quinta-feira, 6 de novembro de 2025

PRAÇAS E CIVILIDADE


A Praça Fausto Cardoso, ou da Matriz, repete o padrão ibérico, especialmente o espanhol, herdado dos mouros muçulmanos de uma cidade: praça central, com ruas laterais, acessadas por travessas, geralmente estreitas.
(Foto de Walmir Almeida, para a administração Vicente Machado Meneses, 1970).

O termo praça vem do latim platea, lugar aberto; para o lazer; sociável. Bem mais leve e amplo que o fórum, também romano. Ou a ágora grega.

A ideia de formação urbana, com uma praça central vem da civilização muçulmana, com sua polidez de fins do primeiro milênio, e remete à Meca; enquanto a Europa, mergulhada nas trevas da ignorância, amargava a queda civilizacional, pós desaparecimento do Império Romano e seus fóruns e ágoras.

Por 700 anos os muçulmanos dominaram toda a península ibérica, Portugal, inclusive, herdando não só as palavras começadas em al (alface, álcool, almoxarifado, alpercatas etc.), mas muito da estrutura de governo e de arquitetura moura, os mulçumanos da Iberia.

A cidade mais sagrada do islamismo - Meca - inspirou inúmeras outras no mundo muçulmano, deixando sua herança arquitetônica, especialmente na Espanha, de onde se transportou para o Brasil. E para Itabaiana.

Itabaiana se formou com uma praça central, circulada por ruas laterais, a ela ligadas por seis travessas.

Até os anos 1950, com vida social mínima, numa cidade pequenina, a praça central, a Fausto Cardoso foi desde a sua formação a Praça da matriz; em 1863 viu nascer nela a feira, saída dela definitivamente em 1928; e as festas profanas, desde as comemorativas a Canudos, da primeira década do século XX, às feirinhas de Natal, a partir da década de 1920.

Mas de 1950 em diante, tudo mudou rapidamente e a Praça passou a ser um espaço público, cada vez mais frequentado, todos os dias da semana.

Até fins dos anos 80, era território da imensa população juvenil da cidade, embalada pela socialização do Colégio Estadual Murilo Braga, especialmente; mas também pelos clubes recreativos, ela se reunia todos os dias na Praça, sendo que aos sábados e domingos, a sobrelotava, no sagrado exercício da caça ao sexo oposto, de onde numerosas famílias advieram; acabaram se formando posteriormente.

Em 1980, a população urbana foi praticamente igual à rural; de 1991 em diante a população rural diminuiu, numérica e proporcionalmente, com desaparecimento de povoados inteiros, despovoados, e concentração cada vez maior no sítio urbano.

A redução da natalidade também levou a população a começar a envelhecer, proporcionalmente.

Se em 1980, eram menos de 4% na chamada terceira idade; em 2.000, já eram 6,5%, e agora em 2022 foram encontrados mais de 13,3% acima de 60 anos.


A chegada da turma da bexiga frouxa.

Em 23 de setembro último, a instalação de banheiros eficientes passou a minimizar os vexames, dos incontidos; e de demais frequentadores, a suportarem  os odores por aqueles produzidos.
Nos 13,3% da população acima dos 60 anos, 12,5 são contumazes frequentadores de algum lugar público. 
Aposentados ou quase lá, gastam boa parte dos seus tempos nas praças, batendo papo ou fazendo alguma atividade de lazer. Até a bexiga acender o alarme: precisar-se urgentemente de um sanitário.
Acima dos 60, mesmo não se empanturrando de cerveja e refrigerantes, mas quase todas as pessoas, especialmente no gênero masculino, têm certa deficiência em controlar a vontade de urinar. Sequelas de AVCs, inflamações prostáticas e outras disfunções urinárias... não faltam motivos.
Nos últimos dez anos tem-se notado certa fedentina crescente, especialmente nas duas praças centrais e outras vias. É o produto da concentração cada vez maior de pessoas da terceira idade, em substituição aquele caudal de jovens dos anos 70 e 80, hoje em menores concentrações, e em geral, deslocados aos novos espaços, na atual zona de expansão urbana. 
No dia 23 de setembro, próximo, passado, fomos surpreendidos com uma louvável medida saneadora por parte do Executivo municipal, com a instalação, não dos quebra-galhos banheiros químicos; mas de algo novo, sofisticado, porque instalações mais robustas, e que se deseja, venha suprir o velho problema dos sanitários públicos, em geral: a manutenção. Sempre cara e deficiente, diante da demanda, e principalmente a clássica falta de educação, as novas instalações, que avançam além da Praça Central, a Fausto Cardoso, são autolimpantes, o que evita o mau cheiro dentro delas, principal causa de desistência do seu uso.
Espera-se, cumpram bem o seu papel, para o bem de todos. E da imagem da cidade.

O Serra do Machado – um marco.

O Edifício Serra do Machado, com a Câmara Municipal, no pavimento superior, e sanitário público, no térreo (círculo amarelo). A denominação foi uma homenagem ao povoado de origem de Euclides Paes Mendonça, a Serra do Machado, cuja serra foi desprentensiosamente captada ao horizonte pela lente do fotógrafo Jurandi Rosa, em 1987(seta vermelha), justo ao fundo da edificação.

Em 1961, com o pessedista Padre Artur Moura Pereira exibindo sua conquista, a do primeiro andar do Edifício Pio XII, que viria a logo ser Cine Santo Antônio, e Rádio Princesa da Serra, o visionário Euclides Paes Mendonça, chefe udenista viu a oportunidade de empatar o jogo. Até ali, todas as edificações em sobrado, na cidade, com andar superior, eram de taipa. 
E foi construído o Edifício Serra do Machado.
Resolvia um problema de ego do chefe udenista; e outro mais real, na cada vez maior feira de Itabaiana, qual seja, um monte de gente precisando fazer seus “precisos”, como diziam meu pai e tios.
Em 1973, o vereador e presidente da Câmara Municipal, Romeu Alves dos Santos resolveu efetivar a independência entre os poderes municipais, retirando a quase tricentenária Câmara de dentro da Prefeitura, desde 1913. Levou para o andar de cima do Serra do Machado, onde ficou até 31 de dezembro de 1988.
As instalações sanitárias de Euclides permaneceram por mais dois anos, até a derrubada do edifício, durante a construção do Mercadão de Hortifrutigranjeiros.