quinta-feira, 7 de março de 2013

Alegria de pobre.


Dizem que alegria de pobre dura pouco; e dependendo do tipo de alegria, aqui em Itabaiana não dura quase nada. Por exemplo, o prazer de em algum momento ser sentir num lugar civilizado, de gente, bem cuidado. A reportagem do Itnet (clique para ler) é elementar: parece uma tolice, uma besteira, como querem os idiotas fissurados em símbolos de exibicionismo, confundidos com símbolos de riqueza como carros, casas enormes, de arquitetura de gosto duvidoso, mas ostentatório e por aí vai. Mas é de uma gravidade estonteante.
Em novembro de 1983 senti uma ponta de orgulho e ao mesmo tempo de alívio. Estava em Palmares, Pernambuco, e um vizinho à pensão onde fiquei hospedado por quase seis meses me veio contar eufórico que havia passado por minha Itabaiana. A princípio fiquei temeroso das descrições porque, Palmares não era melhor que Itabaiana. Cidade com alta concentração de pobreza, encravada nos canaviais e rodeada de usinas de açúcar que juntos lhe despejavam – acho que ainda façam – toneladas de fuligem diariamente; uma cidade ribeirinha sujeita a desastrosas enchentes periódicas, enfim, não tinha nem tem do que se achar melhor que Itabaiana, mas, a gente sempre quer estar um ou vários degraus acima; e quando o rapaz me veio falar que havia passado por aqui fiquei temeroso que tivesse visto alguns probleminhas crônicos que então existiam. Mas não. Ele passara apenas pela BR-235, pela noite e havia poucos dias que fora inaugurada a iluminação da Avenida Luiz Magalhães, que foi o que o fascinou: “Rapaz, que cidade bonita, a sua!” Repetiu ele umas quatro vezes. Só um energúmeno completo é que não liga para a má impressão que dá a entrada da cidade desarrumada, tomada de buraqueira, lixo, terrenos baldios sem nenhum traço de vegetação, coisa de vilarejo do Oeste selvagem americano dos filmes de faroeste. 
O apontado na reportagem do Itnet, de tão comum tornou-se “coisa menor”, e, já que “coisa menor”, nos habituamos a tolerar. Todavia, quem nos visita no mínimo nos chama de sebosos ao ver como os recebemos já “no terreiro de nossa própria casa”.