quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Não foi!

Na edição 11 do jornal Carta Serrana, de abril/maio de 2010, página 06, saudei a iniciativa da administração municipal de finalmente lançar um olhar para o esquecidíssmo povoado da Mangabeira. Passados quase três, e depois de toda a verba federal liberada ainda em 2010, fizeram um "taipeiro" no meio da praça, hipoteticamente um anfiteatro  a meu ver sem a menor necessidade, já que a população do povoado só tem necessidades tais num dia da quaresma, ao ano. E sequer concluíram.
A minha coluna no sobredito jornal tinha o seguinte título: 

"Minha esquecida Mangabeira...
Será que agora vai?"

Não foi.

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Aqui a reprodução integral:

Do pacote de convênios assinados pela Prefeitura Municipal de Itabaiana com o Governo Federal, ao apagar das luzes de 2009, para a vinda de verbas para Itabaiana (veja a tabela no rodapé) dentro do orçamento findo, uma verba de R$ 292.500,00 me chama a atenção: Construção de Praça no povoado Mangabeira. O lugar onde nasci e me criei até os seis anos; onde vi o primeiro caminhão e o primeiro caminhoneiro que levava farinha da Mangabeira para São Paulo capital e baixada santista (foi o de nome popular Rolopeu. Alguém aí já ouviu falar nele?); de onde ainda guardo nos ouvidos - e ouço-os claramente em lembrança, em noites mais silenciosas desta minha barulhenta cidade - os hinos das novenas populares cantados pelas moças e senhoras trabalhadoras daquele lugar, onde não se costuma ver ninguém durante a semana, salvo nas malhadas, casas de farinha ou na escola, que honrosamente posso dizer que foi fruto do trabalho persistente de meu pai, Alexandre Frutuoso Bispo e da providencial intervenção de Dr. Airton Teles, segurando os tiques de privilégios à família pelo então prefeito Jason Correia (*).
O povoado é dos mais abandonados pelos administradores do município desde que começou a se formar o local da dita pracinha com o convencimento da minha tia Jorgina pelo meu pai em 1947, em ali permitir um campo de futebol, mediante loteamento dos terrenos em redor. A Mangabeira, já existente em 1757 como um sítio (**), começou sua estagnada urbanização 190 anos depois e isto porque Itabaiana estava rompendo com seu passado de ondas de pequenas melhorias, com grandes períodos de estagnação. Portanto, o povoado é fruto da nova Itabaiana progressista que tomou curso desde os anos 50 e que seus políticos interesseiros não conseguiram atrapalhar, nem mesmo Euclides.
O Fenemê de Rolopeu pegando farinha na Mangabeira, em 1964, é a representação clássica, a simbologia de uma era de progresso na qual o caminhoneiro e o agricultor de Itabaiana são os responsáveis pelo título de Cidade Celeiro ou ainda Município Modelo. Só que a Mangabeira, como a maioria dos povoados, foi abandonada. Entregue à própria sorte e à desdita de ver os ladrões lhe tomando de conta, num desestímulo constante ao produzir de riquezas.
Os benefícios de agora, caso se confirmem, conquanto não lhe devolva o desenvolvimento que ostentou nos anos 50, ao menos melhorará a auto-estima de um povo que vive de trabalhar, de produzir riquezas para a grandeza de Itabaiana.


 (*) Parte do projeto das escolas rurais em todo o país do educador Anísio Teixeira, a escola rural da Mangabeira quase foi desviada para o povoado Serra Comprida, então com quatro famílias apenas, devido a um pedido de emprego para a filha de um cunhado do então prefeito Jason Correia.
Manoel Teles deu uma de Pilatos, mas Dr. Airton Teles resolveu a parada e a escola foi parar onde ainda hoje está, num terreno doado por... meu pai.
(**) LIMA JÚNIOR, Francisco Antônio de Carvalho. Poeira dos archivos. Mais dous Patrimonios. Diário da Manhã, Aracaju, 31 de dezembro de 1926,
p. 2. (Poeira dos Archivos sobre Itabaiana - Patrimonio da Capella dos Senhor Bom Jesus de Mattosinhos da Freguesia de Itabayana.)