido, especialmente a atividade política. O sistema, nos seus dois lados, apresenta sinais de cansaço. Eleições caras demais, o que significa contratos políticos complicados versus liderança natural em queda, é o quadro real da política itabaianense. Da mesma forma, em ambos os casos exauriram-se as possibilidades de vôos mais altos. Está difícil aos Teles de Mendonça algo além de uma cadeira na Assembléia Legislativa, bem como a Luciano, desprender-se da cadeira da Prefeitura para patamar superior. Por último, também está complicado o surgimento de novas lideranças já que as lideranças menores que aí estão tendem a desaparecer com seus pontas-de-lança, assim que estes saírem de cena. Lideranças desvinculadas, algo já bem complicado numa Itabaiana de dois séculos de política partidária e consolidação desse divisionismo, diante do quadro, teriam que fazer um esforço titânico para consolidar-se, dentre eles, o de ser o mais honesto possível gastando o máximo necessário para criar a necessária maioria. Em Itabaiana não existe e está difícil de existir a terceira força. Aqui, ou se é a primeira, ou se entra pra sê-la, pra no mínimo ficar como segunda. O certo é que, da parte que me toca, acho impossível uma sobrevida de mais uma década, para qualquer um dos grupos. A sorte do município em não cair em mãos de aventureiros externos – como aconteceu a Socorro, Laranjeiras, São Cristóvão, Pirambu, etc. - está no fato de que só um doido investiria tanto pra pegar o pior município em termos de rendas no Estado.

A política local como mero reflexo da nacional

Do que se conhece, as lideranças mais longevas daqui, além das que estão aí, foram Batista Itajay, trinta anos; Coronel Sebrão, trinta e seis; e Manoel Teles, vinte e seis. Em geral, seus ciclos terminaram junto com alguma mudança geral no país.
Somente no caso de Batista Itajay, a geração de uma nova liderança se tratou de um projeto de poder pessoal, baseado num projeto municipal. Só por coincidência, vieram sequenciadamente a libertação dos escravos e o golpe da República, o que influenciou completamente nos resultados posteriores. Nos demais - todos eles - foram inserções políticas acidentais, desprovidos de qualquer planejamento, até mesmo de sucesso pessoal; muito menos de grupo e menos ainda de um projeto político-administrativo para a cidade e seu município.
Os Teles de Mendonça nascem com o Golpe de 64 e após a desgraça que se abateu sobre Euclides Paes Mendonça, herdando-lhes o cabedal político; e começam a perder brilho com a redemocratização e conseqüente nova Constituição de 1988. Ao contrário, Luciano se firma com a Constituição de 88 e sua faceta redistributiva de recursos, e começa a perder espaço quando aspectos dessa mesma Constituição começam a serem aplicados como a Lei de Responsabilidade Fiscal, tornando a maleabilidade desses recursos menos livre. Foi a dita Lei que vitimou também a tentativa de soerguimento dos Teles de Mendonça, ainda mais comprometidos que Luciano com a velha política de troca de favores, logo, duramente prejudicados pela falta da maleabilidade de outrora. E é essa política que inexoravelmente enterrará ambas as lideranças, prisioneiros que são do dito sistema, e cujo sistema receberá a pá de cal quando entrar em vigor a Lei Complementar 131, que, como diz, complementará a Lei de Responsabilidade Fiscal. Não será somente, portanto, a longevidade que conspirará contra as lideranças dos dois grupos; e sim a aplicação de vetores externos, totalmente contrários ao tipo de política que fazem.

A falta do elo sucessório.

O fim das anacrônicas lideranças do fim do Império foi marcado pela perda territorial que se desenhou em 1874, se repetiu em 1890. Em menos de vinte anos o município de duzentos anos perdeu metade de sua área, incluindo aí a única realmente rica área, produtora de açúcar. A queda de Itajay, retirado do Governo do Estado por um golpe dos senhores de Engenho em 1909, três anos depois nos levou a metade do território que sobrara da ceifa de 1874 e 1890. O esfacelamento de lideranças mais fortes em 1930 nos levou três anos depois metade do que havia sobrado em 1912. Tudo isso porque há certa sincronia entre a queda da liderança de um lado que acaba levando à queda a liderança do outro. É algo como dois bêbados apoiados um no outro: caiu um, cai logo o outro. Isso acaba deixando o município acéfalo de lideranças e sujeito a escaramuças entre liderecos, geralmente cheios de usura pelo poder e pelo que de fato ou supostamente ele possa oferecer.
Todos os períodos de transição de lideranças políticas em Itabaiana foram conturbados. Mesmo que Batista Itajay tenha morrido em 1919, oito anos do primeiro grande sinal de declínio, Sebrão não conseguiu reaver com naturalidade a liderança, tendo que usar os cofres do município para suas lambanças políticas até ter o cofre, especificamente, aprendido em sua casa em 1927. Foram, ao todo, até o fim de qualquer influência em 1930, onze anos de agonia, sem que sequer aparecesse alguém para assumir a ponta da oposição a ele de forma vantajosa para o município. O advento do regime de 30, que depois seria rotulado de Estado Novo, enterrou de vez as pretensões de Sebrão e de Otoniel Dórea e de todos os demais inclusive Silvio Teixeira que oportunisticamente se postou “no lado certo e na hora certa”. Só em 1940 é que começa a aparecer a liderança de Manoel Teles e consequentemente, em seguida a de Euclides Paes Mendonça. A morte deste em 1963, mas uma vez deixou Itabaiana acéfala. A liderança de Chico de Miguel somente se consolidaria nas eleições municipais de 1976. Foram mais treze anos de indefinições e guerras internas. Desde 1976, entretanto, ressalvados os sustos, vivemos uma normalidade com, ora um lado, ora o outro no comando. Essa tranqüilidade está no fim. Sua agonia começou com os sinais eleitorais de 2000.
Não há no horizonte nenhuma promessa de alguém com perfil de estadista pra segurar essa peteca, no que pode desaguar em mais uma aventura de algum esperto ou, na melhor das hipóteses, num “resolvedor”, cheio de boas intenções. Apenas.