- Não vai ter Curso Científico em Itabaiana e acabou-se!
Mais enrubescido que de costume, o jovem estudante da conceituada faculdade de Química, esqueceu Ditadura, AI-5, pau-de-arara correndo solto, e o cargo plenipotenciário do Secretário de Estado da Educação, Carlos Alberto Sampaio, e partiu para o desespero:
- Por que não? Então o Senhor me enganou. Me fez de trouxa!
Mais algumas palavras ácidas, ditas num clima irracional por um aluno, “Apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”(*)... a uma grande autoridade, descendo o nível, quase irascível, irredutível e desesperado; e aí o Secretário vai e cai na tolice de desafiar:
- Como eu vou permitir um curso Científico em Itabaiana, se eu não tenho quem ensine matemática, física e química?
Aí o jovem, mantendo o clima:
- Eu ensino as três!
O Secretário o olhou detidamente, e manteve o desafio:
- O Senhor se compromete por escrito?
O jovem assentiu, e no dia 12 de fevereiro do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1969, deu-se início às matrículas para o curso Científico; ao apogeu do Colégio Estadual Murilo Braga; e à transformação de Itabaiana, não mais somente na maior feira do interior sergipano; mas sua transformação em polo de desenvolvimento regional, em definitivo; e incremento vigoroso em sua economia, tipicamente comercial e de serviços.
O então jovem foi José Augusto Machado, e a sua atitude desesperada e exitosa foi fundamental para com outros complementos se chegasse à cidade que hoje temos.
Testemunhos do jornal, O Serrano
Mais uma vez me traz a esse assunto, a leitura sobre o mesmo, do cronista Zé Silveira Filho, ao se perguntar, no Ponto de Vista de O Serrano, número 9, de 11 de setembro (a gráfica errou no mês, grafando agosto), de 1968, se alguém realmente estava querendo o Científico.
Naquele momento, com todo mundo admirando o tamanho e a beleza do próprio umbigo - outros se sentindo previamente derrotados - talvez só o mesmo Zé Silveira tivesse noção de que um ato, aparentemente tão trivial, poderia provocar de progresso da cidade. O fato é que depois o já engenheiro José Augusto Machado declarou em entrevista à Televisão da Assembleia Legislativa – a TV Alese – que, por desânimo, por julgar inatingível, ou por talvez vontade de araque, todo mundo desistiu; restando unicamente ele na trincheira. Trincheira que foi parte substancial na revolução progressista de Itabaiana.
Em 1975, ao chegar à Casa do Estudante, república do CASCI (o mesmo CASCI do Lar Cidade de Deus) tornei-me colega de uma estudante da margem do São Francisco. Eu, na "casa dos homens", para começar o antigo Ginásio; ela, na "casa das mulheres", para fazer o Científico no Murilo Braga. A referida senhora veio depois a tornar-se mãe de uma grande autoridade do, e de Estado, o atual Presidente da Assembleia Legislativa, Jefferson Andrade. Itabaiana tinha virado um segundo centro de Sergipe; e o Murilo Braga um segundo Ateneu Sergipense.
José Silveira Filho termina seu artigo, condenando os derrotistas, e apostando na ousadia. Assumida integralmente por José Augusto Machado.
Deu certo.
No dia 11 de fevereiro, o próprio Zé Augusto trouxe a comunicação oficial, à direção e à sociedade serrana. E no dia 3 de março, dia de início das aulas naquele ano, entraram em sala os primeiros futuros advogados, médicos, odontólogos, engenheiros, pedagogogos, etc., etc..
Assim, a adinamia, a miopia, visão embaçada dos poderosos do Estado e do município foram vencidas. Com excelentes resultados.
(*) Versos de Belchior, no grande sucesso de 1975, “Apenas um rapaz latino-americano”.
